Tópicos | Operação Carne Fraca

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento informou que a China anunciou neste sábado (25)  a “reabertura total do mercado de carnes brasileiras”. O país suspendeu as importações de carnes do Brasil no início da semana, após a deflagração da Operação Carne Fraca pela Polícia Federal (PF). As investigações da PF apontaram a existência de esquema criminoso que envolve empresários do agronegócio e fiscais agropecuários que facilitavam a emissão de certificados sanitários para alimentos inadequados para o consumo.

Em nota, assinada pelo ministro Blairo Maggi, a pasta destaca que a decisão das autoridades chinesas de retomar as importações de carne brasileira resulta de negociações intensas. “Nos últimos dias, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Itamaraty e a rede de embaixadas do Brasil no exterior trabalharam incansavelmente para o êxito que se anuncia hoje”.

##RECOMENDA##

“Trata-se de atestado categórico da solidez e qualidade do sistema sanitário brasileiro e uma vitória de nossa capacidade exportadora”, destaca o ministro.

Na nota, Blairo Maggi agradece o “gesto de confiança” da China e ressalta que o país asiático nunca fechou mercado aos produtos brasileiros, “apenas tomou medidas preventivas para que tivéssemos a oportunidade de oferecer todas as explicações necessárias e garantir a qualidade da nossa inspeção sanitária”.

Para o ministro, “a regularização do ingresso da carne brasileira na China mostra o espírito de confiança mútua entre os dois países e a disposição para dialogar com boa-fé”.

A União Europeia ameaça impor novas barreiras contra a carne nacional se as autoridades brasileiras não adotarem "medidas decisivas" e anuncia que devolverá ao Brasil carregamentos das empresas envolvidas na fraude e que estejam em pleno oceano.

Num comunicado emitido nesta sexta-feira (24), Bruxelas anunciou que vai examinar as amostras colhidas nos diferentes pontos de entrada da Europa para tomar uma decisão sobre uma ampliação do embargo contra os produtos nacionais. A UE ainda indicou que vai enviar ao Brasil uma missão para realizar uma auditoria na produção nacional de carne.

##RECOMENDA##

A resposta dada pelas autoridades brasileiras não tem sido considerada como satisfatórias e, nos bastidores, diplomatas em Bruxelas não escondem a irritação diante da insistência do governo em minimizar o caso.

No início da semana, a Comissão Europeia havia anunciado que havia solicitado ao Brasil para que retirasse da lista de exportadores as empresas envolvidas na Operação Carne Fraca. Das 21 suspeitas, quatro vendiam no mercado europeu. De acordo com o comunicado, porém, esse embargo não se limitaria a essas companhias, mas a "qualquer estabelecimento no Brasil que pudesse representar um risco" para os padrões europeus.

Agora, a decisão foi ampliada por parte do segundo maior comprador de carnes nacionais. "Todos os carregamentos de estabelecimentos implicados na fraude em rota para a Europa serão rejeitados e retornados ao Brasil", disse o porta-voz da Comissão Europeia, Enrico Brivio.

Conforme o jornal O Estado de S. Paulo antecipou em sua edição de quarta-feira, a Europa não descarta novas ações e barreiras. Uma delas será o envio de uma missão para realizar uma auditoria na produção brasileira. "Isso será feito assim que possível", indicou Brivio, que acredita que os resultados estariam concluídos até meados de maio.

Também nesta sexta-feira, os chefes de escritórios de Veterinária da Europa se reuniram e optaram por aumentar os controles em todas as fronteiras. Não se descarta ainda um embargo ainda maior.

Uma reunião entre a Comissão Europeia e estados-membros foi convocada para o dia 29 de março para examinar como esses novos controles foram implementados e "harmonizar" os padrões de verificação. "Isso incluirá Estados, regiões e produtos, além de critérios microbiológicos e outros parâmetros relevantes que devem ser alvos", disse.

"À luz do resultado desses controles reforçados e da evolução da crise, e da resposta das autoridades brasileiras aos pedidos de medidas corretoras, a Comissão e os estados-membros vão concluir se futuras medidas são necessárias", afirmou Brivio.

Os veterinários, porém, alertaram que "contam com uma ação forte e decisiva por parte das autoridades brasileiras para atender suas obrigações". O recado foi interpretado como uma ameaça de que, se o comportamento do governo for mantido, novas barreiras serão estabelecidas.

"A importância dos controles sobre importações nos pontos de entrada da Europa é agora fundamental", disse Brivio. Segundo ele, assim que foi revelada "as deficiências do licenciamento no Brasil, os estados-membros introduziram controles físicos reforçados para garantir a segurança das importações do Brasil, focando em exigências higiênicas", disse.

O presidente Michel Temer classificou a carne brasileira como “a melhor do mundo”. Segundo ele, sua equipe tem obtido resultados satisfatórios no sentido de “estancar” a possibilidade de outros países proibirem a compra deste produto, após denúncias da Operação Carne Fraca, de irregularidades na fiscalização do produto.

“A carne brasileira não é fraca. A carne brasileira é a melhor do mundo”, disse Temer durante cerimônia de entrega de 1,3 mil unidades habitacionais do Programa Minha Casa, Minha Vida no Parque Residencial da Solidariedade, em São José do Rio Preto, São Paulo.

