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A prisão preventiva de João de Deus trouxe um impacto não apenas para o movimento da Casa Dom Inácio de Loyola, onde o médium costumava fazer os atendimentos, mas também em procedimentos do local. Cápsulas "energizadas", antes vendidas a um preço de R$ 100, passaram agora a ser distribuídas gratuitamente. Funcionários do centro afirmaram que a mudança foi determinada pelo próprio médium, que costumeiramente indicava o remédio manipulado para mais de dois terços dos frequentadores.

Na manhã desta quarta-feira (19) a casa reunia menos de 200 pessoas em busca de tratamento espiritual. A sessão, a primeira depois da prisão preventiva do médium, começou mais tarde do que o usual, por volta das 9h. E uma hora depois já quase não havia fila no local.

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A maior parte dos bancos ficou vazia. O silêncio era tamanho que era possível ouvir os grilos. A televisão, que tradicionalmente exibe filmes com operações feitas por João de Deus, trazia apenas o alerta que as traduções eram feitas em várias línguas. E o nome do líder, que antes da prisão era citado de forma constante, não foi mencionado nesta quarta-feira.

João de Deus está preso desde domingo (16), em Goiânia, acusado de abusar sexualmente de pacientes em consultas que ele realizaria de forma particular, no próprio centro.

Poucos foram os frequentadores dispostos a falar sobre o tema. Um dos funcionários, que não quis ter seu nome identificado, adotou o discurso dos advogados de defesa e afirmou que o médium, de 76 anos, era muito assediado por mulheres.

"Aqui nesta casa há apenas a verdade", afirmava a oradora numa palestra para os poucos fiéis que ali se encontravam. Ela pedia energia para todos aqueles que passavam por provações.

O centro atrai mensalmente cerca de 10 mil pessoas, cerca de 40%, estrangeiros. Nesta manhã, a maior parte dos frequentadores era estrangeira. E em sua maioria, já tinham vindo para Abadiânia em outras oportunidades. Poucos foram as pessoas que estavam na Casa Dom Inácio nesta manhã pela primeira vez.

A passiflora é preparada num laboratório que funciona na própria Casa Dom Inácio de Loyola. O centro foi alvo na terça-feira (18) de buscas pela Polícia Civil. De acordo com funcionários, as cápsulas são iguais para todos. O que muda seria a "energia" dispensada em cada frasco. Na ação de busca em imóveis de João de Deus, a polícia apreendeu armas e dinheiro vivo.

Para os fiéis, a energia do remédio é personalizada. O tratamento dura cerca de dois meses. Questionado porque as cápsulas são vendidas a esse preço, funcionários afirmam haver custos para manutenção da fábrica - registrada no nome da mulher de João de Deus, Ana Keila Teixeira. Além disso, argumentam de que tudo o que é doado, não é valorizado.

A estimativa é que sejam vendidos mensalmente cerca de 8 mil frascos de remédio no centro. Isso significa que, somente com as cápsulas, a casa teria um faturamento bruto de R$ 800 mil. Sem falar na pomada para dores, para queimaduras e o xarope.

A ordem de gratuidade é apenas para a passiflora. De acordo com funcionários, não há ainda expectativa se o remédio será dado de forma gratuita para todos. Embora sem custo, as filas para a retirada das cápsulas não foi grande.

As ruas da parte nova da cidade amanheceram vazias. Às 8 horas, menos de 100 pessoas iam à pé, vestidas de branco, rumo ao centro. Costumeiramente, são centenas.

O impacto no movimento aterroriza o comércio da região. Eles temem que, mantida essa queda, os prejuízos serão ainda maiores. Já se fala em demissões. Situada a 113 quilômetros de Brasília, Abadiânia tem atualmente 17 mil habitantes. A estimativa da prefeitura é de que a Casa Dom Inácio de Loyola seja responsável por cerca de 1.300 empregos, diretos e indiretos.

Não há, no momento, de acordo com funcionários, expectativa de se fechar a casa. O recesso de fim de ano, que foi cogitado, agora está praticamente descartado.

Funcionários costumam comparar a casa a uma igreja. O padre até pode sair, mas o centro religioso permanece aberto. Funcionários dizem não haver sucessor para João de Deus. Caso a prisão se arraste, o "hospital espiritual', que acreditam existir em cima da casa, continuará funcionando por meio dos voluntários que fazem a corrente, afirmam.

A Justiça de Goiás rejeitou no final da tarde desta terça-feira, 18, um pedido de habeas corpus em favor do médium João Teixeira de Faria, o João de Deus. A revogação da prisão preventiva havia sido pedido pela defesa do líder espiritual mas foi indeferida pela desembargador Jairo Ferreira Júnior.

Como o pedido foi negado, a estratégia da defesa será entrar com um novo pedido que reverta trocar a prisão preventiva por outra medida cautelar, como a prisão domiciliar.

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João de Deus está preso no Complexo Penitenciário de Aparecida de Goiânia desde o último domingo, 16. Ele é acusado de crimes de abuso sexual e, nesse primeiro momento, a investigação se concentra em 15 casos.

O criminalista Alberto Toron, defensor do médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, protocolou um habeas corpus, na tarde desta segunda-feira, 17, junto à Justiça de Goiás com o objetivo de revogar a prisão preventiva do líder religioso.

João de Deus está, neste momento, no Complexo Penitenciário de Aparecida de Goiâna, a 20 quilômetros da capital. Ele divide a cela com três advogados desde a noite de domingo, 16, quando chegou à cadeia após prestar depoimento e fazer exame de corpo de delito em Goiânia.

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Caso o habeas corpus seja negado, a estratégia da defesa será pedir que se adote medidas cautelares, em vez da prisão. Entre as opções cogitadas pelo defensor estão prisão domiciliar, colocação de tornozeleira e a proibição dele exercer o ofício dele.

"São medidas que acautelam o meio social, que preservam a possibilidade da prática de novos crimes, se é que eles existiram, com um método menos invasivo, meio menos invasivo", explicou Toron.

O criminalista Alberto Toron, que representa o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, deve fazer um "escrutínio" dos depoimentos das vítimas como parte da estratégia para tirar o crédito de denúncias contra o líder religioso. Segundo Toron, é preciso analisar "o contexto" das denúncias contra seu cliente para saber se o depoimento de algumas dessas mulheres têm "crédito ou não".

O argumento do advogado faz referência, por exemplo, ao depoimento de Zahira Leeneke Maus, uma coreógrafa holandesa que falou ao programa "Conversa com Bial", da TV Globo. Segundo Toron, a vítima teria um passado ligado à prostituição e extorsão.

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"Há uma holandesa que foi exibida, salvo erro de memória, no programa do Pedro Bial. Porém esta holandesa, estou recebendo informações já com um dossiê, tem um passado nada recomendável, o que pode descredibilizar (sic) (o depoimento). Quero dizer que ela era uma prostituta e tinha um passado de extorsão", disse.

