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Diariamente, mais de 12 mil pessoas circulam pelo Terminal Integrado de Passageiros Antônio Farias, o TIP. Localizada na Zona Oeste da capital pernambucana, a rodoviária do Recife é a segunda maior do Brasil e conta com mais de 300 linhas de ônibus operando todos os dias em rotas diferenciadas, dentro e fora do Estado, e para alguns bairros da própria cidade - além de ser integrada ao sistema de metrô local.

Essa grandiosa porta de entrada e saída do Recife, no entanto, estava em desalinho com a personalidade da cidade. O prédio, construído em 1986, de linhas retas e cores cinzas, em nada remetia ao colorido e ao calor da cultura pernambucana. ‘Problema’ que foi resolvido em uma ação que vem ocorrendo dentro do projeto Colorindo o Recife.

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Painel da artista Ceci S. Foto: Reprodução/Instagram

Com curadoria do grafiteiro e um dos diretores do coletivo Pão e Tinta, Shell Osmo, o TIP foi o local escolhido para a atual etapa do projeto. A missão era levar as cores do São João pernambucano para a rodoviária, no entanto, a proposta acabou se enveredando por um outro caminho nas mãos dos artistas escolhidos e o que havia sido pensado para ser um 'pequeno mural' acabou tornando-se em uma revitalização do local. “O TIP não seria um painel compacto”, afirmou Shell em entrevista ao LeiaJá. 

Foram escalados para o trabalho os artistas Guto Barros, Ceci S., Ale Lopes, Tab e Leo Gospel. O desafio da equipe, segundo Osmo, era levar ao local as cores e história do povo recifense e pernambucano, o que resultou em murais multicoloridos e cheios de elementos tradicionais como o forró, o frevo e o maracatu. “(Agora), em qualquer lugar que você desembarca ou embarca, tem arte”, diz Shell. 

Parte do processo de transformação do TIP vem sendo mostrado pelo Instagram do Coletivo Pão e Tinta. Por lá, os artistas têm falado sobre o trabalho e a emoção de colocar sua arte em um lugar tão movimentado e importante para a cidade. A grafiteira Ceci disse: “Tá sendo emocionante. Tô me desafiando, nunca fiz nada do que tô fazendo agora é a primeira vez. Tá massa”. Já Guto Barros, que ficou responsável por transformar a fachada da rodoviária, falou: “É uma responsabilidade gigantesca dar uma cara nova pro TIP. Lidar com a fachada é lidar diretamente com a identidade do edifício”.  

Reprodução/Instagram

Arte na rua

Além dos painéis, que transformaram o TIP em uma verdadeira galeria de arte, os passageiros que passarem pelo lugar também poderão conferir a Mostra Urbana Popular de Arte, até esta quarta (23). Uma das paredes da rodoviária foi escolhida para exibir telas de diferentes artistas e a ideia é repetir a ação com o intuito de democratizar cada vez mais o acesso à arte. “As obras vão pra outros lugares, mas os pregos vão ficar lá e o espaço ali agora vai ser um espaço para receber arte”, garante Shell. 

Para a primeira edição da Mostra, foram selecionados 20 artistas, de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Os trabalhos expostos poderão ser adquiridos no Leilão Pão e Tinta, que acontece no dia 11 de julho de forma virtual. A iniciativa busca ajudar artistas e ateliês, que foram prejudicados pro conta da pandemia do novo coronavírus, além de oportunizar o acesso à obras artísticas com preços acessíveis. Os lances iniciais são de R$ 10 .  

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Colorindo o Recife

O projeto desenvolvido pela Prefeitura da Cidade do Recife, em parceria com grafiteiros locais, foi alvo de críticas por parte dos artistas no início deste ano. Segundo alguns grafiteiros, o trabalho vinha sendo desenvolvido sem o devido suporte, com falta de equipamentos para as pinturas em altura, falta de insumos básicos como alimentação e água e desacordos contratuais. 

Denúncias foram feitas através das redes sociais e da imprensa e, segundo Shell, após algumas reuniões com a gestão e alterações no projeto, a ação ficou mais de acordo com o que esperavam os artistas envolvidos. “Mudou o formato geral, tem muita coisa que a gente ainda tá batendo, mas talvez (consigamos) na próxima etapa, até agosto, a gente prevê. Realmente, (agora) o projeto está muito mais com nossa cara enquanto cena”.  


 

 

Com o objetivo de deixar a cidade mais bonita e ainda ajudar artistas do grafite, a Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) mantém o projeto Colorindo o Recife, por meio da Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer. A proposta é credenciar grafiteiros da cena local dando-lhes suporte e ‘telas’ para trabalhar. Em contrapartida, eles desenvolvem sua arte usando o grafite como instrumento de apropriação dos espaços públicos e, ainda, criando novos pontos turísticos na capital pernambucana.

Atualmente, mais de 60 artistas fazem parte do projeto, selecionados através de editais. O projeto tem pouco mais de três anos de lançado e já ganhou, inclusive, repercussão nacional. Alguns dos artistas envolvidos acabam sendo ‘emprestados’ para outra ação da PCR, como o Mais Vida nos Morros, que atua na revitalização de comunidades recifenses. No último domingo (14), uma intervenção artística realizada na comunidade Rosa Selvagem, na UR-7/Várzea, Zona Oeste do Recife, acabou gerando muito barulho na internet com denúncias de grafiteiros em relação aos projetos, como falta de segurança e assistência da gestão 

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A intervenção realizada em Rosa Selvagem foi o assunto das redes sociais tanto da PCR quanto do próprio prefeito João Campos (PSB) que, inclusive, fez uma visita à comunidade. Ele cumprimentou grafiteiros e apareceu em algumas fotos ao lado deles, no entanto, as imagens acabaram mostrando alguns problemas na ação. O Coletivo Pão e Tinta, grupo de artistas e articuladores sociais do Recife, identificou as irregularidades e fez uma denúncia em seu perfil no Instagram.