##RECOMENDA##

Segundo ele, a situação já está sendo revertida graças à atuação dos ministros das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, e da Agricultura, Blairo Maggi. “Ele [Aloysio Nunes] logo pegou a Operação Carne Fraca sabendo que nossa carne é forte e trabalhou com o Blairo Maggi para estancar essa possibilidade eventual de restrição à compra da carne brasileira, um dos grandes mercados que temos, vendida para 150 países”, disse o presidente.

“Temos feito um trabalho extraordinário para reduzir essas tensões que já começaram a ser reduzidas. A Coreia do Sul por exemplo voltou a autorizar a compra da carne brasileira”, acrescentou.

Rodovia federal

Durante a cerimônia de entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida, Temer anunciou também a liberação de R$ 87 milhões para dar sequência às obras da BR-153 na região. A exemplo do que tem feito nos últimos dias, o presidente apresentou índices positivos referentes a juros e a inflação, e o “ágio extraordinário” obtido na recente concessão de quatro aeroportos e do Porto de Santarém (PA).

“Estamos fazendo esforço para acolher todas as postulações sociais. Mas para isso é preciso restaurar as contas públicas”, disse o presidente. “Em sete ou oito meses reduzimos a inflação de 10,7% para 4,8% e a credibilidade do país está aumentando. Ontem mesmo o presidente do Banco Central disse que a inflação está em 4,8%, ou seja chegando ao centro da meta para depois baixarmos ainda mais”, disse.

Também presente no evento, o ministro das Cidades, Bruno Araújo, disse que este programa social tem, entre seus objetivos, o de fazer com que as pessoas parem de pagar aluguel. Segundo ele, essa frente de obras beneficiará cerca de 5 mil pessoas. “São R$111 milhões do Tesouro Nacional e R$13 milhões do governo estadual. É um trabalho coletivo”.

Araújo criticou a paralisação de algumas das obras previstas no Minha Casa Minha Vida. “O programa chegou a ter 60 mil unidades paralisadas por falta de recursos. Neste exato momento, o governo constrói mais de 500 mil unidades como esta. Tudo feito a partir do momento em que o governo do presidente Temer resolveu colocar as contas em ordem”, disse o ministro.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, vai reunir na próxima segunda-feira (27) todos os superintendentes estaduais na pasta. "Quero ter uma conversa clara, direta", informou. Na reunião, os representantes terão a oportunidade de relatar eventuais dificuldades e "desconfortos" na condução das atividades do ministério na ponta estadual. "É fale agora ou cale-se para sempre", explicou. "Se não trouxer os problemas agora, a operação vai pegar lá na frente."

Maggi explicou que algumas superintendências são alvo de disputa de grupos políticos. E, por vezes, o superintendente é de um grupo e suas equipes são alinhadas a outro, o que prejudica o funcionamento da fiscalização. "Se o superintendente disser que não está confortável porque tem indicação de A ou B, não tem problema, faremos as substituições", explicou.

##RECOMENDA##

Em sua edição de quarta-feira (22), o jornal O Estado de S. Paulo mostrou que 19 das 27 superintendências são ocupadas por indicados políticos, um problema que está na raiz das irregularidades encontradas pela Polícia Federal na operação Carne Fraca. Maggi já exonerou os superintendentes de Goiás e do Paraná, onde foram encontrados os problemas. Para lá, serão enviados interventores de Brasília, que ele ainda está selecionando. Nas demais superintendências, ao menos por ora, ele não pretende fazer mudanças.

O ministro disse que quer enviar, como interventores, pessoas de fora dos Estados para que tenham visão isenta, uma vez que essas superintendências estão tomadas por disputas políticas. Em audiência no Senado, Maggi disse que há uma "guerra fratricida" em algumas. "Pressão política, claro que existe", disse ele, respondendo a questionamentos da senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) sobre o tema. Ele acrescentou que Gleisi, já tendo exercido a chefia da Casa Civil "sabe como são os procedimentos, como isso acaba acontecendo." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os frigoríficos Master Carne e Souza Ramos, em Colombo, na região metropolitana de Curitiba (RMC), fecharam as portas e demitiram 280 funcionários - 150 e 130 respectivamente. Eles alegam que com a deflagração da Operação Carne Fraca, na qual ambos os frigoríficos estão envolvidos, as vendas despencaram e centenas de pedidos foram adiados. Na tarde de terça-feira (21), a unidade da BRF, de Toledo, anunciou férias coletivas para seus 1,7 mil funcionários.

O Frigorífico Souza Ramos já esteve envolvido em irregularidades anteriormente por ter supostamente comercializado 14 toneladas de salsichas fora dos padrões e também substituído perus por frangos no fornecimento de merenda escolar no Paraná, em uma operação de 2014. Logo após vencer o contrato, a BRF - que havia perdido - denunciou a empresa por ela não ter o porte necessário para o fornecimento da quantidade exigida.

##RECOMENDA##

Abate

A JBS decidiu suspender temporariamente a compra de bovinos para abate nas 11 plantas frigoríficas da empresa em Mato Grosso. A suspensão foi confirmada pela Associação de Criadores de Gado de Mato Grosso (Acrimat) e começou na terça-feira, em Araputanga e Pontes e Lacerda. A empresa justifica que a medida foi necessária para "evitar estoques".