"A comprovação desses e outros fatos, se pessoas querem se aproveitar para pedir dinheiro ou não, se o passado dela a compromete ou não, tudo isso vai ter que ser analisado corretamente a partir da crítica a esses depoimentos", complementou o defensor.

Toron disse que o problema não seria a vítima ter sido prostituta, mas sim ter praticado extorsão, algo que estaria em um "dossiê" recebido pela defesa. "É óbvio que o fato de a pessoa ter sido prostituta não a descredibiliza, mas é preciso ver o contexto da vida dessa mulher para ver se ela tem crédito ou não. Isso nós não fizemos ainda por absoluta ausência de tempo. Mesmo o depoimento dessa holandesa, nós não tivemos acesso a esse depoimento ainda", afirmou.

Outra vítima cujas acusações foram colocadas em xeque é uma das filhas de João de Deus, que disse ter sido abusada pelo médium ainda quando era criança. Depois que o vídeo ganhou as redes sociais, ela gravou um outro depoimento negando o primeiro, mas, recentemente, disse ter sido coagida a fazê-lo. O criminalista afirmou que a filha tem um passado de "internações" e, justificou, que, por isso, João de Deus aceitou fazer um acordo na Justiça.

"A história é muito diferente. Essa moça (filha de João de Deus) foi internada várias vezes, (o acordo) foi até uma forma de ajudar a filha. E aí se celebrou um acordo no processo civil. Ela fez mais de um vídeo retirando e desmentindo essas acusações e depois voltou à carga. Fica muito difícil compreender o que acontece com ela, ela tem um história de internações também. Não quero nem me aprofundar isso em respeito a ela", afirmou.

O advogado negou que fazer esse tipo de avaliação das denúncias seja jogo sujo. "Jogo sujo é alguém acusar falsamente outra pessoa de uma prática tão grave, o que estou querendo dizer, sem jogo sujo, é que nós precisamos fazer um escrutínio calmo para não linchar uma pessoa sem direito de defesa", rebateu. "Soa estranho que uma mulher que se diz violentada volte (atrás) uma duas, três, oito vezes, Isso precisa ser escrutinado, não se trata de fazer jogo sujo", finalizou.

O Ministério Público (MP) do Estado de Goiás confirmou neste domingo (16) a informação de que o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, retirou R$ 35 milhões de contas e aplicações financeiras após as primeiras denúncias de abuso sexual. A informação acelerou a decretação da prisão preventiva do médium, que ainda não se apresentou à polícia.

O médium é considerado foragido. Segundo o MP, ele não foi encontrado em todos os endereços possíveis e o comparecimento espontâneo não ocorreu nas 24 horas seguintes à ordem de prisão. João de Deus pode ser preso por qualquer autoridade policial brasileira ou estrangeira, com auxílio da Interpol, caso saia do país.

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Na sexta-feira (14), o Tribunal de Justiça de Goiás acatou o pedido do Ministério Público de Goiás (MP-GO) e determinou a prisão do médium goiano.

A reportagem não conseguiu falar com o advogado Alberto Toron, que defende João de Deus. O médium nega as acusações.

As denúncias contra João de Deus começaram a vir a público no dia 7, quando a mídia divulgou as primeiras denúncias de abuso sexual. A partir daí, outras mulheres que afirmam ser vítimas do médium começaram a procurar as autoridades e a imprensa.

Mulheres ouvidas pelo Ministério Público afirmaram que alguns funcionários do médium João de Deus eram coniventes com os abusos sexuais cometidos durante as sessões espirituais em Abadiânia (GO). Segundo as promotoras responsáveis, as vítimas apontaram quatro funcionários, cujos nomes se repetem nos depoimentos. O fato será apurado pelo MP de Goiás, que é responsável pelas investigações do caso.

A força-tarefa instituída pelo MP de Goiás para apurar as acusações de abuso sexual feitas contra o médium recebeu desde o dia 10, quando foi criado o e-mail para recebimento de denúncias de vítimas, um total de 330 mensagens e contatos por telefone. O e-mail específico para essa finalidade é o denuncias@mpgo.mp.br. Os atendimentos são de denunciantes de Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Pará e Santa Catarina.

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A investigação instituída pelo procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres Neto, é formada por cinco promotores e duas psicólogas da equipe do MP para integrarem a força-tarefa. O grupo é composto pelo promotor de Justiça Steve Gonçalves Vasconcelos, que está em substituição da Promotoria de Abadiânia, onde os fatos teriam, o coordenador adjunto do Centro de Apoio Operacional (CAO) Criminal do MP, Luciano Miranda Meireles e Paulo Eduardo Penna Prado; a coordenadora do CAO dos Direitos Humanos, Patrícia Otoni, e a promotora Gabriella de Queiroz Clementino, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). As psicólogas são as servidoras Liliane Domingos Martins e Lícia Nery Fonseca.

O procurador-geral de Justiça também encaminhou no dia 11 um ofício circular aos procuradores-gerais de Justiça dos MPs Estaduais e do Distrito Federal solicitando que sejam designadas unidades de atendimento para coleta de depoimentos de possíveis vítimas do médium.

Pedido de prisão

A Justiça de Goiás determinou, nesta sexta-feira, 14, a prisão preventiva de João de Deus, suspeito de praticar abusos sexuais durante tratamentos espirituais, em Abadiânia, cidade goiana do entorno do Distrito Federal. A informação foi confirmada pelo secretário de Segurança Pública de Goiás, Irapuan Costa Júnior. Um dos advogados que compõem a defesa de João de Deus, Thales Jayme disse que foi informado sobre o mandado de prisão, mas não tinha recebido o documento até as 12h30. Ele declarou também que não conseguiu falar com médium nesta manhã.

Aos 76 anos, João de Deus é um misto de líder religioso e controlador de Abadiânia (GO). Todo mês, cerca de 10 mil pessoas, 40% delas estrangeiras, vão à cidade, a 113 quilômetros de Brasília, em busca de cura ou conforto espiritual. Graças a esse movimento, ele é ao mesmo tempo respeitado e temido. "Claro que ninguém quer se indispor. Ele está sempre próximo, o melhor é cultivar boas relações", diz um lojista, que há pouco tempo chegou a Abadiânia.

A ligação de João de Deus com o poder se expressa não só pelo temor nutrido por muitos dos habitantes, os "filhos de Abadiânia". O líder espiritual também acompanha de perto a política local. Trabalha pela eleição de candidatos da sua preferência. Mas nem sempre com sucesso.

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Na última disputa, o vencedor foi José Diniz (PSD), opositor do candidato abençoado pelo médium. "Já tivemos problemas, mas hoje a relação é respeitosa", conta o prefeito.

João de Deus comemora com entusiasmo o aniversário, em junho. "Sempre atrai muitas pessoas conhecidas. Eu mesmo vou. Já encontrei lá ministros do Supremo Tribunal Federal, embaixadores, governadores", diz o prefeito. Tudo é doado pelo comércio local - comida, shows e queima de fogos. "A Polícia Militar disse que este ano vieram 10 mil", diz Francisco Lobo, um dos funcionários mais próximos do médium. Outra festa popular é o Natal para a crianças carentes. O médium financia a compra 8 mil brinquedos para distribuição.

