O clima está mais favorável à produção de grãos em 2016, afirmou nesta quinta-feira, 4, o gerente da Coordenação de Agropecuária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Carlos Barradas. Entre as culturas beneficiadas pelo regime de chuvas estão o café e o feijão, destacou.
Em 2016, a produção de café arábica, o principal cultivado no País, deve totalizar 2,303 milhões de toneladas, 15,7% a mais do que no ano passado. "Em 2014 e 2015 tivemos quebra muito grande. Primeiro, houve estiagem muito forte em São Paulo e no sul de Minas Gerais. Já no ano passado, houve problema sério no cerrado mineiro", explicou Barradas.
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"Quer dizer, foram dois anos de produção baixa do café, apesar das exportações elevadas. Com isso, houve redução dos estoques, e os preços vêm se mantendo", acrescentou o gerente. Segundo ele, o preço da saca, que está entre R$ 490 e R$ 500, tem estimulado o plantio nas principais regiões. Em Minas Gerais, por exemplo, a produção deve ser 21,4% maior do que em 2015, com a ajuda do clima.
Já a produção de café robusta deve chegar a 676,4 mil toneladas em 2016, alta de 3,3% sobre o volume colhido no ano passado. No mês passado, houve o retorno das chuvas em algumas regiões com destaque na produção, como o Espírito Santo. Apesar disso, as médias ainda ficaram abaixo do necessário para recuperar as lavouras, prejudicadas pela estiagem de 2015.
No caso do feijão, a primeira safra, que não é irrigada e depende do clima, tem apresentado boas perspectivas. Em relação ao terceiro prognóstico, apresentado no mês passado, a estimativa de produção de feijão de 1ª safra subiu 1,7%. Na comparação com o ano de 2015, o aumento na colheita será de 18,6%, segundo o levantamento do IBGE. No total, a produção alcançará 1,591 milhão de toneladas.
"O regime está mais chuvoso este ano do que em 2015", justificou Barradas, citando principalmente os Estados do Nordeste. O Ceará, por exemplo, deve saltar da 7ª posição para a 2ª, com incremento de 268,2% na produção. No ano passado, a região havia sido atingida pela seca. No Piauí, o avanço será de 111,8%.
O feijão 2ª safra, cuja produção totalizará 1,328 milhão de tonelada, também é beneficiado pelo clima úmido. O aumento na colheita será de 1,8% em relação a 2015.
"Tivemos quatro anos de seca no Nordeste, mas este ano está muito melhor. É uma espécie de redenção", disse Barradas.
Soja e milho
Apesar de o clima chuvoso ter favorecido culturas nas regiões Norte e Nordeste, os produtores do Centro-Oeste mantêm certa apreensão em relação ao regime de precipitações durante a safra de soja e milho, explicou Barradas. "Neste ano, a chuva atrasou no Centro-Oeste, o que atrasou o plantio de soja e deve atrapalhar o milho de 2ª safra", disse.
"Hoje, não se sabe se vai ter janela para chuvas beneficiarem plantação de milho", acrescentou o gerente. Somado à tendência de substituição do milho 1ª safra por soja, isso deve reduzir a oferta de milho no mercado doméstico no primeiro semestre, com repercussão sobre os preços do grão e de produtos que o utilizam como matéria-prima, como rações e carnes.
Além disso, o sul de Mato Grosso do Sul teve problemas de estiagem durante o mês de janeiro, explicou Barradas. "É uma área importante de produção no Estado. Isso acaba afetando as produções de soja e milho", afirmou o gerente.
O IBGE estima quedas de 3% e 7% para a produção de milho em 1ª e 2ª safras, respectivamente, ante o ano passado.
Na soja, o impacto do clima ainda é mínimo. Entre dezembro e janeiro, a estimativa caiu 0,1%, para 102,689 milhões de toneladas, mas os técnicos do IBGE alertam que é preciso observar o comportamento nas próximas leituras.
Cana
O novo ordenamento nas lavouras de cana-de-açúcar, com proibição de queimas e aumento da mecanização, deve levar a uma redução na produção este ano a despeito dos preços mais competitivos de açúcar e etanol, afirmou Barradas. Segundo o órgão, serão colhidas 721,389 milhões de toneladas, queda de 4,4% ante 2015.
"Em São Paulo, as lavouras estão assumindo um novo ordenamento em função da proibição da queima e do aumento da mecanização da colheita. Como a mobilização de pesadas máquinas demanda logística adicional e custosa, lavouras mais distantes e localizadas em áreas de difícil acesso tendem a não ser replantadas", explicou Barradas.
Só em São Paulo, há expectativa de queda de 6,2% na produção de cana este ano. Com isso, a colheita do Estado sai da casa das 400 milhões de toneladas, de acordo com o IBGE. Também devem ter quedas Goiás (-8,4%) e Paraná (-0,4%).