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Os ministros da 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negaram recurso do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e mantiveram o trancamento de uma ação penal contra o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), que era acusado por corrupção e lavagem de dinheiro. Em sessão realizada na tarde dessa terça-feira (20), os magistrados acompanharam, por unanimidade, o voto do relator, Ribeiro Dantas, que considerou que Haddad foi inocentado das imputações pela Justiça Eleitoral e assim não caberia manter um processo sobre os mesmos fatos na Justiça Comum.

O caso envolve denúncia do Ministério Público paulista que apontou que o empreiteiro Ricardo Pessoa, delator da Operação Lava Jato, pagou, com valores de caixa 2, dívidas de campanha do ex-prefeito com gráficas em troca de futuros benefícios para sua empresa, a UTC Engenharia.

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Segundo a Promotoria, o petista teria solicitado, entre abril e maio de 2013, por meio do então tesoureiro do seu partido, João Vaccari Neto, a quantia de R$ 3 milhões da empreiteira para supostamente quitar dívidas de campanha com a gráfica de Francisco Carlos de Souza, o "Chicão Gordo", ex-deputado estadual do PT.

O MP-SP sustentou que, entre maio e junho daquele ano, a empreiteira efetivamente repassou a soma de R$ 2,6 milhões a Haddad.

Em novembro de 2018, o juiz Leonardo Valente Barreiros, da 5ª Vara Criminal da Capital, acolheu parcialmente denúncia e abriu a ação penal. Três meses depois, em fevereiro de 2019, os desembargadores da 12ª Câmara do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo acolheram um pedido da defesa de Haddad.

Os magistrados trancaram o processo seguindo entendimento do voto do relator, desembargador Vico Mañas, de que denúncia não esclarecia qual a vantagem pretendida pelo empreiteiro, uma vez que os interesses da UTC foram contrariados pela gestão municipal, que chegou a cancelar um contrato já assinado com a empresa para a construção de um túnel na Avenida Roberto Marinho.

O representante do Ministério Público junto ao Tribunal, Mauricio Ribeiro Lopes, concordou também com a tese da defesa, destacando que a acusação falhou na descrição do crime e que não foram trazidos elementos que justificassem a ação penal.

Defesa

Os advogados Pierpaolo Cruz Bottini e Tiago Rocha, que defendem Haddad, se manifestaram sobre a resolução do STJ. "A decisão da Corte Superior é irretocável e junta-se às outras proferidas pelas instâncias administrativa e eleitoral que já haviam reconhecido a inexistência dos fatos relatados pelo delator".

O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), foi indiciado pela Polícia Federal por uso de caixa 2 na campanha de 2012 ao comando da prefeitura da capital paulista. O inquérito é um desdobramento da Operação Lava Jato e acusa o petista de crime de falsidade ideológica eleitoral. Além dele, também foram indiciados ex-tesoureiro de campanha do PT João Vaccari Neto, o coordenador da campanha de Haddad à Prefeitura de São Paulo, Chico Macena, o ex-deputado pelo PT Francisco Carlos de Souza. 

As investigações foram deflagradas a partir da delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, sócio da empreiteira UTC, que revelou ter sido procurado por Vaccari depois das eleições para pagar uma despesa deixada pela campanha referente a serviços gráficos custando R$ 2,6 milhões. O valor real seria de R$ 3 milhões, mas uma negociação feita pelo ex-diretor Financeiro da UTC Walmir Pinheiro conquistou o desconto para o pagamento à vista. 

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“Todo conjunto probatório colhido nos autos está a indicar que a prestação de serviços gráficos à campanha de Fernando Haddad por parte das empresas LWC e C NDIDO & OLIVEIRA GRÁFICA LTDA. em valores acima daqueles declarados à Justiça Eleitoral, bem como o pagamento pela prestação desses serviços via empresas de fachada e recebimento de numerário em espécie, com origem ilícita",  afirma o relatório entregue pela PF à Justiça Eleitoral nesta segunda (15). 

A gráfica utilizada era de um homem chamado Chicão, que até o momento não havia sido identificado, mas depois a PF certificou que se tratava do ex-deputado Francisco Carlos de Souza. Outras três pessoas ligadas a uma gráfica que prestou serviços para a campanha eleitoral de Haddad também foram indiciadas no mesmo inquérito. 

A subprocuradora-geral da República Cláudia Sampaio defendeu, nessa terça-feira (22), o recebimento da denúncia no Inquérito 4118 contra o deputado Federal Eduardo da Fonte (PP-PE) e o executivo da Petrobras Djalma Rodrigues de Souza. Eles são acusados de corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo recebimento de propina para beneficiar a UTC Engenharia nas obras da Coquepar, que seria construída no Paraná para fazer o processamento de coque da Petrobras.

O julgamento na 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) foi suspenso após as sustentações orais e está previsto para ser retomado na próxima terça-feira, 29 de agosto, com o voto do relator, ministro Edson Fachin.

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Em sustentação oral, Cláudia Sampaio destacou que a denúncia fez uma descrição minuciosa das condutas que foram atribuídas e que não há como dizer que incorreu em inépcia. “Quem lê a peça acusatória sabe exatamente quais fatos estão sendo atribuídos aos dois acusados, não há, portanto, como se dizer em cerceamento de defesa ou que houve errônea descrição dos fatos”, ponderou. Segundo ela, a peça apresenta indícios suficientes de autoria com um conjunto probatório que sustenta a acusação para seu recebimento.

Sobre a alegação da defesa de abusividade da acusação, Cláudia Sampaio explicou que o Ministério Público Federal fez uma prévia demonstração do contexto da Lava Jato onde a conduta se inseriu. Segundo ela, essa tem sido uma prática adotada em todas as denúncias que envolvem corrupção na Petrobras. A representante do MPF sustentou que, em razão do depoimento do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, “não houve a imputação de nenhum outro fato criminoso aos acusados que não sejam esses que estão especificamente delimitados”.

Cláudia Sampaio alegou que a denúncia não está calcada apenas na colaboração de Ricardo Pessoa, como aponta a defesa, mas em um conjunto de elementos como depoimentos, documentos, coincidência das viagens de Eduardo da Fonte nos períodos de tratativas, dados de prestações de contas do acusado. “Há um conjunto de elementos de prova que mostram que essa colaboração de Ricardo Pessoa, pelo menos nessa fase para recebimento da denúncia, não é um fato absurdo e há indícios de que realmente aconteceu nos moldes descritos”, afirmou.

Entenda o caso – Na denúncia, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, destaca que Eduardo da Fonte e Djalma Rodrigues pediram R$ 300 mil para beneficiar a UTC em obras da Coquepar. E que, segundo Ricardo Pessoa, Eduardo da Fonte lhe aplicou um “passa-moleque”, porque as obras jamais se efetivaram.

Para o PGR, Eduardo da Fonte foi apresentado a Ricardo Pessoa por Djalma Rodrigues de Souza como um deputado que poderia ajudar a UTC a ganhar contratos no âmbito da chamada Petrocoque, controlada pela Petrobras. Depois de reuniões na sede da construtora em São Paulo, foi estabelecido o valor da propina.

Segundo a denúncia, Ricardo Pessoa pagou R$ 300 mil solicitados por Eduardo da Fonte, sendo R$ 100 mil em espécie e R$ 200 mil em doações oficiais ao diretório estadual do Partido Progressista em Pernambuco, valor repassado à sua campanha de 2010 para o cargo de deputado Federal. Ricardo Pessoa apresentou documentos para confirmar o pagamento da propina.