Rituais

Embora respeitem, são poucos os "filhos de Abadiânia" que buscam socorro espiritual com ele. Uns dizem ter outra religião, outros afirmam que deixam para quando a necessidade apertar. A Casa Dom Inácio de Loyola, onde atende, é um conjunto amplo de construções, simples e bem cuidadas.

Ali funciona não só o centro de atendimento, mas há uma loja - onde são vendidas lembranças, pedras e fotos -, lanchonete e laboratório que produz cápsulas de passiflora, prescritas pelo médium. O tratamento, para dois meses, custa R$ 100. "Não é todo mundo que pode pagar", comentou um lojista.

Muitos dos voluntários da casa são ex-pacientes. Como Luciana Souza, que chegou a Abadiânia há oito anos, com neuropatia. "Já estava prestes a tomar morfina. Praticamente não andava." Segundo ela, foram meses de tratamento. "Agora quero ajudar, retribuir."

Os atendimentos - de quarta a sexta, pelas manhãs e à tarde - são cheios de rituais, com mistura de símbolos católicos, pedras e imagens esotéricas. Após pegar uma ficha, as pessoas esperam orientação de voluntários, com recomendação de não cruzar braços ou pernas. O atendimento é feito em filas e os chamados são em português, inglês e até francês. A passagem pela área de atendimento é rápida. Quando o médium atende, fica sentado na cadeira de vime, ladeado de assessores, imagens de santos e pedras e cristais. É aí que ouve pedidos de fiéis e entrega um papel com rabisco - a receita para o remédio energizado.

Quando não está em transe, é tratado pelos voluntários como "Seu João". Eles afirmam que o médium faz inúmeras obras de caridade, mas as conhecidas são o Natal das Crianças e a Casa da Sopa, que serve bolachas, com suco e café e uma sopa.

É escoltado o tempo todo. E o que levaria o médium a andar escoltado? Lobo afirma que isso é consequência de um assalto no centro há alguns anos. "Depois disso, várias câmeras de segurança foram instaladas." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O advogado de João de Deus, Alberto Zacharias Toron, apresentou à Justiça um pedido para que a prisão preventiva de seu cliente não seja concedida. Em uma audiência com o juiz Fernando Chacha, nesta quinta-feira (13), sugeriu ainda que, se mantida a liberdade, seu cliente estaria disposto a fazer atendimentos espirituais escoltado por policiais ou, ainda, permitir que as sessões sejam gravadas.

De acordo com Toron, não há prazo para que o juiz decida sobre a prisão. "Apresentei argumentos para que o juiz negasse a prisão", completou. "Ele tem 76 anos e uma larga folha de serviços prestados. É necessário ter cuidado para que não seja submetido a um linchamento público antecipado."

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Toron chegou a Abadiânia na quarta-feira, dia 12. Encontrou-se com o médium e fez visita na quinta à Casa Dom Inácio de Loyola. "Ele está muito abatido, triste e inconformado com a situação."

O médium passou o dia acompanhado dos filhos, no sítio de um amigo, nas proximidades de Abadiânia. O religioso é acusado de abuso sexual por mulheres que buscaram atendimento no local. Relatos até o momento indicam que, depois da sessão, sugeria para supostas vítimas uma audiência particular, em que os abusos ocorreriam.

Dados

Para o Ministério Público, a semelhança nos depoimentos reforça as suspeitas. Até o momento, foram recebidas 330 denúncias em 11 Estados - 18 em São Paulo, já enviadas em vídeo para Goiás. O pedido de prisão foi protocolado no Fórum de Abadiânia. Para o MP, em liberdade, haveria o risco de João de Deus coagir testemunhas e fazer mais vítimas.

Há denúncias relativas a supostos abusos ocorridos desde 1980 até outubro deste ano. Em um desses, uma mulher disse ter procurado a casa depois de passar por tratamento de câncer de mama. Lá, se submeteu a uma cirurgia espiritual e foi orientada a voltar. No encontro, recebeu um pedido de João Deus. "O que eu fizer aqui dentro, você não vai falar para ninguém", disse a ela. "Você levante que eu vou te curar. E você vai ter de se entregar. Aí ele pediu para eu ficar de costas e nisso ele começou a passar a mão no meu corpo. Eu comecei a chorar e ficar desesperada. Se eu gritar, pensei, tem milhares de pessoas aí fora que endeusam ele, chamam de João de Deus."

Ela só se sentiu encorajada a denunciar nesta semana. Como foi o caso de outra vítima, que diz ter sido abusada por João de Deus quando estava grávida, há 12 anos. "Na hora você não tem força, você não tem autoridade diante de uma pessoa enviada com uma missão divina."

Protesto

Desde que as primeiras denúncias de abuso vieram à tona, no programa Conversa com Bial, o movimento na Casa Dom Inácio de Loyola caiu em dois terços e o clima é de tristeza. Vestidos de branco e empunhando cartazes à mão, comerciantes de Abadiânia e funcionários da Casa Dom Inácio de Loyola fizeram um protesto nesta quinta-feira, em homenagem ao líder espiritual. O ato, de cerca de 20 minutos, começou a ser organizado logo de manhã, quando voluntários percorreram a cidade, batendo de porta em porta.

Os cartazes diziam "Espalhe Amor" e "Paz". "Com humildade, vamos mostrar para a mídia", disse uma funcionária da Dom Inácio. Entre as integrantes do movimento estava Divina Luzia, que trabalha em uma pousada. "Se o movimento se reduzir, o que será?", indagava, destacando que várias reservas já foram desmarcadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A americana Oprah Winfrey, que já esteve com João de Deus no Brasil em 2012, disse em nota nesta quarta-feira, 12, ter empatia pelas mulheres que acusaram o médium de abuso sexual após terem procurado tratamento espiritual. Oprah retirou do ar os vídeos de entrevistas que fez com João de Deus, após a vinda à tona das acusações.

"Eu fui ao Brasil em 2012 para gravar um episódio de 'Oprah's Next Chapter' (próximo capítulo de Oprah, em tradução livre) que explorou os métodos controversos de cura de João de Deus. O episódio foi ao ar em 2013. Eu tenho empatia pelas mulheres que estão se apresentando agora e espero que justiça seja feita", afirmou Oprah em nota.

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Oprah foi uma das apoiadoras do movimento #MeToo nos Estados Unidos, que se popularizou em 2017 após uma onda de denúncias via redes sociais de assédio sexual praticado especialmente em ambientes de trabalho. O movimento ganhou a adesão de celebridades americanas e cresceu com a acusação contra o produtor de cinema Harvey Weinstein. No início de 2018, Oprah foi uma das protagonistas da cerimônia de entrega do Globo de Ouro ao fazer um discurso contra o assédio e o racismo - e falar sobre as acusações contra diretores e atores de Hollywood.

