Não, eu ainda não consegui sair da minha fase de desenhos japoneses. E não, também não terminei a minha longa lista dos filmes do estúdio Ghibli (mas tô quase lá!) que começou com o meu lindo e leve O Castelo Animado, que falei na vez passada. Posso dizer que tem sido uma deliciosa fase essa minha e que aconselho a quem tá sem uma maratona-pra-chamar-de-sua a arrumar logo uma, porque é bem divertido cumprir uma lista dessas. Sem compromisso de ter hora pra acabar, só com a perspectiva de ter um bom passatempo nas horas vagas. Sem falar nos bem-vindos frutos que acabam surgindo, que são os excelentes filmes (ainda que role uns mais ou menos e uns ruinzinhos, no fim, compensa)!
Aí, né? Eu tô seguindo adiante na minha lista de filmes e cheguei num que já tinha recebido milhares de boas indicações, mas que deixei lááá pro fim, só porque parecia ser daqueles que a pessoa tem que respirar muito e se preparar psicologicamente antes de assistir. Meu deus como eu tava certa. O Cemitério dos Vagalumes é daqueles filmes que, depois de assistido, deixam na pessoa uma série de certezas. As minhas foram: sim, ele é lindodemorrer. Umhum, a história é simplesmente sensacional; impecável, eu diria. Faça qualquer coisa, mas não faça guerra (disso eu já sabia, mas só pra quem ainda acha uma boa ideia, #ficaadica). E a minha maior certeza de todas é a de que esse filme é pros de coração forte (e como eu tenho um dos mais fracos da história da humanidade, não, eu não vou assistir a esse filme mais nunca na minha vida!). Então, se você prefere viver a vida sem ter seu coração despedaçado e pisado em cima, fuja desse filme – mas tenta não fugir, porque ele merece ser assistido ao menos uma vez, de tão lindo que é. Guarda pra um dia de força interior.
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Eu achava que tinha atingido minha cota de choro por filme quando assisti Up – Altas aventuras, que não é filme infantil nem aqui nem na putaquepariu (não quero entrar nesse assunto, mas vamos ignorar o fator tristeza-o-suficiente-pra-toda-uma-vida que é o velhinho ser um velhinho sozinho, cheio de arrependimentos das coisas que não fez quando era jovem. Foquemos ao menos na criança super solitária que gruda no velhinho porque QUER GANHAR TODOS OS BROCHES DOS ESCOTEIROS PRA O PAI FINALMENTE DAR ATENÇÃO A ELE! Desculpaí, pra mim isso é um tanto quanto deprimente demais pra um menino pequeno estar assistindo. Ainda que tenha uma mensagem bonita e lúdica no fim. Não?!).** Mas, voltando, O Cemitério dos Vagalumes chegou devastador e eu consegui me desesperar do início ao fim, sem nunca sossegar. Mesmo nos momentos em que rola uma leveza no filme, com umas cenas bem bonitas (poxa, a cena dos vagalumes é encantadora) e alegrinhas, ainda fica um apertinho no peito, que é pra não deixar ninguém confortável demais com aquela situação. A proposta ali é incomodar mesmo.
A situação em questão é a guerra. Pra quem nunca que sabia da existência desse filme, a história narra, basicamente, uma família japonesa durante a 2ª Guerra Mundial. Quando eu digo família, é na verdade o que sobra dela. Um menino chamado Seita, com seus catorze anos (?!) e sua irmã, Setsuko, com – no máximo – cinco, que tentam sobreviver num Japão campestre constantemente bombardeado e desgraçado pela guerra. O filme desenvolve uma perspectiva mais diferente do que normalmente vemos tratada em casos de guerra. É mais difícil de encontrar uma história bem contada do ponto de vista do lado derrotado (quem quer contar ou ouvir uma história que não seja de vencedores?!). Acho que são poucos os filmes que conseguem desviar do aspecto heroico ou justificável da guerra, como esse desenho conseguiu fazer. São vários os níveis de desespero que cercam a trama, que traz a trabalhosa e complicada luta do irmão em tentar lidar com o que está acontecendo e cuidar da irmã pequena, o que não se mostra nem um pouco fácil. Porque não deve ser fácil perder a casa, a família e a vida que parecia ser tão certa e simples. Não, o caminho que Seita e Setsuko seguem não é fácil, não existem pessoas generosas, compreensivas ou humanitárias. Existe só um pessoal que não tá tão melhor que eles e que também tá ali, apenas tentando sobreviver.
Eu disse lá em cima que esse não é um filme pros de coração fraco, pra quem for sentimental já se ligar e passar longe. Mas… Não passem, não. Eu sei, eu sei. “Quem, em sã consciência, iria querer sentir tamanha tristeza? É tão melhor assistir algo mais levinho e alegre; a vida já não é lá essas coisas de tão feliz, né?” Só que tem tanto filme ruim (de baixa qualidade mesmo) que a gente assiste e se arrepende de tão horrível que foi, que chega a ser um pecado deixar de lado um tão excelente feito esse. Sem falar que é importante, de vez em quando, aventurar-se por obras mais sérias e sensíveis. Faz bem pra alma. Por mais pesado que essa aqui possa parecer (e é!), ele se encaixa naquela outra lista de filmes que são difíceis de a gente ver, mas de tão bons que são, fazem valer as lágrimas derramadas e o coração partido. O Cemitério dos Vagalumes é pra parar, respirar e refletir mesmo. E pra assistir com um lencinho (talvez um lençol) na mão, por via das dúvidas.