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Em delação premiada, o ex-policial militar do Rio de Janeiro, Élcio Vieira de Queiroz, apontou a participação do grupo liderado pelo contraventor Bernardo Bello no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes. Queiroz fechou um acordo de delação premiada que motivou uma operação da Polícia Federal (PF) para investigar o caso Marielle.

Como mostrou o Estadão, Queiroz também deu o nome de um suposto responsável por contratar o ex-policial militar Ronnie Lessa, apontado pelas investigações como o assassino de Marielle e Anderson. O delator citou que o suposto contratante do crime foi o policial militar Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como "Macalé", assassinado em novembro de 2021. Queiroz disse ainda que a arma usada para matar Marielle foi desviada do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), chamada de "trope de elite" da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

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Em um dos depoimentos, Queiroz declarou que "apareceu também celular" para Ronnie Lessa e ele achou "estranho aquele celular aparecer pra ele". Segundo o delator, Lessa "costumava andar com celular de última geração" e o aparelho novo era um smartphone "feio". "Eu perguntei e ele falou que era de uma pessoa que tinha fornecido pra ele", relatou Queiroz.

O delator contou aos investigadores, em depoimento mais recente, que foi Bernardo Bello quem deu o telefone a Ronnie Lessa. O chefe da segurança do bicheiro, José Carlos Roque Barboza, teria fornecido o carro Cobalt, usado no dia do assassinato, em 14 de março de 2018. As informações foram publicadas pelo jornal Folha São Paulo.

Élcio Queiroz é o primeiro envolvido nos assassinatos a assumir a coparticipação no crime. Ele foi expulso das fileiras da corporação em 2015 por fazer segurança ilegal em uma casa de jogos de azar na capital fluminense e passou a atuar à margem da lei. Queiroz e Ronnie Lessa foram presos em março de 2019. Após quatro anos na cadeia, Queiroz decidiu falar. O ex-PM confessou em delação premiada que dirigia o veículo usado na execução, participou de todo o planejamento e deu detalhes do atentado.

Quem é o bicheiro Bernardo Bello

Bernardo Bello Pimentel Barboza tem 41 anos. O bicheiro chegou a ser preso em janeiro de 2022, em Bogotá, na Colômbia, pelo assassinato de Alcebíades Paes Garcia, o Bid, seu suposto concorrente no Rio. Bello foi solto após a Justiça acolher um habeas corpus e determinar sua liberdade.

A Polícia Civil do RJ e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) tentam prender Bello desde novembro de 2023. O Disque-Denúncia publicou neste sábado, 29, que o Bello é procurado por três crimes. Segundo a central, o contraventor passou a figurar como um dos chefes do jogo do bicho no Rio "após romper com a mulher e com toda a família dela - a família Garcia - em uma ascensão marcada a sangue".

Nesta semana, a Promotoria fluminense abriu a operação Às de Ouros II para prender Bernardo Bello e cinco investigados ligados a ele pelo assassinato do advogado Carlos Daniel Ferreira Dias. O crime ocorreu em maio de 2022, em Niterói. Segundo as investigações, o advogado mediou um conflito envolvendo uma empresa do ramo alimentício, cujo desfecho não agradou a Bello.

Jogos de azar

Como mostrou o colunista Leonencio Nossa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avança no caso Marielle e ao mesmo tempo acena para jogatina. Menos de 24 horas depois de a PF revelar detalhes sobre os assassinatos do Rio e quatro dias após o Ministério da Justiça anunciar ações de segurança pública, o governo enviou ao Congresso uma Medida Provisória para regularizar de vez a prática das apostas esportivas online, as bets. Não é uma liberação geral da jogatina, mas um empurrão para a abertura dos cassinos, bingos e caça-níqueis.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, argumenta que há um vácuo jurídico no setor. As apostas online são uma realidade e se escoram em uma lei, ainda do governo Michel Temer, para atuarem. O argumento de que as apostas podem aumentar a arrecadação já duram mais de cem anos. No século 19, o barão de Drummond criou uma cartela com carinhas de animais para financiar o zoológico de Vila Isabel. Com o tempo, a ideia criada para melhorar a vida dos bichos se espalhou. Mas o zoológico foi fechado por falta de dinheiro.

O caso de Marielle ilustra com fatos a ligação entre o jogo e a criminalidade. Ronnie Lessa, acusado de ser o principal matador da vereadora, foi segurança da família Andrade, um dos principais clãs da contravenção. Ele era dono de 80 máquinas caça-níqueis na Barra da Tijuca.

O empresário e delator da operação Lava Jato, Tony Garcia, relatou em entrevista a Joaquim de Carvalho, na última sexta-feira (2), que desembargadores do Tribunal Regional Federal da Quarta Região (TRF4-RS) participaram de uma noite chamada “festa da cueca”, em um hotel de Curitiba, com a presença de prostitutas. Imagens foram gravadas no local e usadas pelo então juiz da Lava Jato, Sergio Moro, para ameaçar e chantagear os envolvidos, segundo o ex-delator.

Os desembargadores ameaçados eram os mesmos que tomavam as decisões da operação, como a sentença que condenou o então ex- presidente Lula à prisão em 2018.

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Durante a entrevista, Garcia explicou que chegou a gravar conversas com colegas a mando do magistrado. Ele disse que foi ameaçado pelo juiz, e que a sede da Polícia Federal em Curitiba era considerada a “Guantánamo brasileira”.

Tony Garcia afirma ainda que chegou a denunciar os atos para a sucessora de Moro na operação, a juiza Gabriela Hardt, mas o caso foi engavetado. No final de maio passado, Hardt pediu para sair da operação, e deve ser transferida para outra vara.

O ex-executivo da Odebrecht, Alexandrino Alencar, relatou em uma entrevista para o filme "Amigo Secreto", da cineasta Maria Augusta Ramos, que sofreu pressão de procuradores da força-tarefa anticorrupção para envolver o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no processo. Alencar também declarou que um suposto investigado que delatou o ex-presidenciável Aécio Neves (PSDB) como beneficiário de caixa dois teria sido solto pelos procuradores.

"Isso é um sistema anticorrupção? Ou é uma questão direcionada?", questionou o relator, de acordo com a Folha de São Paulo. Segundo Alexandrino, apontado pela Lava Jato como elo entre o PT e a empreiteira, o ex-presidente era "o principal alvo" dos investigadores, que o pressionaram a chegar "ao limite da verdade" para envolver Lula em sua delação. É a primeira vez que um delator da operação faz esse tipo de declaração pública.

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"Era uma pressão em cima da gente", diz o ex-executivo no longa-metragem. "E estava nítido que a questão era com o Lula", disse Alencar.