"Estou especialmente orgulhosa e inspirada por todas as mulheres que se sentiram fortes o suficiente e empoderadas o suficiente para falar e compartilhar suas histórias pessoais. Cada um de nós nesta sala é celebrado por causa das histórias que contamos, e este ano nós nos tornamos a história. Mas essa não é uma história que afeta apenas a indústria do entretenimento. É uma história que transcende qualquer cultura, geografia, raça, religião, política ou local de trabalho", disse Oprah, na ocasião.

Em 2012, a apresentadora foi a Abadiânia, em Goiás, para visitar a Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus faz atendimentos e passou o dia no local, observando os procedimentos do médium. Na ocasião, além da entrevista feita, Oprah acompanhou cirurgias espirituais feitas por João de Deus - e ajudou o médium segurando instrumentos.

O advogado de João de Deus, Alberto Zacharias Toron, afirmou não ter sido oficialmente notificado de um pedido de prisão preventiva contra seu cliente. "Não tenho essa informação. Mas se ela for confirmada, ela é descabida: ele está à disposição da Justiça, está trabalhando normalmente", disse. O Ministério Público de Goiás não confirmou o pedido de prisão.

O Ministério Púbico de Goiás montou nesta segunda uma força tarefa para investigar as denúncias de abuso sexual que teriam sido cometidas pelo médium, que atende na cidade de Abadiânia. Em dois dias, 200 relatos foram reunidos.

Foram dez minutos de tumulto e gritaria. Assim que desembarcou num Ford Ka branco, João de Deus foi cercado por seus funcionários, fez uma visita de menos de 10 minutos à sala de atendimento e retornou. Jornalistas acompanharam o trajeto, mas foram impedidos de se aproximar do médium, que fez a primeira visita ao centro Dom Inácio de Loyola depois de ser acusado de abuso sexual por mulheres que buscaram a casa em busca de tratamento espiritual.

No trajeto, funcionários gritavam: "Respeitem! Ele vai falar." A promessa, no entanto, não se concretizou. Apesar do amplo espaço, não foi providenciado um local para a entrevista. O médium saiu sem dar entrevista, mas disse, entre um grito e outro de seus funcionários, que cumpria uma missão dada há 60 anos. E afirmou: "Eu sou inocente".

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Na confusão, voluntários chegaram a agredir jornalistas. A chegada no centro ocorreu por volta das 9h20 desta quarta-feira (12) um horário pouco usual. João de Deus, cujo nome de batismo é João de Faria, horas antes havia desembarcado no aeroporto de Anápolis de um voo procedente de São Paulo.

Esta foi a primeira aparição pública do médium, depois que mulheres vieram a público acusá-lo de abuso sexual. Passados cinco dias após as primeiras denúncias, mais de duas centenas de mulheres procuraram o Ministério Público para fazer relatos semelhantes. Pelo menos quatro inquéritos já foram abertos.

As denúncias afetaram o movimento da casa, onde atendimentos são realizados. Por volta das 8h30, cerca de 400 pessoas - incluindo crianças e duas pessoas de cadeiras de rodas - aguardavam a chegada do líder espiritual. Isso representa um terço do movimento habitual.

Chico Lobo, um dos funcionários da casa, afirmou que três ônibus - de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas - chegaram à cidade. "É menos que o de costume. Mas há também o impacto da proximidade das festas. Nesta época, tradicionalmente o movimento cai", disse.

Funcionários e voluntários da casa começaram a chegar na casa Dom Inácio de Loyola mais cedo. "Sabíamos que seríamos necessários aqui. Ele sempre esteve presente com seu amor, agora estamos prontos para defendê-lo", disse Jacilda Oliveira Soares, que desde 1985 frequenta a casa. Há alguns anos, ela se dedica a organizar as filas de atendimento.

Primeiro, ingressam fiéis escolhidos pelo médium para formar a corrente de oração. Eles ocupam uma sala próxima na qual o líder costuma atender e ficam concentrados durante todo atendimento. Para enfrentar as longas horas, muitos trazem travesseiros ou uma almofada especial, dobrável, para proteger as costas e o quadril.

Essas pessoas já estão posicionadas. São cerca de 200. Outras 200, a maioria usando roupas brancas, estão sentadas em cadeiras situadas num pátio coberto, aguardando atendimento. As pessoas são chamadas em grupos, de acordo com a frequência que vem à casa. De acordo com funcionários, mesmo sem a presença de João de Deus, os trabalhos podem ser realizados. "Onde ele estiver, a energia dele estará aqui", diz Jacilda.

Mesmo depois das denúncias de abuso sexual, funcionários e voluntários da Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, mantêm a confiança em João de Deus. "É muito difícil fechar uma igreja", afirmou Chico Lobo, que há mais de uma década dedica parte do seu tempo às atividades desenvolvidas no centro. "Muita gente está falando, mas precisa provar", disse.

Lobo listou uma série de argumentos para afastar as suspeitas contra o líder religioso. "Ele fica sempre acompanhado, não há na casa esse banheiro com grandes dimensões, como se disse em parte dos depoimentos e, além disso, há câmeras por vários lados". Indagado se as câmeras de vigilância ficavam também na área reservada para o descanso de João de Deus, ele negou. "Mas os atendimentos individuais são muito poucos: ninguém quer que ele faça isso. Se não, serão sempre dois atendimentos."

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Nesta terça-feira (11), fiéis de outros Estados e do exterior começaram a chegar à cidade para as sessões de tratamento espiritual, que se iniciam hoje. A movimentação, no entanto, caiu. "O movimento está, sim, menor do que antes da reportagem. Mas é preciso lembrar: quem cura não é o homem, é a divindade", dizia Norberto Kist, que há 29 anos vive em Abadiânia e atua como intérprete de pessoas que vêm da Alemanha em busca de tratamento espiritual.

A expectativa nesta terça era saber se o médium participaria das sessões nesta semana. Tradicionalmente, ele trabalha entre quarta e sexta, pela manhã e à tarde. Funcionários garantiam a presença do líder. "É o previsto", informou Lobo, que não vê queda de procura, mas uma redução de movimento normal no fim de ano.

Na terça, o clima na Casa era de uma tensão controlada. Os fiéis que perambulavam pelo conjunto de construções, em cores branca e azul, se recusavam a falar. A recomendação era a de que apenas guias e funcionários se manifestassem. Fiéis permaneciam em pequenos grupos, fazendo meditações, leituras, sessões com cristais.

