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Os advogados do deputado Celso Russomanno (PRB), candidato à Prefeitura de São Paulo, protocolaram nesta segunda-feira, 29, petições na Procuradoria-Geral de Justiça e na Delegacia-Geral de Polícia Civil do Estado para ter acesso a relatório que cita o nome do parlamentar na Operação Alba Branca.

Russomanno, primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para a sucessão de Fernando Haddad (PT), é mencionado em documento produzido pela Polícia Civil no inquérito Alba Branca, que investiga fraudes em licitações da merenda escolar. O esquema teria se instalado em pelo menos 35 prefeituras e que mirava também em contratos da Secretaria de Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

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O deputado não é alvo da investigação - ele detém foro privilegiado perante o Supremo Tribunal Federal -, nem a ele é imputado ato ilícito, mas o documento sugere proximidade de Russomanno com dois alvos da Alba Branca, quadros importantes da estrutura da organização criminosa, César Augusto Lopes Bertholino, o Marrelo, e Cássio Chebabi.

Em um contato - mensagens por celular - de julho de 2015, recuperado pelos investigadores a partir de quebra de sigilo, Chebabi diz a Marrelo que Russomanno é "novo parceiro". Ele afirma que o deputado "tá forte pra prefeitura". César Marrelo diz que eles vão "jantar" com o deputado. Afirma, ainda, que Russomanno "vai dar duas secretarias" para Leonel Júlio, ex-deputado e pai do lobista da

quadrilha da merenda. "Já tá acordado", afirma Marrelo.

A petição ao Ministério Público do Estado e à Delegacia-Geral é subscrita pelo criminalista Pedro José Vilar Godoy Horta. A parte eleitoral da defesa do candidato está sob responsabilidade do advogado Arthur Rollo.

"O Celso não tem absolutamente nenhum envolvimento com essas pessoas (Marrelo e Chebabi), não os conhece, nunca os viu, nunca jantou com eles", afirma Arthur Rollo. "Fizeram uma bravata com o nome dele. Estamos levantando todas as informações para tomarmos as providências criminais contra as pessoas que usaram o nome dele em vão". O advogado afirma ainda que Russomanno não tem nenhum contato com pessoas envolvidas com o escândalo da merenda, nem com políticos citados. "Celso não atua nessa área de merenda, todo mundo sabe que ele se dedica à defesa do consumidor e fica extremamente irritado quando alguém usa o nome dele. Ele não gosta."

Rollo assinala que o candidato à Prefeitura paulistana também não tem relacionamento com o ex-deputado Leonel Júlio, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, cassado em 1976 pelo regime militar. Leonel Júlio é pai de Marcel Júlio, lobista da organização criminosa, segundo a Polícia Civil. Nas mensagens resgatadas, Marrelo e Chebabi dizem que Russomanno teria pedido apoio a Leonel Júlio e que o candidato até já havia oferecido a ele "duas secretarias" na Prefeitura, se eleito.

"Vamos apurar até as últimas consequências", disse Arthur Rollo. "O sr. Leonel Júlio tem quase 90 anos de idade. O Celso não tem contato com ele, já ouviu falar dele, apenas isso. O que o apoio de Leonel Júlio iria agregar à campanha do Celso? Absolutamente nada. É uma coisa sem sentido. Quando essa suposta conversa ocorreu, o Celso já estava em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. Para quem é da área política sabe que (o apoio de Leonel) não tem importância nenhuma."

"O critério de escolha dos secretários é técnico. Ele (Russomanno) tem planos de escolher os melhores secretários da história de São Paulo", diz o advogado.

O deputado Celso Russomanno (PRB/SP), candidato à Prefeitura de São Paulo, é citado em relatório da Polícia Civil no inquérito da Operação Alba Branca - investigação sobre esquema de fraudes em licitações da merenda escolar que se instalou em pelo menos 35 prefeituras e que mirava também contratos da Secretaria de Educação do governo Alckmin.

O deputado não é alvo da investigação - ele detém foro privilegiado perante o Supremo Tribunal Federal -, nem a ele é imputado ato ilícito, mas o documento sugere proximidade de Russomanno com dois alvos da Alba Branca, quadros importantes na estrutura da organização criminosa, César Augusto Lopes Bertholino, o 'Marrelo', e Cássio Chebabi.

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Em um contato grampeado, em julho de 2015, Chebabi diz a 'Marrelo' que Russomanno é "novo parceiro". Ele afirma que o deputado "tá forte prá prefeitura". César 'Marrelo' diz que eles vão "jantar" com o deputado. Afirma, ainda, que Russomanno "vai dar duas secretarias" para Leonel Júlio, ex-deputado e pai do lobista da quadrilha da merenda. "Já tá acordado", afirma 'Marrelo'.

A Polícia diz que "fica claro que (Chebabi e 'Marrelo') esperam algum benefício com esta aproximação". Segundo os investigadores, os dois integrantes da Máfia da Merenda "demonstram claramente acreditarem que o caminho mais fácil para a consecução de contratos com órgãos públicos é a aproximação com pessoas que detêm poder de mando nos órgãos públicos visados".

Russomanno lidera com folga todas as pesquisas de intenção de voto na corrida à cadeira de prefeito de São Paulo, superando seus principais oponentes, Fernando Haddad (PT), Marta Suplicy (PMDB), João Doria (PSDB) e Luiza Erundina (PSOL).

O candidato reagiu com indignação à citação a seu nome. Ele afirma que não conhece e nunca se encontrou com 'Marrelo' e Chebabi. Russomanno informou que vai oficiar o Ministério Público pedindo "apuração irrestrita dos fatos".

O relatório que menciona o nome do parlamentar foi produzido pela Polícia Civil de São Paulo a partir da análise de grampo de mensagens pelo celular que pegou 'Marrelo' e Chebab.

A Polícia Civil deflagrou Alba Branca em janeiro, em missão integrada com o Ministério Público do Estado.

A investigação aponta para o suposto envolvimento do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Fernando Capez (PSDB). Ele teria sido contemplado com propina de cerca de R$ 400 mil para sua campanha em 2014. Capez nega taxativamente ligação com o grupo e abriu mão espontaneamente do seu sigilo bancário e fiscal.

