Nesta quarta-feira (27), o empresário, escritor brasileiro e cartunista Mauricio de Sousa, completa 86 anos. Figura importante no cenário dos quadrinhos nacionais, Sousa sempre desejou viver de sua arte. Em 1959, ele deu vida aos seus primeiros personagens, o cãozinho Bidu, e o cientista Franjinha, que mais tarde faria parte do universo de sua principal criação, a “Turma da Mônica”.
A princípio, “Turma da Mônica” marcou sua presença em tirinhas de jornais e, com o passar do tempo, personagens como Cebolinha, Cascão, Magali e a própria Mônica, caíram no gosto do público e, atualmente, a amada turminha figura como uma das revistas em quadrinhos mais populares do mundo.
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Além de transformar a “Turma da Mônica” em um fenômeno, Mauricio de Sousa expandiu esse universo para outros personagens, que também caíram nas graças de seus leitores, como “Turma do Chico Bento” (1963), “O Astronauta”, “Turma da Mata” (1963), “Turma da Tina” (1970), “Turma do Penadinho” (1964), “Piteco” (1961), “Horácio” (1963), “Papa-Capim” (1975) e diversos outros.
Devido a grande popularidade de suas obras, os personagens de Mauricio de Sousa expandiram para além dos quadrinhos, com animações, jogos de videogame e, recentemente, live-actions, como é o caso de “Turma da Mônica: Laços” (2019) e a continuação prevista para dezembro de 2021 “Turma da Mônica: Lições”.
Independente da mídia, o cartunista conseguiu conquistar várias gerações com suas obras. Hoje, muitos que conheceram os personagens de Sousa em suas infâncias, os apresentam para seus filhos e netos. “Eu trabalho com o Mauricio desde 2006, e já tive a oportunidade de viajar com ele pelo Brasil e pelo mundo inteiro. Acredito que a melhor análise que podemos fazer do trabalho do Mauricio nesses anos todos, é o legado que essas obras geraram”, relata o editor da Mauricio de Sousa Produções (MSP), Sidney Gusman.
Gusman aponta que em diversas sessões de autógrafos é possível constatar avós, mães e filhos que admiram o trabalho do cartunista. “Isso é impressionante como formação de leitor, e ao mesmo tempo, quantas pessoas não devem ter se inspirado a trabalhar com quadrinhos ou criar quadrinhos por causa do Mauricio de Sousa”, aponta o editor.
Para Gusman, o que dá longevidade para as obras de Mauricio de Sousa é a maneira como as histórias retratam os temas da atualidade. “Nos anos 1970, a Mônica e a Magali gostavam do ator Francisco Cuoco, hoje, elas podem falar sobre a cantora Anitta”, enfatiza.
Por conta dessa atualidade, o editor pontua que as crianças sempre conseguem compreender as referências incluídas nas histórias de Mauricio de Sousa. “Isso de estar sempre atento para que seus produtos falem com o leitor de diferentes épocas, é para mim o grande segredo do Mauricio. Obviamente isso também precisa ser feito com qualidade, e isso é feito por ele e seus colaboradores”, afirma.
Para além de seus personagens
Além da identificação do público com os seus personagens, o quadrinista Gabriel Rocha descreve Mauricio de Sousa como um grande empresário, que soube gerir seu trabalho como um negócio rentável. “Obteve êxito em projetar seu nome e construir uma marca sob o alicerce que é muito comum aos quadrinistas brasileiros, o talento”, define.
Segundo Rocha, esse mesmo talento presente nos produtos licenciados pela MSP, é refletido em toda a sua equipe criativa. Outro ponto importante, é que enquanto esse sucesso permanece, ele também se mantém lembrado.
Para Rocha, a grandiosidade do trabalho do Mauricio de Sousa se deve ao fato de ser um trabalho que se sobrepôs diante da corrente dominante estrangeira e, se tornou um produto convencional para um público, que muitas vezes estavam envoltos por obras produzidas em um mercado muito competitivo e expansivo. “O exemplo da trajetória do Maurício mostra que o caminho pode ser trilhado por quem quiser se predispor a arregaçar as mangas e partir em busca do resultado desejado”, afirma.
Rocha lembra que seus primos possuíam assinatura e coleções das revistas da “Turma da Mônica”, por conta disso, ele teve a chance de ler publicações da Editora Abril e da Editora Globo. “Gostava de ler as histórias com o Louco, Seu Juca, Capitão Feio e o Astronauta. Eram as melhores histórias”, recorda.
Os trabalhos de Mauricio de Sousa também refletiram em uma das criações de Rocha, o super-herói “Lagarto Negro” (1998). “Quando fui criar o personagem Lagarto Negro, eu buscava aquela expressão de zangado, típica do traço do Maurício. Encontrei no frágil Horácio a expressão desejada e que foi ponto de partida para a criação da máscara que oculta a identidade civil deste super-herói brasileiro. Deu certo”, comenta.
Assim como Mauricio de Sousa, Rocha diz sonhar com o dia em que as pessoas possam remeter do mesmo apreço a outros cartunistas como Luiz Sá (1907-1979), Ely Barbosa (1939-2007), Daniel Azulay (1947-2020), Antônio Cedraz (1945-2014) e Moacir Torres. “Além de tantos outros nomes de uma lista verdadeiramente extensa de bem-aventurados autores da arte sequencial”, finaliza.