Defesa

Na segunda-feira (10), João de Deus foi a São Paulo para conversar com seu advogado, Alberto Toron. Na ocasião, o defensor rechaçou veementemente as denúncias e disse que ele retornaria para a cidade, para o trabalho normal. Na terça, a reportagem não conseguiu falar novamente com o advogado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

É recomendado que os frequentadores utilizem roupas brancas ao entrar na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO). Há dez anos, esse motivo foi utilizado pelo médium João de Deus para tirar a calça escura que uma menina de 13 anos utilizava no local. Em uma sala privada, ele despiu a calça da menina e se aproximou, passando a mão pelo corpo e levando a mão da garota ao seu órgão genital. O relato se une a outros 205 levados até agora ao Ministério Público de Goiás. Os contatos foram feitos por residentes de 10 Estados do País, além de uma mulher que reside nos Estados Unidos e outra, no Canadá.

Coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público (MP) de Goiás, Luciano Miranda Meireles, avalia que as denúncias de abuso sexual envolvendo o líder espiritual João Teixeira de Faria tem potencial para alcançar uma dimensão maior do que o caso de Roger Abdelmassih, ex-médico de reprodução assistida que foi condenado a 181 anos de prisão por estupro de pacientes. "Pela movimentação que estamos assistindo, o número de mulheres que se apresentam como vítimas deverá ser maior. Há relatos de abusos ocorridos há 20 anos."

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As mais de duas centenas de relatos foram feitas em apenas dois dias de funcionamento de um e-mail (denuncias@mpgo.mp.br) do MP, criado especificamente para receber informações, após as primeiras denúncias levadas ao ar pelo programa Conversa com Bial, da TV Globo. "Orientamos que todas, independentemente da data em que ocorreu o fato, procurem o Ministério Público de seus Estados para formalizar a denúncia", disse Meireles.

A coleta de informações até o momento sugere três crimes: estupro, estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude. "Nos relatos que recebemos, todas as mulheres se mostram muito abaladas, independentemente da data do ocorrido. Nenhuma fala em dinheiro ou qualquer outro benefício. A maior parte diz querer apenas justiça", disse o promotor.

É o que diz a jovem de 24 anos, que sofreu o assédio na adolescência e falou sob anonimato à reportagem. "Depois (da ação), ele falou: 'Tudo bem, agora você está limpa'. Fiquei chocada, sem reação. Eu não tinha nem dado um beijinho ainda, era muito nova. Fiquei mal comigo mesma."

A garota foi levada ao espaço pela avó para tratar um quadro de depressão, que se agravou após o abuso. Ela chegou a tentar o suicídio e intensificou o tratamento psiquiátrico e psicológico, que mantém até hoje.

Na época, não contou nada para a avó. Ela sempre teve vontade de denunciar, mas tinha medo. Só no domingo, ela procurou uma delegacia e, depois, com o apoio de uma ONG, fez a denúncia no MP do Paraná.

A reportagem levantou alguns dos registros pelo País. Em Minas, houve cinco denúncias; no Rio Grande do Sul, quatro oficialmente, além de outras nove feitas informalmente. Já no Paraná foram três. Em São Paulo, cinco mulheres prestaram depoimento nesta terça-feira, mas há mais oitivas marcadas.

Segundo a promotora Silvia Chakian de Toledo Santos, todas as vítimas falam em abusos sexuais. Segundo ela, os relatos até agora datam de 2017 e o modus operandi é "muito parecido", sempre envolvendo a sala de atendimento privado.

Abuso constante

Uma das vítimas, de Goiânia, que também não quis se identificar, tinha 19 anos e era modelo na época em que se consultou com o médium. Seus avós faziam parte da linha de frente dos trabalhos espirituais. O médium a deixava por último na fila de espera para atendimento. "A hora que eu entrava, tirava minha blusa e muitas vezes meu sutiã e pegava nos meus seios. Eu chorava, mas ele nunca teve piedade. Implorei para ele parar várias vezes. Um dia eu falei que não ia mais e ele disse que sabia onde meus avós moravam, e mataria cada um deles. Esse medo que me fez voltar", relata.

Ele diz que os abusos são conhecidos em Abadiânia. "As pessoas que trabalham há muitos anos lá sabem que ele faz isso." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A distribuidora Paris Filmes anunciou nesta terça-feira, 11, que suspendeu "imediatamente" a comercialização do documentário João de Deus - O Silêncio É uma Prece em todas as plataformas digitais. Lançado em maio nos cinemas, o filme tem direção de Candé Salles (de Para Sempre Teu Caio F.) e roteiro de Edna Gomes.

A decisão ocorre após a divulgação de supostos abusos sexuais cometidos pelo médium no "hospital espiritual" que mantém em Abadiânia, interior goiano.

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Até a manhã desta terça-feira, 78 mulheres registraram denúncias contra João de Deus no Ministério Público de Goiás.

O anúncio ocorre um dia após a editora Companhia das Letras suspender a distribuição do livro João de Deus: Um Médium no Coração do Brasil, publicado pelo selo Fontanar em 2016. O livro é de autoria de Maria Helena Pereira Toledo Machado, professora de História da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo a sinopse, o filme "mostra que a paz está presente por todo espaço, entrando a fundo na dinâmica da casa e nos trabalhos locais" na Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus realiza "cirurgias espirituais".

O filme traz entrevistas com o médium e com seguidores e admiradores, tais como a atriz Cissa Guimarães, que também é narradora da produção. Além disso, mostra imagens das chamadas "cirurgias espirituais", nas quais João de Deus utiliza utensílios domésticos, como faca de cozinha e tesoura, para realizar cortes e incisões.

Na época do lançamento, Luiz Carlos Merten, crítico de cinema do jornal O Estado de S. Paulo, descreveu o filme como "bem feito, bem montado", mas que "em nenhum momento busca tensionar ou desmistificar o personagem". "Os depoimentos apontam sempre na mesma direção", escreveu na época.

Além do documentário, a obra João de Deus - O Filme está em fase de pré-produção. Na semana passada, a empresa Lynxfilm Produções Audiovisuais conseguiu autorização para captar até R$ 4 milhões para o filme por meio de incentivos fiscais.

O número de denúncias contra o médium João de Deus registradas no Ministério Público de Goiás (MP-GO) subiu para 78 a manhã de terça-feira (11). O número é quase o dobro do anunciado pela instituição no fim da tarde no dia anterior, de 40 denúncias.

Segundo o MP-GO, a maioria das mulheres fez as denúncias por e-mail. Além de Goiás, os registros também foram feitos por vítimas de Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso. "Todas estão sendo orientadas a procurarem o Ministério Público de seu Estado, que ficará responsável pela coleta de depoimentos", informou por meio de nota.

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Em Goiás, uma força-tarefa é formada por cinco promotores e duas psicólogas. As denúncias são recebidas pelos telefones 62 3243-8051 e 8052, presencialmente e pelo e-mail denuncias@mpgo.mp.br.

No fim de semana, já haviam sido registrados dois boletins de ocorrência contra o líder religioso, que faz seus atendimentos na cidade goiana de Abadiânia.As conversas informais ouvidas até o momento pelo Ministério Público de Goiás indicam que a investigação terá como ponto central o abuso sexual. Mas, além disso, será avaliada também a prática de outros crimes. Nem Ministério Público nem Polícia Civil informaram quais seriam os demais delitos.