Do MPF

A 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) deu provimento nesta quarta-feira, 2, por unanimidade, ao recurso da Petrobras e estabeleceu o valor mínimo a ser cobrado do ex-presidente da UTC Engenharia Ricardo Pessoa a título de reparação. O valor chega a R$ 38,2 milhões e será acrescido de juros moratórios.

Preso em novembro de 2014 na Operação Juízo Final, o executivo firmou acordo de delação premiada e confessou ocultar propina em doações eleitorais e partidárias ao PT, PMDB, PP e outros partidos. Além de apontar a existência de corrupção na Petrobras, citou a reprodução da mesma sistemática em outras áreas do governo, como as obras da Usina Nuclear de Angra 3, no Rio, envolvendo a Eletrobrás e sua subsidiária para o setor, a Eletronuclear.

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A petrolífera recorreu para que ficasse garantida a reparação, independentemente do acordo de colaboração premiada assinado pelo empresário. Segundo a Petrobras, o valor mínimo do dano deveria ser equivalente ao valor da propina, estimada em 3% dos contratos citados na denúncia.Os efeitos da decisão incidirão na esfera cível.

Essa é a 16ª apelação criminal da Operação Lava Jato julgada pelo tribunal. A ação versa sobre crimes de organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro consumados no âmbito de obras contratadas pela Petrobras para construção de Unidades de Geração de Vapor e Energia, Tratamento de Água e Afluentes no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro - Comperj.

Segundo o Ministério Público Federal, os réus Pessoa, Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e Márcio Bonilho seriam os responsáveis pelos ilícitos.

No primeiro grau, Bonilho foi absolvido por insuficiência de provas. Paralelamente, o juízo da 13ª Vara deixou de condenar Costa e Youssef por compreender que as acusações discutidas nesta causa já são objeto de outros processos criminais que tramitam contra eles. Pessoa foi condenado por pertinência à organização criminosa e corrupção ativa a uma pena privativa de liberdade de 8 anos e 2 meses de reclusão. Em relação à acusação de lavagem de dinheiro, ele foi inocentado.

No recurso analisado nesta quarta-feira,2, pelo Tribunal, somente a Petrobras apelou.

O acordo de leniência firmado pelo governo federal com a UTC Engenharia deve destravar os processos de outras empreiteiras alvo da Operação Lava Jato que, desde o fim de 2014, tentam fechar uma colaboração e indenizar os cofres públicos em troca de continuar contratando com o poder público.

Atualmente, há uma fila de 12 empresas à espera de um acordo de leniência com o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU), que trabalha em parceria com a Advocacia-Geral da União (AGU) nas tratativas com as companhias. A expectativa dos órgãos é de que ao menos mais dois acordos sejam concluídos em breve. A UTC se comprometeu a pagar R$ 574 milhões em 12 anos pelos prejuízos causados por corrupção.

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A Andrade Gutierrez também está perto de concluir suas negociações. A empreiteira já fechou um acordo com o Ministério Público Federal, mas vinha enfrentando dificuldades por causa de divergências entre os órgãos que têm competência para fiscalizar e celebrar acordos.

O Tribunal de Contas da União (TCU) decretou parte das empreiteiras inidôneas neste ano, enquanto o Executivo negociava acordos. Houve também mudanças na lei que disciplina o assunto em 2015, o que paralisou vários processos.

Desde o início do governo Michel Temer, a AGU promoveu ações de improbidade contra empresas investigadas, o que foi interpretado por elas como um entrave para os acordos. Para as empresas, os acordos com o MPF devem ser considerados válidos também no Executivo, que faz negociações de forma independente.

Segundo advogados de empresas ouvidos pelo Estado, a lentidão da CGU e as cobranças da AGU, além das ameaças do TCU, configuraram um quadro de "desincentivo" à leniência. O acordo com a UTC, no entanto, sinalizou uma mudança de postura, disseram.

'Deslealdade'

Advogados envolvidos na leniência da Odebrecht chegaram a entregar aos procuradores de Curitiba um estudo jurídico sobre o receio de a empresa ser vítima de "deslealdade governamental". A Odebrecht fez questionamento formal à força-tarefa sobre quais informações poderia entregar à CGU para dar início à negociação de leniência, em razão do temor de uma retaliação do governo. Os procuradores indicaram que a empreiteira poderia compartilhar as informações que foram tornadas públicas.

O Grupo J&F tem se queixado publicamente da "retaliação" sofrida após fechar seu acordo. Cerca de um mês após o acordo vir à tona, a AGU pediu que o TCU declare a indisponibilidade de bens da JBS.

'Superfiscalização'

Integrante da equipe responsável pelo acordo da UTC, o advogado Sebastião Tojal disse ver com otimismo o novo posicionamento da CGU, mas apontou a existência de vários órgãos com competência de fiscalização e a falta de coordenação entre eles como empecilho para a eficácia e celeridade nas tratativas. "A iniciativa de buscar um superfiscalização acabou sendo substituída por uma ação desorientada, que resultou no atraso dos acordos", afirmou Tojal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente do Tribunal de Contas da União, Raimundo Carreiro, informou, por meio de nota, que o inquérito da Polícia Federal sobre o caso UTC foi aberto há cerca de dois anos e, imediatamente, "no intuito de colaborar com as investigações", quebrou seus sigilos bancário, fiscal e telefônico, prestando os esclarecimentos solicitados.

O ministro afirmou que, quando o relatório da PF foi concluído, preparou um memorial e o entregou à Procuradoria-Geral da República. Oportunamente, disse Carreiro, o documento será entregue ao Supremo Tribunal Federal. "Aguardo com muita serenidade o resultado das investigações pelo Ministério Público e pelo Supremo Tribunal Federal, com a certeza de que tudo será esclarecido, pois, da leitura do relatório, concluo que, se houve irregularidades na licitação de Angra 3, estas ocorreram fora da esfera do TCU", afirmou.

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Aroldo Cedraz, em nota de sua assessoria, reiterou "sua total isenção, já demonstrada ao longo de onze anos de atuação como magistrado". "Suas ações sempre se pautaram pela ética, lisura e respeito aos princípios republicanos. Caso seja instado a prestar esclarecimentos, ele o fará no âmbito do devido processo legal", disse o comunicado.

A reportagem enviou questionamentos na quinta-feira passada a Tiago Cedraz. Na sexta-feira e ontem, sua assessoria informou que estava providenciando uma manifestação para enviar à reportagem, mas até a conclusão desta edição não houve resposta.

A assessoria de imprensa do TCU informou que o assessor Maurício Lockis não quis se pronunciar. A assessoria de Luciano Araújo, procurada na sexta-feira e ontem, não respondeu aos contatos da reportagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em petição à força-tarefa da Operação Lava Jato, a defesa do lobista Zwi Skornicki rechaçou informações do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia. Em novo depoimento à Polícia Federal, o empreiteiro afirmou que combinou com Skornicki repasse de R$ 500 mil para tirar do caminho o grupo holandês Keppels Fels de contratos de construção de plataformas da Petrobrás.

O lobista se colocou 'à disposição' para uma eventual acareação com Ricardo Pessoa. Na terça-feira (9), a defesa de Zwi Skornicki anexou uma declaração assinada pelo lobista aos autos da Lava Jato.

