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O lobista Júlio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato, confirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal que, em 2011, foi pressionado e extorquido pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) - ex-presidente da Câmara - a pagar propina de US$ 5 milhões. "Para justificar a cobrança dos valores, ele (Eduardo Cunha) disse que tinha uma bancada de mais de duzentos deputados para sustentar", afirmou o delator.

O depoimento de Júlio Camargo ocorreu nesta segunda-feira, 8, na 6ª Vara Criminal Federal da Justiça Federal em São Paulo.

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À sala de audiência estava presente o réu - Eduardo Cunha, denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O procurador-geral da República acusa o parlamentar de receber ao menos US$ 5 milhões de propina referentes a contratação de um estaleiro para a construção de dois navios-sonda pela Diretoria Internacional da Petrobras, em 2006 e 2007.

A presença do ex-presidente da Câmara não intimidou Júlio Camargo. Frente a frente com o acusado, o delator reiterou os detalhes da extorsão que afirma ter sofrido.

No início da audiência, a defesa do peemedebista requereu a suspensão do ato. O juiz Paulo Marcos de Farias, instrutor do Supremo, indeferiu o pedido do ex-presidente da Câmara.

Em seu relato, Júlio Camargo manteve as informações que já havia revelado à força-tarefa da Lava Jato sobre propinas para Eduardo Cunha no âmbito de um contrato para operação de navio-sonda da Petrobras.

Anteriormente, à Justiça Federal ele contou que na época em que estava sofrendo pressão de Cunha chegou a procurar ajuda do então ministro das Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB/MA). Segundo ele, Lobão ligou para o deputado e disse. "Eduardo, você está louco?" O telefonema, segundo o delator, ocorreu no final da tarde de um domingo, em 2011, na Base Aérea do Aeroporto Santos Dumont, no Rio.

Defesa

O ex-presidente da Câmara sempre negou o recebimento de propinas. Procurado nesta segunda-feira, 8, por meio de sua assessoria, o parlamentar não retornou.

Seis investigados na Operação Lava Jato serão ouvidos, em Curitiba, pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados que investiga representação contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A autorização para os depoimentos foi confirmada nesta terça-feira (5) pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Lava Jato. O pedido dos depoimentos foi feito pelo relator do processo no conselho, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), na semana passada. O relator quer ouvir os investigados que, nos depoimentos à força-tarefa da Lava Jato, fizeram acusações contra Cunha. E elencou os seguintes nomes: Alberto Youssef, Julio Camargo, Fernando Baiano, Leonardo Meirelles, Eduardo Musa e João Henriques.

Rogério e o presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PR-BA) se encontraram com Moro na capital paranaense no final da manhã de hoje e já estão retornando para Brasília. Ainda não foram definidas as datas e forma como serão conduzidas as oitivas. Como a decisão de ouvir os investigados no Paraná foi tomada como medida para otimizar gastos, evitando a transferência dos presos, a expectativa, segundo assessores, é que as oitivas ocorram por videoconferência.

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Esses depoimentos fazem parte do plano de trabalho que será conduzido nos próximos 40 dias úteis. Além desses depoimentos, Rogério pediu informações e dados de processos que correm contra Cunha no Supremo Tribunal Federal (STF) e na Procuradoria-Geral da União (PGR), incluindo o conteúdo de delações premiadas; e no Banco Central (BC), que tratam de crimes de evasão de divisa e lavagem de dinheiro.

Eduardo Cunha responde a processo sob a acusação de ter mentido à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, em março do ano passado, quando disse que não tinha contas no exterior. Posteriormente, documentos do Ministério Público da Suíça revelaram a existência de contas ligadas a ele naquele país. Cunha nega ser dono das contas, que, segundo ele, são administradas por trustes. O deputado admite, porém, ser o “usufrutuário” dos ativos mantidos no exterior. O processo pode levar à cassação do mandato de Cunha.

A representação contra Cunha foi apresentada pelo PSOL e pela Rede, e acatada pelo conselho, por 11 votos a 10, no dia 2 de março. No último dia de prazo regimental, dia 21, Cunha apresentou sua defesa em mais de 60 páginas e cinco anexos, contendo notas taquigráficas e documentos. 

A Piemonte Empreendimentos LTDA, empresa controlada pelo lobista Julio Camargo - um dos delatores da Operação Lava Jato -, doou R$ 50 mil à campanha do então candidato ao governo da Bahia Jaques Wagner (PT) em 20 de setembro de 2006. Naquele ano, a campanha do petista - atual ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma - recebeu R$ 4.287.610,77 em doações eleitorais.

A Piemonte ainda doou, na época, R$ 10 mil ao candidato a deputado no Espírito Santo Neucimar Ferreira Fraga. As informações constam da prestação de contas de Jaques Wagner ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O petista informou, por meio de sua assessoria, que a doação de R$ 50 mil para sua campanha "está devidamente declarada ao TSE devidamente auditada e checada".

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Julio Camargo é personagem emblemático da Lava Jato. O lobista é apontado pelo Ministério Público Federal como um dos operadores de propinas no esquema de cartel e corrupção na Petrobras, que vigorou entre 2004 e 2014. Segundo os investigadores da operação, a Piemonte Empreendimentos era usada por Julio Camargo como fachada para lavar dinheiro do esquema instalado na estatal e para repassar propinas a políticos e dirigentes da Petrobras.

Em 2006, Jaques Wagner foi eleito governador baiano e reeleito em 2010. O petista administrou a Bahia até o fim de 2014. Em outubro de 2015, ele assumiu a chefia da Casa Civil de Dilma, deixando a cadeira de ministro da Defesa, que ocupou por dez meses.

A campanha de Jaques Wagner em 2006 foi citada pelo ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, um dos delatores da Lava Jato. Segundo o executivo, houve "um grande aporte de recursos" para a campanha do petista. Cerveró declarou que o dinheiro teria sido desviado da Petrobras e "dirigido" pelo então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli.

Apuração

Julio Camargo foi o terceiro investigado da Lava Jato a fechar acordo de delação premiada - após o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef -, em outubro de 2014. Em um de seus principais depoimentos, ele revelou pagamento de US$ 5 milhões em propina para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Além da Piemonte, o lobista controla as empresas Treviso e Auguri.