A Alba Branca investiga, ainda, o ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin, Luiz Roberto dos Santos, o 'Moita', e o ex-chefe de gabinete da Educação do Estado, Fernando Padula.

A base da organização criminosa ficava no município de Bebedouro, interior do Estado. Na cidade funcionava a Coaf, cooperativa de agricultura familiar que se infiltrou nas administrações municipais para corromper gestores e servidores públicos - as prefeituras compravam produtos da COAF porque são obrigadas por lei a gastar 30% das verbas recebidas do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Alba Branca pegou conversa de 16 de julho de 2015 entre Chebab e César 'Marrelo' - o primeiro, ex-presidente da Cooperativa COAF, o segundo ex-vendedor e representante da Cooperativa.

No diálogo, Chebab e Bertholino falam de Russomanno. "César relata que vai numa reunião com Celso Russomanno, pretenso candidato à Prefeitura de São Paulo, que teria pleiteado apoio a Leonel Júlio, ex-deputado cassado que também gerenciou e recebeu valores nos contratos da COAF e também pai de Marcel", diz o documento.

Leonel Júlio presidiu a Assembleia Legislativa de São Paulo em 1976 pelo antigo MDB - naquele ano, ele perdeu o mandato por ato do regime militar porque teve seu nome envolvido no "escândalo das calcinhas" (compra de peças íntimas supostamente com recursos públicos).

Alba Branca revela que o filho de Leonel Júlio, Marcel Júlio, era o lobista número 1 da organização. Pai e filho foram presos por alguns dias. Eles negam a prática de ilícitos.

Uma troca de mensagens, no dia 16 de julho de 2015, entre 'Marrelo' e Chebabi foi resgatada pela Polícia Civil.

'Marrelo' escreveu às 17h54: "Tô indo lá pro Mané, vamos jantar com Celso Russomanno. Eu e o Marcel. Marcamos às 9 horas".

Chebabi respondeu às 18hs. "Novo parceiro."

'Marrelo': Opaa. O Marcel já tinha conversado com ele. E falado da Coaf prá ele.

Chebabi: Tá forte prá prefeitura.

'Marrelo': Ele foi pedir apoio pro Leonel.

Chebabi: Ele é PR.

'Marrelo': PRB. Universal.

Chebabi: Cola

'Marrelo': Tá com dindim prá gastar. Vai dar duas secretarias pro Leonel. Se ele vier a ser prefeito de SP. Já tá acordado.

Defesa

O deputado Celso Russomanno (PRB/SP) reagiu com indignação à citação a seu nome no relatório policial.

O candidato à Prefeitura de São Paulo afirmou enfaticamente que não conhece os dois alvos da Operação Alba Branca que mencionaram seu nome em mensagens pelo celular resgatada pela Polícia Civil.

"Vou oficiar o Ministério Público pedindo apuração irrestrita dos fatos. Estou colocando à disposição do jornal O Estado de S. Paulo e das autoridades o meu sigilo telefônico, fiscal e financeiro para apuração incondicional desta suposta conversa telefônica. Não conheço estes cidadãos, nunca tive contato com eles, nunca encontrei-os pessoalmente. Vou interpelá-los judicialmente para que façam prova de que mantiveram algum contato comigo. A quem interessa envolver o meu nome nesse monte de mentira? Faço questão de ir a fundo nessa investigação para saber a mando de quem, ou de qual partido estão tentando sujar o meu nome."

Após os Jogos Pan-Americanos de 2007, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, o Brasil encerrou seu ciclo de megaeventos esportivos. No livro "Brasil em jogo: o que fica da Copa e das Olimpíadas?", publicado pela editora Boitempo Editorial no Brasil, uma série de especialistas analisam e questionam o legado destes grandes eventos para a sociedade brasileira. Um deles é o jornalista escocês Andrew Jennings, popular desafeto da alta cúpula da Fifa, que afirma que o Comitê Olímpico Internacional (COI) segue o mesmo modus operandi da entidade máxima do futebol.

"Quando comecei a investigar o COI, há mais de vinte anos, alguns de meus amigos jornalistas riram: 'Esporte? Nós investigamos governos, grandes negócios, a polícia. Por que ir futucar no esporte?'. E eu disse: 'Organizações esportivas estão na esfera pública. São financiadas por dinheiro público, detêm poder. Por que deveriam ficar isentas do exame crítico", afirma Jennings, em texto intitulado "A máfia dos esportes e o capitalismo global".

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Nele, afirma que, recentemente, vem tendo até mesmo suas ligações telefônicas interceptadas por executivos da Fifa. "Eles ilegalmente obtiveram meus registros telefônicos, identificaram alguns de meus contatos e usaram suas ligações na polícia para tentar sujar o nome de amigos meus. Às vezes brinco que, desde que me tornei persona non grata, nunca mais estive perto da Fifa - eles estão comigo em cada telefonema que faço!", ironiza, em outro trecho.

"A lacuna que identifiquei entre os holofotes olímpicos e seus bastidores me mobilizou tanto que mal conseguia dormir à noite. Fui descobrindo que o funcionamento do COI não é muito diferente do da Fifa e que figurões de ambas as entidades reapareciam frequentemente nas mesmas cenas obscuras", prossegue Jennings. No texto, ele ainda acusa tráfico de influência por parte de nomes como Horst Dassler, antigo chefe da Adidas e da ISL (International Sport and Leisure), e do diplomata americano Henry Kissinger, amigo de José Havelange à época que o brasileiro presidia a Fifa.

Jennings ainda traça um paralelo entre a apropriação do esporte de alto rendimento pelas grandes corporações e o doping. Neste trecho, o jornalista é enfático: "Corporações precisam atingir milhões de consumidores, o que exige, portanto, muita audiência televisiva. Multidões exigem heróis artilheiros, recordistas. A raça humana evolui devagar demais para quebrar recordes com a frequência satisfatória. E aí vêm os médicos do doping com a cura. Esportistas não precisam de doping. Patrocinadores precisam".

"Mas por que o capital gosta tanto de esporte?", prossegue Jennings, com uma reflexão. "O esporte é tão velho quanto nós. É como treinamos para a caça e para a batalha. [...] Quando assistimos a esportes somos mais que meros espectadores. Quando Pelé faz o gol, fui eu que fiz o gol. [...] Quando estamos curtindo o esporte, estamos completamente abertos, vulneráveis. E é assim que o grande capital gosta que estejamos", conclui.