A empresa tem 15 unidades no Estado, sendo 11 destinadas ao abate bovino. As indústrias de abate processam 21 mil animais por dia. Em nota, a JBS comunicou que "no momento está operando seu abate conforme o previsto nesta semana, no entanto, está avaliando o mercado e vai adotar as medidas necessárias para adequação do volume de produção à demanda de mercado".

Em entrevista à imprensa local, o superintendente da Acrimat, Luciano Vacari, disse que foi informado "por meio de telefonema que o abate está suspenso durante esta semana porque os compradores do mercado externo estão pedindo prazo para analisar as possibilidades de embargo".

Retração

Para o presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso, Luiz Freitas, os efeitos da Operação Carne Fraca são negativos para toda a cadeia produtiva. Segundo ele, o mercado está retraído.

Na terça-feira (21), o presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Antonio Nabhan Garcia, já informara que os frigoríficos nacionais haviam reduzido a compra de boi. "Os negócios estão parados", disse, acrescentando que "os frigoríficos não estão comprando e os pecuaristas que estão com estrutura de confinamento para fechar os bois estão apavorados", disse. O representante dos fazendeiros fez contato com frigoríficos e pecuaristas dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul e percorreu fazendas, confirmando a redução nos abates. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A tensão que o embargo da carne causou em todo o País tem testado seus limites na pequena cidade de Mineiros, município de 60 mil habitantes a 450 quilômetros de Goiânia. O clima é de desespero entre os produtores de peru e frango do município, que abastecem o complexo frigorífico da BRF Perdigão, unidade que está com as portas fechadas desde sexta-feira (17), quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Carne Fraca.

No entra e sai que há uma semana tumultua o escritório da Associação dos Avicultores Integrados da Perdigão em Mineiros (Avip), os produtores de aves buscam alguma resposta sobre o que será feito com os milhares de animais que já estão em fase de abate pelo frigorífico. "O que temos para dizer é simplesmente alarmante", afirma Fábio Lemos, vice-presidente da associação. "Estamos perdidos. Não temos nenhuma relação com as acusações, mas estamos aqui sozinhos, sem ter a menor ideia do que vai acontecer."

##RECOMENDA##

A unidade da Perdigão de Mineiros é um dos três frigoríficos que tiveram suas linhas de produção paralisadas por determinação do Ministério da Agricultura, até que se apurem as eventuais falhas sanitárias investigadas pela Polícia Federal. Em operação regular até a semana passada, o frigorífico teve sua licença sanitária aprovada em fevereiro e vinha abatendo diariamente cerca de 25 mil perus, aves que são enviadas ao exterior, principalmente a países da União Europeia.

Com o fechamento da unidade, as 219 granjas do município travaram as atividades. Nos últimos seis dias, cerca de 150 mil perus que deveriam ter deixado os criadouros para serem abatidos na unidade da BRF tiveram de continuar no campo. Esse problema se agrava diariamente, não apenas por conta do volume de aves acumuladas, mas principalmente pelo peso que os animais passam a ganhar.

O limite do peso para abate de cada ave, segundo os produtores, é de até 25 kg. Em média, os animais, conhecidos como "peru pesado", estão com cerca de 20 kg no momento do abate. Ao permanecerem nas granjas, eles ultrapassam 25 kg e não podem mais entrar na linha de produção por conta da configuração técnica da fábrica. Ou seja, não poderão ser processados pela unidade da Perdigão, além de não atenderem às exigências de boa parte dos compradores internacionais.

Nas fazendas de Mineiros, dentro de galpões ventilados 24 horas por dia e com temperatura mantida constantemente em 27 graus, há 4,3 milhões de perus em alguma fase de sua vida de seis meses até o abate. A produção no frigorífico é permanente e ocorre de segunda a sábado, o ano todo. Por dia, 25 mil aves deveriam seguir para a unidade de processamento, mas estão em cativeiro, e continuam a engordar. Por isso, cada dia de paralisação nesse processo gera um efeito em cascata em toda a cadeia.

As acusações que envolvem a unidade da BRF em Mineiros são de pagamento de propina a fiscais agropecuários para evitar o fechamento da unidade e facilitar a emissão de autorizações sanitárias. Dois funcionários tiveram prisão preventiva decretada e um vice-presidente foi alvo de condução coercitiva e busca e apreensão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), disse na manhã desta quarta-feira, 22, que o sistema de estocagem de carnes tem uma margem de 7 a 8 dias. "Depois disso, as gôndolas e os navios precisam escoar o produto, senão o processo entra em colapso", afirmou, ao chegar para uma audiência com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi.

O secretário estadual de Agricultura catarinense, Moacir Sopelsa, disse que existem cargas de frango e de suíno que não conseguem ser desembarcadas na China, em Hong Kong e na Rússia. O secretário afirmou ainda que, por causa da operação, é certo que haverá prejuízo para a produção.

##RECOMENDA##

O medo sobre a segurança da carne produzida no Brasil tem aumentado desde que foi deflagrada a operação Carne Fraca, pela Polícia Federal. Na China, após a suspensão temporária da importação de carne brasileira, as maiores redes de supermercado retiraram os produtos das prateleiras. A medida foi tomada pela Sun Art Retail e redes chinesas das globais Walmart e Metro.