As três empresas de Julio Camargo foram investigadas na Lava Jato. Laudo da Polícia Federal, de junho de 2015, indicou que a Camargo Corrêa fez pagamentos de R$ 67 milhões à Treviso (R$ 45 milhões) e à Piemonte (R$ 22 milhões), entre 2010 e 2012. Segundo o ex-presidente da empreiteira Dalton Avancini, em sua delação premiada, "os pagamentos de fato foram efetivados às empresas contratadas, Piemonte e Treviso, não tendo sido prestado qualquer serviço ao que saiba".

A Piemonte também esteve envolvida nos contratos de construção dos navios-sondas Petrobras 10000 e Vitoria 10000, sem licitação, em 2006 e 2007. Segundo a Procuradoria da República, a intermediação do pagamento de propina no esquema dos navios-sonda foi feita pelo lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, operador ligado à Diretoria Internacional da Petrobrás, de indicação do PMDB.

Os investigadores afirmam que a propina foi oferecida, prometida e paga por Júlio Camargo. Para dar aparência lícita à movimentação, afirma o Ministério Público Federal, foram celebrados dois contratos de comissionamento entre a Samsung, responsável pela construção, e a Piemonte. Dessas comissões saíram as propinas prometidas a Fernando Soares, Eduardo Cunha e ao então diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, que levou a questão à Diretoria Executiva e obteve a aprovação dos contratos relativos aos navios-sondas, nos termos propostos pela Samsung.

A Piemonte foi citada ainda na negociação de um avião que teria pertencido ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Em sua delação premiada, o lobista Milton Pascowitch afirmou ter pago metade de uma aeronave que seria usada por Dirceu. O Cessna, modelo 560XL, pertencia a Julio Camargo. O pagamento, informou Pascowitch, foi feito pela Jamp Engenheiros, que pertence ao delator, por transferência bancária para conta da Avanti Empreendimentos Ltda, empresa proprietária do avião.

A aquisição, segundo o delator, ocorreu em julho de 2011, pelo valor de R$ 1.071.193,00. A Avanti foi representada por Franco Clemente Pinto e pelo empresário Júlio Belardi de Almeida Camargo, filho do lobista Júlio Camargo. O negócio foi desfeito semanas depois e, segundo o Ministério Público Federal, anotações entregues por Pascowitch mostram que a Piemonte teria devolvido R$ 200 mil referentes à compra.

Com a palavra, Jaques Wagner

"Ministro Jaques Wagner está à disposição do Ministério Público e das autoridades competentes. Ele confia no resultado das investigações. Acredita que o Brasil será um outro país após a apuração das denúncias. Ele não vai comentar o depoimento pois não conhece seus termos na íntegra e dentro do seu real contexto. Informa que a doação de R$ 50 mil para sua campanha está devidamente declarada ao TSE devidamente auditada e checada."

A principal evidência de que o delator Júlio Camargo disse a verdade sobre a reunião que afirma ter tido com o deputado Eduardo Cunha, em 2011 - quando o presidente da Câmara teria exigido a propina de US$ 5 milhões - é o rastreamento das ligações do celular do lobista do PMDB na Petrobras Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano. Os investigadores descobriram que Baiano, braço direito de Cunha, também participou do encontro, no dia 18 de setembro daquele ano, um domingo, segundo Relatório de Análise 89/2015 da Procuradoria-Geral da República.

O presidente da Câmara foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro pelo Ministério Público Federal na quinta-feira, 20. Como o deputado nega ter se encontrado com o delator e exigido a propina, a Procuradoria fez um impressionante trabalho de investigação, poucas vezes visto em casos de corrupção. Reconstituiu os passos dos personagens desse capítulo da Lava Jato - Baiano, Cunha e Júlio Camargo. O delator revelou que Cunha e Baiano o encontraram em um prédio comercial do Leblon no Rio, o Leblon Empresarial, situado na Avenida Ataulfo de Paiva.

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O local exato da reunião foi uma das salas da empresa SIDUS Consultoria e Pesquisa, no terceiro andar, de propriedade de Sérgio Roberto Wayne, advogado e amigo de Baiano. O endereço se encontra dentro do ângulo de alcance da antena que captou os contatos de Fernando Baiano.

Segundo a Procuradoria, Fernando Baiano tinha as chaves do local. O rastreamento das ligações de Baiano mostra que pouco antes da reunião, entre 18h48 e 19h20, ele fez oito contatos via rádio - vinculado à empresa Hawk Eyes, de sua propriedade - com o proprietário do escritório.

Entre 19h e 21h, o lobista do PMDB fez outros três contatos pelo celular com um número cadastrado em nome de Weyne e Costa Advogados. As ligações foram captadas por antena de transmissão instalada na Avenida Ataulfo de Paiva. A Procuradoria sustenta que Baiano fez os contatos para avisar o dono do escritório que iria ocupar o imóvel naquele domingo.

A Procuradoria constatou que Eduardo Cunha, de fato, estava no Rio naquele fim de semana. Em consulta à cota para exercício de atividade parlamentar do peemedebista, no Portal da Câmara, obteve-se a informação que ele voou para o Rio.

No dia da reunião, o delator Júlio Camargo voou de Congonhas, São Paulo, para Santos Dumont, no Rio, às 17h30 - retornou para São Paulo às 21h. O motorista do delator, João Luiz Cavalheiro, confirmou que pegou Júlio Camargo no aeroporto e o levou em uma Toyota Camry preto, placas ELL-2211, até a esquina das avenidas Ataulfo de Paiva com Afrânio de Mello Franco. Aguardou por cerca de uma hora e meia e, depois, levou Júlio Camargo de volta ao aeroporto.

A Procuradoria afirma que Baiano e o deputado chegaram ao Leblon em uma Range Rover, placas EIV-8877. Devido à ausência de garagem no Leblon Empresarial, alguns condôminos alugam vagas do estacionamento mensal do prédio vizinho, Rio Design Leblon, com acesso pela Avenida Afrânio de Mello Franco.

O estacionamento confirmou aos investigadores a entrada no dia 18 de setembro de 2011, no horário da reunião da propina, da Range Rover, que está em nome da empresa Technis, de Fernando Baiano.