Andrew Jennings é conhecido por ser um dos grandes desafetos e uma "pedra no sapato" da cúpula da Fifa e da CBF nos últimos anos. Nos dois volumes da série "Jogo Sujo", ele passa a limpo e escancara o grande esquema de corrupção que assola o futebol há anos, denunciando personagens como Joseph Blatter (ex-presidente da Fifa), João Havelange (ex-presidente da Fifa e da CBD, falecido neste mês) e Ricardo Teixeira (ex-presidente da CBF).

Na coletânea "Brasil em jogo", outros textos de análises sobre os megaeventos esportivos no Brasil podem ser encontrados. Para tornar o livro acessível ao maior número de pessoas, autores cederam gratuitamente seus textos, tradutores não cobraram pela versão dos originais para o português, e fotógrafos abriram mão de pagamento por suas imagens. A publicação pode ser encontrada pelo preço de R$ 10.

A força-tarefa das investigações da Operação Lava Jato informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que foi induzida a um erro que levou ao monitoramento de conversas do escritório de advocacia responsável pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O escritório é chefiado por Roberto Teixeira, que também é investigado na Lava Jato junto com o ex-presidente e seus familiares.

A quebra do sigilo foi solicitada ao juiz federal Sérgio Moro com base em um número fixo de telefone fornecido pela empresa de palestras de Lula à Receita Federal, disponível para consulta no site do órgão.

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"Encontra-se plenamente justificada a inclusão do referido terminal como vinculado à empresa LILS Palestras, eis que se tratava do telefone declarado pela própria empresa de forma oficial à Receita Federal. Assim são infundadas e maliciosas as alegações inicialmente veiculadas pela imprensa de que o MPF e a Polícia Federal monitoraram, de forma dissimulada, o telefone do escritório de advocacia de Roberto Teixeira, pessoa esta, diga-se de passagem, que é objeto de investigação avocada pelo STF", diz a força-tarefa.

De acordo com os procuradores, houve "ausência de boa-fé" dos investigados ao indicarem número que não pertencia a LILS Palestras. A força-tarefa também esclareceu que não constam nas investigações as gravações oriundas do número que foi monitorado, porque "eventuais conversas captadas a partir daquele alvo não foram consideradas relevantes para a investigação."

Nesta terça-feira (6), o juiz Sérgio Moro também prestou informações ao STF. Ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo, Moro disse que não determinou o monitoramento dos telefones do escritório. "Faço esses esclarecimentos adicionais diante da informação superveniente do MPF e considerando extravagantes alegações fora dos autos de que teria havido autorização da parte deste Juízo para interceptação de dezenas de advogados através do referido terminal, o que não corresponde ao efetivamente ocorrido, sequer havendo notícia de qualquer diálogo interceptado de fato no referido terminal."

Defesa

A defesa do ex-presidente Lula declarou, por meio de nota, que o procedimento de monitoramento do escritório foi ilegal e pediu a punição do juiz Sérgio Moro.

"A interceptação telefônica de advogados constituídos por pessoa que sofre persecução penal por parte do Estado, é um dos mais graves atentados ao Estado Democrático de Direito. A sua ocorrência torna o procedimento ilegítimo e o macula de forma definitiva. Há, nessa situação, clara violação à garantia constitucional da ampla defesa e, ainda, da inviolabilidade das comunicações telefônicas entre cliente e advogado, assegurada por lei", afirmam os advogados.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou-se ao general Vo Nguyen Giap, comandante do Exército do Povo do Vietnã, emblemático estrategistas militar que fez tombar em batalha tropas francesas, norte-americanas e chinesas, ao declarar "guerra" aos investigadores da Operação Lava Jato - que investiga supostos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa envolvendo o petista e sua família.

"É o seguinte meu filho eu tô com a seguinte tese: é guerra, é guerra e quem tiver artilharia mais forte ganha", declara Lula, em conversa por telefone com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), monitorada com autorização da Justiça Federal, do Paraná.

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O parlamentar responde ser aliado nessa batalha. "Presidente estamos nessa guerra também, não tenho nada a perder."

Os dois falam da persecução criminal em andamento em Curitiba e em Brasília contra o ex-presidente Lula e pessoas ligadas a ele, incluindo seus filhos. Os grampos foram autorizados pelo juiz federal Sérgio Moro - dos processos em primeira instância da Lava Jato - na fase que antecedeu a Operação Aletheia. Deflagrada em 4 de março, o ex-presidente foi o principal alvo. Levado coercitivamente para depor, reagiu publicamente com ataques aos investigadores, a quem classificou de "um bando de loucos".

Lula faz referência ao estrategista de guerra vietnamita: "Você pode me chamar até de general Giap. Nós já derrotamos os americanos, os chineses, os franceses e estamos para derrotar a Globo agora".

O ex-presidente e sua defesa têm atacado meios de comunicação, em especial a Rede Globo. Além perseguição política, no grampo da Lava Jato o ex-presidente conta ao senador ter conhecido o lendário general Giap. "Foi lá no Vietnã, estava bem velhinho já, levei a Dilma (Rousseff) para conversar com ele."

Giap ficou conhecido como Napoleão Vermelho, foi considerado herói nacional em busto histórico situado abaixo, apenas, do ex-presidente Ho Chi Minh - o pai da independência vietnamita. Os dois se conheceram no exílio no sudeste da China. No Vietnã, recrutaram guerrilheiros para a insurgência vietcongue. Giap trabalhou como jornalista, antes de entrar para o Partido Comunista Indochinês. "Vamos levar essa luta", responde o senador petista - também alvo de investigação da Lava Jato e com o nome citado por delatores.

Doze senadores do PT, PCdoB, PSB, PMDB e do PDT protocolaram na noite desta terça-feira, 22, no Supremo Tribunal Federal (STF), um pedido para que o ministro Ricardo Lewandowski abra processo disciplinar contra o juiz Sérgio Moro, de Curitiba, pela divulgação dos grampos envolvendo a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O pedido, destinado ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do qual Lewandowski é presidente, aponta diversas irregularidades cometidas por Moro na gravação da ligação em que Dilma aparece conversando com Lula sobre o envio de um termo de posse, para que o ex-presidente use-o em caso de necessidade.