Os interrogadores, diz ele, insistiam em questões sobre "o irmão do Lula, o filho do Lula, não sei o que do Lula, as palestras do Lula [a empreiteira contratou o ex-presidente mais de uma vez para falar em eventos]". 

"Nós levávamos bola preta, 'ah, você não falou o suficiente'. Vai e volta, vai e volta. 'Senão [diziam os interrogadores], não aceitamos o teu acordo'", segue o ex-empreiteiro em seu relato.

Só depois de ceder, diz Alexandrino, os investigadores aceitaram em assinar, com ele, um acordo de colaboração premiada. Entre outras coisas, Alexandrino detalhou em seus depoimentos os gastos da empreiteira com a obra no sítio de Lula em Atibaia entre 2010 e 2011.

O ex-presidente acabou sendo condenado em 2019 a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro por causa das reformas feitas pela construtora na propriedade. O depoimento de Alexandrino foi considerado fundamental na época para que o petista fosse condenado.

Dois anos depois, a Justiça extinguiu a punição a Lula, como desdobramento da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou o ex-juiz Sergio Moro suspeito no caso do tríplex atribuído a Lula.

Mais revelações

No filme "Amigo Secreto", o ex-executivo afirma que outros delatores, sob pressão, mentiram para os investigadores para poder assinar a colaboração e ver suas penas de prisão diminuídas. "Se eu falasse mais, eu estaria inventando. Estaria contando uma mentira como aconteceu com alguns [delatores] que você sabe, notórios, que mentiram para tentar escapar", diz ele. "Eu contei a verdade. Eu cheguei no limite da minha verdade."

Ele diz também saber de casos de pessoas que foram dispensadas dos depoimentos quando citaram o tucano Aécio Neves em suas delações.

"Não vou dizer o nome do santo. Mas tem colega meu que foi preso em Curitiba, chegou lá, o pessoal [investigadores] começou a perguntar sobre caixa dois [recursos doados para políticos sem registro na contabilidade oficial]. Ele [colega de Alexandrino] falou: 'Isso aqui é para o Aécio Neves'. Na hora em que ele falou, eles [interrogadores] se levantaram e soltaram ele. Isso é Lava Jato? Isso é um sistema anticorrupção? Ou é uma questão direcionada?".

A série de derrotas impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) à Operação Lava Jato, com vitórias de réus que ganharam a liberdade, levou delatores ao arrependimento. Eles cogitam pedir anulação de ações penais, além de colocar em xeque acordos celebrados na Justiça. Na visão de especialistas em direito penal, se os colaboradores obtiverem êxito, há brecha para devolução de multas já pagas.

Executivos de empreiteiras, doleiros e políticos dizem reservadamente que, entre os principais motivos para pedir a anulação dos processos nos quais respondem por corrupção e lavagem de dinheiro, estão pesadas multas impostas pela Receita com base em suas confissões. Para delatores, elas extrapolam valores acertados e descumprem termos que definiam os montantes a serem devolvidos no escândalo de desvios na Petrobrás.

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Paira ainda a sensação entre delatores de que eles são os únicos punidos enquanto réus delatados ficam livres de punição. Esse movimento no Judiciário teve o ponto de partida em 2019, com a anulação da condenação do ex-presidente da petroleira Aldemir Bendine, e culminou na soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje pré- candidato ao Planalto, e na suspeição do ex-juiz Sérgio Moro.

Na lista de insatisfeitos estão executivos da Odebrecht, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, o ex-presidente da UTC Ricardo Pessoa e o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

Nem todos chegam a falar em anular acordos, mas, à unanimidade, dizem que jamais teriam feito delação se soubessem que estariam cumprindo medidas restritivas, como uso de tornozeleira e recolhimento domiciliar, enquanto delatados estão livres. Eles reafirmam a interlocutores que disseram a verdade. Procuradas, as defesas não se manifestaram.

Recentemente, uma decisão do ministro Gilmar Mendes, do STF, com base em mensagens hackeadas de procuradores da Lava Jato, beneficiou o dono da Itaipava, Walter Faria, e deu mais esperança aos colaboradores. Gilmar anulou todas as investigações contra o empresário que era acusado de ajudar a Odebrecht a viabilizar valores em espécie com uso da cervejaria para pagar propina a políticos. A prática foi apelidada de "caixa 3".

Na decisão, Gilmar mencionou as mensagens para concluir que houve "quebra de imparcialidade" e um "acordo espúrio" entre Moro e o Ministério Público Federal (MPF) nas investigações sobre Faria. O ministro nega que a decisão tenha o efeito de ser estendida a outros réus, mas a sentença animou defesas de delatores que têm conversado com clientes sobre a possibilidade de realizar ofensiva contra investigações e seus próprios acordos.

No caminho da anulação estão essas mensagens hackeadas. Após Lula ter acesso a elas em abril de 2021, réus da Lava Jato pediram o material. Entre eles estão o ex-governador do Rio Sergio Cabral e o doleiro Adir Assad, que confessou lavagem de mais de R$ 100 milhões em obras de estradas paulistas. Procurada, a defesa de Assad não respondeu. A defesa de Léo Pinheiro negou arrependimento em relação ao acordo de delação.

INSATISFAÇÃO. Hoje, o doleiro Alberto Youssef, peça-chave para levar a Lava Jato ao alto escalão da política, é um dos mais insatisfeitos. Preso em março de 2014, ele ainda faz uso de tornozeleira eletrônica e fica em casa nos fins de semana. Tem se queixado de viajar por semana mil quilômetros para trabalhar em Santa Catarina. A defesa do doleiro não se manifestou.

Um dos mais arrependidos é o lobista Julio Camargo, que devolveu R$ 40 milhões aos cofres públicos. Sua delação foi um dos pilares da investigação que levou à condenação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha a 15 anos de prisão. A Receita usou a própria delação de Camargo para multá-lo por infrações no Imposto de Renda.

O Fisco cobra R$ 120 milhões, além da cifra já devolvida. Camargo, que não se manifestou, está com os bens bloqueados e busca anular o processo.

Assim como Camargo, há mais de uma dezena de casos de delatores autuados pelo Fisco com base em suas próprias colaborações premiadas, segundo apurou o Estadão. Os autos correm em sigilo.

INSEGURANÇA. O procurador da República Bruno Calabrich, que atuou em casos relacionados à Lava Jato, afirmou que o STF se defrontará com o problema e terá de decidir se o dinheiro das multas será devolvido. "Porque, a rigor, se não houver nenhum motivo para o dinheiro ser revertido à União ou à empresa lesada, que foi a Petrobras, o dinheiro tem de ser devolvido. Simples", disse.