Segundo a Procuradoria, iniciada a reunião, Eduardo Cunha solicitou a Júlio Camargo o "pagamento da vantagem indevida". Cunha disse, segundo o delator. "Júlio, em primeiro lugar eu quero dizer que não é nenhum problema pessoal em relação a você. Acontece que o Fernando não me paga porque diz que você não o paga. Como o Fernando não tem capacidade de me pagar, eu preciso que você me pague."

A denúncia da Procuradoria contra Eduardo Cunha diz que o delator tentou se justificar, mas o deputado "foi irredutível". "Eu não sei da história e nem quero saber", teria dito Eduardo Cunha. "Eu tenho um valor a receber do Fernando Soares e que ele atrelou a você."

A denúncia afirma. "Então, Eduardo Cunha solicitou expressamente a quantia de cinco milhões de dólares faltantes." Nas palavras do delator, o presidente da Câmara disse. "Eu ainda tenho a receber 5 milhões de dólares em relação a este pacote."

"Em vista da pressão ficou estipulado que Júlio Camargo pagaria US$ 10 milhões, sendo US$ 5 milhões para Eduardo Cunha e US$ 5 milhões para Fernando Soares, o que foi aceito", diz a denúncia do procurador-geral da República Rodrigo Janot. "Eduardo Cunha, no entanto, solicitou a Júlio Camargo que tivesse preferência no recebimento do pagamento, pois tinha urgência."

A Procuradoria afirma que Júlio Camargo se valeu do auxílio do doleiro Alberto Youssef para operacionalizar o pagamento de parte da propina, "mediante formas de ocultação e dissimulação".

Fernando Baiano foi condenado a 16 anos de prisão na Justiça Federal do Paraná. Como não detém foro privilegiado perante o Supremo Tribunal Federal, ele foi processado na 1ª instância. Na segunda-feira, 17, o juiz Sérgio Moro condenou Baiano e o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró por corrupção e lavagem de dinheiro.

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O ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró e os lobistas Fernando Antônio Soares, conhecido como Fernando Baiano e apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção na Petrobras, e Julio Camargo foram condenados hoje (17) por corrupção e lavagem de dinheiro em uma das ações penais decorrentes da Operação Lava Jato, que investiga o pagamento de propina em contratos para compra de navios-sondas pela estatal.

Conforme sentença proferida pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos inquéritos da Lava Jato na primeira instância, Cerveró deve cumprir pena de 12 anos, três meses e dez dias de reclusão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro mais o pagamento de multa. Em maio, Cerveró já havia sido condenado a cinco anos de prisão por lavagem de dinheiro pela compra de um apartamento, depois da ocultação e dissimulação de valores oriundos do pagamento de propina.

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Já Fernando Baiano foi condenado a 12 anos, três meses e dez dias de reclusão, mais multa, pelos mesmos crimes. Julio Camargo, que em delação premiada disse que o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cobrou US$ 5 milhões em propina do esquema investigado pela Lava Jato, foi condenado a 14 anos de detenção.

Na sentença, Sérgio Moro ressaltou que Julio Camargo firmou acordo de delação premiada, prestando informações “importantíssimas” para desvendar o funcionamento do esquema. Por isso, definiu o juiz, as penas imputadas a Camargo ao fim de todos os processos da Lava Jato não poderão ultrapassar o total de 30 de reclusão.

O juiz determinou ainda a mudança do regime fechado para o semiaberto para cumprimento inicial dos cinco primeiros anos de pena. Pelo acordo de delação, Julio Camargo deverá prestar 30 horas mensais de serviços comunitários. “Após os cinco anos iniciais, remanescerá, pelo restante da pena, somente a obrigatoriedade de apresentação de relatórios de atividades periódicos, desta feita a cada seis meses”, definiu Moro. Caso haja descumprimento ou que seja descoberto que a colaboração não foi verdadeira, Julio Camargo poderá perder os benefícios.

De acordo com a sentença proferida hoje, apesar de o rastreamento feito pela força-tarefa da Lava Jato não ter sido integral, ficou comprovada a movimentação de fluxo financeiro no exterior de valores da empresa Samsung, contratada pela Petrobras para fornecimento dos navios-sondas, para Julio Camargo, que repassou parte do dinheiro para Fernando Baiano e Nestor Cerveró.

“Rigorosamente, o MPF identificou indícios que relacionam Fernando Soares diretamente a pelo menos outra conta no exterior, beneficiária de repasses da Piemonte Investments, de Julio Camargo. Com efeito, nos extratos da conta Piemonte podem ser identificadas três transferências nos valores de US$ 150.000, US$ 110.000 e US$ 59.113 em favor de conta no exterior em nome de Iberbras Intregracion de Negocios Y Tecnologia S/A. Ocorre que, em relatório de visitas à Petrobras, por Fernando Soares, ele se identificou, em mais de uma dezena delas, como “representante da empresa Iberbras, o que é indicativo de sua ligação também com a referida conta”, diz Moro na sentença.

Também foram comprovados, segundo a sentença, 34 operações entre Julio Camargo e Fernando Baiano, no valor total de US$ 14.317.083. “Do que foi possível rastrear no exterior, descobriu-se que pelo menos duas das contas beneficiárias são ligadas a Fernando Soares. De uma delas é ele o beneficiário final, de outra, o representante [Three Lions Energy e Iberbrás, respectivamente] e ainda há um sucessivo repasse da conta controlada por Fernando Soares para a conta que tem por beneficiário final Nestor Cuñat Cerveró."

Réu na mesma ação penal, o doleiro Alberto Youssef foi absolvido pelo juiz Sério Moro. “Acima de qualquer dúvida razoável de que as operações descritas na denúncia como de sua responsabilidade se refiram à lavagem da propina dos navios-sondas e, quanto às operações de lavagem da propina dos navios-sondas que foram objeto de confissão, não estão elas narradas na denúncia, o que impede a condenação, pelo princípio da correlação entre acusação e sentença”, justificou Moro.