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Os senadores alegam que a interceptação telefônica foi feita de forma ilegal porque foi feita fora do limite de horário determinado. Os parlamentares pedem a apuração da responsabilidade de Moro, "considerando-se que (Moro) teve ciência do fato e não tomou atitude no sentido de apurar ou corrigir o crime". Além disso, reclamam do ato do juiz em levantar o sigilo das gravações.

Segundo o documento, Dilma, por ter foro privilegiado, não poderia ter sido exposta na divulgação das escutas, a menos que o Supremo determinasse a quebra de sigilo. Os parlamentares autores do pedido citam a lei que define como crime a interceptações de comunicação e a quebra de sigilo de seu conteúdo sem autorização judicial. A pena para esse crime é de reclusão de dois a quatro anos, além de multa.

Os senadores que assinam o documento são os petistas Ângela Portela (CE), Donizeti Nogueira (MG), Fátima Bezerra (RN), Regina Sousa (PI), Humberto Costa (SP), Paulo Rocha (PA), Lindbergh Farias (RJ), Gleisi Hoffmann (RS), Jorge Viana (AC), José Pimentel (CE), além de Lídice da Mata (PSB-BA), Roberto Requião (PMDB-PR), Telmário Mota (PDT-RR) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).

O juiz federal Sérgio Moro, da Justiça Federal em Curitiba, enviou nesta segunda-feira (21) ao Supremo Tribunal Federal (STF) as interceptações telefônicas nas quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversa com a presidenta Dilma Rousseff e com o ministro do gabinete pessoal da presidenta, Jaques Wagner.

Na decisão, Moro entendeu que a parte da investigação da Lava Jato em que autoridades com foro por prerrogativa de função foram grampeados fortuitamente deve ser analisada pelo STF.

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"Já quanto ao presente processo, como fortuitamente foram colhidos diálogos com interlocutores ocupantes de cargos com foro privilegiado, é o caso de, independentemente da situação jurídica do ex-presidente, ainda assim remeter ao Egrégio Supremo Tribunal Federal para eventuais medidas cabíveis", decidiu o juiz.

Com base na decisão proferida pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, que determinou, na sexta-feira (18), que Lula continue sendo investigado pela Justiça Federal em Curitiba, Moro decidiu que a parte da investigação em que pessoas com foro não aparecem deve continuar com ele.

Lula é investigação pela suposta ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro pela compra de uma cota de um apartamento no Guarujá e em um sítio em Atibaia (SP), que é frequentado pela família do ex-presidente.

À medida em que a Polícia Federal e a Procuradoria da República preparavam a deflagração da Operação Aletheia, o ex-presidente Lula se movimentava em busca de apoios. No dia 28 de fevereiro - apenas cinco dias antes de a PF conduzi-lo coercitivamente para depor em uma sala no Aeroporto de Congonhas, o petista caiu no grampo com o deputado Wadih Damous (PT/RJ). Eram 12h37.

"E. e eu tô botando muita fé de que se a nossa bancada tiver animada ela pode fazer a diferença nesse processo com o Moro (juiz federal Sérgio Moro), com Lava Jato, com qualquer coisa, sabe?"

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O parlamentar disse."A bancada tá outra bancada."

Lula prosseguiu. "Eu acho que eles têm que ter em conta o seguinte, bicho, eles têm que ter medo. Eles têm que ter preocupação... um filho da puta desses qualquer que fala merda, ele tem que dormir sabendo que no dia seguinte vai ter dez deputados na casa dele enchendo o saco, no escritório dele enchendo o saco, vai ter uma representação no Supremo Tribunal Federal, vai ter qualquer coisa."

Wadih: Aham.

Lula insistiu na estratégia. "Vai ter dez discursos na Câmara contra ele, vai citar o nome dele, sabe? Se não parar com esse negócio de que eles tão acima do bem e do mal.

O parlamentar incentivou. "É isso mesmo."

O ex-presidente parecia irritado. "Sabe? Se um filho da puta desses qualquer pode pegar (ininteligível) sabe? E achincalhar, porque a gente não pode achincalhar."

Wadih Damous: "É verdade."

Lula: Sabe? Que história que é essa?

Para os investigadores o conteúdo desses e de outros grampos indicaria que o petista agia para obstruir a Justiça - o ex-presidente nega.

O deputado avalia que ‘a bancada tá com um perfil bem melhor, presidente’.

Lula disse. "Sabe? Eu tô muito otimista, bicho. Eu tô convencido que a bancada poderá ser a redenção do PT, viu?"

Wadih Damous concorda. "Aham."

Lula: "Sabe?"

Wadih: "E nesse sentido pode contar comigo."

Lula: "Tá bom, querido?"

Após ter conversas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgadas por causa de grampos ao ex-presidente no âmbito da Operação Lava Jato, a presidente da República, Dilma Rousseff, recebe na terça-feira, 22, um grupo de juristas, às 11 horas, no Palácio do Planalto. O encontro, que foi articulado para demonstrar apoio da classe jurídica ao governo Dilma, acontece também após a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) decidir apoiar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional.

Na última sexta-feira, 18, por 26 votos a 2, o conselho federal aprovou o parecer do relator, Érick Venâncio e declarou apoio ao afastamento de Dilma.

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Segundo fontes do Planalto, o grupo terá advogados, promotores, juristas e representantes de entidades ligadas a área. Denominado de "Encontro com juristas pela legalidade em defesa da democracia", o grupo também vai avaliar possíveis abusos por parte do juiz Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato.

Telefonemas grampeados pela Polícia Federal mostram que Luiz Inácio Lula da Silva e seu entorno agem como proprietários do sítio Santa Bárbara, em Atibaia. O imóvel está em nome de dois amigos do petista, entre eles o empresário Fernando Bittar. Mas, para levar convidados a um churrasco no local, Kalil Bittar, irmão do "dono" oficial, precisou de autorização de um dos filhos de Lula. Numa das conversas, ele soltou: "Estou na casa daquela acumuladora chamada Marisa Letícia".