De acordo com o portal Reuters, ainda que oficiais brasileiros tenham afirmado que a investigação era voltada para situações isoladas de problemas sanitários, a reação da China representa o primeiro sinal concreto do quanto o escândalo pode afetar o Brasil.

##RECOMENDA##

Além da China, a Coreia do Sul também barrou temporariamente a venda de carne de frango e exige a inspeção de todos os produtos exportados do Brasil que cheguem ao país. 

LeiaJá também:

--> Para exportar, Brasil pode ter de reduzir preço da carne

--> Carne: Suíça bloqueia importação de 4 empresas brasileiras

--> China e Coreia do Sul suspendem compra de carne brasileira

--> Importadores não descartam suspender compra de carne do BR

As medidas tomadas pelo governo diante das denúncias reveladas pela Operação Carne Fraca serão o centro das atenções na audiência pública conjunta das comissões de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) e de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado na tarde desta quarta-feira (22). O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, confirmou a presença no encontro.

A operação foi deflagrada na última sexta-feira (17) e apura o envolvimento de frigoríficos em um esquema criminoso que subornava fiscais federais para que fosse autorizada a comercialização de produtos que já estavam em condições impróprias para consumo. Após isso, países como China, Chile e a Coreia do Sul anunciaram restrições à importação de carne brasileira.

##RECOMENDA##

No final de semana, Maggi se reuniu com o presidente Michel Temer, para tratar das medidas do governo para acalmar os mercados nacional e internacional. O governo federal tem argumentado que as fraudes representam um “fato isolado” e que a inspeção brasileira é “forte, robusta e séria”.

O governo anunciou o afastamento de servidores suspeitos de envolvimento nas irregularidades investigadas. Para Temer, os problemas atingem apenas uma pequena parte do setor. “O agronegócio é para nós uma coisa importantíssima e não pode ser desvalorizado por um pequeno núcleo, uma coisa que será menor: apurável, fiscalizável e punível, se for o caso. Mas não pode comprometer todo o sistema que nós montamos ao longo dos anos", frisou.

A autora do convite a Blairo Maggi na CAE foi a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que disse estar preocupada com os impactos da Carne Fraca sobre a cadeia produtiva de carnes e também com a forma de divulgação da operação. Na CRA, o autor do pedido foi o senador Lasier Martins (PSD-RS) que quer discutir as medidas adotadas pelo Ministério da Agricultura em relação às denúncias reveladas.

Com informações da Agência Brasil.

 

A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) divulgou nota nesta terça-feira, 21, afirmando que as conclusões da Operação Carne Fraca referentes aos danos à saúde pública não têm embasamento científico, uma vez que os peritos federais foram acionados pela Polícia Federal (PF) apenas uma vez durante as investigações e que o laudo resultante desse trabalho não comprovou tais danos. Deflagrada na sexta-feira da semana passada, a operação investiga 21 frigoríficos no País.

Segundo a associação, embora a PF tenha à sua disposição 27 peritos criminais formados em medicina veterinária e outras dezenas de especialistas nas áreas de química, farmácia/bioquímica, medicina, agronomia e biologia, a participação dos especialistas em análise de fraudes alimentares não foi devidamente empregada durante a condução das investigações.

##RECOMENDA##

"As afirmações relativas ao dano agudo à saúde pública não se encontram lastreadas pelo trabalho científico dos peritos criminais da Polícia Federal, sendo que apenas um Laudo Pericial da Corporação, hábil a avaliar tal risco, foi demandado durante os trabalhos de investigação, sem que se chegasse, no entanto, a essa conclusão", diz a entidade, em nota.

A associação afirmou ainda que, embora a Operação Carne Fraca seja mais uma das ações de combate à corrupção da PF, ela tornou-se "uma clara demonstração de como o conhecimento técnico e o saber científico não podem ser deixados de lado em favorecimento dos aspectos subjetivos da investigação criminal" e que a atuação adequada dos peritos poderia ter "poupado o País de tão graves prejuízos comerciais e econômicos".

Questionada sobre as afirmações da APCF, a assessoria de imprensa da Polícia Federal afirmou que não comenta posicionamentos de entidades de classe vinculadas à instituição.

Falhas

O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, afirmou que houve "falha de comunicação" na divulgação dos resultados da Operação Carne Fraca, que investiga frigoríficos do País, por suspeita de venda irregular de carne e também esquema de corrupção entre empresas e fiscais do Ministério da Agricultura para a habilitação de frigoríficos que não cumpriam as normas vigentes.

A ação, que cumpriu mais de 30 mandados de prisão e mais de uma centena de busca e apreensão, foi divulgada como a maior da história da PF.

"A operação foi necessária, havia corrupção, servidores públicos envolvidos e alguns frigoríficos. Havia crime e a investigação aconteceu. Ao final, a nota da PF diz que foi a maior operação da história. Por causa do quê? Você dizer que é a maior, envolve uma série de variáveis com importância, repercussão econômica, social", ressaltou Sobral. "Ao dizer que é a maior, dá uma dimensão muito grande, que talvez tenha gerado essa interpretação de que aqueles fatos eram um problema sistêmico, de todo o mercado produtivo brasileiro", completou.

O delegado considerou que, apesar de a investigação ter durado dois anos, não significa que a saúde dos consumidores tenha sido colocada em risco. "Não tenho detalhes da investigação. Do que eu vi, quando havia risco de um produto chegar ao consumidor, algumas medidas eram acionadas para evitar isso. Você continua com a investigação, mas não permite que a saúde seja prejudicada. É algo comum numa investigação dessa envergadura."