Os advogados de Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, tentam anular no Supremo Tribunal Federal (STF) o acordo de delação premiada do lobista Julio Camargo no âmbito da Operação Lava Jato. Na petição encaminhada à Corte, os advogados alegam que o lobista usou diferentes versões nos depoimentos - omitindo informações no curso da delação premiada - e que o acordo não poderia ter sido homologado no Paraná, em razão da menção ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Eles apontam que, em um primeiro momento, Julio Camargo disse que o contrato de compra de navios-sonda pela Petrobras não tinha relação com Cunha. Posteriormente, em depoimento neste mês, Camargo declarou que o parlamentar exigiu R$ 5 milhões de propina em dois contratos da estatal.

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Ao pedir ao STF a rescisão do acordo de delação, os advogados de Fernando Baiano dizem que Camargo "firmou compromisso de dizer a verdade e não mentir ou sonegar informações" quando concordou em colaborar, o que não aconteceu. "O 'colaborador' Julio Camargo, se pretendia fazer jus aos benefícios propostos pelo Ministério Público Federal, deveria ter cumprido à risca suas obrigações, jamais omitir fatos, mentir aqui, ali ou acolá, alterando conteúdo de seus depoimentos e prejudicando o exercício da ampla defesa e do contraditório por aqueles que foram delatados", escrevem os advogados de Baiano.

A petição encaminhada ao STF usa a "discrepância" entre os depoimentos do lobista para justificar o pedido de anulação da delação. "Onde está a verdade? Aqui ou ali? Nem lá nem cá? A estória contada por Julio Camargo é inconfiável", completam os advogados de Baiano.

Fernando Baiano é réu, junto com Camargo, com o doleiro Alberto Youssef e com o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró na ação penal que corre em Curitiba na qual Cunha foi citado.

"Ora, se o delator deve dizer a verdade, inclusive com menção a agentes públicos, sem malícia ou reservas mentais, o que influenciará, inclusive, na fixação da competência para homologação do acordo de colaboração premiada, tem-se que Julio Camargo, sem qualquer dúvida, deu causa à rescisão do ajuste", escrevem os advogados de Baiano.

Como Julio Camargo não mencionou qualquer parlamentar no acordo de delação premiada inicialmente firmado, o caso foi homologado pelo juízo de primeiro grau. Caso o deputado já tivesse sido citado Cunha, o termo deveria ser chancelado pelo STF, Tribunal competente por investigações penais sobre autoridades com foro privilegiado como deputados e senadores. "Embora o acordo tenha sido homologado pelo Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba, os novos depoimentos de Julio Camargo (...) revelam que o Juízo competente para decidir a rescisão do contrato é o Supremo Tribunal Federal", escrevem ao STF os defensores de Baiano.

A eventual rescisão do acordo de delação premiada pode gerar efeitos para as duas partes: tanto para o delator como para os investigadores. Caso a Justiça entenda por anular a eficácia das declarações do lobista, os depoimentos não seriam considerados indícios de provas. Já o delator pode perder os benefícios conquistados com o acordo de delação.

Reclamações

Além do pedido para anular a delação, o STF já recebeu três pedidos para suspender a ação penal que tramita no Paraná na qual Cunha foi citado e remeter o caso para Brasília. Além do próprio peemedebista, as defesas de Baiano e de Cerveró também protocolaram nos últimos dias reclamação contra o juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato no Paraná.

Ao analisar a reclamação proposta por Cunha - a primeira a chegar ao Tribunal desde que o peemedebista foi citado por Julio Camargo -, o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, determinou que Moro envie informações à Corte sobre o processo antes de julgar o caso.

O Ministério Público Federal (MPF) reforçou o pedido, feito à Justiça Federal, de condenação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, do empresário Fernando Soares (o Fernando Baiano), do consultor Júlio Camargo e o doleiro Alberto Youssef pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Investigados na Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras, os quatro estão presos preventivamente e, para o MP, não há motivos para que sejam liberados.

Nas alegações finais, os procuradores da República pedem que os denunciados sejam condenados a devolver R$ 296,8 milhões aos cofres públicos – valor estimado do prejuízo causado à petrolífera pelo “gigantesco esquema criminoso” montado por “empresários que pagavam propina a altos funcionários da estatal a fim de garantir contratos para a execução de projetos e empreendimentos de seus interesses”. Para garantir a restituição do prejuízo, o Ministério Público defende que sejam usados inclusive os valores bloqueados em contas e investimentos bancários em nome dos acusados, além do dinheiro apreendido durante as ações das PF.

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Segundo os procuradores, os cargos de comando de diretorias da Petrobras eram preenchidos por meio de indicações políticas para garantir o repasse das propinas a agentes políticos. Um núcleo financeiro, do qual Fernando Baiano é acusado de fazer parte, encarregava-se de repassar os valores desviados aos destinatários. Para isso, simulavam contratos de serviços de consultoria e emitiam notas fiscais fraudulentas para que o esquema não fosse detectado pelos sistemas de controle.

No mesmo processo, o MPF já havia acusado Cerveró pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro; Fernando Baiano, como coautor da corrupção passiva e por lavagem de dinheiro; Júlio Camargo, por corrupção ativa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e fraudes em contrato de câmbio, e Alberto Youssef, pelo crime de lavagem de dinheiro. A denúncia foi integralmente recebida pela Justiça em dezembro de 2014.

Na ocasião, a defesa de Cerveró alegou que seu cliente não teve oportunidade de se defender, pois não teve acesso à íntegra dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Alegando que Júlio Camargo foi constrangido, os advogados questionavam o valor legal de seu acordo de delação premiada e apontava, entre outras falhas, a ausência de justa causa para ação penal por ausência de provas. A defesa pediu a absolvição sumária de Cerveró.

O advogado de Júlio Camargo disse que, ao assinar acordo de delação premiada, Camargo confirmou o pagamento de US$ 30 milhões de propina. O MPF fala em US$ 40 milhões. A defesa pediu o perdão judicial para Camargo ou, alternativamente, que as eventuais penas que lhe forem aplicadas estejam em conformidade com os termos do acordo de delação premiada.

A defesa de Fernando Baiano também questionou a ação penal, afirmando que esta está “lastreada em denúncia inepta e sem justa causa, bem como tramitada em Juízo incompetente, suspeito ou impedido”. Os advogados pediram a nulidade de acordos de colaboração premiada obtidos, “meio de prova imoral, colhido mediante a atuação de advogados de delatores com interesses conflitantes e contendo cláusulas ilegais”. O advogado de Baiano também pediu a absolvição do empresário.

