Ao mandar prender o ex-líder dos governos Lula e Dilma na Câmara, Cândido Vaccarezza, o juiz federal Sérgio Moro ressaltou que o ex-deputado aparece com a alcunha de "parceiro" em cinco "projetos" na Petrobras, que constam em planilhas dos operadores de propinas Jorge e Bruno Luz. Vaccarezza foi preso temporariamente nesta sexta-feira, 19, investigado por supostas propinas de US$ 500 mil oriundas de contratos entre a Petrobras e a empresa Sangeant Marine.
O negócio da Sargeant Marine com a Petrobras culminou na celebração de doze contratos, entre 2010 e 2013, no valor de aproximadamente US$ 180 milhões. A empresa fazia fornecimento de asfalto para a estatal e foi citada na delação do ex-diretor de Abastecimento da companhia Paulo Roberto Costa.
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Em delação, o ex-diretor da Petrobras lobista afirmou que Jorge Luz que teria intermediado o negócio e ganhou uma comissão. Segundo a Lava Jato, US$ 500 mil da comissão do lobista estariam acertados para abastecer o PT e Vaccarezza teria atuado pelo partido.
Em relatório, a Polícia Federal destacou que na 16ª fase da Lava Jato, deflagrada contra desvios na Eletronuclear, foram apreendidos arquivos referentes a e-mails vinculados à conta Oxfordgt@gmail.com os quais demonstram uma complexa tratativa para o fornecimento de produtos e serviços à Petrobras, envolvendo funcionários públicos da estatal petrolífera, executivos de empresas nacionais e internacionais, bem como agentes políticos.
"Ao que tudo indica, referida conta de e-mail não era utilizada para enviar e receber mensagens eletrônicas, mas era compartilhada por diversos usuários, mediante uso de uma senha em comum, para escrever e responder mensagens, salvando-as na pasta draft, onde ficavam salvas e acessíveis a todos os usuários da conta oxfordgt@gmail.com", diz a PF.
Nos e-mails, constavam trocas de mensagens que, segundo a Polícia Federal, revelam claras referências a interferências para contratação da Sargeant Marine, pela Petrobras, para fornecimento de asfalto, com envolvimento de SIL (SIllas Oliva FIlho), LEDU (Luiz Eduardo Loureiro Andrade), BR ou BL (Bruno Luz), PR (Paulo Roberto Costa), ROBERTO (Roberto Finocchi, executivo da Sargeant Terminals Tampa), Elisabeth (Elisabeth Regina de Souza, funcionária da Petrobras cujo nome constou em contrato entre a Petrobras e a Sargeant Marine, em julho de 2010); JP (José Raimundo Brandão Pereira, então funcionário da Petrobras, na área de Marketing e Comercialização), MA (Marcio de Albuquerque Ache Cordeiro, ex-funcionário da Petrobras).
A Polícia Federal identificou ainda o codinome V1' e o atribui a Cândido Vaccarezza. Outra sigla, CH, seria uma referência ao empresário Carlos Henrique Nogueira Herz.
Em um dos e-mails apreendidos da conta oxfordgt@gmail.com, consta um relato de Carlos Henrique Nogueira Herz que, segundo a PF, narra diversas providências ilícitas tomadas em reunião entre empresários e agentes políticos e o então diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
O e-mail revela que V1, apelido atribuído a Vaccarezza, fez a introdução da conversa referindo-se às discussões anteriores com V2 e JL durante almoço em Brasília em final de março, enfatizando os interesses do partido para que os negócios fossem viabilizados em tempo adequado.
Em uma planilha apreendida no pen drive de Bruno Luz, são identificados pelo menos cinco negócios da Petrobras em que V1 consta como parceiro.
"Releva ainda destacar que foi colhido outro arquivo eletrônico no referido pen drive que sugere o envolvimento de Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza em outros negócios intermediados por Jorge Antônio da Silva Luz e Bruno Gonçalves Luz na Petrobras, além do contrato de fornecimento do asfalto. Tal arquivo está reproduzido na fl. 290 da representação e ali se constata o seu apontamento como "parceiro", em cinco "projetos", ele identificado pela sigla "V1 e V2", a referência aos agentes políticos", frisou Moro, ao pedir a prisão de Vaccarezza.