O deputado estadual e presidente do PSOL no Recife, Edilson Silva rebateu, nesta terça-feira (4), as críticas feitas por Roberto Numeriano a ele e ao partido. O ex-candidato a vereador do Recife divulgou nessa segunda (2) uma carta de desfiliação do PSOL. No texto, Silva chama Numeriano de “antiquado comunista”, reclama da ausência dele nos atos de campanha e lembra de eleições passadas onde o ex-psolista não recebeu votações expressivas.
Segundo Edilson, Numeriano ficou insatisfeito com o partido pelo ambiente “democrático” que existe internamente. Citando o vereador eleito Ivan Moraes e ou ex-candidatos que foram às ruas pelo partido, o dirigente ironizou, por diversas vezes, a postura de Numeriano chegando a dizer, inclusive, que o PSOL está “explodindo” em novas faces, cores e modos. "O que está invisibilizando este arcaico comunista é sua ausência no cotidiano da vida política da cidade, do estado e do país. Quem viu Numeriano em alguma luta da cidade nos últimos anos que nos avise onde foi. Estelita? Coque? Sancho? Sem Teto? Camelôs? Marcha da Vadias? Alguma greve? Alguma luta ecológica? Pelos Direitos Humanos? Por fim, alguém viu Numeriano nas ruas desta cidade fazendo a SUA campanha?", indaga o texto.
##RECOMENDA##Numeriano divulgou nessa segunda (2) uma carta de desfiliação do PSOL dizendo ter sido vítima na legenda de perseguição e falta de transparência. Sem citar nomes, ele também classificou Edilson Silva ao “coronel Napoleão”. “Me enganei com o Partido como instituição e, mais ainda, como político. Não conheci, até hoje, ninguém mais traiçoeiro e indigno na esquerda. Lamentavelmente, o deputado é, no fundo, mais um ressentido social, um sujeito ordinário que está na política não para construir consensos sociais e políticos. Esses tipos fúteis e arrivistas são cada vez mais comuns na política brasileira”, alfinetou, em um dos trechos da carta.
Veja o texto na íntegra:
Nota pública
Recebi há pouco uma mensagem com carta de Roberto Numeriano desligando-se do PSOL. A carta é um atestado de ressentimentos e subjetividades e se dirige de forma desrespeitosa ao nosso partido e à minha pessoa, em particular. Em respeito aos nossos filiados e às nossas filiadas, apoiadores e apoiadoras, vou aqui escrever umas linhas.
Entre suas leituras tão densas e profundas, Numeriano deveria ouvir mais o saudoso Cazuza, quando este canta e critica as ideias que não correspondem aos fatos. E os fatos não correspondem às ideias deste dedicado crítico do PSOL, que foi nosso candidato a prefeito do Recife em 2012, mesmo estando no PCB, obtendo metade dos votos que tive para vereador à época, mas muito nos orgulhamos daquela campanha. Expulso do PCB por fazer contra aquele valoroso partido críticas similares às que faz agora ao PSOL, foi nosso candidato prioritário a deputado federal em 2014. Naquele pleito, teve cerca de 10% dos votos que obtive para deputado estadual e mesmo assim nos orgulhamos muito de tê-lo como caminhante conosco.
Passada a eleição, com nossa vitória eleitoral para deputado estadual, Numeriano nos procurou para criar um gabinete seu, com estrutura assistencial e política para seus potenciais eleitores. Não pudemos atender a esta demanda, pois o mandato seria coletivo e não loteado entre os “amigos”. Lamentamos muito que não tenhamos sido bem compreendidos por ele, que viu neste gesto um desmerecimento à sua figura.
O PSOL é um partido democrático e usa do convencimento e do voto interno para dirimir suas diferenças não vencidas no consenso. Todos os nossos dirigentes, direções e candidatos são eleitos democraticamente e mesmo as minorias têm seus direitos garantidos. Não cabem Napoleões em democracias, mas cabem difamadores em qualquer ambiente democrático.
É por ser democrático e aberto à sociedade que o PSOL cresce e se diversifica, em Pernambuco e no Brasil. Basta olhar nossa chapa de vereadores do Recife. Que “Napoleão” é esse que traz figuras como o vereador eleito Ivan Moraes, ou Albanise Pires, presidente estadual e segunda mais votada, ou Leo Cisneiros, ou Rodrigo Bione, ou Severino do Sintraci, ou Jailson de Oliveira, ou Abigail Borges, entre outras e outros, para disputar a eleição para vereadores? Basta olhar para os lados e ver Eugênia Lima em Olinda, ou Gleidson no Cabo, ou Cesar Ramos em Jaboatão, ou André Carvalho em Vitória de Santo Antão, só para ficar aqui nos municípios mais próximos do Recife, para vermos como o PSOL cresce e se diversifica.
O PSOL está “explodindo” em novas faces, cores e modos. Tem mulheres protagonizando, tem jovens negros da periferia, tem LGBTs, e tem também o que Numeriano chama desrespeitosamente em seu texto de “esquerda modinha”, esquerda que lhe incomoda, pois atenta contra seu comunismo conservador oitocentista. Um comunismo que não compreende a luta antiproibicionista como libertária e democrática, que não aceita a descriminalização do aborto como uma medida necessária e urgente para a emancipação feminina, que não vê a luta LGBT como uma das mais importantes deste século, que não vê sentido num professor que faz campanha eleitoral tocando violão nas praças da cidade obtendo dez vezes mais voto que um antiquado comunista com décadas de militância.
O que o PSOL é e o que sou como ser político neste partido e fora dele se revela em fatos objetivos, mensuráveis, na realidade política e social deste Estado. Basta observar os fatos. Numeriano não foi invisibilizado no processo eleitoral pelo PSOL, pois todos tiveram poucos segundos para falar pouquíssimas vezes. O que está invisibilizando este arcaico comunista é sua ausência no cotidiano da vida política da cidade, do estado e do país. Quem viu Numeriano em alguma luta da cidade nos últimos anos que nos avise onde foi. Estelita? Coque? Sancho? Sem Teto? Camelôs? Marcha da Vadias? Alguma greve? Alguma luta ecológica? Pelos Direitos Humanos? Por fim, alguém viu Numeriano nas ruas desta cidade fazendo a SUA campanha?
Os novos filiados do PSOL, com dois anos de filiação, nunca sequer viram Numeriano, só ouvem falar, e, mesmo assim, só quando este se insurge na imprensa e nos blogs dedicados a atacar o PSOL. Só recebe atenção e acolhimento da mídia quando fala mal de nosso partido.
Meu crítico diz em seu texto que “uma lição básica que aprendemos em política é que devemos avaliar com a mesma atenção aquele que acusa, tanto quanto o acusado”. Talvez tenha faltado a ele aprender, ainda, que a vaidade é péssima companheira em quase tudo que fazemos e que a humildade raramente é má companhia. A falta deste aprendizado torna a dor de ver um novo e belo se agigantando ao seu lado muito mais difícil de ser digerido.
Edilson Silva, presidente do PSOL Recife e deputado estadual