Advogado e professor de processo penal da Universidade Federal Fluminense, João Pedro Pádua fez uma ressalva: "Quando o valor foi entregue não a título de multa, mas a título de devolução de valores ilícitos, não há devolução (ao delator), porque não se devolvem bens de origem ilícita".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ex-diretor-presidente de um dos braços do grupo Qualicorp, Elon Gomes de Almeida, delatou o suposto esquema de caixa 2 na campanha do senador José Serra (PSDB-SP) com repasses de R$ 5 milhões em notas de serviços dissimulados.

As declarações do empresário serviram de base para a Operação Paralelo 23, deflagrada anteontem contra o tucano pela Operação Lava Jato em São Paulo.

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O nome de Elon, contudo, já apareceu em outras investigações. Em 2018, o então presidente da Aliança Administradora, empresa majoritariamente controlada pela Qualicorp, foi denunciado pelo Ministério Público Federal por participar de esquema semelhante, mas com um ator diferente: falsidade ideológica eleitoral por repasses de R$ 2,6 milhões à campanha de Fernando Pimentel (PT) ao governo de Minas, também em 2014.

À época, Elon Gomes foi delatado por Benedito Rodrigues, o 'Bené', suposto operador do petista e colaborador da Acrônimo. Segundo Bené, o empresário teria feito os repasses por meio de notas fiscais fraudulentas, cobradas de empresas controladas por Elon: a Support Consultoria e a Gabe Administradora e Corretora de Seguros.

Elon confessou o crime em depoimento à Polícia Federal e teve a pena atenuada pela Procuradoria. Meses depois, o empresário procuraria o Ministério Público Eleitoral de São Paulo para delatar o esquema envolvendo os pagamentos "por fora" para a campanha de Serra.

O empresário apontou que o tucano recebeu R$ 5 milhões em 2014, ocultados por meio de simulação de diversos negócios jurídicos. Os repasses atendiam demanda de José Seripieri Filho, o Júnior da Qualicorp, que também foi citado na Acrônimo no caixa 2 a Pimentel. Segundo Elon, o fundador da Qualicorp mascarou os pagamentos para Serra por meio de contrato de licença de software e serviços gráficos jamais prestados.

Além das acusações, Elon teria apresentado aos investigadores "contundente e robusto conjunto de elementos", conforme anotou o juiz eleitoral Marco Antonio Martin Vargas, que autorizou buscas contra Serra. A Qualicorp adquiriu a Aliança Administradora, de Elon Gomes, em 2017, dois anos após a Acrônimo.

Procurado pela reportagem, o senador José Serra lamentou o que chamou de "espetacularização" da operação da PF e negou ter recebido caixa 2. "É ilegal, abusiva e acintosa a atuação dos órgãos de investigação no presente caso", disse a defesa do tucano em nota. A Qualicorp afirmou que adotará "as medidas necessárias para apuração completa dos fatos". A defesa de José Seripieri Filho disse que os colaboradores não acusaram o empresário de ter feito caixa 2 e que a decisão de fazer a doação dessa forma foi "de um dos colaboradores". A defesa de Elon Gomes não havia se manifestado até a conclusão desta edição.

A pena de prestação de serviços do delator Roberto Capobianco, da Construcap, uma das construtoras do Rodoanel, será convertida na doação de R$ 150 mil para o Sistema Único de Saúde em São Paulo e em 25 mil litros de álcool 70% para a Secretaria de Saúde. A conversão da pena e a destinação dos recursos foi proposta pelos procuradores da força-tarefa da Lava Jato em SP, sendo que o aditamento do acordo já foi homologado. A previsão é que as doações sejam efetivadas nos próximos dez dias.

O álcool será entregue em duas formas: 20 mil litros líquidos e 5 mil litros em gel. O valor de mercado dos produtos, sem frete, chega a R$ 260 mil, diz o Ministério Público Federal em São Paulo.

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Segundo a Procuradoria, além da conversão da prestação de serviços, foi antecipado o pagamento de multa pecuniária de R$ 600 mil também prevista no acordo inicial com o delator. Duas parcelas de R$ 150 mil serão pagas de imediato e as demais estão previstas para até 30 de maio e 30 de junho.

O acordo com o Capobianco foi homologado em abril de 2018 e serviu como base para a denúncia por corrupção e lavagem de dinheiro apresentada em março do ano passado contra Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa, e outras nove pessoas.

As informações fornecidas pelo executivo da construtora envolvem ilícitos nas obras da Estrada Parque Várzeas do Tietê, destaca o MPF.

A empresa do delator venceu a licitação, mas a análise da documentação foi paralisada. Segundo relatos feitos por Capobianco e pelo operador Adir Assad ao MPF, Paulo Vieira de Souza teria cobrado 5% dos R$ 78 milhões orçados.

Na época em que a denúncia foi oferecida, a Lava Jato em SP informou que a Construcap percebeu editais restritivos no Rodoanel e procurou Paulo Vieira, segundo o executivo, 'porque disseram que ele mandava'. Segundo Paulo teria dito à Capobianco, a empresa não poderia mais atuar no Rodoanel, pois o acerto já estava feito, mas que entraria em outra obra futura e assim ficou com a obra - uma compensação ambiental pela ampliação da Marginal Tietê.

A Procuradoria narrou ainda que 'Paulo procurou Assad e disse que Capobianco devia cerca de R$ 2 mi para a campanha do PSDB, que foram pagos por meio de dois contratos falsos com a Legend no valor total de R$ 1,85 milhão'.

Em depoimento de delação premiada prestado em 2017, o operador de propinas Lúcio Bolonha Funaro afirmou que o deputado federal Sergio Souza (MDB-PR), alvo da Operação Grand Bazaar nesta segunda-feira (21), cobrou R$ 9 milhões de propina para não convocar para depoimento na CPI dos Fundos de Pensão os ex-executivos Wagner Pinheiro, ex-presidente do Petros, e Antônio Carlos Conquista, ex-presidente do Postalis.

A solicitação teria sido feita por Arthur Pinheiro Machado, amigo de Funaro e dono da Ágora corretora e Bridge. Funaro, então, perguntou sobre a viabilidade do pedido ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (MDB-RJ), mas ele disse que não havia nomeado nem o presidente nem o relator da CPI, respectivamente os deputados Efraim Filho (DEM-PB) e Sergio Souza.

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Funaro relatou. "(Eduardo) Cunha disse para conversar com Marcos Joaquim Gonçalves, advogado do escritório de advocacia Mattos Filho, para ver se ele teria uma solução já que era amigo de Sergio (Souza). Marcos voltou com a informação de que tal demanda era possível."

Marcos Joaquim Gonçalves era funcionário do escritório Mattos Filho à época da delação, mas saiu de lá há quase três anos. Atualmente, ele é líder do MJ Alves e Burle Advogados e Consultores.