Desde segunda-feira, a associação dos delegados da PF realiza o Congresso Nacional dos Delegados de Polícia Federal, em Florianópolis. Cerca de 400 policiais federais participam do evento, até esta quinta-feira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O juiz Marcos Josegrei da Silva, da Operação Carne Fraca, mandou, nessa terça-feira (21) soltar oito investigados que estavam presos temporariamente. O magistrado prorrogou a custódia de três alvos de mandados de custódia por mais cinco dias.

A Operação Carne Fraca mira corrupção na Superintendência Federal de Agricultura no Estado do Paraná (SFA/PR) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. No rol de empresas investigadas pela Polícia Federal estão a JBS, dona da Seara e da Big Frango, a BRF, controladora da Sadia e da Perdigão, e os frigoríficos Larissa, Peccin e Souza Ramos.

##RECOMENDA##

Na lista de irregularidades identificadas pela PF estão o pagamento de propinas a fiscais federais agropecuários e agentes de inspeção em razão da comercialização de certificados sanitários e aproveitamento de carne estragada para produção de gêneros alimentícios. Os pagamentos indevidos teriam o objetivo de atender aos interesses de empresas fiscalizadas para evitar a efetiva e adequada fiscalização das atividades, segundo a investigação.

A Polícia Federal havia pedido a prorrogação das prisões temporárias de Alice Mitico Nojiri Gonçalves, Antonio Garcez da Luz, Brandizio Dario Junior, Celso Dittert de Camargo, Leomar José Sarti, Luiz Alberto Patzer, Marcelo Tursi Toledo, Mariana Betipaglia de Santana, Osvaldo José Antoniassi, Rafael Nojiri Gonçalves e Sidiomar de Campos. A Federal apontou para o "volume de elementos colhidos quando do cumprimento dos mandados, a necessidade de suas reinquirições e a possibilidade de que, em liberdade, atentem contra a ordem pública".

O Ministério Público Federal manifestou-se pela prorrogação da prisão temporária somente de Rafael Nojiri Gonçalves, que ainda na foi ouvido pela PF.

Marcos Josegrei da Silva anotou não ser "justificável, nesse momento", manter as prisões de todos os investigados por mais cinco dias. "O argumento da quantidade de material a ser analisado não é o bastante para, a essa altura, justificar a manutenção dessa espécie de prisão provisória", afirmou.

"Diante desse estado de coisas, da quantidade de material a ser analisado e da imperiosidade da privação cautelar de sua liberdade, defiro em parte o pedido da Autoridade Policial e, com base na Lei nº 7.960/89, prorrogo as prisões temporárias de Rafael Nojiri Gonçalves, Antonio Garcez Junior e Brandizio Dario Junior por mais 5 dias, a contar do término do prazo atualmente em vigor", escreveu.

Os auditores fiscais agropecuários vão realizar, nesta quarta-feira, às 15h, um ato público em frente ao Ministério da Agricultura, em Brasília. O ato foi convocado pelo Sindicato Nacional da categoria (Anffa Sindical) e tem o objetivo de prestar esclarecimentos à sociedade sobre a importância do trabalho de fiscalização.

"É o trabalho do auditor fiscal federal agropecuário que certifica a qualidade do pescado, da carne, do frango, do produto orgânico que chega à mesa das famílias", afirmou o presidente da entidade, Maurício Porto, em nota. Sobre as críticas que a categoria vem sofrendo, Porto disse que a fiscalização atende aos padrões estabelecidos pela legislação. "A categoria tem todo o compromisso com a saúde do brasileiro e com o desenvolvimento da economia nacional."

##RECOMENDA##

Segundo Porto, os cargos de chefia e superintendência devem ser preenchidos por profissionais de carreira, submetidos a provas de títulos e que conheçam a região onde atuam, não por indicação política.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes criticou nesta terça-feira (21) a forma de divulgação das investigações da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal (PF). Para Mendes, houve "uma disputa pela mídia" ao se divulgar que supostos casos de adulteração de carne vencida poderiam ter afetado produtos exportados. A critica foi feita na sessão na qual Mendes acusou a Procuradoria da República de vazar nomes de citados nas delações da Odebrecht.

"Um delegado decide fazer a maior operação já realizada no Brasil e anuncia que todos nós estaríamos comendo carne podre, e que o Brasil estava exportando para o mundo carne viciada. Por que ele fez isso? Porque no quadro de debilidade da política não há mais anteparos, perderam os freios. E não querem que se aprove lei de abuso de autoridade. Então, um mero delegado anuncia operação dessa dimensão porque ele vê o crime cometido na Procuradoria da República", disse o ministro.

##RECOMENDA##

Durante a mesma sessão, o também ministro Dias Toffoli disse é preciso "evitar pirotecnias" nas operações policiais e afirmou que o Judiciário deve tomar cuidado ao manter o sigilo das diligências autorizadas. "Se todos nós comêssemos carne podre, nós não estaríamos aqui em sessão, nós estaríamos no hospital. Não teríamos servidores para fazer sessões, não poderíamos estar aqui porque estaríamos com algum tipo de infecção", disse Toffoli.