O advogado de Alberto Youssef pediu que algumas das provas incluídas nos autos fossem anuladas e também questionou a legalidade dos acordos de colaboração, negando que uma empresa de Youssef tenha sido utilizada para qualquer fim irregular.

A Agência Brasil não conseguiu entrar em contato com os advogados de Cerveró, Soares, Camargo e Youssef para falar sobre o novo pedido de condenação feito pelo MPF.

 

A criminalista Beatriz Catta Preta renunciou à defesa do lobista Julio Camargo, delator do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ela também renunciou à defesa de outros dois delatores da Operação Lava Jato: Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia da Petrobras, e o lobista Augusto Ribeiro de Mendonça. A renúncia foi comunicada pela advogada à Justiça Federal no Paraná por meio de petições protocoladas nos processos em que os três delatores são réus.

Na semana passada, Julio Camargo, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, revelou ter sofrido pressão do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para pagar propina de US$ 5 milhões. O valor seria referente a dois contratos de R$ 4 bilhões da estatal para a contratação de navios-sonda.

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"Beatriz Catta Preta e Luiz Henrique Vieira, advogados que esta subscrevem, constituídos nos autos do processo em epígrafe e demais procedimentos oriundos da denominada Operação Lava Jato, vem, com fundamento no artigo 5º, § 3º, da Lei nº 8.906/94, manifestar suas renúncias ao mandato que lhe fora outorgado por Pedro José Barusco Filho", comunicou a advogada em uma das petições.

Beatriz Catta Preta foi o artífice da fase mais explosiva da Lava Jato. Sob sua orientação, o primeiro delator, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, revelou o amplo esquema de corrupção que tomou conta de diretorias da estatal. Ele apontou ainda nomes de deputados, senadores e governadores que teriam recebido porcentual de propinas pagas por empreiteiras.

Depois da delação de Costa, a criminalista renunciou à causa, assumida pelo advogado João Mestieri.

No último dia 20, segunda-feira, Beatriz Catta Preta enviou e-mail para os delatores, informando sobre sua decisão. "Prezado Sr. Pedro Jose Barusco Filho, Boa tarde. Vimos pela presente notificá-lo da renúncia a todos os poderes a nos outorgados por Vossa Senhoria. Comunicamos que Vossa Senhoria devera constituir novo procurador no prazo de 10 dias a contar desta data. No mais, até o termo final do prazo acima, seremos responsáveis por Vossa defesa em ações e procedimentos em andamento, exceto perante CPI, CADE, CGU, Receita Federal, dentre outros. Atenciosamente, Beatriz Catta Preta", escreveu para o ex-gerente de Engenharia da Petrobras.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta segunda-feira, 20, que aceita participar de acareação com o lobista Júlio Camargo, que disse ter pago US$ 5 milhões em propina ao peemedebista, mas defendeu que outros políticos também sejam acareados com delatores da Operação Lava Jato. Cunha citou a presidente Dilma Rousseff, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, todos do PT.

"Não tem nenhum problema. Pode haver acareação com quem quiser. Mas aproveita e chama o Mercadante e o Edinho Silva para acarear com o Ricardo Pessoa e a Dilma para acarear com Youssef (doleiro Alberto Youssef)", disse Cunha, ao deixar almoço com líderes peemedebistas organizado pela Associação de Emissoras de Rádio e TV do Rio de Janeiro (AERJ). "Acho oportunista querer falar em acareação. Estou disposto a fazer em qualquer tempo. Aproveitem e convoquem todos os que estão em contradição. O ministro Mercadante e o ministro Edinho negam o que foi dito por Ricardo Pessoa. A presidente nega o que foi colocado pelo Youssef. Que façam acareação de todos", insistiu.

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O deputado voltou a negar que a decisão anunciada por ele na última sexta-feira, 17, de romper com o governo signifique que ele implementará na Câmara uma pauta contrária aos interesses da presidente Dilma Rousseff. "Não estamos querendo tacar fogo no País, nenhuma pauta bomba. É o normal que está sendo tratado (na pauta da Câmara). Se o normal incomoda, é outro problema. O fato de eu ter mudado o meu alinhamento político com o governo não significa que eu vá mudar como presidente da Câmara. Minha militância partidária como deputado e como político é que está em discussão. Meu papel como presidente da Câmara é igual", afirmou Cunha, que embarcará nesta tarde para Brasília.

O presidente da Câmara lembrou que o PMDB já está dividido desde as eleições do ano passado, quando 41% dos que votaram na convenção nacional do partido foram contra a manutenção da aliança com o PT. "A bancada já estava dividida, o PMDB já foi dividido para a eleição. Não foi a mudança no meu alinhamento que criou isso".

O pedido de acareação que pode colocar, frente a frente, o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o ex-consultor da Toyo Setal Júlio Camargo foi protocolado nesta segunda-feira (20) na secretaria da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. O colegiado pode decidir a qualquer momento se acata ou não o requerimento da deputada federal Eliziane Gama (PPS-MA) já que, pelo Regimento Interno da Casa, a CPI pode funcionar normalmente durante o recesso parlamentar que só termina em 1º de agosto.

De acordo com assessores, o presidente da CPI Hugo Motta (PMDB-PB) pode convocar sessão para votar o requerimento mas, para a votação ocorrer, é necessária a presença de quorum mínimo de 14 deputados. Para evitar desgastes com risco de reunião esvaziada, a medida depende de levantamento para identificar quantos dos 27 parlamentares que integram o colegiado estariam dispostos a se reunir ainda em julho.

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Um dos delatores do esquema de corrupção na estatal, Júlio Camargo disse, na última semana, que Cunha pediu US$ 5 milhões para viabilizar contrato de navios-sonda da Petrobras e exigiu pagamento de propina ao lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. O depoimento à Justiça Federal do Paraná agravou as relações de Cunha com o Planalto.

O parlamentar negou as informações prestadas por Júlio Camargo de que não tinha feito a denúncia nos depoimentos anteriores e disse que o empresário foi pressionado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que, segundo ele, “atua à serviço do governo” em troca de sua recondução ao cargo. O mandato de Janot na Procuradoria-Geral da República acaba em 17 de setembro e ele pode ser reconduzido ao cargo pela presidenta Dilma Rousseff por mais dois anos, mas precisa passar por nova sabatina no Senado.