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"Vem declarar por meio desta que são inverídicas as imputações formuladas pelo sr. Ricardo Ribeiro Pessoa no referido documento, quando afirma que 'o contrato firmado e o único pagamento feito a ela [EAGLE] deveu-se a uma facilitação entre dois concorrentes' "que para afastar a Keppel Fel dos pacotes nos quais a UTC tinha interesse o declarante combinou com Swi (sic) Skornicki de pagar a ele o valor de R$500 mil, para que este deixa e de apresentar proposta nos dois pacotes que tinham interesse" e que o contrato da UTC com a empresa Eagle 'tinha objeto simulado'", disse Zwi.

O lobista declarou que 'efetivamente prestou serviços para a UTC Engenharia S/ A, por meio da Eagle Consultoria em Engenharia Ltda., em relação a aditivo para a P55, tal como consta no contrato inclusive apreendido em busca e apreensão realizada em sua residência, tendo feito reuniões de orientação com o Srs. Mauro Cruz e Maximo Alves, à época funcionários da UTC, conforme consta no Anexo 16 do seu acordo de colaboração'.

O dono da empreiteira UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, em novo depoimento à Operação Lava Jato, afirmou que combinou com o empresário Zwi Skornicki de pagar a ele R$ 500 mil para afastar o grupo holandês Keppels Fels de contratos de construção das plataformas da Petrobras. Ambos são delatores da Lava Jato. A revelação de Ricardo Pessoa, feita pela primeira vez desde que sua delação foi fechada em 2015, é contestada por Zwi Skornicki.

As declarações foram prestadas pelo empreiteiro em 20 de junho deste ano e anexadas aos autos da Lava Jato nesta semana. "Para afastar a Keppels Fels dos pacotes nos quais a UTC tinha interesse, o declarante (Ricardo Pessoa) combinou com Swi (sic) Skornicki de pagar a ele o valor de R$ 500 mil para que este deixasse de apresentar proposta nos dois pacotes que tinham interesse", relatou Ricardo Pessoa.

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"A empresa Eagle pertence ao sr. Swi (sic) Skornicki e o contrato firmado e o único pagamento feito a ela deveu-se a uma facilitação entre dois concorrentes; que, em 2010 foi lançada a concorrência para contratação de empresas para construção de módulos dos FPSOs P58 e P62 (Request for Proposal - RFP n.5 003542098 de 23/03/2010)."

Segundo o empreiteiro, 'para viabilizar o pagamento realizado por meio de transferência bancária foi feito um contrato com a empresa Eagle, cujo objeto era simulado'.

Ricardo Pessoa declarou que 'entre todas as empresas que se propunham a apresentar proposta, a única que realmente poderia ser considerada concorrente para a UTC era a empresa Keppels Fels', representada por Zwi Skornicki, 'porque tinha instalações apropriadas'.

"O contrato foi formalizado apenas em agosto de 2011, porque apenas perto desta data, a UTC pode cumprir o seu compromisso; Que o pagamento foi feito em 26 de agosto de 2011 para a conta da Eagle Consultoria, Banco 341, agência 1185 no valor líquido de R$ 444.250, e a nota fiscal emitida pela Eagle em 24 de agosto de 2011", disse Ricardo Pessoa.

O empreiteiro da UTC afirmou que o contrato foi assinado por Walmir Pinheiro, então diretor financeiro da empresa, uma assistente administrativa que 'desconheciam por completo que o objeto do contrato não tinha respaldo em serviço efetivamente prestado'.

Walmir Pinheiro também é delator da Lava Jato.

"Mesmo Walmir Pinheiro neste caso desconhecia o seu combinado com Swi (sic); que Walmir Pinheiro também ficou responsável em tratar com Bruno Skornicki, filho de Swi, sobre o pagamento; que, no entanto, mais uma vez quer dizer que Walmir Pinheiro não tinha conhecimento sobre qualquer irregularidade no pagamento; Que o declarante junta nesta oportunidade cópia do contrato, nota fiscal, comprovante de pagamento e troca de e-mails para a realização da transferência, bem como histórico da licitação dos módulos da P-58 e P-62", declarou o empreiteiro.

Ricardo Pessoa afirmou que 'não relatou estes fatos anteriormente, porque efetivamente não se recordou, o que só foi rememorado após revisitar este assunto e procurar especificamente por alguma informação que tivesse relevância e, eventualmente, tivesse passado despercebido'.

"De forma nenhuma houve qualquer intenção de omitir dolosamente qualquer informação agora revelada; que o depoente gostaria de uma vez mais externar o seu comprometimento de colaborar com o Ministério Público Federal no que for possível, estando a disposição para prestar maiores esclarecimentos", declarou. "Infelizmente, a memória do colaborador já no alto dos seus 64 anos nem sempre o favorece."

O empreiteiro declarou que 'continuará se esforçando para identificar outras informações relevantes, comprometendo-se a narrar sempre que possível qualquer fato novo'.

Em ofício à Lava Jato, a defesa de Zwi Skornicki negou as informações prestadas por Ricardo Pessoa. O lobista se colocou 'à disposição' para uma eventual acareação com Ricardo Pessoa.

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o envio para a Justiça Eleitoral de São Paulo o inquérito que investiga o ex-ministro da educação Aloizio Mercadante por suspeita de crime durante a campanha dele ao governo de São Paulo em 2010.

Com o afastamento da presidente Dilma Rousseff pelo processo do impeachment, o petista foi exonerado do cargo no Executivo e perdeu o foro privilegiado. O inquérito foi aberto no STF em setembro do ano passado e o investiga por crime eleitoral, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

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"Tendo em vista que cessou a investidura funcional do ora investigado em cargo que lhe assegurava prerrogativa de foro perante esta Corte, reconheço não mais subsistir, no caso, a competência originária do STF para prosseguir na apreciação deste procedimento de natureza penal", escreveu o ministro.

A investigação contra Mercadante foi instaurada com base na delação premiada do dono da UTC, Ricardo Pessoa, na Lava Jato. O empreiteiro disse que o petista presenciou um acerto de caixa dois para beneficiar a campanha dele ao governo de São Paulo.

Segundo Pessoa, o acordo da UTC era de repassar R$ 250 mil como doação oficial à campanha e outros R$ 250 mil, dados em espécie, de origem ilegal. Mercadante sustenta que recebeu R$ 500 mil em doação oficial declarada à Justiça Eleitoral e rechaça a tese de existência de caixa 2.

Outra delação premiada da Lava Jato, do diretor financeiro da UTC, Walmir Pinheiro, também integra o processo. Segundo Pinheiro, foram feitas três doações eleitorais de R$ 250 mil à campanha de Mercadante, uma pela UTC, a segunda pela Constran e a terceira "por fora".

O caso foi enviado primeiro ao relator da Lava Jato no STF, Teori Zavascki. Como não havia relação com o esquema de corrupção da Petrobras, ele foi sorteado ao ministro Celso de Mello. O processo tramitava de forma oculta na Corte a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

À frente da força tarefa que conduz a Lava Jato em Curitiba, o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima disse durante entrevista coletiva para explicar a 28º fase da operação que, a essa altura das investigações, a conclusão que se pode tomar é que o sistema partidário brasileiro encontra-se “apodrecido”.

