Aumento populacional, crescimento urbano desordenado e despejo de esgoto no rio Tapajós ameaçam um dos pontos turísticos mais famosos do mundo, o complexo de praias de água doce de Alter do Chão, distrito de Santarém, no oeste do Pará. As águas que banham parte do balneário estão impróprias para banho em pleno início do Sairé, a principal manifestação cultural da região, que atrai centenas de turistas ao "Caribe brasileiro".
Estudo divulgado em agosto sobre as condições de balneabilidade das praias de Alter do Chão feito pelo Laboratório de Gestão Ambiental do Instituto de Ciências e Tecnologias das Águas (ICTA), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa),aponta que a Orla da Escadaria, a Orla final e trechos de praia com fim de linha de galerias pluviais submersas apresentam qualidade imprópria.
##RECOMENDA##
Segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Podalyro Neto, os pontos onde ocorreram as análises de balneabilidade vão ser sinalizados com placas. O levantamento indicou também que a praia do Amor, o igarapé do Macaco e o canal principal do rio Tapajós foram considerados com qualidade própria/muito boa. As praias do Cajueiro e do CAT tiveram classificação própria/satisfatória.
[@#video#@]
LeiaJá também: Del Chifre, a praia mais suja do Brasil?
A reitora da Ufopa, Raimunda Monteiro, afirma que estudos sobre a qualidade da água na Vila de Alter do Chão, localizada a 40 quilômetros de Santarém, serão constantes. "A Ufopa firmou um convênio com a Prefeitura de Santarém, pelo qual vai fazer análises periódicas da balneabilidade das águas de Alter do Chão", confirmou. "Com as análises, o Poder Público terá material para orientar a população no uso de suas praias com segurança".
O resultado da pesquisa levou a Justiça Federal a interditar, este mês, os trechos de praia localizados em frente à vila, local de maior concentração urbana e que abriga grande parte dos hotéis. Nesta área estão concentradas as maiores galerias de despejo de esgoto. A decisão, que atinge as orlas final e da Escadaria, foi tomada pelo juiz Érico Rodrigo Freitas Pinheiro, da Vara Federal em Santarém, acatando pedido do Ministério Público Estadual (MPE).
Pesam também na interdição o surto de hepatite ocorrido em Alter do Chão no início deste ano e o resultado de pesquisa encomendada pelo MPE à Ufopa, que indicou a presença de coliformes fecais em quatro áreas. Os impactos podem ser ainda maiores por conta do fluxo intenso de turistas na alta temporada, neste segundo semestre. Quando as águas do Tapajós começam a baixar, deixando à mostra praias de areia branca, a vila de 5 mil moradores recebe até 80 mil pessoas.
A população de Santarém é a terceira maior do Pará. São 292.520 habitantes, de acordo com o levantamento "Estimativas da População para Estados e Municípios 2015", do IBGE, divulgado recentemente. Nos últimos anos, a cidade ganhou mais de 2 mil moradores.
Pressão - Três fatores contribuem para a poluição das águas de Alter do Chão: as casas da vila e proximidades não são atendidas por sistema de coleta de esgotos, navios e barcos de turismo despejam dejetos diretamente no rio e a urbanização irregular avança na direção de áreas de proteção ambiental ao longo do Tapajós.
Decreto expedido no início do ano pelo prefeito de Santarém, Alexandre Von, proíbe o acesso de embarcações poluidoras à área do balneário. Somente poderão circular aquelas equipadas com banheiros químicos, disse o prefeito, em comunicado. Ele afirma que trabalha na elaboração de projeto em parceria com o governo do Estado e Ministério das Cidades para a instalação de um sistema de coleta e tratamento de esgoto em Alter do Chão - o que não tem prazo para começar.
Na semana passada, a Justiça determinou a retirada de ocupações ilegais em áreas de preservação permanente da região e na área de proteção ambiental de Alter do Chão. O MPE, em ação civil pública, denunciou a existência de ocupações irregulares às margens do igarapé Cuicuera e do Lago Verde, com a demarcação de ruas e desmate para a construção de casas. De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente de Santarém (Semma), a polícia foi informada sobre as ilegalidades. A desocupação das áreas não foi iniciada.
[@#podcast#@]