Na volta do recesso, a CPI ouve, no dia 4, o presidente da Mitsui, Shinji Tsuchiya, e, no dia 5 de agosto, o presidente da Samsung no Brasil, J. W. Kim. Os dois não compareceram à sessão do último dia 15 quando deveriam prestar depoimento para falar sobre o pagamento de propina ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e ao PMDB, em um contrato de aluguel de sondas celebrado com a Petrobras. Cunha negou que tenha sido o destinatário do dinheiro.

A denúncia foi feita pelo doleiro Alberto Youssef que também será ouvido pelos parlamentares da comissão, durante acareação com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, marcada para o dia 6 de agosto.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), chegou à Casa pouco depois das 9 horas desta sexta-feira, 17, sem falar com jornalistas. Limitou-se a dizer que vai separar alguns documentos e falará à imprensa às 11 horas para anunciar rompimento com o governo da presidente Dilma Rousseff.

Após ser acusado pelo lobista Julio Camargo de cobrar propina no valor de US$ 5 milhões, Cunha encontrou-se com o vice-presidente da República, Michel Temer, comandante do PMDB, para informar que anunciaria o rompimento nesta sexta-feira.

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O movimento já era esperado por aliados e opositores do presidente da Câmara. Um deputado do DEM avalia que o governo terá neste segundo semestre o seu pior momento, pois Dilma será o principal alvo de Cunha. Para o parlamentar, o peemedebista não mais evitará a abertura de processo de impeachment contra a petista. Para um peemedebista, Cunha teria mesmo que deixar de ser "camaleão", ora governista, ora oposicionista, para assumir de fato seu papel de adversário da presidente Dilma Rousseff.

Dentro do PMDB, Eduardo Cunha é a principal voz favorável ao rompimento com o PT. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em 14 de junho, ele já defendia o desembarque de seu partido do governo e o fim da aliança entre as duas legendas já a partir das eleições municipais do ano que vem. Na última quarta-feira, ao lado de Temer, do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP), Cunha voltou a defender de maneira enfática que o PMDB tenha candidato próprio em 2018. Foi seguido pelos correligionários.

Na quinta-feira, 16, em café da manhã com jornalistas, o presidente da Câmara fez novos ataques ao PT: "Não aguentamos mais não disputarmos a eleição e ficarmos perto do PT. Ninguém aguenta mais aliança com o PT". "Estamos doidos para pular fora (do governo)". "Um partido que não quero na aliança com o PMDB é o PT".

Aliados e opositores do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acreditam que a denúncia de que ele cobrou US$ 5 milhões de propina acelera um processo de enfraquecimento do peemedebista na Casa - iniciado com pauta conservadora que impõe e pela postura considerada "ditatorial" na condução dos trabalhos.

A denúncia foi feita na quinta-feira (16) pelo lobista Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato, em depoimento à Justiça Federal. Segundo a denúncia, Cunha exigiu US$ 5 milhões de propina em dois contratos da Petrobras para a compra de navios-sonda. Segundo o delator, a cobrança foi feita pessoalmente por Cunha em encontro em 2011, no Rio. As denúncias também foram feitas em delação à Procuradoria-Geral da República, comandada por Rodrigo Janot.

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Para os parlamentares, se Cunha começou o dia afirmando que a Lava Jato não lhe tirava o sono, terminou com o lobista Julio Camargo lhe garantindo insônia. Após o fato, o presidente da Câmara se encontrou com o vice-presidente da República, Michel Temer, comandante do PMDB, na Base Aérea. Em razão da crise, eles avaliaram o quadro e Cunha decidiu permanecer durante esta sexta-feira (17) em Brasília.

Ele também decidiu não alterar o pronunciamento que fará hoje à noite, quando irá apresentar um balanço de sua gestão. "O espaço é institucional. Não posso usar para fins pessoais", afirmou ao jornal "O Estado de S. Paulo".

Aliados fiéis de Cunha já admitem a possibilidade de se distanciar dele e dizem que, com o desenrolar do processo, os partidos logo começarão a pensar em opções para suceder-lhe, caso sua permanência no cargo fique insustentável. No entanto, ainda não há um nome forte na Casa que se sustente sem o suporte do presidente investigado. "De certa forma, a notícia fragiliza, mas veio num momento de recesso e, por isso, não dá para se medir, por exemplo, o impacto dentro do plenário. É importante aguardar com cautela para ver o que vem por aí", disse o líder do aliado PSDB, Nilson Leitão (MT).

No PT, a torcida é para que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, peça e o STF determine o afastamento de Cunha da presidência da Câmara, para que ele não use o cargo como arma. A expectativa também entre os governistas é que novas delações possam desgastar o parlamentar durante as duas semanas sem atividades no Congresso.

Petistas sabem que a presidente Dilma Rousseff será o principal alvo do peemedebista após o recesso e acreditam que ele voltará disposto a abrir um processo de impeachment contra ela. Se no início do ano ele se posicionava terminantemente contra o impedimento, agora já admite publicamente a possibilidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), reagiu na tarde desta quinta-feira, 16, à informação de que o delator da Operação Lava Jato Júlio Camargo disse à Justiça Federal que ele teria pedido US$ 5 milhões em propina por contrato.

Após reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para tratar da agenda legislativa do segundo semestre, Cunha disse que Camargo foi obrigado a mentir pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

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"O delator foi obrigado a mentir. E acho muito estranho ser na véspera do pronunciamento que estou citando e em uma semana que a parte do Poder Executivo envolvido no cumprimento dos mandados judiciais tenha agido com aquela fanfarronice toda. Ou seja, há um objetivo claro de constranger o Poder Legislativo e que pode ter o Poder Executivo por trás em articulação com o procurador-geral da República", acusou.

Cunha disse achar "estranho" que, num período de aprofundamento de discussão de um eventual pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, queiram, nas suas palavras, "constranger o Poder Legislativo". "Acho isso um absurdo e não vou aceitar ser constrangido", avisou.

O peemedebista criticou o "estardalhaço" feito na Operação Politeia, "com helicóptero em prédio de senador". O presidente da Câmara disse que não se deixará fragilizar pelo episódio.