Ainda segundo o delator, ele teria se reunido em Brasília, numa casa no Lago Sul, com o advogado Marcos Joaquim, Arthur Machado, o deputado Sergio Souza e um assessor deste. Nesta reunião teria sido acertada a propina de R$ 9 milhões.

O dinheiro teria sido pago a Funaro por Arthur Machado, relatou o próprio operador de propinas, e os valores teriam sido creditados na sua conta junto ao doleiro Tony, por volta de agosto ou setembro de 2015.

"No dia marcado para Wagner Pinheiro ir depor na CPI dos fundos (de pensões), o seu depoimento acabou sendo desmarcado", afirma Funaro. Ele ainda contou que durante a Operação Patmos, deflagrada pela Polícia Federal em 2017, foi levado um caderno seu de anotações do ano de 2015, no qual constaria uma anotação de contabilidade com a sigla 'MJ', que se referiria a Marcos Joaquim, seguida de valores dos repasses no caso mencionado.

Operação Grand Bazaar

A lavagem de dinheiro envolvia a remessa de recursos desviados dos fundos de pensão para empresas de fachada nos Estados Unidos, segundo informou a PF. Com a confirmação do recebimento de valores em contas indicadas no exterior, operadores disponibilizavam recursos em espécie no Brasil, a fim de que fossem entregues em endereços vinculados a supostos intermediários do parlamentar federal, tanto em residências em Brasília, como em hotéis em São Paulo. As buscas foram autorizadas por Celso de Mello, ministro do Supremo.

Defesas

A Petros divulgou a seguinte nota: "a Petros está comprometida com as melhores práticas de governança e responsabilidade na administração dos recursos dos participantes. Neste contexto, a Fundação vem colaborando de forma irrestrita com a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e demais órgãos competentes, seguindo procedimento adotado desde o início das investigações nos fundos de pensão. Paralelamente, continuam em curso os trabalhos das Comissões Internas de Apuração (CIAs) da Fundação, criadas para averiguar eventuais irregularidades em investimentos decididos no passado, e cujos resultados são imediatamente encaminhados às autoridades. Além disso, há processo de responsabilização contra ex-dirigentes no intuito de buscar ressarcimentos."

o advogado Marcos Joaquim Gonçalves Alves também se manifestou. "Com relação ao mandado de busca e apreensão cumprido pela Polícia Federal nesta segunda-feira (21), o advogado Marcos Joaquim informa que sempre esteve à disposição das autoridades com total lisura e transparência. O advogado ressalta que apenas o Instituto Advocacy Brasil foi objeto da operação, inclusive sendo preservado o escritório de advocacia e suas salas. É importante destacar que Marcos Joaquim nunca participou de nenhuma suposta reunião envolvendo todos os citados pelo delator Lúcio Funaro. O Instituto Advocacy Brasil permanecerá contribuindo com as investigações para a apuração dos fatos e reafirma o seu compromisso com a ética, a integridade e a transparência."

O Postalis - Instituto de Previdência Complementar encontra-se sob intervenção do órgão regulador Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) desde 04/10/2017. Por meio de nota, a Previc disse: "A Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) não trata publicamente de entidades fechadas de previdência complementar (EFPC) específicas, para não prejudicar o andamento de eventuais processos."

A reportagem busca contato com todos os citados na delação para posicionamento. O espaço está aberto para as manifestações.

A juíza Carolina Moura Lebbos, da 12ª Vara Federal de Curitiba, concedeu indulto a Dalton dos Santos Avancini, ex-diretor-presidente da Camargo Corrêa e um dos delatores do processo de corrupção na Petrobras. A decisão, proferida na última terça-feira, 3, acolhe um pedido da defesa para a concessão do benefício regulamentado pelo Decreto 9.246 de dezembro de 2017, do então presidente Michel Temer.

Preso preventivamente em novembro de 2014, Avancini foi condenado pelo então juiz Sergio Moro a 15 anos e dez meses de reclusão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

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O ex-diretor-presidente da empreiteira ficou pouco mais de quatro meses na Polícia Federal e depois passou a cumprir regime fechado diferenciado em prisão domiciliar com monitoramento eletrônico.

Em março de 2016, Avancini recebeu progressão para regime semiaberto diferenciado, com recolhimento domiciliar no período noturno e nos finais de semana, também com uso de monitoramento. Ficou em tal situação até abril de 2019, quando passou para o regime aberto diferenciado, com prestação de serviços à comunidade por cinco horas semanais. A atividade terminou em junho deste ano.

Carolina considerou que Avancini cumpriu integralmente a prestação de serviços comunitários, quitou a multa penal, custas processuais e multa cível compensatória.

Na decisão, a magistrada ressaltou que o indulto é restritor à sanção corporal, devendo Avanicini cumprir as obrigações de seu acordo de colaboração fechado com o Ministério Público Federal.

Em delação premiada, o operador financeiro Carlos Miranda afirmou que o governador do Rio Luiz Fernando Pezão (MDB) recebia propina em envelopes azuis para não chamar a atenção. As declarações de Carlos Miranda, o "homem da mala" do esquema de propinas atribuído a Sérgio Cabral (MDB), levaram Pezão para a cadeia, na Operação Boca de Lobo, braço da Lava Jato, nesta quinta-feira (29).

"Além do pagamento mensal de R$ 150 mil, havia o pagamento de um 13º também no mesmo valor no final do ano; os recursos eram transportados em envelopes azuis para não chamar atenção", declarou Carlos Miranda.

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O "homem da mala" disse aos investigadores que ele próprio separava os recursos "após o recolhimento de propina nas empreiteiras e prestadores de serviço do Estado do Rio de Janeiro".

"O valor de R$ 150 mil, pelo seu volume, tinha que ser acondicionado em dois ou três envelopes; os pagamentos começaram em março de 2007 e perduraram até março de 2014, quando Cabral saiu do governo", relatou. "Os pagamentos foram religiosamente cumpridos; depois de Cabral sair do governo, os pagamentos inverteram; Pezão passou a enviar a Cabral R$ 400 mil mensais."

Além do governador do Rio, outros oito investigados tiveram a prisão decretada pelo ministro Félix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Pezão é suspeito de receber uma propina de R$ 39 milhões em espécie entre 2007 e 2014, período em que foi vice-governador de Sérgio Cabral.

Em petição ao ministro, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou que, solto, Pezão poderia dificultar ainda mais a recuperação dos valores, além de dissipar o patrimônio adquirido em decorrência da prática criminosa. Segundo Raquel, há registros documentais do pagamento em espécie a Pezão de mais de R$ 25 milhões no período 2007 e 2015.

