O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos) reagiram às recentes declarações do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que demonstram uma tentativa de distanciamento da imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O mineiro pontuou diferenças entre ele e Bolsonaro, em evento na segunda-feira, 25, como a atuação na pandemia de covid-19 e a presença de familiares da política. Também defendeu a "união da direita" em congresso no fim de semana.
A empresários, nesta segunda, o governador justificou a campanha que fez a favor de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 e de 2022, dizendo que o apoio se deu por causa do seu antipetismo, e não pela concordância com as ideias do ex-presidente.
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"Em Minas Gerais, apesar de nós termos 320 mil funcionários públicos, eu não tenho nenhum parente. Então, também temos aí uma diferença. Família para lá, negócios e carreiras para cá. São algumas diferenças. Mas eu tenho muito mais proximidade com ele (Bolsonaro) do que com quem governou Minas antes", acrescentou o governador. A gestão anterior à dele foi do PT.
A declaração foi alvo de críticas dos filhos do ex-presidente. Eles argumentaram que a ascensão política deles ocorreu pela influência do pai, mas que foram eleitos. "'Vamos unir a direita', 'Família para lá, negócios para cá'. A propósito, eu e meus irmãos fomos eleitos (e bem eleitos graças ao Jair Bolsonaro)", escreveu Eduardo, o filho "03", no X (antigo Twitter) nesta terça-feira, 26.
"Atacar a família acontece bastante quando não parecem gostar muitos dos seus e acabam usando essa baixeza digna de um malandro com cara de pastel", disse Carlos, o "02", também na rede social, nesta quarta, 27.
Carlos ainda chamou o governador de Minas de "insosso e malandro" e afirmou que ele "traz consigo uma colocação ardilosa digna de João Doria, aquele que pede desculpas a Lula depois de sempre ter usado Bolsonaro". Ele se referiu ao pedido de desculpas do ex-governador de São Paulo por falas sobre a prisão do petista.
No evento na segunda, Zema também lembrou das posturas que adotou durante a pandemia, antagônicas às de Bolsonaro. Zema tomou quatro doses de imunizante contra a covid-19 e incentivou a população de Minas a se vacinar. "Sou de um partido diferente dele (Bolsonaro). Durante a pandemia, tive uma posição totalmente diferente da dele."
Eduardo Bolsonaro também rebateu a declaração, com o compartilhamento de uma notícia do Portal R7, de março de 2021, que dizia que lojas da família de Zema ficaram abertas e funcionaram normalmente durante o período do isolamento social.
'União da direita'
No último sábado, 23, durante um congresso conservador em Belo Horizonte, Zema defendeu a união da direita e foi interrompido por uma pessoa da plateia com discurso antivacina. Fábio Wajngarten, assessor pessoal do ex-presidente, rebateu as declarações do governador nas redes sociais.
"Bolsonaro vem sendo perseguido desde janeiro de 2023. Não tem nenhuma ligação no meu celular, que está à disposição, 24/7 ligado, de ninguém pregando a união, nem oferecendo solidariedade, nem sugestão, nem nada. É tudo jogo de oportunismo político. Não passarão!", escreveu nas redes sociais.
No dia seguinte, no mesmo evento, Bolsonaro citou que "a direita sempre esteve unida". "O que nos falta é cada vez mais acertarmos o nosso norte", afirmou o ex-presidente, sem citar Zema.
No final de agosto, o governador mineiro condecorou o ex-presidente, entregando-lhe o título de cidadão honorário de Minas. Os dois dividem o mesmo segmento político, mas nos últimos dias Zema tem protagonizado declarações que sinalizam intenção de se descolar da imagem do ex-presidente. Bolsonaro é investigado em diversas frentes, como nos casos das joias desviadas do acervo da Presidência da República e da falsificação de comprovantes de vacinação, além da trama para se dar um golpe de Estado no Brasil.
Apoio ou distanciamento
Desde que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornou Bolsonaro inelegível, a direita tem discutido quem pode ser o seu sucessor nas próximas eleições. Apesar de estar fora da disputa, o ex-presidente tem atuado ao lado de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, na costura das candidaturas de 2024.
Eles se encontraram diversas vezes com o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que rivaliza as primeiras pesquisas de intenção de voto com o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). O PL aposta em uma aliança na candidatura de Nunes enquanto cultiva outros nomes, como o do senador e ex-ministro Marcos Pontes.
No feriado da Independência, data cara ao bolsonarismo, Nunes disse durante um almoço que não é íntimo de Bolsonaro e que aguarda apoio à sua candidatura em 2024 "no tempo" do ex-presidente, afirmando-se como um político de centro. Questionado por um dos presentes, o prefeito disse "Eu, do lado do Bolsonaro?", frase que gerou mal-estar entre o clã bolsonarista.
Fidelidade em risco
Zema e Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, são dois nomes que disputam o espólio do bolsonarismo para as eleições de 2026. A fidelidade com o ex-presidente tem sido colocada em risco porque, além da inelegibilidade, cravada pela Justiça Eleitoral, Bolsonaro está no centro de investigações que têm fechado o cerco em torno dos seus apoiadores.
Entre elas, está o caso das joias sauditas. A Polícia Federal suspeita que ele seja o líder de um esquema internacional de venda de bens de alto valor recebidos em agendas oficiais. O ex-ajudante de ordens, Mauro Cesar Barbosa Cid, estava preso desde o começo de maio e foi solto no dia 9 de setembro depois de fechar um acordo de colaboração premiada.
Os termos do acordo estão sob sigilo, mas trechos já revelados mostram que Cid falou às autoridades sobre uma reunião que Bolsonaro fez com as Forças Armadas sobre a possibilidade de um golpe de Estado. O ex-presidente tentou acessar o conteúdo da delação, sem sucesso.