Para Lima, os indícios de recebimento de propina pelo ex-senador do PTB Gim Argello, preso hoje (12) pela Polícia Federal, em troca de sua atuação política em comissões parlamentares de inquérito que investigaram a Petrobras indicam que a corrupção encontra-se intrínseca ao próprio exercício do poder. "Isso tudo evidencia que a corrupção não é partidária. Ela é decorrente do nosso sistema político. Vemos hoje nessa coligação, partidos da oposição. Estamos diante de uma corrupção para financiamento de campanhas políticas. É isso que a Lava Jato pretende revelar, mesmo diante das dificuldades", afirmou. “A conclusão a que chegamos e a conclusão a que todos deveriam chegar é que o sistema partidário do país está apodrecido pelo uso do poder econômico”, completou.

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A partir das delações premiadas do dono da empreiteira UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, e de mensagens no celular apreendido do ex-presidente da empreiteira OAS José Adelmário Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro, os investigadores da Lava Jato apontaram indícios de que Argello teria recebido R$ 5 milhões para interceder pela não convocação dos executivos tanto na CPI do Senado como na CPI mista que investigou irregularidades na Petrobras, ambas em 2014.

O ex-senador do PTB teria negociado com os executivos o pagamento de propina como doação eleitoral para os diretórios nacionais dos partidos DEM, PR, PMN e PRTB, que faziam parte de uma coligação eleitoral junto com o PTB. Foram pagos também R$ 350 mil a uma paróquia frequentada por Argello em Taguatinga, que os investigadores suspeitam ter sido usada para lavar o dinheiro.

Os procuradores afirmaram ainda que não indícios de que os partidos ou a paróquia tinham conhecimento sobre a origem ilícita do dinheiro, mas que as investigações nesse sentido continuam. Os investigadores acrescentaram que também não há, nas provas em poder da força tarefa da Lava Jato em Curitiba, indícios do envolvimento de pessoas atualmente com foro privilegiado.

“Nos documentos e provas que nós temos em nosso poder, não tem nenhuma menção a alguém com foro privilegiado. Se houve alguma menção nesse sentido no depoimento de [senador] Delcídio [do Amaral] nós não temos conhecimento.”

Mandados

A Polícia Federal corrigiu de 21 para 23 o número de ordens judiciais cumpridas na manhã desta terça-feira no âmbito da Operação Vitória de Pirros. Além da prisão preventiva do ex-senador Gim Argello, foram presos temporariamente Paulo Roxo, assessor de Argello, e Valério Neves Campos, secretário-geral da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Os detidos serão encaminhados à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

Segundo as investigações, eles eram operadores do esquema e participavam de reuniões com os executivos das empreiteiras para informar sobre os desdobramentos das negociações nas CPIs.

Os mandados de condução coercitiva – quando o investigado é levado para depor e liberado em seguida – foram para o filho do ex-senador, Jorge Argello Júnior, que participou de reuniões com Ricardo Pessoa; Roberto Zardi Ferreira Jorge, diretor de Relações Institucionais da OAS; Gustavo Nunes da Silva Rocha, executivo do grupo OAS e presidente da Invepar; Dilson de Cerqueira Paiva Filho, diretor administrativo da OAS; e Marcos Paulo Ramalho, secretário-executivo da OAS.

Foram cumpridos ainda 15 mandados de busca e apreensão, incluindo em endereços da UTC e da OAS em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O advogado do ex-senador Gim Argello foi procurado pela Agência Brasil, mas não retornou as ligações até o momento. Contatadas, a paróquia São Pedro, em Taguatinga, e a Arquidiocese de Brasília não quiseram se manifestar sobre o assunto.

Com informações da Agência Brasil

O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o arquivamento de um procedimento criminal, dentro da Operação Lava Jato, que apurava o suposto repasse de vantagem indevida, pela UTC ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). A decisão do ministro acolheu um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo arquivamento. A decisão é do dia 10 deste mês e foi publicada somente nesta semana.

O procedimento criminal foi aberto com base no depoimento de Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará, que mencionou suposto repasse, feito pela UTC, de vantagem indevida ao senador. Ceará era o encarregado de transportar dinheiro enviado pelo doleiro Alberto Youssef – também colaborador nas investigações – a políticos e funcionários públicos que recebiam propina.

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Segundo a decisão de Zavascki, a PGR alegou que, com base em outros depoimentos de colaboradores, os elementos não foram confirmados. “Como se vê, os elementos indicativos iniciais não se confirmaram com a oitiva especialmente do colaborador Ricardo Ribeiro Pessoa, na medida em que ele foi peremptório [afirmando] que não entregou valores espúrios, direta ou indiretamente, para o senador Aécio Neves.”

Para o senador, a decisão “desmascara mais uma torpe tentativa de envolver nomes da oposição no mar de lama que envolve o PT e o governo”. “Não foi a primeira tentativa e provavelmente não será a última. Mas, para mim, essa decisão, por mais importante que seja, não é suficiente”, cravou Aécio Neves. 

“É preciso que se investigue o que está por trás dessas falsas e criminosas citações de nomes da oposição sem indícios mínimos que as comprovem e que têm o claro objetivo de confundir as investigações em curso no país”, acrescentou. Aécio disse ainda que o PSDB vai continuar apoiando a Operação Lava Jato, mesmo com as reações dos setores governistas.

*Com a Agência Brasil

Um dos delatores do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, o diretor financeiro da UTC, Walmir Pinheiro Santana, detalhou à Procuradoria-Geral da República um acerto que teria sido feito em 2014 entre Ricardo Pessoa, dono da empreiteira, e o então senador Gim Argello (PTB-DF). Pelo acordo, o parlamentar atuaria para que Ricardo Pessoa não fosse chamado a depor na CPI da Petrobras. Em contrapartida, Ricardo Pessoa faria contribuições em favor de pessoas indicadas por Gim Argello.

Segundo Walmir Santana, o acerto era 'um tipo de blindagem' para Ricardo Pessoa. "No início do mês de julho de 2014, Ricardo Pessoa se aproximou do declarante (Walmir Santana) e afirmou ter chegado a um acordo com Gim Argello no sentido de que ele, Ricardo Pessoa, fosse blindado em relação a CPI; que, em contrapartida, teriam que fazer doações no valor de R$ 5 milhões a pessoas que Gim Argello indicaria."

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O delator explicou a transação. "No total foram pagos R$ 1,7 milhão em favor do DEM; que, em favor do PR, R$ 1 milhão; que, em favor do PMN, R$ 1,15 milhão; que, em favor do PRTB, também foram pagos R$ 1,15 milhão; que, os totais doados perfazem os R$ 5 milhões acordados com Gim Argello; que, o declarante, ao que se recorda, recebeu a totalidade dos recibos eleitorais."

O executivo prestou depoimentos em 4, 5 e 6 de agosto à Procuradoria-Geral da República. Em um deles, Walmir Santana contou que após a instalação da CPMI, 'existiam umas afirmações de que Ricardo Pessoa seria chamado para prestar depoimento'. O dono da UTC, segundo Walmir Santana, passou a procurar 'pessoas dessa CPMI' e chegou a Gim Argello, que teria 'uma certa influência' sobre Vital do Rêgo, então senador e presidente da CPMI e hoje ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Segundo Walmir Pinheiro Santana, Ricardo Pessoa reuniu-se algumas vezes com Gim Argello.

