O ministro do Vaticano para a família, monsenhor Vicenzo Paglia, presidente do Pontifício Conselho da Família, defendeu a família tradicional e reconheceu direitos para os casais "de fato", homossexuais ou não, o que constitui uma abertura por parte da hierarquia da Igreja Católica.
Em um encontro com a imprensa, Paglia explicou que são situações que o Estado deve resolver para impedir injustiças e discriminações.
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"É preciso encontrar soluções no âmbito do código civil para garantir questões patrimoniais e facilitar condições de vida para impedir injustiças com os mais fracos", disse.
"Infelizmente, não sou um especialista em direito, mas, pelo que sei, me parece o caminho que precisa ser percorrido", acrescentou.
Paglia, um dos fundadores da Comunidade de Santo Egídio, organização que mediou conflitos internacionais, entre eles em El Salvador, e defensor da causa de canonização do monsenhor salvadorenho Arnulfo Romero, costuma ter posições abertas sobre temas sociais.
O religioso, designado no ano passado para administrar um dos ministérios-chave do Vaticano, reiterou sua defesa do casamento tradicional, entre um homem e uma mulher, que considera "elemento fundador" da sociedade.
Durante o encontro com a imprensa, Paglia analisou a atual crise atravessada pelo casamento católico frente ao aumento do divórcio, dos pedidos de legalização do casamento homossexual e do aumento do número de mães solteiras.
"As formas de vida comum não familiares constituem um verdadeiro arquipélago de situações", afirmou.
"É claro que é preciso garantir os direitos individuais", acrescentou.
Paglia ilustrou aos jornalistas as próximas iniciativas de seu ministério, entre elas o encontro mundial que será realizado no início de 2015 na Filadélfia (Estados Unidos).
O arcebispo italiano manifestou sua total oposição a formas de discriminação contra os homossexuais em alguns países, em particular no Oriente Médio e na África.
"Em vários países, a homossexualidade é considerada um crime. É preciso combater isso", disse.
Por sua vez, condenou a aprovação da adoção por parte de casais do mesmo sexo.
"A Igreja conhece o preço do que é uma família sem filhos, dos idosos sozinhos e dos doentes. A família se transformou ao longo de décadas, mas nunca vamos abandonar seu 'genoma', ou seja, que é formada por um homem, uma mulher e seus filhos", disse.
A abertura em direção à aprovação de direitos dos gays por parte de um dos hierarcas da Santa Sé divide o movimento italiano de defesa dos homossexuais.
"Pela primeira vez um hierarca da Igreja reconhece direitos de casais homossexuais e denuncia que no mundo há muitos países que consideram a homossexualidade um crime", declarou satisfeito Franco Grillini, da rede Gaynet.
Menos positiva foi a reação de Aurelio Mancuso, líder do movimento Equality Italia.
"Reconhecer os direitos individuais equivale a manter a atual situação. Ou seja, ausência de direitos", disse.
O tema da legalização do casamento gay irrompeu na Igreja católica, que até agora havia mantido uma posição firme sobre o assunto.
"O legislador deve responder a exigências que antes não existiam", afirmou o monsenhor Rino Fisichella, ministro do Vaticano para a "nova evangelização".
O religioso pede que o tema "seja debatido de forma mais ampla, e não imposto" pelos governos como ocorreu na França, Espanha e Portugal, segundo ele.