“Tudo se resolve com amor e respeito”. É assim que Mãe Sônia da Silva, da Nação Ketu, sintetiza a 11ª edição da Caminhada dos Terreiros de Pernambuco, realizada pela Associação Caminhada dos Terreiros de Pernambuco (ACTP) nesta quarta-feira (1). Concentrados no Marco Zero desde as 14h, representantes de quase todos os 3 mil terreiros do Estado se reuniram para pedir respeito às religiões de matriz africana.
De acordo com Pai Cleiton de Oxum, uma das lideranças religiosas presentes, o objetivo da caminhada é tão político quanto religioso. “Essa caminhada abre o mês da consciência negra e tem a intenção de reivindicar políticas públicas para o nosso povo e dizer não à intolerância religiosa, que está muito forte. Serão muitas as falas políticas, voltadas para questões como a inclusão das pessoas LGBT, o fim do extermínio da juventude negra e a igualdade racial”, comenta. De acordo com Pai Cleiton, a Caminhada deve agregar representações de terreiros de todo o estado. “Temos aqui pessoas de cidades como Serra Talhada, Goiana, Itambé, Caruaru, Paudalho e Palmares”, completa.
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Nicole Ellen, Antony Alef e Anne Beatriz mostram com orgulho os trajes do candomblé durante a Caminhada. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)
Adepto do candomblé, Antony Alef exibe com orgulho as vestimentas de sua religião. “Muitas pessoas tem medo de se mostrar com nossos trajes, por medo. A intolerância é muito grande, mas se a gente não botar a cara, se a gente não se vestir com as nossas roupas e se esconder, não vai conquistar nossos direitos nunca”, afirma. A filha de santo Anne Beatriz destaca ainda a oportunidade de fortalecer sua fé no evento. “Todo ano estou presente. Nos deixa mais firmes mostrar para as pessoas que o candomblé é uma religião de acolhimento. Num terreiro se constrói uma família de axé, onde um ajuda o outro. Também temos Deus em nossa vida”, coloca.
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Um dos organizadores da caminhada, o “Abiã” (iniciante na religião) Ricardo Veríssimo pontua que o itinerário do cortejo reforça seu teor político. “O trajeto inclui trechos históricos do Recife para as mobilizações sociais, como o Palácio do Campo das Princesas e a Rua do Sol, sendo finalizado no Pátio de São Pedro, local que sempre sediou manifestações afro-brasileiras”, explica.
A “Frevioca” foi disponibilizada pela Prefeitura do Recife para acompanhar a Caminhada. A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) também preparou operação especial de trânsito para acompanhar o evento, com agentes de trânsito sendo destacados para a Ponte Giratória, ruas da Moeda e Vigário Tenório, além da Avenida Alfredo Lisboa.
Diálogos
A budista Floridalva Cavalcanti foi ao cortejo para demonstrar apoio à diversidade religiosa. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)
Em meio à multidão trajada de branco, as vestes monásticas vermelhas de Floridalva Cavalcanti, uma das integrantes do Centro de Estudos Budistas Bodsatva (CEBB), logo se destacam. “O CEBB Recife compõe o Fórum da Diversidade Religiosa de Pernambuco (Diálogo), junto a instituições de diversas religiões, como o judaísmo e o islamismo. Nosso objetivo é promover ações de combate à intolerância religiosa”, explica. Lançado em dezembro de 2012, o Fórum é produto da reunião de diversas lideranças religiosas de Pernambuco, unidas pelo desejo de promover a tolerância. “Vimos uma possibilidade de nos conhecermos e nos respeitarmos. A gente veio mostrar que está junto ao povo dos terreiros”, conclui.
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