"Valor absolutamente incompatível com o patrimônio declarado pelo emedebista à Receita", registrou a procuradora-geral.

Em valores atualizados, os R$ 25 milhões equivalem a pouco mais de R$ 39 milhões (R$ 39.105.292,42) e corresponde ao total que é objeto de sequestro determinado por Félix Fischer.

De acordo com as investigações, o governador integra o "núcleo político de uma organização criminosa que, ao longo dos últimos anos, cometeu vários crimes contra a Administração Pública, com destaque para a corrupção e lavagem de dinheiro".

Ao apresentar os pedidos, a procuradora-geral da República afirmou que a organização criminosa - que desviou verbas federais e estaduais, inclusive, com a remessa de vultosas quantias para o exterior -, "vem sendo desarticulada de forma progressiva, com o avanço das investigações".

Raquel apontou que Pezão foi secretário de Obras e vice governador de Sérgio Cabral, entre 2007 e 2014, período em que já foram comprovadas práticas criminosas como a cobrança de um porcentual do valor dos contratos firmados pelo Executivo com grandes construtoras, a título de propina.

"A novidade é que ficou demonstrado ainda que, apesar de ter sido homem de confiança de Sérgio Cabral e assumido papel fundamental naquela organização criminosa, inclusive sucedendo-o na sua liderança, Luiz Fernando Pezão operou esquema de corrupção próprio, com seus próprios operadores financeiros", afirma Raquel Dodge.

Além da delação de Carlos Miranda, a investigação contra Pezão tem como base documentos apreendidos na residência de um dos investigados na Operação Calicute. O Ministério Público Federal afirma que foram analisadas provas documentais como dados bancários, telefônicos e fiscais.

Na petição enviada ao STJ, Raquel Dodge relatou que a análise do material revelou que Pezão e assessores integraram "a organização criminosa de Sérgio Cabral" e que o atual governador o sucedeu na liderança do esquema criminoso.

Segundo a procuradora-geral, "cabia a Pezão dar suporte político aos demais membros da organização que estão abaixo dele na estrutura do poder público e, para tanto, recebeu valores vultosos, desviados dos cofres públicos e que foram objeto de posterior lavagem".

Sobre a importância do sequestro de bens, a procuradora-geral destacou que "é dever do titular da ação penal postular pela indisponibilidade de bens móveis e imóveis para resguardar o interesse público de ressarcimento ao Erário e também aplacar os proventos dos crimes".

Raquel destacou ainda a existência de materialidade e indícios de autoria, conforme revelaram provas obtidas por meio de quebras de sigilos, colaborações premiadas, interceptações telefônicas, entre outras.

"Existe uma verdadeira vocação profissional ao crime, com estrutura complexa, tracejando um estilo de vida criminoso dos investigados, que merece resposta efetiva por parte do sistema de defesa social", afirmou a procuradora-geral.

Defesas

A reportagem está tentando contato com os citados. O espaço está aberto para as manifestações.

O empresário Antônio Celso Garcia, cuja delação levou à prisão do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB), na terça-feira, 11, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que o tucano recebeu "entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões" em propina e caixa 2 em campanhas eleitorais.

Richa é alvo da Operação Radiopatrulha, do Ministério Público do Paraná, e da Lava Jato. "Se for ver todas as coisas que estão investigando, se metade for verdade, eu diria que, fácil, (a propina) passaria de R$ 400 milhões, R$ 500 milhões", afirmou. A defesa de Richa não respondeu à reportagem. Na terça, informou que não havia tido acesso à investigação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A defesa do ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa, Fábio Cleto, pediu perdão judicial ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em petição encaminhada ontem (24) à Corte, os advogados afirmam que Cleto delatou o esquema de corrupção em uma diretoria do banco e merece o benefício.

Em um dos depoimentos de delação premiada, Fábio Cleto disse que o ex-presidente afastado da Câmara dos Deputados e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB) recebia 80% da propina arrecadada entre empresas interessadas na liberação de verbas do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS).

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Ao STF, a defesa afirmou que a colaboração foi efetiva e ajudou a identificar as pessoas que participaram da organização criminosa e vai permitir a recuperação de parte dos recursos públicos desviados.

“Nesse cenário, em razão de efetividade do acordo de colaboração do requerente que desmantelou organização criminosa voltada à prática de crimes contra a administração pública e acarretou na condenação de membros que pertenceram ao alto escalão do governo, de rigor que seja aplicado o perdão judicial.", argumentou a defesa.

Com base nas informações prestadas por Cleto, Eduardo Cunha foi condenado a 24 anos e dez meses de prisão, em regime fechado.

O diretor jurídico da J&F Francisco de Assis e Silva rebateu nesta quarta-feira, 29, a versão de Lúcio Funaro sobre as notas do bunker dos R$ 51 milhões atribuídos a Geddel e Lúcio Vieira Lima. O doleiro afirmou à PF reconhecer uma marca do Banco Original, pertencente à holding, nos papéis que envolviam os maços de dinheiro encontrados no apartamento em Salvador, alvo da Operação Tesouro Perdido. Já o delator da J&F diz nunca ter dado dinheiro a Funaro e também alega não reconhecer a tal marca no material usado para envolver as cédulas.

O depoimento de Funaro consta em relatório que atribuiu lavagem de dinheiro e associação criminosa aos irmãos peemedebistas, seus homens de confiança, Job Brandão e Gustavo Ferraz, e à matriarca da família, Marluce Vieira Lima.

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Para a PF, as investigações sobre o apartamento em Salvador aonde foram encontrados R$ 51 milhões no âmbito da Operação Tesouro Perdido revelam indícios de corrupção passiva conexos com a Operação Cui Bono?, que investiga Geddel por desvios à época em que era vice-presidente da Caixa Econômica Federal.

Um dos depoimentos que embasaram a tese de que o dinheiro do bunker tem origem ilícita é o de Funaro.

Ao ser apresentado a fotos dos maços de dinheiro encontrados no bunker de Salvador, Funaro disse reconhecer referências ao Banco Original do Agronegócio, da J&F. "Lúcio Funaro informou que os valores envoltos em ligas, com um pedaço de papel onde havia impresso o valor constante do maço de dinheiro, era exatamente como retirava o dinheiro dos seus doleiros e repassava para Geddel", afirmou a PF no relatório.

O operador ainda "mencionou que o dinheiro envolto com cinta contendo a inscrição 'BOA', era na verdade uma referência ao Banco Original do Agronegócio". Segundo o relatório, Funaro disse "sabia disso porque já teria recebido dinheiro da mesma maneira do diretor jurídico do Grupo J&F Investimentos, senhor Francisco de Assis, e na ocasião o alertou sobre a facilidade de rastreamento do dinheiro".