A operação Carne Fraca investiga um suposto esquema criminoso envolvendo empresários do agronegócio e fiscais agropecuários, que facilitavam a emissão de certificados sanitários para alimentos inadequados para o consumo. De acordo com a PF, frigoríficos envolvidos nesse esquema criminoso "maquiavam" carnes vencidas e subornavam fiscais do Ministério da Agricultura para que autorizassem a comercialização de produtos sem a devida fiscalização.

Integrantes da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) aprovaram nesta terça-feira, 21, requerimentos para que integrantes da cúpula do governo e da Polícia Federal prestem esclarecimentos ao Senado sobre a Operação Carne Fraca. Durante a sessão foram aprovados os convites aos ministros Blairo Maggi (Agricultura), Marcos Pereira (MDIC), Osmar Serraglio (Justiça) e ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello.

Ainda não há uma data para a realização das audiências, mas diante da urgência imposta pelos congressistas, os ministros Blairo Maggi e Marcos Pereira devem participar de sessão nesta quarta-feira, 22, prevista para ser realizada conjuntamente entre as Comissões de Assuntos Econômicos e a de Agricultura.

##RECOMENDA##

"Acho fundamental porque se trata de uma questão de Estado, não apenas de governo, a questão dos frigoríficos da carne... acho relevante que o ministro Blairo Maggi possa dar uma explicação dando a oportunidade a todos os senadores para discutir com ele sobre a real situação e implicações concretas", afirmou o presidente da CAE, Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Presente à sessão, o senador Waldir Moka (PMDB-MS) ligado ao setor de agronegócio endossou o coro de que as discussões em torno do impacto das investigações devem ser consideradas como "prioritárias". "Embora eu tenha certeza de que os outros debates também são importantes, esse é prioritário. E por que ele é prioritário? Porque o governo brasileiro está tomando - e precisa tomar rapidamente - atitudes no sentido de evitar que esses países deixem de importar a carne brasileira", afirmou.

Autora dos requerimentos aprovados na comissão, a líder do PT, senador Gleisi Hoffmann (PR), falou sobre a importância do ministro da Justiça, Osmar Serraglio, dar explicações sobre a citação de seu nome pela Polícia Federal nos grampos realizados no âmbito dessa operação.

"A partir dessa investigação, descobriu-se o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura com parlamentares do Paraná, principalmente do PMDB, inclusive envolvendo o Ministro da Justiça, Osmar Serraglio, que chega a chamar o chefe da fiscalização no Paraná, o Sr. Daniel, que é o grande responsável por toda essa articulação de fiscais com os grandes frigoríficos que detonou a operação, de "grande chefe", afirmou a petista. "Então, nós temos um problema gravíssimo aí; um problema que compromete a saúde pública, o interesse nacional, os trabalhadores, o bem estar dos consumidores brasileiros e envolve o ministro da Justiça, que tem de dar explicações a esta Casa sobre como se relacionava com os fiscais do Ministério da Agricultura", emendou a senadora.

O governo da Jamaica está adotando algumas das medidas mais duras contra a produção e a exportação de carnes do Brasil, após o caso da fraude investigada pela Polícia Federal. O governo do país caribenho apelou para que a população simplesmente não coma carne brasileira e ordenou que supermercados retirem de suas prateleiras os produtos no setor bovino.

Todos os produtos considerados como sendo da lista da fraude do Brasil ainda serão retirados dos supermercados. Até que o caso seja examinado, toda a importação de carne brasileira será suspensa da Jamaica.

##RECOMENDA##

Em determinados setores, o Brasil fornece 99% do mercado jamaicano de carne bovina. O anúncio foi feito pelo ministro de Comércio, Karl Samuda, que organizou uma reunião de emergência e, numa nota pública, explicou as medidas que seu governo tomaria para garantir a "segurança do consumidor". Testes químicos ainda vão ser realizados nos produtos no mercado local para avaliar o impacto.

Nesta terça-feira, 21, Hong Kong e o governo da Suíça também adotaram barreiras contra a carne nacional. Mas apenas relativas às empresas envolvidas na suposta fraude.

As autoridades suíças anunciam que também bloquearam a entrada da carne brasileira produzida por empresas envolvidas na fraude revelada pela Polícia Federal, chamada Operação Carne Fraca. Berna não revelou o volume de importação. Mas indicou que seguiu o mesmo padrão adotado pela Comissão Europeia.

"Como somos parte da Europa, bloqueamos o mesmo número de empresas que a UE", disse Stefan Kunfermann, porta-voz do Escritório de Veterinária da Suíça. Berna não faz parte da Comissão Europeia, mas já há anos tem como tradição seguir os mesmos padrões adotados por Bruxelas. Das quatro unidades, duas são de aves, uma de carne bovina e outra de equídeos.

##RECOMENDA##

Na segunda-feira, 20, as autoridades europeias explicaram que exigiram que todas as empresas envolvidas no escândalo tenham seus produtos impedidos de entrar no mercado europeu, orientando os membros do bloco para que adotem "uma vigilância extra" ao tratar de qualquer produto brasileiro no setor de carnes.

Bruxelas confirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que, se o Brasil não retirasse essas companhias da lista de exportação, a União Europeia (UE) iria bloquear a entrada dos produtos. O continente europeu consome cerca de 10% de toda a venda de carnes nacionais.

