Saber como lidar com o Facebook ou driblar as dificuldades de manusear um iPad para elas não basta. Algumas mulheres seguiram contra a corrente e mergulharam de cabeça no universo tecnológico que, em sua maioria, é dominado, ainda, pelos homens. Hoje, algumas delas coordenam, comandam e ensinam para eles termos como HTML, boot, IPv6 e cache.
Comportamentos como esse, contudo, ainda representam uma parcela pequena do universo feminino. No Google, por exemplo, 70% dos funcionários da empresa nos Estados Unidos são do sexo masculino, segundo relatório divulgado pela gigante de buscas em 2014.
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No Brasil, as funcionárias representam apenas um quarto das 520 mil pessoas que atuam no setor de Tecnologia da Informação (TI), segundo o último levantamento do IBGE com informações detalhadas por atividade.
Ao contrário do que o levantamento mostra, a professora e coordenadora do curso de sistemas da informação do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (CIn/UFPE), Bernadette Lóscio, é um exemplo que foge do estereótipo de que os homens têm papel dominante neste mercado.
Para ela, no entanto, a presença feminina em sala de aula está diminuindo. “Acredito que a maneira de atrair mais mulheres para este universo é mostrar quais são as oportunidades que a área oferece, sempre deixando para trás o estereótipo de que trabalhar com TI é apenas ficar na frente de um computador programando”, explica.
É com este mesmo pensamento que engenheira de software Camila Achutti, de 23 anos, compartilha suas experiências na área com milhares de outras mulheres. Ela, que foi a única formanda da sua turma de ciências da computação na Universidade de São Paulo (USP), já estagiou no Google e é a criadora do blog “Mulheres na Computação”.
Durante sua experiência no Vale do Silício, região da Califórnia onde estão sediadas as grandes empresas de tecnologia, Camila percebeu que a conscientização de que as mulheres vieram para ficar no mercado de TI é bem diferente do que a praticada no Brasil. “Lá a discussão sobre a inclusão da mulher no mercado já está evoluída. Não precisamos mais explicar porque, já vamos direto ao ponto. Aqui ainda temos que escutar comentários machistas”, complementa.
A estudante do curso de engenharia da computação do CIn/UFPE, Amanda Lasserre, de 23 anos, discorda. “Nunca senti nenhum preconceito ou hostilidade por parte do público masculino com quem tenho contato. Os meninos em sua maioria têm uma maior experiência na área do que as meninas, entretanto não se opõem a auxiliar quando necessário”, pontua a jovem.
Para as jovens garotas que, como Amanda, estão tão ansiosas para entrar no mercado de trabalho, a diretora de desenvolvimento da In Forma Software, Virgínia Sgotti, 45, ilustra um quadro positivo. “A mulher traz um equilíbrio essencial à área de TI. Aqui na empresa não fazemos distinção da hora de contratar, o que vale é a meritocracia. Se uma mulher é boa naquilo que faz, ela com certeza conquistará seu espaço”, ressalta.
O diretor executivo da Softex Recife, Eduardo Paiva, por sua vez, destaca o papel da mulher como sendo de liderança. “Hoje você tem mulheres que são donas de suas próprias empresas de TI. Já algumas chefiam equipes, inclusive times em sua maioria masculinos. O pioneirismo dessas mulheres é muito importante para incentivar aquelas que pensam em atuar na área, mas se sentem desencorajas de alguma forma”, explica.
A sensibilidade dos profissionais de tecnologia do sexo feminino é a característica que merece mais destaque, segundo o executivo. “Acredito que a mulher é muito mais organizada e detalhista. Nesse setor, essas características são importantes. Às vezes é melhor ter uma mulher na equipe porque elas fornecem este equilíbrio essencial”.