O diretor jurídico da J&F, no entanto, rebate a versão do delator e afirma que "refuta veementemente a versão de Lúcio Funaro de que teria dado dinheiro ao doleiro".

Ele também afirma que "desconhece que a inscrição BOA, numa cinta envolvendo dinheiro, se refira a Banco Original do Agronegócio, como Funaro disse em depoimento à Polícia Federal".

A reportagem entrou em contato com a defesa de Lúcio Funaro, mas ainda não obteve retorno.

O presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG), Eric Maleson, disse aos procuradores do Ministério Público Francês que o Rio de Janeiro "praticamente não possuía condições de sediar a Olimpíada". A declaração foi reproduzia na denúncia apresentada pelo Ministério Público do Rio, nesta quarta-feira, contra o ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman.

Maleson afirma que a constatação foi feita a partir de um ranking divulgado, em março de 2008, pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), com a avaliação de cada cidade concorrente para sediar a Olimpíada de 2016, levando em consideração diversos aspectos, como infraestrutura e apoio dos governos. Nesta lista, Tóquio ficou em primeiro lugar, com 8.3, Madrid ficou com 8.1, Chicago com 7.0, Doha com 6.9 e Rio de Janeiro com 6.4, na quinta colocação.

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Em seu depoimento, Maleson afirma que "diante desse resultado, ficou evidente para a comunidade internacional que a disputa final seria entre Tóquio e Madri, as duas primeiras colocadas e que o Rio de Janeiro, em razão dessa nota, praticamente não possuía condições de sediar a Olimpíada, em razão do curto espaço de tempo que teria para reverter sua colocação, já que as eleições finais seriam realizadas em outubro de 2009", diz o trecho, reproduzido pelo MPF do Rio.

O testemunho de Maleson também indica ter havido ajustes e efetivo pagamento a membros africanos do COI para escolha do Rio de Janeiro como sede para os Jogos Olímpicos de 2016. Ele declarou que "era muito comum, em conversas de bastidores travadas no âmbito do CO-Rio (Comitê Organizador do Rio-2016), serem tratados assuntos relacionados à compra de votos dos dirigentes africanos que participariam da futura eleição".

Nuzman foi denunciado pelo MPF do Rio, nesta quarta-feira, pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Já o seu braço direito e diretor de marketing do COB, Leonardo Gryner, foi denunciado por corrupção passiva e organização criminosa.

O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), foi denunciado por corrupção passiva e, o empresário Arthur Soares, conhecido como "Rei Arthur", por corrupção ativa. Papa Massata Diack e Lamine Diack, membros do COI (Comitê Olímpico Internacional), também foram denunciados por participação no esquema. Ela foi encaminhada nesta manhã ao juiz da 7º Vara Federal Criminal, Marcelo Bretas, responsável por julgar os processos relacionados à Lava Jato no Rio.

O ex-deputado estadual e ex-presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso José Geraldo Riva (PSD) acusa o ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), de autorizar R$ 260 milhões em precatórios - pagamentos de causas judiciais - para a construtora Andrade Gutierrez a fim de abastecer um sistema financeiro que tinha por objetivo comprar apoio de parlamentares. Riva relatou a denúncia em acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), fechada na semana passada.

Os pagamentos de precatórios foram realizados entre março de 2009 e dezembro de 2012. Blairo foi governador de Mato Grosso por dois mandatos consecutivos, entre 2003 e 2010. O dinheiro, segundo o ex-parlamentar, abasteceu uma conta-corrente usada para pagar deputados estaduais e integrantes da base em troca de apoio ao governo. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que a negociação do acordo de colaboração de Riva com a PGR foi finalizado na sexta-feira passada. O ministro negou as acusações e afirmou que os pagamentos de precatórios seguiram o "rito legal".

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Segundo Riva, o pagamento dos precatórios era apenas parte de uma manobra financeira para comprar a adesão dos deputados à base. Esse sistema financeiro paralelo era operado pelo empresário Valdir Piran. O delator narrou um encontro do qual participaram Maggi, o então secretário da Fazenda de Mato Grosso Éder Moraes e o ex-governador Silval Barbosa, sucessor do ministro da Agricultura no Executivo mato-grossense. Foi nessa reunião que ficou acertado o esquema do precatório.

Segundo Riva, o então governador era contrário à manobra financeira em um primeiro momento, mas, após a reunião, cedeu e aceitou autorizar a transação. Para que os valores chegassem até o operador, a Andrade Gutierrez teve de assinar, segundo o delator, um contrato de cessão de créditos com a Piran Participações e Investimentos, empresa da família do empresário Valdir Piran.

O acordo previa, de acordo com os relatos de Riva, que a construtora cedesse seu crédito de precatórios a Piran com deságio de 54%. Com isso, dos R$ 260 milhões pagos pelo governo de Mato Grosso à empreiteira, R$ 104 milhões foram parar nas contas usadas pelo operador do esquema.

'Mensalinho'

Nos últimos meses, enquanto aguardava o acordo, Riva começou a confessar em depoimento à Justiça estadual de Mato Grosso ter participado da arrecadação e do pagamento de um "mensalinho", que somente nas gestões de Blairo pagou propina para 33 deputados estaduais.

O ex-deputado afirmou à Justiça de Mato Grosso que o ex-governador sabia dos pagamentos. A transação envolvendo os precatórios liberados por Blairo já havia sido alvo da Operação Ararath - conhecida como a Lava Jato pantaneira.

Uma cópia do contrato de cessão de créditos assinado entre a Andrade Gutierrez e a Piran foi encontrada com o ex-secretário da Fazenda e chefe da Casa Civil nos governos Blairo e Silval, Éder Moraes. Presente na reunião em que Blairo autorizou o pagamento, Moraes foi preso quatro vezes na Ararath pelos delegados federais Wilson Rodrigues de Souza Filho e Guilherme Augusto Torres.

Defesa

Por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa, o ministro Blairo Maggi afirmou que "todos os pagamentos de precatórios sempre seguiram o rito legal".

Os cálculos, segundo a nota, eram feitos pela Procuradoria-Geral do Estado e conferidos pela Auditoria-Geral do Estado (AGE). Segundo Blairo, "jamais houve favorecimento a empresas ou pessoas físicas" nas liberações de precatório.

O advogado Valber Melo, responsável pela defesa de Silval Barbosa, afirmou que seu cliente não vai comentar. O Estado não conseguiu contato com a defesa de Éder Moraes.

O advogado Nabor Bulhões, que representa Piran, afirmou que não conhece os termos de delação, mas que a versão do ex-deputado é incompatível com a realidade documental dos fatos. "O pagamento do precatório foi uma operação absolutamente lícita", afirmou Bulhões.

