O ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), falecido em agosto de 2014, teria recebido propina para pagar os gastos da campanha de 2010, quando disputou a reeleição ao cargo. A informação foi revelada, nesta terça-feira (21), pela Polícia Federal (PF) ao detalhar as frentes de apuração da Operação Turbulência, deflagrada para desarticular uma organização criminosa, composta por empresas fantasmas, apontada de lavar mais de R$ 600 milhões.
De acordo com os delegados Andrea Pinho e Daniel Silvestre, responsáveis pelo caso, as investigações da PF foram baseadas em provas compartilhadas da Operação Lava Jato com inquéritos da Justiça Federal de Curitiba e do Supremo Tribunal Federal (STF). A partir delas, os delegados constataram os indícios de que Campos pode ter recebido propina em 2010 e 2011 para pagar os gastos da disputa estadual.
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Segundo Daniel Silvestre, os montantes eram sacados pelas empresas fantasmas e repassados aos destinatários. Há indicativos de que o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB) tenha sido o responsável por cooptar a propina para Campos. “De acordo com as evidências que recebemos, Fernando Bezerra Coelho teria sido responsável por negociar este aporte para Eduardo Campos. Aporte este que teria sido pago no ano seguinte [em 2011] por pessoas investigadas na Operação Turbulência”, detalhou o delegado. Valores não foram elencados pela PF.
O quadro de doação ilícita, segundo Andrea Pinho, teria se repetido em 2014 na campanha à Presidência da República com as empresas fantasmas responsáveis pela compra da aeronave Cessna Citation PR-AFA. Segundo ela, há suspeitas de que a OAS, envolvida na Lava Jato, teria transferido R$ 18 milhões para as contas da Câmara & Vasconcelos, uma das compradoras da do jatinho, para financiar campanha de Eduardo. A verba seria para obras de terraplanagem da Transposição do Rio São Francisco, segundo a empreiteira, mas não foi identificado o serviço.
“Podemos informar, com base no compartilhamento de provas, que campanhas [de Eduardo Campos] foram favorecidas, ou pelo menos, tiveram recursos de empresas envolvidas na Operação Turbulência... Tivemos indicativo do esquema criminoso nessas duas campanhas [2010 e 2014]”, observou Andrea Pinho. Para ela, há suspeitas de que a OAS tenha “bancado” o avião.
Paulo Roberto Costa citou FBC e Campos
Ex-ministro da Integração Nacional, pasta responsável pela obra da Transposição do Rio São Francisco, Fernando Bezerra Coelho foi citado pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, em delação premiada e responde a um inquérito no STF. De acordo com o depoimento, o senador teria recebido R$ 20 milhões para a campanha de Eduardo Campos em 2010. Na época, o socialista negou as acusações e disse que não atuou na coordenação da campanha do ex-governador. Naquele ano, Bezerra Coelho era secretário de Desenvolvimento da administração de Campos.
Outro lado
Procurados pelo Portal LeiaJá, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira afirmou acreditar na idoneidade do ex-governador de Pernambuco e disse que “não vê problemas” na apuração. A família de Eduardo Campos preferiu não se posicionar sobre o caso, até o momento. Já o senador Fernando Bezerra Coelho pontuou, através da sua assessoria, que está procurando o trecho exato em que foi citado para divulgar um posicionamento oficial à imprensa.
Balanço – Até o final da manhã, a Operação Turbulência havia cumprido 35 mandados de busca e apreensão, 16 de condução coercitiva, quatro de prisão preventiva, apreensão de R$ 10 mil em espécie, além do sequestro de três aeronaves, sendo dois helicópteros e um avião, avaliados em R$ 9 milhões, no total.
*Com as informações de Jorge Cosme