Os diálogos sobre o sítio - que Lula admite usar, mas nega ser seu - foram interceptados entre 20 e 27 de fevereiro. Num deles, cujo teor foi resumido pela PF, o próprio Lula avisa um de seus auxiliares que precisa das chaves, pois vai chegar tarde. "Tais indícios sugerem que o sítio, de fato, seja da família de LILS (Luiz Inácio Lula da Silva), pois a chave do mesmo não fica com Fernando Bittar e Jonas Suassuna (outro proprietário), mas com LILS e seus filhos", registra relatório da PF.

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Em outra conversa, Kalil questiona Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho mais velho do ex-presidente: "Vou ver se convenço o Fabiano a vir para cá. Tenho sua autorização para isso?" "Você tem autorização para tudo, meu amor", assentiu Fábio.

Os dois discutem detalhes, como os cortes de carne para passar o dia na piscina. Ao chegar em Atibaia, Kalil liga novamente para Fábio Luís e diz que está com dificuldades para contatar o caseiro Maradona, que estava lavando os pedalinhos dos netos de Lula. O filho de Lula, então, avisa o funcionário: "O irmão do Fernando, o Kalil, tá indo praí".

Em relatório sobre as ligações, a PF diz causar "estranheza" um irmão do proprietário oficial do sítio pedir permissão para usar as dependências. Durante a estadia, Kalil liga para a mulher de Fábio Luís e faz vários comentários sobre a casa da "acumuladora chamada Marisa Letícia". Conta ter feito uma "limpa" na geladeira, repleta de comida vencida, a exemplo de um "hamburguesinho" fabricado "antes da eleição" da presidente Dilma Rousseff.

"Estou com a equipe de segurança, eu, Maradona, umas três galinhas que acho que não venceram. Acho que eu fiz uma merda: abri um vinho que tem número de série", confessou. O "hóspede" diz ter espiado o quarto da família, descobrindo que a "arma" que o presidente tem "é uma lanterna". "Se você olhar para cima do guarda-roupa, só tem roupão… Estou muito seguro com os equipamentos de segurança do presidente, uma lanterna", ironizou.

"Traz ovos, rúcula e vem aqui para São Bernardo", disse Renata.

O sítio está no centro das investigações da Operação Lava Jato. A suspeita é de que o ex-presidente oculte ser o verdadeiro dono na propriedade, reformada por empreiteiras acusadas de desviar recursos da Petrobrás. O petista diz que frequenta o Santa Bárbara, mas sustenta não ser o dono.

Em conversa interceptada pela Polícia Federal na Operação Aletheia, o ex-presidente Lula diz que "não quer fazer como Nero" - o terrível imperador alucinado que pôs fogo em Roma e matou a própria mãe. "Eu não quero incendiar o País, eu sou a única pessoa que poderia incendiar o País. Não quero fazer como Nero, não quero, sou um homem de paz, tenho família", disse o ex-presidente em conversa com o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas.

O presidente da CUT diz a Lula que "os advogados vieram aqui, conversaram… possibilidade de uma batida policial no sindicato, na CUT".

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Lula responde: "Mas tudo isso, ô Vagner, é o seguinte, tudo isso que for exagero deles termina sendo um benefício pra nós. Importante é não deixar a CUT sozinha, percebe. É o seguinte: se eles puderem acabar com o PT, acabar com a CUT, acabar comigo, eles acabam comigo."

"Eles vão ter que brigar muito", diz o presidente da Central. Lula conta, então, que "teve uma reunião boa com 26 senadores, foi boa a conversa".

"Agora, é o seguinte, o problema é que nós precisamos montar uma equipe para trabalhar esse País e eu tô disposto meu caro a percorrer este País. Eu tô muito à vontade, muito à vontade."

Depois, o ex-presidente reitera a seu interlocutor a necessidade de "ter um esquema de segurança pra CUT, pode ter vândalos que podem querer quebrar a CUT, tem que ter um esquema tá bom, querido?"

O petista fala de uma entrevista que deu. Em sua própria avaliação ele "foi muito bem". "Sem falsa modéstia, na entrevista eu tava muito bem, eu tava com muita vontade de falar."

Vagner Freitas incentivou. "Você deu um show, foi brilhante, deu show. Mudou as coisas no Brasil. Tenha força que a gente tá no jogo."

Lula se despede citando o imperador incendiário. "É isso querido. Como eu disse pros senadores. Eu não quero incendiar o País. Eu sou a única pessoa que poderia incendiar o País. Não quero fazer como Nero, sou uma homem de paz, tenho família."

Em conversa interceptada pela Polícia Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ao irmão Vavá que um grupo de "peões" estaria a postos no domingo último para "bater nos coxinhas" que fossem protestar em frente a sua casa em São Bernardo do Campo (SP). "Domingo eu vou ficar um pouco escondido porque vai ter um monte de peão na porta de casa para bater nos coxinhas. Se os coxinhas aparecerem vão tomar tanta porrada que eles nem sabem o que vai acontecer", afirmou Lula.

Coxinha é como os petistas apelidaram os manifestantes de classe média e classe média alta que defendem a saída da presidente Dilma Rousseff. No último domingo, milhões de manifestantes foram às ruas para pedir o impeachment de Dilma e a prisão de Lula, investigado pela Operação Lava Jato por suspeita de receber dinheiro ilegal de empreiteiras. Parte protestou no prédio de Lula em São Bernardo. Não houve registro de confronto.

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O juiz federal Sérgio Moro, da primeira instância da Justiça Federal em Curitiba, liberou nesta quinta-feira (17) novos áudios interceptados pela Polícia Federal (PF) nos aparelhos telefônicos usados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante as investigações da Operação Aletheia, que investiga o ex-presidente e familiares.

Em dos áudios divulgados no processo que envolve Lula na Justiça Federal em Curitiba, o ex-presidente, identificado como LILS, conversa com um de seus funcionários sobre a ida dele ao sítio frequentado por sua família em Atibaia (SP). A gravação foi interceptada no dia 20 de fevereiro, às 20h6.

