Diante da pandemia, o trabalho dos profissionais da fotografia também foi prejudicado, seja pelo adiamento dos eventos ou pelo isolamento social, que impede a realização de sessões fotográficas presenciais. "A renda despencou. Acredito que essa seja a principal dificuldade: pagar as contas fixas e continuar investindo grana nas saídas para as pautas", conta o freelancer da agência Frame, Anderson Lira, 42 anos, de São Paulo.
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O fotógrafo Anderson Lira | Foto: Arquivo Pessoal
Lira precisa dividir seu notebook de trabalho com o filho Theo Lira, 10 anos, que faz aulas online. "Se a pauta tiver urgência para envio e não puder perder o time, eu levo o notebook. Do contrário, deixo o computador em casa e volto pra enviar as fotos, almoçar e a tarde já posso sair para a pauta com o computador", diz Lira. Como consequência, o filho às vezes se atrasa ou sai mais cedo da aula.
O fotógrafo também tem feito cobertura de manifestações aos fins de semana, mas no início da quarentena não havia comércios abertos, por conta disso, ele não conseguia almoçar ou usar o banheiro. "O jeito era beber pouca água pra não dar vontade de ir ao banheiro e comer uns biscoitos na hora do almoço", relembra Lira.
Antes da crise, o profissional estava com diversos trabalhos agendados, como cobertura de futebol infantil, outros eventos esportivos, sociais e festas de aniversário. Para sobreviver à pandemia, Lira tem negociado suas dividas e focado no fotojornalismo e na fotografias de produtos voltados para o ecommerce.
O fotógrafo Alex Silva | Foto: Arquivo Pessoal
Outro profissional afetado pela pandemia foi o fotógrafo do jornal O Estado de S. Paulo Alex Silva, 58 anos, que costumava fotografar futebol, pratos em restaurantes e shows. Por conta da crise, Silva teve seu salário reduzido por três meses e tem se adaptado ao home office cobrindo um número menor de assuntos. "As pautas são passadas por email, o carro me pega em casa e deixa no local de trabalho com as devidas proteções possíveis", explica. Apesar das dificuldades, Silva diz que a crise econômica causada pela pandemia lhe ensinou a conter os gastos.
O fotógrafo e dono da agência FramePhoto, Thiago Bernardes, 37 anos, de São Paulo, estava preparado para cobrir as olimpíadas de 2020 no Japão, que também foram adiadas em decorrência do coronavírus. Bernardes tem feito pautas para os clientes que ainda se mantêm na ativa e coberturas de fotojornalismo. "O maior desafio é não se infectar, já que tenho filha pequena em casa, além de toda a programação que terá grande mudança até o fim do ano", afirma.
O fotógrafo Thiago Bernardes | Foto: Arquivo Pessoal
Em contrapartida, o fotógrafo freelancer Yan Boechat, 45 anos, de São Paulo, tem feito a cobertura da pandemia desde o início, em março, e encontrou dificuldades para ter acesso aos hospitais, cemitérios e outros locais que eram fundamentais para realizar o trabalho. Boechat começou a viajar pelo Brasil para clicar a realidade da pandemia. Chegou a visitar Manaus (AM) e Rio de Janeiro (RJ). "Sobre o ponto de vista profissional, a pandemia foi um momento de muitas notícias, histórias e tivemos a oportunidade de participar de um evento de proporção global, além de ter muita demanda", explica o fotógrafo. "Mas eu sei que para algumas pessoas tem sido um momento de muitas dificuldades", complementa.