As investigações serão feitas de forma simultânea pelo Ministério Público e Polícia Civil. Na segunda-feira, Marcella Orçai, delegada de Goiás, afirmou que, além das novas denúncias, outros dois inquéritos contra João de Deus estão em curso. Um deles, de 2016, e outro, aberto neste ano.

Primeiros casos

As denúncias ganharam força depois de o programa da Rede Globo Conversa com Bial apresentar depoimentos de mulheres que buscaram atendimento espiritual com o líder e disseram terem sido abusadas. Os relatos apresentam vários pontos em comum: qual teria sido a estratégia adotada pelo líder para atrair as vítimas, o local onde o abuso ocorria e as ameaças feitas para as mulheres.

Embora os relatos de abusos tenham aumentado, promotores afirmam ser indispensável que vítimas formalizem suas denúncias. Além dos depoimentos, serão usados como prova laudos realizados por psicólogos.

Ao menos 30 denúncias foram levadas ao MP paulista, segundo a promotora Maria Gabriela Manssur. Como as investigações só começaram agora, não é possível dizer se há duplicidade de relatos com as denúncias feitas ao MP de Goiás. Ela considera que o número de casos de abusos pode chegar a 200 no País, segundo relatos em grupos de vítimas. No Estado, quatro promotores vão atender as autoras das queixas.

A força-tarefa do Ministério Público de Goiás (MP-GO), criada para investigar os casos de abuso sexual que teriam sido cometidos por João Teixeira de Faria, o médium João de Deus, recebeu nesta segunda-feira (10) 40 contatos formais de vítimas. A Promotoria e a Polícia Civil começou a agendar os depoimentos das mulheres.

As conversas informais ouvidas até o momento pelo MP-GO indicam que a investigação terá como ponto central o abuso sexual. Mas, além disso, será avaliada também a prática de outros crimes. Nem Promotoria nem polícia informaram quais seriam os demais delitos.

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As duas instituições se preparam para a possibilidade de pedir o fechamento preventivo da Casa Dom Inácio de Loyola, onde os atendimentos são realizados. "Temos ainda de avaliar os depoimentos que forem formalizados. Dependendo do que for constatado, essa hipótese não está descartada", afirmou o coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público de Goiás, Luciano Meireles. A medida seria tomada para evitar a eventual prática de novos delitos.

As investigações agora serão feitas de forma simultânea pelo MP-GO e pela Polícia Civil, que também formou um grupo específico para a investigação. A polícia recebeu o contato de mais duas mulheres. Além disso, no fim de semana, foram registrados dois boletins de ocorrência contra o religioso.

Promotores afirmam ser indispensável que vítimas formalizem as denúncias. Além de depoimentos, serão usados como prova laudos psicólogicos. Meireles disse que, conforme o andamento da coleta de provas, casos semelhantes que já haviam sido arquivados poderão ser reabertos. A equipe já identificou um caso arquivado e um processo em que João de Deus recebeu acusação semelhante, mas foi absolvido (veja abaixo). O representante do MP-GO afirma que as penas, somadas, podem chegar a mais de 150 anos.

Para tornar mais ágil o processo de denúncia, o MP-GO criou um e-mail específico para receber relatos de vítimas: denuncias@mpgo.mp.br. Queixas feitos em outros Estados e até no exterior também serão registradas. Segundo Marcella Orçai, delegada de Goiás, isso poderá ser feito nas embaixadas.

No caso de vítimas em outros Estados, os depoimentos podem ser feitos diante da Polícia Civil ou Ministério Público das suas cidades. "No caso do MP, os relatos depois serão enviados para Goiás", disse Meireles. Em Minas, ao menos duas pessoas já fizeram denúncia, segundo a Promotoria local.

São Paulo

Ao menos 30 denúncias foram levadas ao MP paulista, segundo a promotora Maria Gabriela Manssur. Como as investigações só começaram agora, não é possível dizer se há duplicidade de relatos com as denúncias feitas ao MP de Goiás. Ela considera que o número de casos de abusos pode chegar a 200 no País, segundo relatos em grupos de vítimas. No Estado, quatro promotores vão atender as autoras das queixas.

Presidente do grupo Vítimas Unidas, criado por vítimas do ex-médico Roger Abdelmassih, Maria do Carmo dos Santos diz que as autoras de denuncias ainda estão sendo ameaçadas. "Muito mais vai aparecer." Segundo ela, vítimas e apoiadores se organizam para garantir que João de Deus seja punido, diferentemente do que ocorreu em outras acusações esparsas. Em paralelo, ativistas lançaram a hashtag #OprahWeNeedYou (Oprah, precisamos de você) para cobrar um posicionamento da apresentadora Oprah Winfrey, que retratou o médium em programas da TV americana . "Cadê o movimento 'Mexeu com uma, mexeu com todas'?"

A Federação Espírita Brasileira divulgou nota, dizendo que "o serviço espiritual não deve ocorrer isoladamente, apenas com a presença do médium e da pessoa assistida".

Defesa

O líder espiritual João de Deus passou a segunda-feira em São Paulo para se encontrar com seu advogado, Alberto Zacharias Toron. Segundo o defensor, um ofício foi encaminhado para o Ministério Público e outros seriam enviados para a Delegacia de Polícia e o Fórum de Abadiânia (GO), informando que João de Deus está à disposição para esclarecimentos. "Ele volta para Abadiânia para exercer o trabalho dele, ajudando as pessoas como vem fazendo nos últimos 40 anos", afirmou o criminalista.

Conforme o site de O Globo noticiou nesta segunda à noite, no documento protocolado na Justiça de Abadiânia, a defesa diz ter recebido "com indignação" as acusações. Assinado por Toron, o ofício registra que João de Deus "rechaça" o que classifica de "qualquer prática imprópria dos seus procedimentos", como havia dito em respostas enviadas à TV Globo. A reportagem não conseguiu contato com a assessoria de imprensa do médium. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Sentado em frente da sua loja de roupas "Nirvana", em Abadiânia (GO), Antonio de Carmo não escondia a preocupação com as denúncias contra João de Deus. "Não ganho muito com as vendas, mas vivo bem. Se a Casa (Dom Inácio de Loyola, onde o médium atende) acabar, metade do comércio vai junto". Na loja de cristais em frente, vê-se outro relato na mesma linha. O temor é de "quebradeira".

Marcos Júnior, que há oito meses chegou à cidade para ajudar o pai no comércio, nem imagina o que seria de Abadiânia se as atividades do líder espiritual fossem encerradas. "Não gosto nem de pensar. Ele atrai muita gente, movimenta os negócios". Isso vale até para cursos de idiomas. Marcos, por exemplo, para atender melhor fregueses, vai para cidade ao lado cursar inglês e espanhol.

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"Claro que a verdade tem de ser dita, que as denúncias têm de ser investigadas. Se for culpado, merece castigo. Mas não vou esconder que fico preocupada com meu futuro", afirma uma comerciante que trabalha na rua que leva à Casa Dom Inácio, onde João de Deus atende às quartas, quintas e sextas.