Nesta terça-feira, 21, a Comissão Europeia voltou a confirmar que, das 21 empresas envolvidas na fraude, quatro delas exportavam para o continente europeu e, assim, foram retiradas da lista de exportadores. Nas próximas semanas, o comissário de Assuntos de Saúde da UE, Vytenis Andriukaitis, viajará ao Brasil e o tema estará no centro dos debates.

Por enquanto, além de UE e Suíça, os governos da China, Egito, Hong Kong e Chile indicaram um bloqueio à carne, enquanto a Coreia do Sul teria revertido sua ideia inicial.

OMC

Mas a contaminação do caso nas relações bilaterais do Brasil já é uma realidade. A partir de terça-feira, o caso chegará ainda à Organização Mundial do Comércio (OMC) e os negociadores brasileiros já foram solicitados a explicar a dimensão do escândalo e como o comércio internacional seria afetado. O caso não será tratado pelos juízes da entidade. Mas em comitês técnicos.

Desde a eclosão do novo caso, os principais parceiros comerciais se mobilizam para levantar o assunto durante a reunião em Genebra. Diversos governos também indicaram que querem pedir reuniões bilaterais com o Brasil nesta semana para obter esclarecimentos sobre a fraude na carne.

O Itamaraty, junto com técnicos do Ministério da Agricultura, se prepara para dar uma resposta, trazendo os detalhes da investigação da PF e tentando reverter os embargos.

A operação da Polícia Federal (PF) que revelou a violação de regras sanitárias por frigoríficos brasileiros deve causar duplo impacto nas exportações de carnes, segundo avaliação da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), entidade que abriga empresas exportadoras a importadoras. A instituição acredita que as restrições que outros mercados devem ter ao País poderá reduzir os volumes vendidos entre 10% e 15%.

Além disso, o episódio pode reduzir a reputação da carne brasileira de categoria no mercado internacional, algo que forçaria seus produtores a cobrar menos do que os concorrentes. O resultado, conforme as previsões da AEB, seria um corte de 20% em relação aos preços que eram praticados pelo setor em mercados internacionais antes da operação Carne Fraca, deflagrada pela PF na sexta-feira.

##RECOMENDA##

No saldo final, com a queda tanto de volume como de preços, o Brasil pode perder neste ano entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões em exportações do produto. No ano passado, os embarques de carne chegaram a US$ 12,7 bilhões. "É um impacto grande", afirma o presidente da AEB, José Augusto de Castro.

O executivo diz que o choque chega num momento em que os frigoríficos brasileiros vinham conseguindo aumentar preços, com valorização de 40% da carne suína, de 10% da carne bovina e de 20% do frango nos últimos 12 meses.

Mesmo que os embargos contra o Brasil possam, pela redução de oferta, pressionar para cima os preços internacionais, os produtores brasileiros terão que vender a preços mais baixos para voltar ao mercado, diz o titular da AEB.

"O preço no mercado internacional pode subir, mas o Brasil terá de vender mais barato. A alegação dos compradores para pagar menos será de que a carne brasileira é de segunda", comenta Castro.

Ele também diz que a operação da PF deve frustrar planos de produtores brasileiros de frango de ocupar espaços da concorrência americana após a descoberta recente de mais um foco de gripe aviária no Estado do Tennessee. "Na sexta-feira, mudou tudo. Quem suspendeu a compra do Brasil terá que importar dos Estados Unidos ou ficar sem frango", diz Castro.

Acompanhamento

A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) diz se preocupar com a Operação Carne Fraca, mas acredita que o problema é pontual. O farelo de soja é usado na alimentação de animais no Brasil. "Vemos com preocupação, mas temos um entendimento bastante semelhante ao expressado pelo governo brasileiro de que se trata de um problema localizado e pequeno", disse o secretário geral da Abiove, Fábio Trigueirinho.

A associação acha cedo para projetar se haverá queda no consumo de farelo caso a operação reduza a venda de carnes. "A gente ainda não conseguiu avaliar isso, mas não acreditamos que deva ter tanto impacto. O governo está sinalizando no sentido de que não há preocupação e que o consumidor não deve se desesperar." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A decisão do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, de exonerar os superintendentes de Agricultura, Pecuária e Abastecimento dos Estados do Paraná e de Goiás foi acertada com o presidente Michel Temer no domingo, 19. Com isso, Temer tentava dar uma "resposta rápida" às irregularidades encontradas pela Polícia Federal na Operação Carne Fraca, em mais uma demonstração não só para o público externo, mas também para o interno, da disposição do governo federal de ir a fundo nas investigações contra as fraudes na fiscalização dos frigoríficos.

Apesar das inúmeras frentes do governo para apresentar reações às denúncias, o Planalto não conseguiu esconder o incômodo com o que os interlocutores do presidente chamam de "espetacularização da PF", ao anunciar a operação na Sexta-feira (17).

##RECOMENDA##

As demissões atingem indicações de aliados políticos, e o Palácio do Planalto sabe que este é um problema para o governo, que está em plena negociação com os partidos aliados para a aprovação da reforma da Previdência.

Gil Bueno de Magalhães e Júlio César Carneiro, que perderam os cargos de superintendente federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento nos Estados do Paraná e de Goiás, respectivamente, foram indicados por PP e PTB. O problema é que o estrago na base deve ser ainda maior porque o número de demissões poderá ser ampliado, à medida que as investigações avançarem.