Sobre o depoimento de Camargo, Cunha reiterou que se trata de "ilação" e que sua fala não traz nenhum fato concreto. "Esta delação que foi feita dele não existe. Ela é nula porque foi homologada por autoridade incompetente. Se eu faço parte da delação dele, não é o juiz que poderia homologá-la", concluiu.

Cunha terá um pronunciamento em cadeia de rádio e TV amanhã e não pretende alterar seu discurso. Ele explicou que o pronunciamento será sobre as atividades da Casa e não para sua defesa pessoal.

Ele se dispôs a retornar na CPI da Petrobras para prestar esclarecimentos, se for necessário. Também se colocou à disposição para participar de acareação com o delator, que já foi convocado. "Eu faço olho no olho com quem quiser, não tenho dificuldade nenhuma de rebater quem quer que seja. Quem não deve não teme. E ele está mentindo. E o delator tem que provar sua mentira. O ônus da prova é de quem acusa", afirmou.

O peemedebista não demonstrou preocupação com os depoimentos dos representantes da Mitsui e da Samsung Heavy Industries, que estavam marcados para esta semana e serão reagendados. "Que investiguem tudo", disse.

O lobista Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato, declarou à Justiça Federal que o suposto operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras, Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, lhe disse que estava sendo pressionado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, para o pagamento de propina. Os valores da propina teriam saído de compras de navios-sonda.

"Julio, realmente nós estamos com um problema, porque eu estou sendo pressionado violentamente, inclusive, pelo deputado Eduardo Cunha", disse Julio Camargo, atribuindo a frase a Fernando Baiano.

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Ainda segundo o lobista, Fernando Baiano disse a ele. "Isso aí vai chegar numa situação muita embaraçosa para mim, mas para você, com certeza vai ser muito mais embaraçosa".

Julio Camargo depôs nesta quinta-feira, 16, em Curitiba, na Justiça Federal em uma das ações da Lava Jato. Ele disse que responde a Fernando Baiano. "Eu falei, bom, eu estaria à disposição para conversar com o deputado Eduardo Cunha explicar o que está acontecendo. Ele falou: Julio, ele não quer conversar com você. Ele quer receber."

Julio Camargo afirmou que se reuniu pessoalmente com Cunha na Base Aérea Santos Dumont, no Rio. "Eu tive outros encontros com ele, mas não sobre esse assunto, tive encontro sobre a Premium".

'O sr. citou que o parlamentar era uma pessoa agressiva', indagaram a Julio Camargo. "Agressivo não no tipo físico. Diria mais sob o ponto de vista verbal, uma pessoa que tenta lhe constranger, lhe colocar a corda no pescoço, no sentido de possuir as ideias".

Em reunião deliberativa nesta quinta-feira (9), a CPI da Petrobras aprovou 73 requerimentos de convocação de depoentes, pedidos de informação a diversos órgãos, acareações e quebras de sigilos bancário, fiscal e telefônicos. Novamente, a votação foi realizada durante uma suspensão da Ordem do Dia do Plenário da Câmara.

Entre os pedidos aprovados, estão as convocações do ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, do empresário Júlio Camargo e do policial Jaime de Oliveira.

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A inclusão do requerimento de Cardozo na pauta do dia atendeu à pressão dos deputados. Dentro do PT, o ministro tem sido severamente criticado devido às operações Lava Jato e Acrônimo, que envolve nomes importantes do partido. Petistas dizem que ele perdeu o controle das investigações e não consegue evitar os vazamentos.

Já Júlio Camargo é ex-representante no Brasil da empresa Toyo Setal, empresa envolvida no esquema de corrupção na Petrobras. Em depoimento à Justiça, ele confirmou o pagamento de propina a diretores da estatal, intermediada por Fernando Soares, apontado como operador do PMDB. Soares e a legenda negam.

Jaime de Oliveira é policial civil do Rio de Janeiro e é acusado de transportar dinheiro de propina a serviço do doleiro Alberto Youssef.

Também foi aprovada a convocação do presidente da empreiteira Odebrecht, Marcelo Odebrecht, preso em Curitiba (PR) pela Operação Lava Jato. A CPI quer ouvir ainda a advogada Beatriz Catta Preta, que defende os delatores Pedro Barusco (ex-gerente da área de Serviços da Petrobras) e Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento).

O colegiado também quebrou os sigilos bancário, fiscal e telefônico de pessoas ligadas ao doleiro: Taminy Youssef e Kemelly Caroline Fujiwara Youssef (filhas); Joana Darc Fernandes Youssef (mulher); e Olga Youssef (irmã).

Os parlamentares aprovaram ainda a acareação entre Pedro Barusco, Shinko Nakandakari (operador de estaleiros) e Glauco Legati (funcionário da Petrobras); e entre Augusto Ribeiro de Mendonça Neto (executivo da Toyo Setal), Renato Duque (ex-diretor da Petrobras) e João Vaccari Neto (ex-tesoureiro do PT).

Com informações da Agência Câmara.

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Dois delatores do esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato devem prestar depoimento nesta terça-feira (30) à Justiça Federal em Curitiba. O consultor Júlio Camargo, que prestou serviços à empresa Toyo Setal,  e o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco  vão responder aos questionamentos do juiz federal Sérgio Moro na condição de testemunhas de acusação, por terem assinado acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).

A audiência está prevista para começar às 15h.  Os depoimentos fazem parte da ação penal que envolve o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque.

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Duque foi preso no dia 16 de março pela Polícia Federal por determinação de Moro. Ele está preso no Complexo Médico-Penal, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Segundo o juiz, mesmo após a deflagração da Operação Lava Jato, em fevereiro de 2014, Duque continuou cometendo crime de lavagem de dinheiro, ocultando os valores oriundos de propinas em contas secretas no exterior, por meio de empresas offshore. A defesa de Duque alega que a prisão é ilegal e que o ex-diretor não cobrou propina de empreiteiras durante o período em que esteve no cargo.

Vaccari foi preso em abril com base em declarações do doleiro Alberto Youssef e de Barusco, delatores do esquema  de corrupção investigado na Operação Lava Jato. Segundo eles, o ex-tesoureiro do PT recebeu propina de executivos de empreiteiras investigadas pela Polícia Federal. Os advogados de Vaccari afirmam que ele nunca pediu doações de origem ilícita e que todas as contribuições ocorreram de forma legal, por transação bancária.

