Novos combates foram registrados neste domingo (21) em Cartum, a capital do Sudão, horas depois do anúncio de uma trégua de uma semana que deve começar na segunda-feira e foi aceita pelo Exército e os paramilitares, que estão engalfinhados em uma luta pelo poder.
Os mediadores americanos e sauditas anunciaram que, após duas semanas de negociações em Jidá, na Arábia Saudita, as partes adversárias chegaram a um acordo de cessar-fogo de sete dias, "que entrará em vigor às 21h45 de Cartum [16h45 em Brasília] de 22 de maio".
Entretanto, dezenas de tréguas já foram violadas desde que o conflito começou há cinco semanas.
"Não confiamos neles: toda vez que anunciam uma trégua, retomam os combates imediatamente", explicou Adam Issa, comerciante de Darfur, região do leste do país e a mais afetada pelos enfrentamentos junto com a capital Cartum.
Desde que os confrontos começaram em 15 de abril entre o Exército, comandado pelo general Abdel Fattah al Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), do general Mohamed Hamdan Daglo, cerca de mil pessoas morreram e mais de um milhão tiveram que abandonar suas casas.
A infraestrutura deste país da África Oriental, um dos mais pobres do mundo, também pagou um alto preço.
Quase todos os hospitais de Cartum e Darfur já não podem funcionar, e os médicos denunciam que há bombardeios aéreos e de artilharia contra os centros de saúde.
A maior parte dos cinco milhões de habitantes da capital está trancada em suas casas, sem água ou eletricidade, e os grupos humanitários pedem o estabelecimento de corredores para levar mantimentos, medicamentos e combustível.
Em Cartum, muitos moradores relataram que suas casas foram saqueadas e ocupadas por paramilitares.
- 'Levar minha mãe ao médico' -
"Ao contrário de tréguas anteriores, o acordo alcançado em Jidá foi firmado pelas partes e apoiado por um mecanismo internacional de monitoramento americano-saudita", asseguraram Riade e Washington.
Hussein Mohamed, morador de Cartum, espera que a trégua seja respeitada. "Assim poderei levar minha mãe ao médico: ela precisa vê-lo toda semana, mas não conseguimos ir desde o dia 13 de abril", contou ele à AFP.
Burhan e Daglo deram um golpe de Estado em 2021 para expulsar os civis do poder, mas a luta recente entre ambos pelo controle do país afundou o Sudão no caos.
Na sexta-feira, o general Burhan destituiu o general Daglo de seu posto de adjunto no Conselho de Soberania, e o substituiu por Malik Agar, um antigo rebelde. Também nomeou três de seus apoiadores mais leais no alto comando do Exército.
Ontem, Agar anunciou em uma nota que deseja "parar a guerra e sentar-se à mesa de negociações", mas exige a integração das FAR ao Exército regular, o ponto de discórdia que desembocou na guerra.
"A estabilidade do Sudão só poderá ser restabelecida por um exército profissional unificado", assinalou.
No Sudão, mais da metade da população necessita de ajuda humanitária, um número jamais visto nesse país de 45 milhões de habitantes.
A ONU calcula que, se a guerra continuar, mais um milhão de sudaneses podem buscar refúgio nos países vizinhos, que temem um efeito de contágio.