A construtora Andrade Gutierrez informou que não vai comentar o caso.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em negociação de delação premiada com os procuradores da Operação Carne Fraca, Daniel Gonçalves Filho, apontado pela Polícia Federal como chefe do esquema de corrupção na unidade do Ministério da Agricultura no Paraná, cita pagamentos, "normalmente em espécie", de empresas do setor alimentício para o ex-ministro da Justiça e deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR).

O peemedebista voltará à Câmara após recusar o convite de Michel Temer para assumir o Ministério da Transparência.

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Serraglio, segundo Gonçalves Filho, seria um de seus "padrinhos" no cargo. Ao lado de Maria do Rocio Nascimento, ex-chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Gonçalves Filho é apontado pela PF como responsável por arrecadar propinas de frigoríficos e empresas alimentícias.

A proposta de delação do fiscal está na Procuradoria-Geral da República (PGR). Como vai reassumir sua cadeira na Câmara, Serraglio pode ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), caso o acordo seja homologado pela Corte.

Por meio de sua assessoria, Serraglio negou irregularidades. "Absolutamente impossível ele estar falando isso. Jamais, em momento algum, o deputado tratou com ele sobre qualquer tipo de recursos, menos ainda de qualquer tipo de ilicitude", informou a nota.

Valores

O candidato a delator afirmou no documento para os procuradores que empresas do setor de carnes e processados pagavam valores para Serraglio e outros políticos. Gonçalves Filho afirmou em um dos anexos que ele mesmo entregava o dinheiro para o peemedebista.

Em março, um grampo da Carne Fraca capturou uma conversa de Serraglio com o fiscal agropecuário. No diálogo, Serraglio se refere a Gonçalves Filho como "o grande chefe".

Segundo a decisão que deflagrou a operação, "em conversa com o deputado Osmar Serraglio, Daniel é informado sobre problemas que um frigorífico de Iporã estaria tendo com a fiscalização do ministério (o Frigorífico Larissa situa-se na mesma cidade)".

Novo acordo. Maria do Rocio também deu início a uma negociação de delação premiada. Ela assinou o termo de confidencialidade com o MPF nos últimos dias. O Estado apurou que nas primeiras conversas com os investigadores, a funcionária pública confirmou os supostos pagamentos.

Em conversa telefônica interceptada pela Polícia Federal em 2016, com autorização judicial, a fiscal, que está presa preventivamente, cita o nome "Serraglio" como "o velhinho que está conosco".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Diante de um iminente confisco de informações e de sua eventual prisão, o empreiteiro Marcelo Odebrecht montou, em meados de 2014, um plano de fuga para os funcionários do departamento da construtora que organizava o pagamento de propinas. Contas no exterior foram esvaziadas. Assim, a Odebrecht conseguiu resgatar pelo menos US$ 25 milhões antes que os executivos começassem a ser presos e as contas fossem congeladas.

É o que conta, em delação premiada, Fernando Migliaccio, um dos responsáveis pelo departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht - a área da companhia responsável pela distribuição de propina. Ele foi detido em Genebra em fevereiro de 2016 e retornou ao Brasil no fim daquele ano para colaborar com a Justiça. Sua captura foi considerada como um ponto fundamental do processo de investigação da Operação Lava Jato. As informações obtidas com o executivo permitiram uma série de aberturas de inquéritos e o acordo de leniência da Odebrecht.

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Segundo Migliaccio, "em meados de 2014, pouco antes de julho, houve a decisão definitiva de Marcelo Odebrecht para que todas as pessoas envolvidas no setor de Operações Estruturadas saíssem do Brasil". A ordem foi dada em uma reunião entre Migliaccio, Marcelo, Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho (diretor do setor de Operações Estruturadas) e outros executivos que não tinham relação com a área.

Marcelo "orientou que escolhessem o local para onde se mudariam, mas que fosse imediato", segundo Migliaccio. Ele optou por se radicar na República Dominicana, enquanto sua família ficaria em Miami. Alguns meses depois, ele se mudou para os Estados Unidos, onde ficou até janeiro de 2016.

Hilberto e Luiz Eduardo da Rocha Soares (responsável pela gestão das contas secretas da Odebrecht) se mudaram para o exterior no final de 2014, enquanto outras duas funcionárias se recusaram a sair do País. Também foi sugerido que outros funcionários, como Vinicius Borin, Luiz França, Marco Rodrigues e Marcelo Rodrigues, também deixassem o Brasil.

"A empresa auxiliaria financeiramente a saída do País de quem aceitasse a proposta e que o auxílio financeiro compreendia desde a obtenção do visto até o pagamento de despesas de moradia e permanência no exterior", explicou Migliaccio. Em alguns casos, a Odebrecht deu dinheiro aos funcionários para que comprassem um imóvel nos Estados Unidos para facilitar a obtenção do visto de permanência.

Com alguns dos funcionários no exterior, o departamento continuou a operar, "independentemente das alocações geográficas dos envolvidos". Seria apenas no início de 2015 que o setor começaria a ser fechado.

Ao mesmo tempo em que tirava os funcionários do País, a Odebrecht iniciou um processo de encerramento das cerca de 30 contas que utilizava para operar o sistema de pagamentos ilegais. "Para fechar as contas, foi montada uma operação segundo a qual o somatório de todos os saldos remanescentes seria devolvido para a Odebrecht", explicou.

Para realizar a transferência dos recursos, contratos foram elaborados para justificar as operações. Segundo Migliaccio, as transferências ocorreram no segundo semestre de 2015. Um total de US$ 25 milhões foram resgatados, principalmente de bancos na Áustria e em Antígua.

Algumas contas, porém, já estavam bloqueadas por autoridades. Em Portugal, todos os depósitos da empresa foram congelados. Na Suíça, ao menos sete contas ficaram indisponíveis.

Migliaccio afirma na delação ter oito quilos de ouro em um cofre em Genebra, no Banco Audi, além de US$ 100 mil depositados no nome do irmão.

Na assinatura do acordo de delação premiada, o advogado suíço que o subsecreve é Georg Friedli, o mesmo que defendeu o ex-presidente da CBF José Maria Marin quando o cartola esteve preso na Suíça em 2015.

Em contradição com o depoimento de Marcelo Odebrecht, que afirmou que os “pagamentos não contabilizados” realizados pelo grupo não precisavam ser autorizados por ele, o ex-diretor do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, Benedicto Junior, declarou que todas as práticas feitas pelos seus subordinados eram feitas com o conhecimento dele, no entanto, que foi delegado pelo herdeiro da empreiteira. “O que eu fiz foi delegado por Marcelo e com a sua anuência”, enfatizou. 