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Segundo relatório da área de inteligência da PF, Lula perguntava a um interlocutor chamado Azevedo. LILS x AZEVEDO – LILS (Lula) pergunta se a chave do SITIO está com MARCOS. AZEVEDO diz que está. LILS diz para AZEVEDO entrar em contato com eles porque eles vão chegar muito tarde. LILS quer pegar a chave amanhã de manhã porque LILS vai para o SITIO amanhã de manhã bem cedo. AZEVEDO diz que vai tentar falar com a DONA CARLA. LILS diz que mais tarde vai ligar para AZEVEDO pois vai pedir umas “ESFIHAS”. AZEVEDO diz que aguarda a ligação.”, diz relatório das escutas.

Além de Lula, também há outras escutas sobre os filhos do ex-presidente, a assessora particular dele, Clara Ant, e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.

Posse

Na quarta-feira (16), Moro anexou ao processo um grampo telefônico no qual Lula conversa com a presidenta Dilma Rousseff. Após a medida, a defesa do ex-presidente e a presidenta reagiram contra a divulgação, que consideraram ilegal.

Lula foi empossado na manhã desta quinta-feira como ministro da Casa Civil. No entanto, uma liminar da Justiça Federal do Distrito Federal suspendeu os efeitos da posse. O ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, informou que recorreu ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região contra a decisão e declarou que o juiz federal Itagiba Catta Preta Neto, responsável pela decisão, tem se “engajado” contra o governo Dilma.

Três dias depois de ter sido levado à força pela Polícia Federal para depor no inquérito da Operação Aletheia, o ex-presidente Lula sugeriu ao ministro Nelson Barbosa, da Fazenda, que pressione a Receita. O petista reclama dos auditores que estão fiscalizando as contas do Instituto Lula. "É preciso acompanhar o que a Receita tá fazendo junto com a Polícia Federal, bicho", disse Lula, em ligação de 7 de março. "Você precisa se inteirar do que eles estão fazendo no Instituto. Se eles fizessem isso com meia dúzia de grandes empresas, resolvia o problema de arrecadação do Estado."

O ministro é econômico nas palavras. "Não, é… (gagueja) Eles fazem parte."…"Uhumm, sei."

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Lula revela nervosismo. "Sabe? eu acho que eles estão sendo filho da puta demais." "Tá", responde Nelson Barbosa.

"Tão procurando pelo em ovo", insistiu Lula. "Eu acho… eu vou pedir pro Paulo Okamotto (presidente do Instituto Lula) botar tudo no papel, porque era preciso você chamar o responsável e falar ‘que porra que é essa?'"

O ex-presidente sugere ao ministro que questione os auditores e os coloque no encalço de veículos de comunicação e de desafeto político. "Vocês estão fazendo o mesmo com a Globo, com o Instituto Fernando Henrique Cardoso, o mesmo com Gerdau, o mesmo com o SBT, o mesmo com a Record? Ou só com o Lula, caralho?! Vai tomar no cu."

Nelson Barbosa, solícito. "Tá, pede pro Paulo colocar." Lula continua a reprimenda. "Eu vou pedir pro Paulo colocar e te entregar, porque, veja, não tem problema que investigue não." "Mas tem que ser igual, né?", reconhece o ministro.

"Não é possível. Você veja, tem uma investigação contra a Veja, quando a Bandeirantes acusou a Veja de fazer acordo com aquela empresa africana, essa porra dessa investigação tá parada na Receita desde 2008."

"Uhumm", resmunga Nelson Barbosa. "Algum filho da puta sentou em cima", supõe Lula. "Não, eu sei… essa coisa da velocidade já tinha chegado pra mim e eu pedi pra eles apurarem porque que tem velocidades diferentes", responde o ministro.

O Instituto Lula não se manifestou.

O novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, sugeriu nesta quinta-feira, 17, após assumir o cargo, que o juiz Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato na Justiça Federal em Curitiba, pode ter cometido crime ao tornar públicos os áudios entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff. De acordo com o ele, que é subprocurador-geral da República, Moro deveria ter "fechado os autos e encaminhado ao Supremo Tribunal Federal" ao encontrar o áudio da presidente, que possui foro privilegiado em razão da sua função.

Na visão do ministro, existem "várias circunstâncias" que sugerem que a interceptação telefônica foi ilegal e prometeu "ir atrás" dessa apuração e "tirar as consequências disso, doa a quem doer".

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"Se houve conversa da presidente que merecesse atenção jurisdicional não caberia ao juiz de primeira instância nem sequer aquilatar o valor daquela prova e muito menos dar-lhe publicidade. Como se trata de uma eventual prova obtida em encontro fortuito, sua excelência, o meritíssimo juiz, deveria ter fechado os autos e encaminhado ao STF. Não o fez. E mais, ainda declarou de público que achava importante que a população soubesse", disse Aragão a jornalistas.

Ontem, Moro levantou o sigilo sobre os autos da investigação sobre o ex-presidente Lula e tornou públicos áudios interceptados por investigadores. Em uma das conversas, a presidente Dilma conversa com Lula sobre o termo de posse como ministro da Casa Civil. No diálogo, de ontem, a presidente afirma que iria enviar para Lula o termo de posse para ser usado em "caso de necessidade". Para investigadores, a conversa demonstra tentativa de evitar a prisão do ex-presidente conferindo ao petista foro privilegiado.

O novo ministro da Justiça disse que a publicação do áudio envolvendo a presidente "cheira muitas vezes ao artigo 10 da lei de interceptações, que qualifica como crime quando se torna público uma gravação que diz respeito a investigações autorizadas dentro do marco legal e constitucional".

Ele saiu em defesa, no entanto, da legalidade do diálogo entre Dilma e Lula. Segundo ele, em razão do estado de saúde da esposa do ex-presidente Lula, Marisa Letícia, a presidente Dilma encaminhou o termo de posse para assinatura do petista. Assim, segundo ele, o Planalto poderia realizar a cerimônia de posse ainda que Lula estivesse ausente. "Não podemos neste momento de crise ter o cargo de chefe da Casa Civil vago. Então foi estabelecido: assine o termo que, chegando, a gente faz a posse com a presidente assinando o termo na cerimônia e o presidente Lula faz a transferência de cargo na terça-feira. Então está tudo muito claro que não houve ali nenhuma intenção de absolutamente nada", disse Aragão.

Segundo ele, a presença de Lula é "fundamental" no governo neste momento para "construir pontes e chegar a algum tipo de consenso nacional". "O presidente Lula é uma pessoa chave nisso", disse Aragão. Citado nas escutas por Lula como "nosso amigo", Aragão disse que as menções a seu nome não o afetam e que o ex-presidente fez observações na esfera privada. "Isso pra mim é uma prova cabal de que minha atuação foi sempre pautada pelo absoluto republicanismo", completou o novo ministro.

Vazamentos

Responsável agora também pela Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça, Aragão afirmou que irá investigar vazamentos seletivos das investigações. "Quero tomar pé e saber em que medida essa seletividade está sendo operada. Não vamos admitir de jeito nenhum falta de profissionalismo. Investigações devem ser feitas com maior respeito à presunção de inocência", disse o ministro.

O ex-ministro Gilberto Carvalho, que chefiou o gabinete do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chamou a interceptação e a divulgação de conversas do petista com a presidente Dilma Rousseff e outros aliados de prática criminosa. Ele disse que o juiz Sérgio Moro, que autorizou os grampos, agiu ilegalmente e terá de responder pelo que o governo e o PT consideram uma afronta a prerrogativas legais da Presidência.

"Ele não pode pisar na Constituição e ficar por isso mesmo. Ele não é justiceiro, é juiz. Não perde por esperar", declarou, pouco antes de participar, no Palácio do Planalto, da posse de Lula como ministro da Casa Civil nesta quinta-feira, 17. O ato, no entanto, foi suspenso pela Justiça Federal. Carvalho também aparece nas conversas gravadas.

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O ex-ministro assegurou que o partido e o governo vão judicializar a questão da divulgação do grampo. "(A prova) Foi colhida ilegalmente e, pior, ele dá publicidade mais ilegalmente ainda. Não tem forma de ele escapar dessa", criticou.

O ex-ministro falou com a reportagem do Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, antes de a posse de Lula ser suspensa. Há possibilidade de recurso. Ele dizia que os questionamentos eram esperados. "Vai ser judicializada (a posse) e nós vamos vencer todas (as ações). Não tem base, é só desespero. Eles não contavam que o Lula iria aceitar esse papel (de ministro), difícil para ele", afirmou.

Conforme Carvalho, com Lula na Casa Civil, será possível recompor a base aliada e a militância para o governo reagir à crise e fazer frente ao processo de impeachment de Dilma. "Aquilo que aparentemente estava morto tomou força", disse.

O delegado de Polícia Federal Igor Romário de Paula, que integra a força-tarefa da Operação Lava Jato, afirmou em depoimento nessa quarta-feira (16) no processo contra executivos ligados ao Grupo Odebrecht, que 'não existiu' ordem para instalação de aparelho de escuta ambiental na Custódia da PF em Curitiba, base da missão.

Arrolado como testemunha, Igor Romário afirmou que 'nenhuma autoridade envolvida na Operação Lava Jato, nem da Superintendência (da PF no Paraná)' determinou a colocação de grampo para captar conversas do doleiro Alberto Youssef, peça central da investigação.

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A suspeita é que o grampo seria usado para captar diálogos do doleiro com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, preso dias depois, para confrontar suas versões. Defensores de alvos da Lava Jato tentam desqualificar a investigação, e até obter sua nulidade, sob argumento de que teria havido grampos ilegais nas celas da PF.

"Até aquele momento (do encontro do equipamento) desconhecíamos que existia esse tipo de aparelho instalado no forro da Custódia", declarou o delegado na audiência presidida pelo juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, onde estão em curso todos os processos criminais da Lava Jato que não envolvem políticos com foro privilegiado.

Youssef foi preso dia 17 de março de 2014. O suposto grampo foi localizado cerca de duas semanas depois. "A gente vinha fazendo várias revistas na Custódia para localizar itens não autorizados", relatou o delegado Igor Romário. "Por informação da possibilidade de haver um telefone lá dentro foi feita revista na Custódia e encontrado uma parte do equipamento nos pertences de Alberto Youssef. Até ali não sabíamos nem que o equipamento seria da Polícia, o que foi confirmado em seguida, tombado, pertencente ao Núcleo de Inteligência."

Igor Romário esclareceu que as peças foram recolhidas, a administração da Superintendência comunicada e uma sindicância instaurada. "A sindicância concluiu que o equipamento não tinha condição de uso", disse.

Ao procedimento, segundo Igor Romário, foram anexados documentos 'sugerindo que o equipamento estivesse lá (na Custódia) desde 2008 quando o preso Fernando Beira Mar (traficante de drogas) ficou lá'.

"Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, nos vários meses iniciais da operação, nunca estiveram presos na mesma cela", informou Igor Romário. "Youssef foi ouvido na Polícia Federal e se manteve em silêncio. Paulo Roberto Costa foi ouvido no Rio de Janeiro. Não faz muito sentido uma escuta encontrada já danificada. Seria incoerente se estivéssemos realmente ouvindo e não ter tomado providência."

Outro delegado de Polícia Federal que compõe a força-tarefa da Lava Jato Márcio Adriano Anselmo também depôs na audiência de quarta-feira, 16. Ele foi indagado se a PF investigou os ex-deputados André Vargas (PT/PR) e Luiz Argôlo (ex-PP, afastado do SD/BA) quando eles ainda exerciam seus mandatos na Câmara. Ele disse que a PF não investigou deputados.

O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) disse que a revelação de que escutas ilegais foram implantadas na sede da Superintendência da Polícia Federal no Paraná demonstram que o juiz Sérgio Moro foi enganado. "Mentiram para o juiz", concluiu.

Na tarde desta quinta, 2, o agente da PF Dalmey Fernando Werlang contou na CPI da Petrobras que implantou escutas na cela do doleiro Alberto Youssef e no fumódromo da Superintendência a pedido do superintendente da PF no Paraná, Rosalvo Franco, e dos delegados Igor Romário de Paula e Márcio Anselmo. A escuta no fumódromo teria sido pedida por uma outra delegada, que é mulher de outro delegado.

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No depoimento anterior, o ex-diretor de Inteligência da PF, José Alberto de Freitas Iegas, confirmou que foi encontrada uma escuta na cela de Youssef. O aparelho, segundo Iegas, era diferente do que foi colocado com autorização judicial na época do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. A PF chegou a informar que a escuta encontrada estava inativa e o juiz Sérgio Moro considerou, com base na sindicância da PF, que não havia irregularidades.