Transação

No depoimento, Walmir Santana declarou que o dono da UTC disse que 'seria procurado por uma pessoa de nome Paulo Roxo, que teria maiores instruções de como proceder'. "Ainda no início de julho de 2014, Paulo Roxo esteve com o colaborador e Ricardo Pessoa, ocasião em que Paulo Roxo passou a lista do primeiro pagamento que seria realizado em 10 de julho", declarou. "Seriam feitos depósitos para o PR (R$ 1 milhão), para o DEM (R$ 500 mil), PMN (R$ 250 mil) e para o PRTB (R$ 250 mil), totalizando R$ 2,5 milhões."

Walmir Santana disse que no primeiro encontro, Paulo Roxo estava acompanhado de 'uma pessoa de nome Valério'. "Paulo Roxo apenas falou que estava ali representando Gim Argello e fizeram o cronograma para os pagamentos; que para os demais pagamentos, Paulo Roxo afirmou que dois ou três dias antes de cada pagamento passaria as instruções."

Segundo Walmir Santana, houve mais um encontro com Paulo Roxo. Em meados de agosto, Paulo Roxo teria levado recibos eleitorais dos pagamentos já feitos e informado os demais partidos para os quais seriam transferidos recursos. Esta reunião teria ocorrido em 18 de agosto de 2014.

"Os pagamentos tratados na reunião com Paulo Roxo em 18 de agosto foram realizados em 25 de agosto; 15 de setembro e 1 de outubro de 2010; que, esses pagamentos beneficiaram o DEM (R$ 600 mil), em 25 de agosto; em 15 de setembro também em favor do DEM, no valar de R$ 600 mil e o último, em 1 de outubro, no valor de R$ 300 mil em favar do PRTB e R$ 300 mil em favor do PMN; que, houve pagamentos em 30 de julho e 15 de agosto; que, esses pagamentos decorreram de contatos telefônicos com Paulo Roxo que o instruiu a realizar, em 30 de julho, pagamentos em favar de PMN, R$ 300 mil, e PRTB, R$ 300 mil; que, em 15 de agosto, novamente foram feitos pagamentos nos valores de R$ 300 mil para o PMN e R$ 300 mil em favor do PRTB."

O delator afirmou que não sabe se outras empresas também pagaram a Gim Argello para evitar que empresários fossem chamados para a CPI ou CPMI. "Ricardo Pessoa não foi chamado a depor perante a CPMI ou CPI da Petrobras em 2014", disse.

Procurados na sexta-feira, 18, por e-mail, o ex-senador Gim Argello, o PMN e o PRTB não retornaram à reportagem.

Defesas

O DEM afirmou que, "não há qualquer relação do Democratas com o ex-senador Gim Argello, que ademais sempre integrou partido da base do governo ao qual o DEM faz oposição".

Ainda segundo o partido, "em 2014, o Democratas recebeu da UTC o valor de R$ 1 milhão (um milhão de Reais), doação que foi devidamente declarada na prestação de contas do partido junto ao TSE".

Já o Partido da República (PR) informou que, "por norma", não comenta "assuntos relacionados a conteúdos ou procedimentos de investigação do Ministério Público".

O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, afirmou em sua delação premiada que fez uma doação de R$ 100 mil, nas eleições de 2010, a pedido do ex-ministro José Dirceu, para a campanha de seu filho, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR).

"Atendendo a pedido de José Dirceu em 2010, fez uma contribuição oficial para a campanha do filho dele para o cargo de deputado federal no valor de R$ 100 mil", afirmou Pessoa, em seu termo de delação 21 feito na Procuradoria Geral da República, no dia 28 de maio.

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Na terça-feira, 15, o ex-ministro virou réu em ação penal da Operação Lava Jato, pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Segundo o Ministério Público Federal, Dirceu - que está preso desde 3 de agosto - teria usado sua empresa, a JD Assessoria e Consultoria, para receber propinas do esquema de desvios e contratos superfaturados na Petrobras, entre 2004 e 2014.

Ao todo, Zeca Dirceu declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o recebimento de R$ 1,5 milhão em doações, nas disputas de 2010. A doação dos R$ 100 mil da UTC não aparece nos registros de contas do candidato. O valor foi repassado, segundo consta nos registros oficiais, no dia 17 de setembro, para o Comitê Financeiro Único do PT no Paraná. No dia 22 de setembro, o comitê repassou R$ 100 mil para a candidatura de Zeca.

Nas eleições de 2010, Zeca Dirceu foi eleito deputado federal pelo PT do Paraná com 109 mil votos, sendo o segundo deputado mais votado do partido no Estado. "Este pedido foi muito antes dos contratos de consultoria com José Dirceu", acrescentou o empreiteiro. "Não abateu esta contribuição de qualquer valor devido, seja ao PT ou a José Dirceu."

O dono da empreiteira UTC - uma das acusadas de cartel e corrupção na Petrobras - confessou em sua delação premiada que pagou R$ 1,4 milhão para Dirceu por consultorias no Peru, em 2012, e depois outros R$ 1,7 milhão como 'ajuda', quando ele já estava condenado e depois preso pelo processo do mensalão.

"Como José Dirceu já estava envolvido com o processo do Mensalão, Luiz Eduardo (irmão do ex-ministro e sócio), em certa data, veio procurar o declarante pedindo um aditivo ao contrato", registrou a Procuradoria-Geral da República.

"Luiz Eduardo afirmou que a JD estava passando por dificuldades financeiras", contou Ricardo Pessoa.

A UTC foi uma das empreiteiras acusadas de cartel e corrupção em contratos da Petrobras, que fatiavam obras e pagavam propinas de 1% a 3% para PT, PMDB e PP - partidos da base de sustentação do governo Dilma Rousseff.

"Depois da prisão de José Dirceu, claramente não houve nenhuma prestação de serviços", garantiu Pessoa, apontando que com certeza os pagamentos desse segundo aditivo foram feitos sem qualquer consultoria prestada.

Registrado

A Operação Lava Jato já havia recebido a confirmação de três outros delatores de que foram feitas doações para a campanha de Zeca Dirceu, a pedido do pai: os operadores de propina Milton Pascowitch e seu irmão José Adolfo e o Julio Gerin Camargo. Os três ligados diretamente aos recebimentos de valores por parte do ex-ministro no esquema de corrupção na Petrobras. Cada um declarou ter repassado R$ 10 mil para a campanha.

O filho do ex-ministro recebeu ainda mais R$ 10 mil de Raul Ramires, da Hope Recursos Humanos, uma das empresas alvo da 17ª fase da Lava Jato - Operação Pixuleco. Ela teria pago propina de R$ 500 mil por mês ao grupo ligado a José Dirceu dentro da Petrobrás, entre os anos de 2003 e 2014. A empresa presta serviços para a estatal na área de recursos humanos.

Em nota, a assessoria de comunicação do deputado Zeca Dirceu disse que todas as doações recebidas na campanha de 2010 foram legais e aprovadas pela Justiça Eleitoral. "Os nomes dos doadores são de conhecimento público desde 2010 e eles já foram, no início deste ano, divulgados novamente por vários órgãos de imprensa. Durante o debate sobre a Reforma Política, o deputado defendeu o fim das doações de empresas para candidatos, assim como obteve destaque na luta para impor rígidos limites às despesas de campanhas e duras penas a quem infringi-los."

Apontado pela Polícia Federal (PF) como o coordenador do grupo de empreiteiras que atuava efetuando acordos de propinas nos contratos da Petrobras, o empresário Ricardo Pessoa afirmou na tarde desta terça-feira (15) que o processo de delação premiada feito por ele com a Justiça Federal foi “gradual e doloroso”. O dono da UTC está sendo ouvido pelos deputados que integram a CPI da Petrobras e ao iniciar a oitiva, Pessoa leu um texto detalhando a história da empresa e pontuou ter sido “inevitável” não integrar os esquemas de corrupção na estatal.

