Há cerca de um mês nas ruas, Denise e Márcio tiveram todos os pertences roubados. (Júlio Gomes/LeiaJá Imagens)
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“Meu maior medo é ir dormir e não acordar”, resume a comerciante ambulante Denise Silva, de 42 anos de idade, que mora em uma calçada da Avenida Manoel Borba, no bairro da Boa Vista, Centro do Recife, há cerca de um mês, ao lado do marido, Márcio Silva, de 38 anos. O casal costumava vender água e lanches na frente do hospital da Restauração, também na região central da capital pernambucana, e não resistiu à crise econômica causada pela pandemia da Covid-19. Sem dinheiro para pagar aluguel ou lugar para manter os pertences seguros, eles passaram a dormir na frente do ponto em que trabalhavam, tendo a carroça e as mercadorias roubadas durante a madrugada. Grávida de cinco meses e portadora de HIV, Denise sonha com a possibilidade de conseguir R$ 1,5 mil para comprar uma nova carroça.
“A gente morava na Rua da Glória e pagava R$ 430 de aluguel, além dos R$ 200 mensais que a gente dava ao dono de um depósito, para guardar nossa carroça. Por conta da pandemia, o movimento estava ruim e ficamos sem condição de pagar as contas. Fomos despejados e roubaram nosso material de trabalho”, conta Denise.
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A ambulante é mãe de sete filhos, sendo dois deles garotos de 14 anos e 15 anos que residem em um abrigo na Ilha de Itamaracá, na Região Metropolitana. Denise descreve os mais velhos como “complicados”. “Não tenho como morar com eles. Minha mãe mora em Timbaúba, é idosa, não quero levar meus problemas para ela”, lamenta. Com o atual marido, a ambulante ainda não teve filhos, mas quatro gravidezes malsucedidas.
“Com a gente só andava a cadela, que foi atropelada por um carro aqui na Manoel Borba. A consciência da motorista pesou, ela voltou e pagou um uber para eu ir ‘no’ hospital veterinário. Apesar das pancadas na cabeça e no ombro, a cadela tomou quatro injeções e ficou bem. Conseguimos deixar ela na casa de um amigo do meu marido”, comenta.
Denise relata que já sofreu assédios e abusos sexuais na rua. (Júlio Gomes/LeiaJá Imagens)
Dando ao animal de estimação um destino melhor do que o que lhes foi legado, Denise e Márcio permaneceram na avenida, contando apenas com duas sacolas de roupas, algumas panelas e um isopor. “Quando recebemos alguma doação tentamos pagar uma pensão para poder tomar banho, mas é sempre uma tensão. Em uma dessas saídas, um ladrão levou todas as nossas coisas. Só ficamos com duas mudas de roupa e uma colcha”, lembra Denise.
Cozinheira hábil, Denise era responsável pela produção dos salgados que eram vendidos na carroça pelo marido. Agora, ela se adapta a preparar as refeições em uma pequena lata de ervilha, usando álcool etílico para cozinhar. “Quem puder, doe alimentos, que consigo preparar. É muito difícil. Muitas vezes, falta comida e passo da hora de comer, mesmo estando grávida. Até nossa comida um ‘viciado’ roubou”, acrescenta.
"Com minha carroça, tinha minha vida de volta". (LeiaJá/Imagens)
Se os dias são preenchidos pela luta para manter a soberania alimentar, às noites resta o vazio paralisante do medo. “Nem sei há quanto tempo não tenho uma noite de sono. Já me acordei com um homem alisando minhas partes íntimas. Senti aquela mão grossa e sabia que não era meu marido. Eu disse a Márcio que não fizesse nada, porque na rua não adianta agir na emoção”, conta Denise.
Márcio acrescenta que o movimento de usuários de drogas e homens armados com facões é comum na avenida Manoel Borba durante a madrugada. “Minha aparência parece ser uma aparência boa, mas tô muito infeliz com o que estou passando. Chegou gente para 'bulir' com minha esposa e sem poder fazer nada. Eu tenho medo de fazer coisa que não ‘deve’, então relevei isso aí. É humilhante demais pra mim, queria ter uma oportunidade na vida, todo mundo tem a sua. Eu com minha carroça tinha minha vida de volta”, apela.
Doações para o casal podem ser feitas através da seguinte conta bancária:
Caixa Econômica Federal
Conta poupança: 000817657532-0
Agência: 0045
Operação: 013