O executivo Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou à Justiça Federal no Paraná em depoimento nesta quarta feira, 13, que 'não se recorda' de ter falado ao doleiro Alberto Youssef sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ). Youssef, peça central da Lava Jato, também nesta quarta, 13, declarou ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações sobre propinas e corrupção na Petrobrás, que Eduardo Cunha era um dos 'destinatários finais' de uma propina de cerca de R$ 4 milhões em contratos de navios-sonda da Petrobrás, sob investigação. O doleiro reafirmou sua versão de que Cunha foi o mentor de requerimentos feitos na Câmara para pressionar a empresa Mitsui, que não estaria pagando a propina em 2011.

O doleiro disse que foi procurado pelo executivo Julio Camargo após estes requerimentos. "Fui chamado em 2011 pelo Julio Camargo no seu escritório, onde ele se encontrava muito preocupado e me relatou que o Fernando Soares (suposto lobista do PMDB na Petrobrás), através do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), havia pedido alguns requerimentos de informações referentes aos contratos da Mitsui, da Toyo e do próprio Julio Camargo, através de outros deputados".

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"O senhor citou os requerimentos quando esteve com Youssef?", questionou o juiz. "Não sei lhe precisar", respondeu Julio Camargo. Depois, ele voltou a dizer que "não se recorda" de ter dito ao doleiro sobre os requerimentos.

Em junho de 2011 foram apresentados ao governo dois requerimentos da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, feitos por uma ex-deputada do PMDB, pedindo informações e providências sobre os contratos das empresas Toyo e Mitsui e sobre as representações feitas pelo lobista Julio Camargo na Petrobrás .

Os investigadores da Lava Jato têm elementos para acreditar que os documentos foram feitos atendendo pedido do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para pressionar o pagamento da propina atrasada. O parlamentar, alvo de inquérito no âmbito do Supremo Tribunal Federal, nega. 'É óbvio que não recebi (propina)."

Segundo afirma o doleiro, Camargo o procurou em 2011 para trazer dinheiro que ele tinha oculto fora do País para pagamento de propina a Fernando Baiano, após os pedidos de apuração da Câmara, e que tinham como destino Eduardo Cunha.

Foi o doleiro que providenciou a internalização de pelo menos US$ 4 milhões de Julio Camargo. Essa quantia teria servido para pagar Fernando Baiano.

Camargo afirmou que o suposto lobista do PMDB na Petrobrás Fernando Soares, o Fernando Baiano, o ameaçou para quitar integralmente 'comissionamento' referente à contratação de sondas para exploração de petróleo. Sem receber da multinacional que representava, Julio Camargo decidiu tirar do próprio bolso a quantia exigida por Fernando Baiano. Por isso, recorreu ao doleiro Youssef para repatriar o dinheiro.

O advogado de José Dirceu, Roberto Podval, afirmou que o depoimento de Julio Camargo aponta que nenhum negócio foi firmado e disse "não ver ilicitude" no caso de qualquer contratado ter sido fechado, uma vez que Dirceu não estava mais no governo e possui empresa de consultoria.

"Não lembro de nenhuma discussão geral sobre modelo de contratação da Toyo e é muito difícil lembrar, sem maiores detalhes, especialmente sem relacionar qual projeto esta questão poderia estar associada. Quanto a conversas deste teor com José Dirceu tenho certeza que nunca tive", afirmou o ex-presidente da Petrobrás José Sergio Gabrielli.

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O executivo Julio Camargo fechou acordo de delação premiada no caso Lava Jato. Segundo os investigadores, Camargo é o controlador de três pessoas jurídicas - Treviso, Piemonte e Auguri -, grupo que mais repasses fez para empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef, operador da lavagem de dinheiro e corrupção na Petrobras.

Camargo agia em nome de uma das 14 empresas que formaram um cartel na Petrobrás, segundo o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa. Ele fazia o elo com pelo menos duas gigantes da construção civil que teriam sido beneficiadas com contratos bilionários da Petrobrás.

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O acordo de Camargo causou forte impacto em algumas das principais empreiteiras do País porque fura o pool que elas formaram. Há três semanas essas empresas se fecharam em uma estratégia única, que acabou frustrada - foram ao Ministério Público Federal propor um acordo coletivo de leniência, o que foi rejeitado.

Em uma "planilha de contribuições", produzida em 2010 e apreendida pela Polícia Federal com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, o nome do executivo aparece ao lado da anotação "começa a ajudar a partir de março".

Na campanha eleitoral de 2010, Camargo ficou entre os maiores doadores de pessoa física - repassou R$ 1,12 milhão para dez candidatos ao Senado, à Câmara dos Deputados e às Assembleias Legislativas de São Paulo e de Mato Grosso do Sul. O maior beneficiário das doações foi o então candidato a senador do PT do Rio Lindbergh Farias, com R$ 200 mil.

No fluxograma do dinheiro movimentado por Youssef na GFD Investimentos (um total de R$ 78 milhões) de janeiro de 2009 a dezembro de 2013 a Piemonte foi a segunda que mais colocou dinheiro - R$ 8,5 milhões. A Treviso foi a quarta, com R$ 4,4 milhões.

Os extratos anexados a um laudo pericial do Ministério Público Federal mostram que as contas das duas receberam de volta da GFD no mesmo período R$ 2,6 milhões para Treviso e R$ 500 mil para a Piemonte. O conluio das empreiteiras foi denunciado pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal.

A Lava Jato já contava duas delações premiadas, a do próprio Costa e a do doleiro Alberto Youssef. O ex-diretor da Petrobrás apontou pelo menos 32 parlamentares, entre deputados e senadores, e quatro partidos (PT, PSDB, PMDB e PP) que teriam sido contemplados com propinas e aportes para caixa 2 de campanha.

O doleiro Alberto Youssef está depondo. Seu relato segue praticamente a mesma linha das revelações de Costa. Ambos disseram que Camargo "falava em nome de uma empresa do setor petroquímico". A criminalista Beatriz Catta Preta, que representa Camargo, não se manifestou sobre a delação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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