Cargos técnicos

Esse episódio serviu para que um outro tipo de cobrança chegasse ao Planalto, contrariando a prática adotada de nomeações políticas: a de que o governo não pode continuar distribuindo a partidos políticos cargos técnicos dessa importância. O Planalto, no entanto, ainda não traçou nenhuma outra estratégia para responder a essas críticas.

O presidente Michel Temer ficou satisfeito com a repercussão do gesto político que fez no domingo, de ir à churrascaria e convidar os embaixadores e representantes estrangeiros para acompanhá-lo. Mas está muito preocupado com os primeiros embargos anunciados, principalmente com a atitude da China.

O presidente receia o golpe a um setor considerado imprescindível para ajudar na retomada do crescimento econômico e cujos resultados na exportação são de fundamental importância. O problema é que a notícia chegou num momento político ruim, quando há uma tensão com a pré-divulgação da lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que atingirá políticos, incluindo integrantes do primeiro escalão do governo.

A ordem agora, de acordo com auxiliares do presidente, é que os Ministérios das Relações Exteriores e da Agricultura atuem "com toda força". O Planalto quer que as áreas técnicas dessas duas pastas não descansem enquanto não responderem a cada uma das dúvidas dos países para os quais o Brasil exporta, para evitar que os embargos sejam consumados porque revertê-los depois poderá levar anos.

Exagero

Interlocutores diretos do presidente reiteraram nesta segunda-feira, 20, que houve um "certo exagero" da Polícia Federal, ao anunciar a Operação Carne Fraca, por exemplo, "como a maior operação" já realizada. Insistiram que as fraudes foram apenas "pontuais", atingindo efetivamente apenas 21 das 4.837 unidades frigoríficas do País, sendo que, na verdade, apenas quatro tinham problemas de fraude.

Apesar da insatisfação com a espetacularização, o Planalto tenta dizer que o mal-estar é principalmente do Ministério da Agricultura com a Polícia Federal. A pasta alega não ter sido informada e diz que o modo em que a operação foi divulgada deixou o País em uma situação vulnerável. Para o governo, neste momento, é preciso que sejam explicados detalhes do ponto de vista técnico - do que foi de fato encontrado nas investigações - para tentar minimizar os danos à imagem da carne no exterior. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, visita nesta terça-feira (21) a planta da Seara em Lapa (PR), um dos alvos da Operação Carne Fraca, deflagrada na última sexta-feira (17) pela Policia Federal. A empresa é uma das que exportam para a China.

China, Coreia e Chile anunciaram nesta segunda-feira (20) restrições à compra de carne brasileira. As medidas preocupam o governo federal, que iniciou uma ofensiva para evitar o fechamento de mercados internacionais ao produto nacional - o que, na avaliação de Blairo Maggi, seria "um desastre".

##RECOMENDA##

Os investigadores da Polícia Federal responsáveis pela operação Carne Fraca avaliam os ataques desferidos pelo governo e por entidades de classe ligadas ao agronegócio como uma forma de tentar desviar o foco do esquema de corrupção descoberto pela investigação.

No entendimento de integrantes da investigação ouvidos pela reportagem, o "barulho" feito após as revelações sobre problemas sanitários nos frigoríficos e as afirmações de que a atuação da Polícia Federal deve impactar na economia servem apenas para evitar o debate sobre as "relações espúrias" entre grupos políticos e agentes públicos do Ministério da Agricultura.

##RECOMENDA##

"Temos excelente material de análise e muita coisa ainda sob sigilo. A operação é grande e ainda vai crescer bem mais", comenta um investigador.

Crítica

No domingo, após reunião com o presidente Michel Temer e representantes dos frigoríficos, o ministro da Agricultura Blairo Maggi criticou "a narrativa" criada pela Polícia Federal na Carne Fraca. Após afirmar que houve "fantasias" e que é uma "idiotice" achar que os produtores colocariam, por exemplo, papelão em embutidos, como foi apontado pelas investigações, Maggi disse que as investigações vão tomar "um outro rumo" na medida em que a pasta ajudar a PF com informações técnicas do setor de carnes.

Outro foco

Para um investigador ouvido pela reportagem, após a reação do governo e das empresas, as pessoas "esqueceram completamente" da corrupção envolvida no caso e as notícias ganharam um novo enfoque. "Agora, elas estão focadas só no suposto problema causado no setor de exportação de carne", disse o investigador.

Sobre o objetivo da Carne Fraca, o investigador lembra que a operação é conduzida por agentes federais da delegacia de Repressão ao Crime Organizado, a mesma envolvida na operação Lava Jato, e, por isso, tem como foco possíveis crimes de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo agentes públicos e privados.

Sobre as questões sanitárias que deram à operação contornos de escândalo de saúde pública e desrespeito com o consumidor no Brasil e no mundo, o investigador lembra que essas questões são apenas a consequência das irregularidades, mas que não são o foco principal dos envolvidos no caso.

Para evitar que o debate siga a narrativa de interesse do governo e das empresas envolvidas no esquema investigado pela Operação Carne Fraca, os investigadores pregam que os trabalhos se concentrem nos atos de corrupção, "para não deixar as críticas perturbarem" o andamento da apuração. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando