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Muitas pessoas sentem vontade de iniciar uma jornada pela escrita e contar histórias que alcancem outras vidas. Para isso, é necessário ter criatividade, determinação e capacidade para lidar com os desafios.
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A Semana da Criação Literária, evento on-line e gratuito que irá ocorrer entre os dias 25 e 31 de janeiro, foi idealizada com o propósito de auxiliar pessoas que pensam em descobrir e melhorar habilidades, bem como seguir profissionalmente a carreira de escritor ou escritora.
Tiago Novaes, escritor, tradutor e doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), ministrará aulas que pretendem mostrar, entre outras coisas, obstáculos que impedem o desenvolvimento da escrita. Falta de confiança, dificuldade para encontrar inspirações, medo e até mesmo falta de tempo são os fantasmas que assombram os jovens escritores.
Tiago Novaes desenvolveu o gosto pela escrita na infância, com a leitura. “Minha tia contava histórias à beira da cama antes de dormirmos, meu irmão e eu. Eram histórias fantásticas, com terras distantes, dragões, florestas encantadas. Aí vieram os livros. E um livro puxa outro. Na adolescência, Clarice, Graciliano, Guimarães, Saramago. A poesia. Eu era um aluno bastante medíocre na escola, e a exceção sempre foram as redações, onde sinto que eu destilava estas leituras”, revelou.
O escritor destacou que, inicialmente, há um prazer simples e inocente diante do papel, uma inspiração, um entusiasmo. Depois vem um um desejo de alçar voo maior, de contar uma história melhor, desenvolver os personagens. “Aos poucos a gente passa a querer transmitir a ambiguidade da vida nos próprios escritos. E é um desafio que vai sendo trabalhado continuamente, identifica-se com a experiência de vida, com as perguntas que fazemos e que nunca alcançam resposta”, explicou.
A Semana da Criação Literária surgiu com a intenção de ajudar as pessoas a se apropriarem da própria língua e da própria voz, informou Tiago. Segundo ele, desde as oficinas presenciais que ministrou a partir da publicação do seu primeiro romance, surgiu um senso de “missão literária”. “Acredito que ainda somos jovens, como país e cultura em termos de narrativas escritas. Quantas histórias por escrever! Romances psicológicos, históricos, ficções científicas. Ainda precisamos mapear na ficção a nossa cultura, que se diversificou e tem revelado a sua complexidade”, disse.
Para incentivar aqueles que querem escrever mas que são impedidos pelas inseguranças, Tiago afirma que o primeiro passo é retirar o lugar do "Grande Escritor" de um pedestal inalcançável e mostrar que a escrita é um ofício como qualquer outro, com suas complexidades. Para Tiago, o grande segredo da criação literária é que não existe segredo e sim que existe trabalho, insistência, paixão revigorada, comunidade.
“A escrita criativa entra neste movimento. É uma disciplina tão jovem quanto a psicanálise e foi fundada por um reitor na Universidade de Iowa, um sujeito chamado Carl Seashore. Nos EUA existem centenas de programas de graduação e pós em escrita. No Brasil este movimento ainda é emergente. Parte do meu trabalho é de difusão deste conhecimento”, assinalou o escritor.
Tiago Novaes entende que a questão da criatividade está em aceitar que é sempre necessário buscar objetos em um lugar diferente, enxergá-los de uma nova perspectiva. “Os livros fazem isso. As viagens. A análise ou autoanálise. O debate intelectual e literário. O sujeito criativo é um sujeito curioso, desassossegado. Precisamos abandonar as questões narcísicas, como 'Isso é para mim?', 'Eu sou bom o suficiente?', e passar a fazer perguntas de dentro da prática, que são bem menos autocentradas”, acrescentou.
O escritor comenta que vive de atividades ligadas à escrita e conhece muitas pessoas que fazem o mesmo. Durante a Semana da Criação Literária, Tiago vai mostrar como o autor pode enveredar por esse caminho. Também terá a discussão sobre a estruturação de uma obra a partir do romance "Torto Arado", de um dos antigos participantes de suas oficinas on-line, Itamar Vieira Jr. “Por fim, vamos oferecer orientações práticas para aprimorar a escrita e algumas reflexões que o escritor deve realizar de saída para que possa superar as questões extrínsecas à obra: o medo da falta de talento, a dificuldade em lidar com o tempo da escrita, dentre outras”, complementou.
Experiências válidas
O escritor e jornalista Tiago Júlio Martins contou que conhece e recomenda a participação nas aulas de Tiago Novaes, pois ele possui experiências válidas para quem deseja seguir a carreira de escritor. “Acho um trabalho muito incrível porque ele ensina técnicas muito legais para quem está começando, até para pessoas mais experientes têm teorias muito eficazes na construção de enredos. Já assisti alguns vídeos dele e eu recomendo participar do evento, porque tudo que vem a somar e agregar para a nossa escrita, nossa bagagem cultural, nossa bagagem técnica eu acho superválido”, disse.
Ele também relata que o seu hábito pela leitura surgiu na infância. “Comecei a ler com as revistinhas da Turma da Mônica, principalmente. Depois minha tia me dava livros infantis, então eu lia Ziraldo, li outras coisas também.”
Tiago explicou que a escrita é algo natural desde os seus 17 anos e que aperfeiçoou com a profissão de repórter. "Exercitei bastante a minha aptidão como escritor, jornalista, redator e sempre foi uma forma de me encontrar comigo mesmo”, afirmou.
Como escritor, publicou dois livros, “Cabeça Bipolar” e “Outubro”, cada um com as suas particularidades de construção. “O 'Cabeça Bipolar' escrevi praticamente em fluxo de consciência. Foi um processo muito orgânico, não me preocupei tanto com o enredo, forma. Já no 'Outubro' eu precisei me preocupar mais com a estrutura, com o desenvolvimento do enredo em si”, explicou.
Tiago Júlio contou que os autores que mais lhe inspiram são Manuel de Barros, Ferreira Gullar, José Saramago, Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Hilda Hilst, Caio Fernando Abreu e Paulo Leminski. “São escritores que têm uma obra muito rica. Se um dia eu conseguir chegar no dedinho do pé de algum deles, em sentido de qualidade literária, eu já vou ficar muito feliz”, completou.
O escritor também relatou que já sofreu com bloqueio criativo. “A forma que eu encontrei para lidar com isso foi buscando outras fontes de arte para me inspirar, na música, no cinema, nas artes visuais, na dança, e procurei me inspirar a partir do trabalho de outros artistas, acho que é uma boa ferramenta que pode ajudar bastante”, contou.
Para as pessoas que desejam se tornar escritoras, Tiago Júlio conta que o mais importante é escrever sem a preocupação de estar produzindo um texto grandioso e que há formas de autopublicação gratuita na internet, facilitando a intensificação da prática da escrita. “A nossa escrita é a troca que a gente tem com o leitor”, finalizou.
Vivências literárias
A jovem escritora Giovanna Maués, estudante de Odontologia e amante de livros, apesar de não ter um livro publicado ainda, compartilhou um pouco sobre sua vivência ao escrever histórias. Ela diz que seu gênero preferido é o romance e todas as variações dele (romance de época, romance de fantasia, romance contemporâneo, etc.) e que se inspira muito em autoras como Sarah J Maas, Angie Thomas e Julia Quinn.
“Eu gosto muito de literatura, mas percebi que um dos meus gêneros preferidos tem pouca representatividade. Comecei a escrever como uma tentativa de reverter esse cenário. Queria que mais pessoas se sentissem representadas em um gênero que eu gosto tanto”, destacou.
Giovanna também falou de alguns entraves no momento de transcrever o que ela deseja para história no texto. “Uma das maiores dificuldades é achar as palavras certas para encaixar no texto, que transmitam o que eu tô pensando.”
A jovem escritora comentou também sobre o que a ajuda mudar essa situação. “O que me ajuda muito é ler livros do mesmo gênero que eu estou escrevendo.”
Emanuelle Estumano, de 20 anos, escreve desde quando era criança. Poemas ou textinhos, mas nada sério, até os seus 12 anos, quando começou a ter crises de ansiedade e encontrou na escrita uma forma de refúgio.
“Quando eu tinha 12 anos comecei a ter crises de ansiedade e isso me impulsionou a escrever músicas. Fiz muitas durante a adolescência, pois eram como desabafos do que eu sentia ou mensagens positivas que eu queria ouvir quando me sentia assim. Depois fui adentrando no mundo das narrativas e comecei a criar histórias ficcionais que eu escrevia para não esquecer. Com o tempo foi virando hobby e hoje acho que já é mais do que isso”, afirmou.
Segundo Emanuelle, a escrita é resultado de vivências relacionadas a sua fé ou no âmbito social. Cada música de sua autoria, esclareceu, tem um pouco de experiências espirituais, emocionais e sociais vividas por ela.
“Escrevo sobre o que vejo, o que ouço, o que leio. Então, algo que eu vi na parada de ônibus pode render uma boa ideia. Gosto bastante de traços da vida real misturados com a ficção. Quando se lê, é difícil saber o que é verdade e o que não é”, comentou Emanuelle.
Emanuelle falou sobre os desafios de publicar seus escritos. “Acho que o maior desafio é o que vem depois que o trabalho está pronto. Criar não é difícil em si; entretanto, tornar uma obra pública, reconhecida e vendável é. Acredito que grande parte dos escritores crie algo pensando em quem lerá aquilo, e não idealizando que a obra fique apenas engavetada. Há todo um processo, passando pelo registro de direitos autorais, publicação on-line ou a partir de alguma editora e a circulação para os leitores, isso sem uma garantia de que o trabalho será aprovado e agradará parte do público.”
“A internet tem ajudado bastante com várias plataformas disponíveis para escritores amadores divulgarem suas obras; contudo, nem sempre é fácil ganhar visibilidade e “fazer seu nome”. Eu me encontro um pouco estagnada nesse processo, pensando em como publicar minhas criações de maneira segura, ampla e benéfica, tanto para mim quanto para quem vai ler.”, comentou sobre as facilidades que temos hoje em dia com o uso da internet.
Incrições para a Semana de Criação Literária aqui.
Canal Escrita Criativa no Youtube.
Por Isabella Cordeiro, Sabrina Avelar, Yasmin Seraphico e Rita Araújo.