Benedito, considerado o chefe do setor de propinas, contou detalhes do esquema afirmando que os “seus executivos” tinham relação direta com os agentes públicos e que, por isso, pediram doações de forma ilícita para eles. Declarou, também, que foi levado até ele individualmente, por cada executivo, uma lista com os pedidos para quem seriam feita as doações.  

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“Eu consolidei a lista e levei para uma discussão com presidentes de outras empresas, que também iriam fazer doações para não haver duplicidade de doações. Nós consolidamos isso e a transformamos na doação que a Odebrecht iria fazer aos candidatos a pedido dos meus executivos”, acrescentou. 

O ex-presidente confessou que tinha ciência de todo o contexto e que foram aprovados os pedidos dos que estavam em sintonia dentro do “nosso sistema para pagamento da campanha”. “Eu não discuti individualmente, mas tive a ciência e a responsabilidade porque permiti o pagamento”, ressaltou. 

O PSDB divulgou nesse domingo (2), um manifesto de desagravo ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) em que exige o fim do sigilo sobre as delações no âmbito da Operação Lava Jato. O documento foi assinado por algumas das principais lideranças da sigla, incluindo ministros e governadores.

O documento é uma reação à reportagem da revista Veja sobre o depoimento de Benedicto Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura. Segundo a publicação, Júnior teria afirmado na delação que repassou propina a Aécio como "contrapartida" ao atendimento de interesses da empreiteira. Segundo a revista, ele disse, ainda, que Andrea Neves, irmã de Aécio, teria recebido dinheiro em uma conta bancária nos Estados Unidos.

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Tanto Aécio quanto Andréa negam ter recebido propina. Em vídeo divulgado no domingo, a irmã de Aécio, em tom emocionado, nega as acusações e diz que provará que elas são mentirosas. "Não sei o que está acontecendo para tanto ódio e tanta irresponsabilidade", afirma Andréa.

O executivo Benedicto Júnior, ex-presidente da Construtora Odebrecht, mencionou, em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o pagamento de propina nas obras da usina de Belo Monte e citou o nome do senador Edison Lobão (PMDB-MA). Ele disse que a obra foi incorporada à sua área depois que as tratativas do pagamento já estavam feitas, mas falou em "compromissos" destinados a dois partidos: o PT e o PMDB.

Com relação ao PT, segundo ele, o herdeiro do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, indicou que as contribuições não deveriam ser feitas. "Não houve nada ao PT especificamente feito por Belo Monte por orientação do próprio Marcelo", disse.

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BJ, como é conhecido, prestou depoimento na ação que investiga abuso de poder político e econômico na eleição presidencial de 2014. Ele não deu detalhes sobre os pagamentos ao PMDB pela obra de Belo Monte, mas disse que as informações constam em relatos de outros executivos que firmaram acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.

"Os nomes das pessoas são os que estão circulando aí. Se não me engano, foi combinado através do Doutor Edison Lobão e teve um outro, um deputado ou um ex-deputado, que posteriormente ao doutor Edson Lobão foi quem recebeu em nome do PMDB, um deputado do Pará. Essas foram as duas pessoas cujos nomes eu ouvi."

De acordo com BJ, o executivo que cuidava da obra de Belo Monte é Augusto Roque. "Eu não li o depoimento do meu executivo, Augusto Roque, e quando recebi a obra isso já estava combinado, que haveria contribuições a serem feitas a dois partidos, o PT e o PMDB", complementou.

Advogado de Lobão, o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que o vazamento de delação é um "ato criminoso, ilegal, imoral". "Pelo que me disseram, o Benedicto Junior fala em talvez, que apenas teria ouvido dizer que seria o senador Edison Lobão. Não posso acreditar que uma delação vai levar a sério uma afirmação de 'ouvir dizer'", afirmou.

Doações e caixa 2

O executivo disse ao TSE que a Odebrecht tinha uma política de doação eleitoral "sem critério político nenhum, era genérica". BJ cuidava das doações para campanhas de governadores, senadores e deputados. "A campanha presidencial, na sua magnitude, era sempre levada para o Marcelo (Odebrecht) diretamente."

De acordo com o ex-presidente da construtora, em 2014 a Odebrecht doou, no total, R$ 200 milhões. O valor engloba as doações a todas as campanhas. Deste montante, R$ 120 milhões foram em "caixa 1" das empresas do grupo Odebrecht - ou seja, declarados à Justiça Eleitoral. O restante foi dividido entre doações oficiais feitas por outras empresas a pedido da Odebrecht e doações por caixa 2.

Ele explica que não necessariamente as doações em caixa 2, portanto não registradas, eram fruto de propina e que a Odebrecht não queria se expor na lista de maiores doadoras. "Quando recebi a obra isso já estava combinado, que haveria contribuições a dois partidos, o PT e o PMDB".

O fiscal agropecuário federal Daniel Gouvêa Teixeira, que denunciou irregularidades na Superintendência Federal de Agricultura do Paraná, órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, afirmou que falta "transparência" e "fiscalização" na cadeia de produção de carne brasileira. O agente público delator da Operação Carne Fraca concedeu entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, exibido na noite deste domingo (19).

"Dá para continuar consumindo carne. A nossa cadeia produtiva é uma das mais organizadas do planeta. O que falta é fiscalização e transparência. O Brasil não pode perder mercado por causa de situações como essa", defende. Teixeira afirmou ter inicialmente descoberto irregularidades no frigorífico Peccin, no Paraná. "O aproveitamento de carnes estragadas, fora de validade, em estado de putrefação", relatou.

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Ele ainda lembrou ter encontrado carne mecanicamente separada acima do permitido para consumo. "A carne mecanicamente separada é um subproduto do abate de aves. Sobra um pouco de carne que chamamos de carcaça, que é o peitoral do frango. Eles usavam em torno de 94% da composição do produto. A regra é de, no máximo, 60%, ou 40%. Assim, eles barateavam demais o produto, o que é competição desleal no mercado, além de ser fraude."

Após comunicar as irregularidades ao Ministério da Agricultura, afirmou ter sido afastado da fiscalização do frigorífico Peccin. "Eu recebi a notificação de que foi cancelada a minha atribuição de fiscalização daquele frigorífico", disse.

Após deixar de vistoriar o Peccin, ele fiscalizou o frigorífico Souza Ramos, segundo a reportagem da TV Globo, onde encontrou novas irregularidades no fornecimento de merenda para uma escola pública.

A Operação Carne Fraca busca combater corrupção de agentes públicos federais e crimes contra Saúde Pública. Executivos do frigorífico JBS, da BRF Brasil e outros foram alvos da operação - maior operação já deflagrada pela PF, com mais de 1 mil homens envolvidos. A Justiça mandou bloquear até R$ 1 bilhão dos investigados.

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