Pelas contas do prefeito José Aparecido Diniz (PSD), os atendimentos feitos pelo médium atraem mensalmente cerca de 10 mil pessoas - 40% estrangeiros. Número expressivo, sobretudo considerando os 17 mil habitantes da cidade - a 90 quilômetros de Goiânia e a 120 quilômetros de Brasília. "Olha o salto no consumo", afirma Diniz.

Secretário de Turismo e Meio Ambiente, José Augusto Paralov concorda. "A cidade é pequena e o comércio vive em função disso. Temos 40 pousadas e hotéis, além de uma dezena de restaurantes, que dependem exclusivamente das excursões e romarias. Pode acontecer uma quebradeira".

Pelas contas do município, a Casa Dom Inácio de Loyola cria, direta e indiretamente, 1,3 mil postos de trabalho. Mas também dá gastos. "Muita gente com problema de saúde chega aqui em busca de atendimento espiritual. Mas o que acontece é que muitos acabam parando no hospital", completa o prefeito. Ele relata ainda mortes de fiéis. "E algumas vezes, o traslado do corpo ficou por conta do município". Procurada, a Casa não se pronunciou.

O turismo religioso divide a cidade. De um lado da BR-060 onde está o centro religioso, o comércio de lojas esotéricas, de roupas brancas (pede-se que os visitantes usem essa cor) e do movimento de estrangeiros dá um ar movimentado e pitoresco ao lugar. No outro lado da BR, onde ficam as casas dos moradores da cidade e a maior parte dos prédios públicos, Abadiânia é uma típica cidade do interior. "Até a violência onde ficam os moradores é maior", conta um lojista, que não quis se identificar.

"Era tudo mato". Dona da pousada que leva seu nome, Izaíra Alves da Silva, de 84 anos, diz que "todo mundo vive em torno do médium". Ela conta que, quando se mudou para Abadiânia, há 33 anos, "era tudo mato". "Sou de Dourados (MS). O médium me colocou como guia e passei a trazer excursões de Belém, até conseguir montar minha pousada. Se fechar, acaba tudo mesmo. Como vamos pagar as contas?" Dono da Pousada São Gabriel, Jovelino Junior estima que 90% das ocupações da rede hoteleira local resultam do fluxo de pessoas para a Dom Inácio. "Vi alguma coisa no noticiário e estou assustado. Vai ter desemprego, não sei como a cidade vai sobreviver."

A guia Maria da Penha Ribeiro, de 73 anos, que há mais de 30 anos leva excursões de Belo Horizonte, relata cuidar de duas viagens por mês. "Todos são bem atendidos e não se cobra. Quem quer faz doação em dinheiro ou remédio."

Outra guia, Claudia Celina Silva, de 59 anos e de Cuiabá, está com excursão fechada para esta terça-feira (11). "Telefonei para todos e querem ir do mesmo jeito. A maioria é portadora de câncer e vai só para agradecer. Estou apavorada com a possibilidade de fechar (a casa). Sou católica, mas devo muito ao médium. Meu filho teve cinco comas, o último de 45 dias. Nenhum médico me deu esperança, mas ele voltou a enxergar e andar.

O guia internacional Anselmo Lima, de Brasília, que organiza excursões da França, disse que não há cancelamentos. "Mas é importante que toda essa situação seja esclarecida."

Polêmico. A expectativa é para ver o que ocorrerá na quarta, quando os trabalhos semanais teriam início. "Estou certa que muitos vão chegar. Como eu", disse a diarista Maria Aparecida Barros. A cada quatro meses, ela viaja de Curitiba para Abadiânia, em busca de tratamento para seu filho, Luan, de 27 anos.

Com Síndrome Wolfran (doença genética rara), Luan apresenta visão comprometida. "Há cinco anos venho aqui na casa (onde o médium atende). Depois disso, a progressão da doença diminuiu." Maria Aparecida é uma das que acreditam que em pouco tempo as denúncias serão desmentidas. "Isso vai passar." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes de Almeida, informou que o médium João Teixeira de Farias, o João de Deus, já respondia a quatro inquéritos anteriores por denúncias de assédio e abuso sexual. Ele disse que dois inquéritos foram instaurados em 2016 e outros dois foram abertos este ano, no mês de agosto. Ele confirmou que, em ao menos um dos inquéritos, o médium já foi ouvido.

Em 2010, uma ação foi aberta na comarca de Abadiânia pelo Ministério Público local. Segundo os autos, uma mulher relatou ter sofrido abuso sexual durante o "tratamento espiritual". O réu foi, contudo, considerado inocente, pois a vítima sofria de síndrome do pânico, o que não a permitiria "distinguir a fantasia da realidade" no que se refere às acusações, segundo o magistrado.

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Marcella Orçai, delegada de Goiás, afirmou que dois processos, um de 2016 e outro aberto neste ano, "estão em estágio avançado e o desfecho deverá ocorrer em breve". Marcella atribuiu a demora na investigação dos dois casos à "complexidade" da investigação e também à resistência em uma das vítimas em continuar o inquérito. "Não é uma tarefa fácil. Há todo um trabalho de convencimento", disse.

Questionado se houve demora na investigação da Polícia Civil, Meireles foi cuidadoso: "É preciso antes analisar o que foi identificado nos inquéritos abertos."

União

Nesta segunda-feira (10) Polícia Civil e Ministério Público se reuniram para definir a estratégia conjunta de trabalho. Nesta terça (11) deve haver nova reunião. "A ideia é unir forças para que o caso seja elucidado da forma célere, ouvindo eventuais vítimas com a maior brevidade possível", disse o promotor Luciano Meireles. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A editora Companhia das Letras anunciou nesta segunda-feira, 10, que suspendeu a distribuição do livro João de Deus: Um Médium no Coração do Brasil, publicado pelo selo Fontanar em 2016. O livro é de autoria de Maria Helena Pereira Toledo Machado, professora de História da Universidade de São Paulo (USP) e frequentadora da Casa Dom Inácio de Loyola, onde o religioso promove seus atendimentos na cidade de Abadiânia (GO).

Por meio de nota, a editora disse estar "surpreendida com as denúncias de práticas de estupro e de abuso sexual contra o médium" e que tomou a decisão de "comum acordo com a autora".

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As denúncias vieram à tona na madrugada de sábado, 8, durante o programa Conversa com Bial, da Rede Globo, que trouxe relatos de quatro mulheres que relataram terem sofrido abuso sexual em Abadiânia. "Ele me pediu para ficar de costas e começou a passar a mão pelo meu corpo. Eu fiquei incomodada e pensei: até que ponto você pode deixar um médium passar a mão pelo seu corpo?", disse uma das entrevistadas, cuja identidade foi mantida em anonimato.