“Não achava justo que a trajetória vitoriosa da UTC fosse interrompida. Denunciar as vantagens indevidas poderia ser danoso à empresa. Cedi aos pedidos e paguei para manter o direito de a minha empresa existir”, afirmou. “Para que a UTC continuasse crescer teríamos que fazer parte daquilo. Recusar-se a fazer poderia trazer consequências danosas. Não fazer aquilo seria assinar a sentença de morte da minha empresa”, disse. 

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Sobre a delação premiada, o empresário disse que sua opção por colaborar com a Justiça não é decorrente de vingança ou acerto de contas. “Fiz um acordo que mudaria a minha vida profissional e pessoal. Falei sobre o que vi e vivi. Não acho justo basear minhas palavras em suposições. Foi um processo gradual e doloroso. Momentos desabonadores não apenas para quem citei, mas também para mim. Não quero me vender como herói. Minhas palavras e relatos deixam muita gente em posições desconfortáveis”, observou, dizendo ter mudado após a prisão em 14 de novembro. 

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Pessoa compareceu à CPI amparado por um habeas corpus concedido pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, que dá a ele o direito de não responder as perguntas dos deputados. Até o momento ele respondeu aos questionamentos com uma das frases mais usadas no colegiado: "Com todo o respeito, vou permanecer em silêncio”.

Na passagem pela CPI, Pessoa afirmou também que a UTC participou da construção de 10 das 11 refinarias existentes no país. Assinou 396 contratos com a Petrobras, deles 169 foram durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC). Além da UTC, o empresário também é sócio da Constran, as duas tinham contratos de mais de R$ 14 bilhões com a Petrobras. 

Ricardo Pessoa é acusado de pagar propina em troca dos contratos por meio de duas empresas de fornecimento de tubos e conexões. Em depoimentos, mantidos em sigilo, mas divulgados por vários veículos de comunicação, ele teria admitido que também pagou propina por meio de doações oficiais a partidos e políticos. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, Pessoa disse na Justiça que repassou R$ 3,6 milhões ao PT, dinheiro que teria sido usado na campanha de Dilma Roussef. O comitê de campanha de Dilma negou a informação.

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O dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, confessou em sua delação premiada, que pagou R$ 1,7 milhão ao ex-ministro da Casa Civil (governo Lula) José Dirceu, em 2012 e 2013, quando ele estava condenado e depois preso pelo processo do mensalão, como 'ajuda".

"Como José Dirceu já estava envolvido com o processo do Mensalão, Luiz Eduardo (irmão do ex-ministro e sócio), em certa data, veio procurar o declarante pedindo um aditivo ao contrato", registrou a Procuradoria Geral da República, no termo de colaboração número 21 do empreiteiro, de 28 de maio.

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"Luiz Eduardo afirmou que a JD estava passando por dificuldades financeiras", contou Pessoa. A UTC foi uma das empreiteiras acusadas de cartel e corrupção em contratos da Petrobrás, que fatiavam obras e pagavam propinas de 1% a 3% para PT, PMDB e PP - partidos da base de sustentação do governo Dilma Rousseff.

O empreiteiro revelou que "aceitou realizar o aditivo, sabendo que a força de trabalho não era mais o importante, mas apenas para ajudar José Dirceu". Um ano antes, Pessoa contratara a JD Assessoria e Consultoria - empresa do pelo ex-ministro usada após ele deixar o governo Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005. O objetivo era prospectar negócios no Peru. O contrato era de um ano, por R$ 1,48 milhão.

Esse primeiro contrato foi firmado em fevereiro de 2012 e o primeiro aditivo, já com Dirceu condenado no mensalão, em fevereiro de 2013. "No meio deste caminho, José Dirceu foi preso." O ex-ministro-chefe da Casa Civil foi preso em novembro daquele ano - passando a cumprir pena em regime domiciliar, no ano seguinte. Atualmente, Dirceu está detido preventivamente, em Curitiba, alvo da Lava Jato.

Sem serviços. "Depois, Luiz Eduardo veio e solicitou um segundo aditivo. Nesta época, José Dirceu já estava preso", afirmou Pessoa. Ele disse ter relutado, mas aceitou. O segundo aditivo foi assinado em fevereiro de 2014 - mês anterior à deflagração da fase ostensiva da Lava Jato.

"Depois da prisão de José Dirceu, claramente não houve nenhuma prestação de serviços", garantiu Pessoa, apontando que com certeza os pagamentos desse segundo aditivo foram feitos sem qualquer consultoria prestada.

Abatimento do PT. O empreiteiro afirmou ter resolvido comentar o assunto com o ex-tesoureiro nacional do PT João Vaccari Neto - preso desde março, acusado de ser operador de propinas do partido no esquema montado na Petrobrás - e que ele se "mostrou ciente da ajuda" dada a Dirceu.

"O declarante então buscou abater os valores pagos a título de ajuda para José Dirceu relativo aos dois aditivos, com os valores que o declarante devia ao PT, relacionados aos contratos da Petrobrás", registrou a PGR. O termo é um dos pelo menos 11 que foram baixados do Supremo Tribunal Federal (STF), onde foi feito o acordo, para a Justiça Federal, em Curitiba - onde estão os processos envolvendo alvos sem foro privilegiado.

"João Vaccari se negou a abater o valor total, mas aceitou que fosse descontada parcela do valor dos aditivos", contou Pessoa. Somados, os dois aditivos contratuais da UTC com a JD valiam R$ 1,74 milhão.

"O declarante logrou abater, dos valores a título de propina que pagava ao PT, a quantia de R$ 1.690.000,00", registrou a PGR. Pessoa entregou uma tabela, que foi juntada no termo, para comprovar o que diz.

"Essa tabela possui a sigla "URJ", que era a sigla criada para se referir à propina decorrente da Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro)". Uma segunda linha desta mesma tabela entregue pelo empreiteiro traz a anotação "V/JD" na coluna "contato" e "1.690" na coluna valor total.

"Esta anotação representa justamente o abatimento dos valores pago a José Dirceu, no valor de R$ 1,69 milhão, em relação aos valores que devia para Vaccari, referente às obras da Petrobrás/Comperj", registra a PGR. O valor pago para o PT via ex-tesoureiro referente a essa obra seria R$ 15,5 milhões.

Na agenda de Pessoa entregue aos investigadores da Lava Jato, estão anotadas também o encontro inicial com Dirceu, na sede da JD em São Paulo, em dezembro de 2011, e o almoço que teve em dezembro de 2012 no apartamento do ex-ministro, em São Paulo.

"Neste almoço que José Dirceu pediu, por intermédio de Luiz Eduardo, o primeiro aditivo ao contrato", detalhou Pessoa. "José Dirceu em geral não fazia tais pedidos, que era feitos por Luiz Eduardo, na frente de Dirceu". O ex-ministro, segundo o empreiteiro, "assentia com os pedidos e estava claramente de acordo".

Influência

Pessoa afirmou que Dirceu "indicou Renato Duque ao cargo de Diretor de Serviços". "José Dirceu tinha uma influência muito grande no Partido dos Trabalhadores", afirmou Pessoa, em seu termo de delação número 21 - sobre a propina paga ao ex-ministro, com dinheiro desviado de contratos da Petrobrás.

O empresário afirmou que conhecia Dirceu há algum tempo e que "passou a ter maior proximidade com ele especialmente logo após a saída dele da Casa Civil, que ocorreu em julho de 2005?.

Afastado do governo como peça central do escândalo do mensalão, o ex-ministro virou consultor e passou a trabalhar via JD Assessoria e Consultoria, que tinha com o irmão Luiz Eduardo Oliveira e Silva. "Sabia que ele era uma pessoa influente e continuava a sê-lo", registrou a PGR, no termo de Pessoa. Essa influência era tanto no PT como no governo federal.

O empresário afirmou que "via José Dirceu com frequência no mesmo hotel" em que ele se hospedava no Rio de Janeiro. Como diversos representantes de empresas, como OAS, Engevix, Galvão Engenharia, teriam comentado com ele que o ex-ministro "auxiliava na 'abertura de mercados', em especial na América Latina'", Pessoa diz ter aproveitado um café da manhã para se aproximar dele.

Foi um encontro casual em que Dirceu, durante o café, teria perguntado a ele: "Você não vai para o exterior?". Pessoa afirmou que ele se referia uma expansão da UTC para outros países.

O empreiteiro disse ter explicado que por a UTC não ser tão grande, "não poderia gastar muito dinheiro à toa". "No entanto, José Dirceu disse que poderia ajudá-lo", afirmou Pessoa, que disse ter entendido como uma oferta de serviço. O ex-ministro orientou o empresário a procurá-lo no escritório da JD, em São Paulo.

No primeiro encontro Pessoa disse ter ido acompanhado do lobista Julio Gerin Camargo, também delator da Lava Jato. "José Dirceu foi bastante direto e objetivo, dizendo que poderia auxiliá-lo em diversos países", contou Pessoa. O ex-ministro teria citado Peru, Colômbia, Equador, Cuba e Espanha.

"José Dirceu disse que conhecia os países e o governo destes países, tendo acesso político a estes", declarou o dono da UTC. A empresa decidiu contratar então a JD para prospectar negócios no Peru.

"Dirceu disse que iriam firmar um contrato de consultoria e assim fazer uma 'agenda política', para que (a UTC) tivesse oportunidades - ou seja, obras - nas áreas de óleo e gás e infraestrutura no Peru", registra a delação.

O ex-ministro teria comentando que "tinha contatos políticos no Peru e que o (Ollanta) Humala, presidente do Peru, havia sido eleito e seria fácil ter acessos políticos".

Pessoa foi questionado pelos procuradores da PGR sobre quais eram suas expectativas ao contratar os serviços de consultoria de Dirceu. "Esperava que, em razão da intervenção de José Dirceu, a autoridade relevante no estrangeiro assim se posicionasse: 'Eu vou dar a obra para este cara aqui porque o José Dirceu pediu'", respondeu o empreiteiro.

Pessoa disse que tinha "confiança de que José Dirceu poderia prover isto, até mesmo porquê tinha ouvido no mercado que José Dirceu logrou efetivamente isto para outras empresas".

Os termos de delação de Pessoa, enviados pelo STF à Curitiba, tiveram sigilo levantado nesta sexta-feira, 11, pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato. As afirmações do empreiteiro geraram a abertura de uma representação criminal, que vai apurar os pagamentos à JD.

A UTC foi uma das empreiteiras que pagou por consultorias de Dirceu. A JD recebeu entre 2005 e 2013 um total de R$ 39 milhões, sendo que pelo menos R$ 9 milhões de empreiteiras do cartel que atuava na Petrobrás.

Defesas

O ex-ministro José Dirceu nega o recebimento de propinas. O criminalista Roberto Podval, que defende Dirceu, apresentou à Justiça contratos e notas dos recebimentos pela JD Assessoria da UTC. Ele afirma que os valores são legais referentes à consultoria de prospecção de negócios no exterior.

O advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, que defende João Vaccari Neto, afirmou que o ex-tesoureiro do PT 'jamais arrecadou propinas'.

D'Urso é taxativo. "O sr. Vaccari jamais recebeu qualquer doação ilegal. Todas as doações foram realizadas ao PT, depositadas na conta bancária e prestado contas às autoridades."

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) divulgou há pouco nota em defesa do colega tucano Aloysio Nunes (PSDB-SP), cuja campanha de 2010 ao Senado é acusada de ter recebido dinheiro ilegalmente da construtora UTC. Conforme Aécio, o colega de partido é "um dos mais combativos líderes da oposição no país".

"O senador Aloysio Nunes, cuja biografia é reconhecida e respeitada até mesmo por seus adversários, foi um dos primeiros a denunciar toda essa operação da qual, por razões óbvias, jamais poderia ter participado", diz a nota.

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Aécio ainda faz críticas ao PT. "O PSDB, apesar de não temer qualquer tipo de investigação, chama a atenção para o risco dessas investigações desviarem-se do seu foco principal, que é a responsabilização daqueles que, no PT e partidos aliados, montaram um complexo esquema de corrupção que assaltou os cofres da Petrobras e financiou a manutenção desse grupo no poder", diz ele no comunicado. "Aguardaremos com serenidade o desenrolar desse processo, atentos a que ele não fuja de seu real objeto."

O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de inquérito contra Aloysio e contra o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva. A decisão atendeu pedido feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Os três foram citados pelo empresário Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, em delação premiada. Pessoa declarou que foram feitos repasses milionários para as campanhas eleitorais de Mercadante ao governo paulista, em 2010, e para a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, da qual Edinho Silva foi tesoureiro. O dinheiro também teria sido repassado para a campanha do senador tucano.

O dono da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, afirmou na quarta-feira (2), em depoimento na Justiça Federal, em Curitiba, que o ex-diretor de Serviços Renato Duque o encaminhava ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari para pagamento de propina. O delator afirmou que fez depósitos oficiais em contas do partido. Pessoa é um dos principais delatores da Lava Jato e ainda não teve sua delação premiada tornada pública.

Este foi o primeiro depoimento público do delator. Ricardo Pessoa, no entanto, não aparece nas imagens da audiência na Justiça Federal. Desde o início dos processos da Lava Jato, os depoimentos são gravados em vídeo e áudio. A defesa de Ricardo Pessoa pediu para que seu rosto não fosse mostrado. Durante a audiência, o juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, instruiu o delator para que ele não citasse políticos com foro privilegiado durante o depoimento.

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Pessoa disse que seu primeiro contato na Diretoria de Serviços da Petrobras foi Pedro Barusco, então gerente de Engenharia e braço direito de Renato Duque. "Depois, o próprio Duque me procurou e começou a dizer que eu tinha que fazer contribuições políticas e que essas contribuições teriam que ir através do Vaccari."

O juiz Sérgio Moro perguntou: "Essas contribuições eram como parte do acerto de propina?". "Sim, como parte, mais claro impossível", respondeu o empreiteiro. "Eu depositava oficialmente numa conta do Partido dos Trabalhadores."

O juiz insistiu: "Essa contribuição vinha do acerto de propinas para a Diretoria de Serviços?" O empreiteiro respondeu: "Sim, para mim eu estava pagando a Vaccari, a mesma coisa."

O delator falou à Justiça como testemunha de acusação no processo em que são réus o presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, e executivos ligados ao grupo.