Um aparelho de escuta foi encontrado no segundo andar do prédio da superintendência da Polícia Federal em Curitiba, um andar abaixo de onde ocorrem as investigações da Operação Lava Jato, que apura esquema de corrupção na Petrobras.

A reportagem apurou que o material apreendido foi encaminhado para análise do Departamento de Coordenação de Assuntos Interno da PF em Brasília. Conforme investigadores, a escuta estava próxima de uma porta de saída no segundo andar. A PF não irá se manifestar sobre o caso.

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A Operação Lava Jato é a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro do País. Estima-se que o volume de recursos desviados dos cofres da Petrobrás, maior estatal do país, esteja na casa de R$ 6,2 bilhões.

Grampos telefônicos da Polícia Federal revelam que em 12 de novembro de 2014 - dois dias antes de ser preso - o presidente da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, jantou com Mário Góes, novo foco da Operação Lava Jato acusado de ser o maior operador de propinas na Diretoria de Serviços da Petrobras no esquema de cartel e corrupção na estatal.

"Você esteve com nosso amigo em comum?", pergunta Pessoa, ao telefone, para "Mário". Era 12h28 do dia 12 e o celular do executivo estava grampeado, com autorização judicial. A PF monitorava os últimos passos do executivo antes de sua prisão, no dia 14. Ele foi denunciado em dezembro acusado de coordenar o cartel de 16 empreiteiras que corrompia funcionários e fraudava contratos na Petrobras.

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"Tô tentando, que dificuldade, viu? Já mandei gente… vão ver se hoje eu consigo", responde o interlocutor. Era Mário Frederico de Mendonça Góes, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena), apontado como carregador de "mochilas de dinheiro" para o ex-diretor de Serviços Renato Duque e seu ex-braço direito, Pedro Barusco, que era gerente de Engenharia.

No diálogo que se segue, Pessoa reclama com o operador: "Tô tentando tomar seu vinho, não consigo tomar seu vinho".

"Vai tomar meu vinho sim, com fé em Deus. Está bom?", responde Góes, em busca de acalmar o amigo. Pessoa insiste e sugere se o "vinho" não poderia ser no mesmo dia.

"Hoje? Não sei, eu te confirmo. Se possível… Eu te confirmo! Por mim, a gente pode sair para tomar um vinho hoje à noite", responde o operador de propinas. "Tem um outro…, que quer te ver também. Tem um amigo que quer te ver, pô", completa Góes, que acabou preso no dia 5 de fevereiro. Ambos estão na carceragem da PF, em Curitiba.

Pessoa é um apreciador de vinhos, segundo interlocutores próximos, mas os diálogos e o encontro são considerados suspeitos. Documentos que foram apreendidos nas buscas na casa e nas empresas de Góes, no dia 5 de fevereiro, indicando a atuação do cartel via operadores de propina, mesmo após a deflagração da operação, em março de 2014, reforçaram as necessidades de aprofundamento das apurações envolvendo o elo entre o executivo da UTC e o operador de propinas.

Jantar

Em uma segunda conversa grampeada entre Pessoa e Góes, às 18h34, o operador relata sua tentativa frustrada de localizar o "amigo", mas fecha o "vinho" para um jantar em sua residência, no Rio, naquela mesma noite.

"Olha não consigo achar de jeito nenhum, rapaz, já tentei de tudo (o 'amigo'). Agora você querendo tomar um vinho tenho um vinho bom esperando por você, pô", afirma Góes. "A casa estará sempre aberta para recebê-lo."

Seria o penúltimo jantar do executivo antes de ser preso, na manhã do dia 14. Em conversa monitorada às 19h40, o executivo da UTC confirma que chegou ao Rio e está à caminho da residência de Góes.

Contratos

Mário Góes foi o único de um grupo de 11 operadores que atuava na área de Serviços preso na nona fase da Lava Jato, batizada de Operação My Way, deflagrada dia 5. O nome foi uma referência ao codinome usado para identificar Duque na contabilidade paralela da propina.

No dia que os agentes federais foram até sua casa e a sede de duas empresas suas de consultoria, a Riomarine e a Mago, ele não foi encontrado. Encurralado, Góes, que tem 74 anos, acabou se entregando três dias depois.

Nos seus endereços, a PF encontrou a prova do elo formal entre a UTC e o homem considerado o mais graúdo dos operadores da diretoria que era controlada pelo PT. São 14 notas fiscais emitidas pela empresa de Góes, a Riomarine Empreendimentos Marítimos Ltda., para a empreiteira que totalizaram R$ 9,7 milhões. Há ainda contratos assinados entre 2004 e 2013 e uma minuta contratual de abril de 2014 da UTC, ou de consórcios integrados por ela, com a Riomarine.

Sem qualquer funcionário no período em que mais emitiu notas para seis empreiteiras do cartel nem "relatórios de consultoria ou assessoria que denotassem o efetivo cumprimento" dos serviços prestados, as suspeitas dos investigadores da Lava Jato são que a Riomarine fosse uma fachada usada para "esquentar" o dinheiro da propina.

"Foram apreendidos apenas, e em grande número, documentos que simplesmente atestam intenso fluxo financeiro entre os ‘clientes’ e a Riomarine, entre ela e seus sócios e outras pessoas jurídicas, a exemplo de cheques, notas fiscais, transferências bancárias, etc."

Ao todo, as notas indicam que UTC e outras empreiteiras do cartel pagaram R$ 39,7 milhões para a Riomarine.

Defesa

Os criminalistas Rogério Marcolini, Marco Moura e Lívia Novak, que defendem Mário Góes, sustentam que o cliente está "com 74 anos de idade e saúde precária" e que foi o único entre os 11 nomes apontados pelo ex-gerente Pedro Barusco como operadores de propina que teve prisão cautelar decretada.

A Riomarine, segundo a defesa, foi fundada em 1987 no período que foi presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena) - 1987 a 1989 -, permanecendo hoje como membro permanente do conselho superior da entidade.

"(Góes) jamais se dedicou a atividade de câmbio no mercado negro, não conhece as pessoas referidas e não integra qualquer dos quatro grupos identificados na chamada Operação Lavajato", informam os advogados.

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