No total, foram ouvidas 10 pessoas que afirmam ter sofrido abusos. A única identificada foi a coreógrafa holandesa Zahira Leeneke Maus, que esteve no local de atendimento do médium em 2014. "Eu tinha medo de eles me mandarem espíritos ruins. Eu estava com muito medo. Agora me sinto protegida e sinto que a verdade tem de vir a tona", afirmou Zahira, que conversou com Pedro Bial nos estúdios do programa.

O Ministério Público e a Polícia Civil de Goiás abriram investigação contra o religioso e somente nesta segunda-feira, 10, a força-tarefa criada pelo MP recebeu 40 denúncias. As duas instituições começaram a agendar os depoimentos. As conversas informais ouvidas até o momento pelo MP indicam que a investigação terá como ponto central o abuso sexual.

Será avaliada também a prática de outros crimes, mas nem Ministério Público nem Polícia Civil informaram quais seriam os demais delitos.

O Ministério Público de Goiás e a Polícia Civil já apuram há meses denúncias de abuso sexual envolvendo o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus. No sábado (8), o programa da TV Globo Conversa com o Bial trouxe dez relatos. A reportagem obteve um depoimento de uma estudante de São Paulo, que atuava como guia em Abadiânia e vai à Justiça.

A paulista, que preferiu não se identificar, pretende procurar esta semana o Ministério Público para formalizar a denúncia. "Não quero dinheiro, quero Justiça", afirmou. Os abusos teriam ocorrido desde 2016, em quatro ocasiões distintas. Antonia (nome fictício), de 28 anos, foi a Abadiânia pela primeira vez em 2015. Depois, começou a atuar como guia. Sua responsabilidade era levar pessoas de São Paulo para o centro espiritual.

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Segundo o Ministério Público, outras denúncias foram encaminhadas à Polícia Civil do Estado de Goiás ainda no primeiro semestre. O delegado-geral da Polícia Civil, André Fernandes de Almeida, confirmou à reportagem que foram abertas investigações em outubro pela Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic). "Ele está sendo investigado há 45 dias, bem antes de o caso ter sido levado à TV." O delegado contou que a apuração foi transferida para a Deic, na capital goiana, pela complexidade da situação e pelo risco de haver intimidação das testemunhas, além do fato de ser uma delegacia especializada.

Mais mulheres procuraram distritos neste fim de semana, alegando terem sido vítimas de João de Deus. Ao Fantástico, da Rede Globo, o MP disse neste domingo ter relatos de assédio desde 2010 e deve criar uma força-tarefa para analisar todas as queixas. O programa levantou acusações desde os anos 1980.

Considerando reportagens da TV Globo e do jornal O Globo, feitas nos últimos três meses, há mais de 30 relatos de mulheres entre 30 e 40 anos. Sempre em um espaço particular, a portas trancadas, elas alegam ter sido obrigadas a praticar atos sexuais e teriam o corpo tocado por João de Deus para "uma limpeza espiritual".

Espiritismo

Após as acusações, a Federação Espírita Brasileira (FEB) veio a público para destacar que "o Espiritismo orienta que o serviço espiritual não deve ocorrer isoladamente, apenas com a presença do médium e da pessoa assistida". "Não recomenda, portanto, a atividade de médiuns em trabalho individual, por conta própria", afirmou, em nota oficial.

A reportagem não conseguiu localizar João de Deus no domingo para tratar do caso. À TV Globo, seu advogado, Alberto Toron, destacou que ele "recebe com indignação as denúncias", e nega qualquer ilegalidade.

'Era assédio'

Uma estudante paulista que se identificou como Antônia falou sobre o assédio cometido por João de Deus, quando procurou ajuda do médium. "Terminado o trabalho, ele pediu para que eu o encontrasse numa sala contígua ao salão onde os fiéis são atendidos. Ao chegar à sala, João pediu para que trancassem a porta (foi quando uma acompanhante de Antonia, ficou com olhos fechados, virada para parede)".

"João dizia que a limpeza dos chacras teria de ser feita sem a observação de ninguém. Ele colocou o pênis para fora e perguntou a minha idade. Disse 26. E ele respondeu: "Então você vai mexer aqui 26 vezes". Fiquei desorientada, mas não consegui fazer nada além de obedecer.

"Chegando à pousada, chorei muito. Mas não conseguia abandonar o trabalho. Além disso, acreditava que ele ajudava as pessoas. Não conseguia ver o que era o ritual, o que era abuso. Em outras três ocasiões, os abusos se repetiram. Num determinado momento, não consegui continuar (como guia). Em outubro do ano passado, porém, decidi voltar para Abadiânia. Ao ver que eu estava sempre acompanhada de um homem, ele evitou se aproximar", disse.

"Daí ficou claro para mim que se tratava de assédio. De que não havia nada de limpeza de chacras. Ao ver o depoimento de mulheres (na TV Globo) decidi dividir a história. Claro que foi doído. Mas, ao mesmo tempo, me ajudou a me libertar, a ver que não estava sozinha e não precisava carregar a culpa que ainda carregava. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Vaticano ordenou nesta segunda-feira (12) à Conferência de Bispos dos Estados Unidos que não se pronuncie em sua Assembleia Geral sobre medidas de combate aos abusos sexuais até a realização, em fevereiro, de uma conferência geral sobre o tema.

O cardeal Daniel DiNardo, presidente da Conferência, confirmou em seu discurso de abertura que recebeu uma carta da Congregação para os Bispos orientando para não realizar qualquer votação envolvendo o assunto nesta Assembleia Geral, como estaria planejado.

O cardeal Blase Cupich, bispo de Chicago, informou que o Vaticano pediu à Conferência o "adiamento" da votação, à espera da reunião das conferências episcopais de todo o mundo, convocada para fevereiro, em Roma.

O cardeal DiNardo revelou sua "decepção" na entrevista coletiva concedida nesta segunda-feira, durante o primeiro dia da Assembleia Geral, em Baltimore.

A Conferência dos Bispos dos EUA tem questionado regularmente nos últimos anos a gestão do escândalo de abusos sexuais por parte da Igreja Católica dos Estados Unidos, e em outubro anunciou a votação de várias medidas.

O alto clero americano propôs modificar o código de conduta, um novo mecanismo de informação e a criação de uma comissão de investigação composta por membros sem vínculos com a Igreja Católica dos Estados Unidos.

"Não estamos satisfeitos com isto", declarou o cardeal DiNardo sobre o pedido da Santa Sé. "Trabalhamos duro para passar à ação e é o que faremos. Isto é apenas um contratempo".

O escritório do promotor do estado da Pensilvânia emitiu um relatório em agosto passado que detalhava abusos sexuais perpetrados durante várias décadas por cerca de 300 padres contra mais de mil crianças.

O relatório destaca que, no geral, a hierarquia da Igreja ignorou as denúncias e até agiu para proteger os denunciados.

Segundo a organização Bishop Accountability, 6.721 padres foram denunciados por abuso sexual nos Estados Unidos por supostos fatos ocorridos entre 1950 e 2016, envolvendo 18.565 crianças.

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