Presidente da UTC Engenharia, ele é apontado pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal como o presidente do 'clube vip' das empreiteiras que se apossaram de contratos bilionários da Petrobras entre 2004 e 2014. Questionado pelo Ministério Público Federal se havia feito pagamento de propina a funcionários da estatal, o delator confirmou.

"Sim. Eu paguei para o Pedro Barusco (ex-gerente executivo da Petrobras). Renato Duque sempre me encaminhou para o senhor João Vaccari. Eu nunca dei propina na mão do senhor Renato Duque. Era sempre encaminhado o assunto para o senhor João Vaccari", afirmou Ricardo Pessoa.

PT, PMDB e PP são suspeitos de lotear diretorias da Petrobras para arrecadar entre 1% e 3% de propina em grandes contratos, mediante fraudes em licitações e conluio de agentes públicos com empreiteiras organizadas em cartel. O esquema instalado na estatal foi desbaratado pela força-tarefa da Lava Jato.

Ricardo Pessoa contou que os valores-base para pagamento de propina era de 1% para a Diretoria de Serviços, comandada por Duque, e para a Diretoria de Abastecimento, liderada por Paulo Roberto Costa, primeiro delator da Lava Jato. "A referência inicial era para a Diretoria de Serviços 1%, para a Diretoria de Abastecimento 1%. Mas isso era só referência. Caberia a negociação depois de cada um. Eu, por exemplo sempre negociei o máximo que eu pude."

Pessoa foi preso em novembro de 2014, na Operação Juízo Final, etapa da Lava Jato que derrubou o braço empresarial do esquema de propinas na estatal. O delator foi para regime domiciliar em março deste ano.

A UTC Engenharia conseguiu vencer licitações na BR Distribuidora mesmo apresentando proposta de preço até 795% maior do que o estimado pela subsidiária de distribuição da Petrobras em alguns itens das obras.

Relatório de auditoria da empresa, instaurada após a Operação Lava Jato encontrar irregularidades em quatro licitações vencidas pela empreiteira, identificou que em todos os casos a BR pagou a mais ou ajustou o preço estimado para atender à empreiteira ­ a UTC já confessou ter pago propina de R$ 20 milhões em troca dos contratos.

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O jornal O Estado de S.Paulo revelou nesta segunda-feira (24) que a auditoria, até então inédita, também mostrou que a BR direcionou as licitações para incluir empresas que atuavam como cartel na Petrobras no chamado "clube da propina" entre as convidadas para o certame.

Projeto executivo

No caso dos preços, o mais gritante foi a ampliação do Terminal de Duque de Caxias (Teduc). A proposta da UTC para o projeto executivo da obra foi de R$ 895.548,11.

A estimativa de preço da BR nesse item era de R$ 100 mil, ou seja, uma variação de 795,5481%. Ao final, a BR aceitou pagar o valor cobrado pela UTC pelo projeto executivo, aumentando o custo total da obra em 12,63%.

Para os auditores, a BR justificou que o preço final mais alto ocorreu por causa da elevação no valor do aço na época, em 2010. No período, contudo, o reajuste do aço ficou bem abaixo, entre 5% e 9%. Em outro caso, a BR também aceitou pagar 521,61% a mais do que previa para a UTC pela concretagem de quatro estacas na obra de ampliação da Base de Caracaraí, dentro do projeto Cais Flutuante na Amazônia. A UTC conseguiu ganhar a licitação mesmo apresentando 14 preços acima de 100% do estimado pela BR.

Em outra obra do projeto, o Cais Flutuante Bemar, a auditoria encontrou uma estimativa inicial de preço de R$ 31 milhões, mas o valor aprovado pela diretoria da empresa foi 83% maior. Em três meses, por exemplo, a empresa alterou a estimativa de preço para os cascos do Cais Flutuante para valor 117% maior.

Mais um exemplo encontrado pelos auditores foi aumento de 62% em estimativa inicial para obra de construção da Base de Distribuição de Cruzeiro do Sul/AC, de R$ 95 milhões para R$ 154 milhões, sendo que a capacidade dos tanques foi reduzida em 21%. Ao questionar servidores da empresa sobre existência de duas planilhas de estimativa de preço ­ a elaborada inicialmente e a aprovada pela diretoria­, os auditores ouviram como resposta que ninguém se recordava da planilha com valor mais baixo. Apesar da diferença nos preços, as duas planilhas apresentavam os mesmos itens, alguns elevados em até 197%.

Estatal

Em nota, o comando da BR Distribuidora informou que instaurou a auditoria assim que soube das irregularidades apontadas pela Lava Jato e que o resultado foi encaminhado para os órgãos competentes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O depoimento do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, previsto para acontecer na manhã desta quarta-feira (8) na sede da Polícia Federal em São Paulo, foi cancelado. Contatada pela reportagem, a assessoria de comunicação da PF ainda não esclareceu o motivo do cancelamento nem se a oitiva será remarcada.

Delator da operação Lava Jato, Pessoa seria ouvido na capital paulista em inquérito no qual é alvo a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). O depoimento do empreiteiro ajudaria a esclarecer se a senadora foi uma das beneficiárias do esquema de corrupção que desviou bilhões da Petrobras. Em depoimentos anteriores, Pessoa disse ter repassado R$ 3,6 milhões em caixa 2 para tesoureiros petistas.

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Gleisi foi citada diretamente por dois delatores da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Ambos disseram ter atuado para que a campanha de Gleisi ao Senado em 2010 recebesse R$ 1 milhão.

A oitiva de Pessoa havia sido autorizada em maio pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. No último dia 3, o juiz Sérgio Moro autorizou o deslocamento de Pessoa - que está em prisão domiciliar - para que comparecesse hoje à sede da PF em São Paulo.

Auditoria interna na Petrobras Distribuidora, a BR, identificou irregularidades no processo de licitação de três obras tocadas pela UTC que somam cerca de R$ 650 milhões. O dono da empreiteira, Ricardo Pessoa, e a subsidiária da Petrobras são investigados pela Operação Lava Jato por suspeita de direcionamento de contratos.

A BR não repassou para a reportagem cópia do relatório de auditoria sob alegação de que o documento é sigiloso, porém confirmou que foram identificados "indícios de inconformidades com as normas da companhia para a realização de processos licitatórios". De acordo com a subsidiária da Petrobrás, os relatórios foram enviados, em maio, ao Ministério Público do Rio de Janeiro e à Procuradoria-Geral da República.

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Os contratos com a UTC foram assinados na gestão do atual presidente da BR, José Lima de Andrade Neto. Na nota, a companhia negou que ele tenha sido responsabilizado no relatório de auditoria pelas irregularidades.

Padrinhos

Lima Neto foi indicado para o cargo na BR pelo ex-ministro de Minas e Energia e senador Edison Lobão (PMDB-MA) e pelo senador Fernando Collor (PTB-AL), ambos investigados pela Operação Lava Jato.

Pessoa disse em sua delação que repassou R$ 20 milhões a aliados de Collor como comissão por contrato de R$ 650 milhões fechado entre sua empresa e a BR Distribuidora. O delator contou que a oferta de contrato para a UTC foi feita pelo ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos, amigo do ex-presidente da República, em conversa com o então diretor da BR, o engenheiro José Zonis.

Defesa

Por meio de nota, a assessoria de Ramos informou que as declarações que citam seu nome "revelam uma profunda e completa desconexão com a verdade e portanto são estrategicamente mentirosas".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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