De acordo com a postagem do Pão e Tinta, os profissionais trabalhavam pintando em altura sem os devidos equipamentos de segurança individual (EPI). Eles também apontaram outros problemas como falta de alimentação e até água “Como vc pode ver mas fotos SEGURANÇA E EPI nenhum para executar as obras”.

Os comentários corroboravam com a denúncia. “Cadê a responsabilidade e o respeito que se espera pra com os cidadãos da cidade. Artistas explorados, e outros esquecidos”; “Fui o Cobaia disso aí, se for botar na conta do lápis devo ter recebido R$0,50 m² , foram 2 barreiras no Alto Sta. Isabel que estavam em péssimas condições, não recebi ajuda pra alimentação/transporte, segurança zero, EPI zero , o colete do talabarte era no menor tamanho, não fui atendido quando pedi material “;” Isso eh pq n viram o perigo que colocaram artistas do coletivo pra pintar o compaz do coque, segurança, instrução, apoio zero e risco de vida eminente pois não tinha nenhum EPI pros artistas”.

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Em entrevista ao LeiaJá, o grafiteiro, alpinista industrial e um dos diretores do Pão e Tinta, Shell Osmo, afirmou que os problemas vistos na ação do último domingo (14) acontecem desde o início do 'Colorindo o Recife'. Ele disse, inclusive, que já houveram acidentes entre os artistas. “Teve acidente, tem fotos, tem relatos, e não teve nenhum tipo de assistência à pessoa que sofreu o acidente. Foi um absurdo a falta de segurança, a falta de cuidado, de atenção pra o pessoal que tá pintando as barreiras”.

Segundo Shell, a prefeitura não oferece o devido suporte para que os artistas desempenhem o seu trabalho, o que acaba refletindo no próprio pagamento do serviço. “A galera só dá o dinheiro e diz qual a área pra pintar. Eles prometem cinco mil e só chega R$ 3.800, porque é R$ 1.200 de desconto. O problema maior é que esse dinheiro demora pra chegar, tem gente que terminou em junho e não recebeu. Eu pintei a ponte do Pina, foram 45 dias, eu tive que apagar barqueiro, equipe, alimentação. No final de tudo R$ 3.800 não deu pra quase nada”. 

Osmo reclama ainda da falta de diálogo com a gestão. Ele diz ter tido muita dificuldade em ser atendido pelos responsáveis pelo projeto e que só depois das denúncias feitas no Instagram foi procurado pelo Secretario de Inovação Urbana, Tulio Ponzzi, a assessoria da Secretária de Turismo e Lazer, Cacau de Paula e alguns gerentes de turismo.

Segundo o grafiteiro, uma reunião entre os artistas e a gestão deverá ser marcada ainda esta semana para que os problemas apontados por eles possam ser discutidos e os editais do Colorindo o Recife revistos. “Nos últimos três anos teve muitas irregularidades em relação a acidente, falta de pagamento, e alta de assistência. A gente quer reler o edital e fazer uma carta com as reivindicações, pontuar o que a gente acredita que seja melhor”. 

O que diz a gestão

Procurada pelo LeiaJá, a Prefeitura do Recife se pronunciou através de nota enviada por sua assessoria de imprensa. Segundo o texto, o Colorindo o Recife é uma ratificação do “compromisso” da gestão com "a consolidação de uma política pública voltada para a valorização da arte urbana” e que o projeto beneficia 70 artistas e coletivos cadastrados mediante o edital público de chamamento. 

Em relação à ação realizada na comunidade de Rosa Selvagem, no último domingo (14), a nota afirma que “assim que foi identificada uma falha pontual pelo não-uso de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), o serviço foi imediatamente suspenso e será retomado após a adoção de todos os protocolos de segurança”. 

Confira na íntegra.

A Prefeitura do Recife ratifica o seu compromisso com a consolidação de uma política pública voltada para a valorização da arte urbana, através de iniciativas como o Colorindo o Recife que, mesmo em um ano atípico como 2020, ampliou o acervo de murais e painéis em espaços abertos da capital pernambucana, com benefício direto a 70 artistas e coletivos cadastrados mediante o edital público de chamamento 002/2017. A Secretaria de Turismo e Lazer reforça que mantém diálogo aberto com todos os artistas e reafirma o seu compromisso em valorizar a arte urbana na cidade. Com relação aos pagamentos, todos são efetuados em até 30 dias após a emissão da nota fiscal do projeto executado, conforme previsto em edital, instrumento jurídico que também prevê que cabe aos artistas providenciar locomoção e alimentação enquanto executam os serviços.

Em relação à intervenção feita na Encosta de Rosa Selvagem, operacionalizada pela Secretaria Executiva de Inovação Urbana através do Programa Mais Vida nos Morros, assim que foi identificada uma falha pontual pelo não-uso de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), o serviço foi imediatamente suspenso e será retomado após a adoção de todos os protocolos de segurança.

Termina neste domingo (10), na Vila Operária, município de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, a 12ª edição do Meeting of Favela (MOF), encontro de grafiteiros do Brasil e do exterior que começou na sexta-feira (8). O evento, que reúne em média de 300 a 500 artistas por edição, é considerado o maior encontro do gênero na América Latina. “Ontem, no mural inicial, já teve mais de 200 grafiteiros”, disse à Agência Brasil o idealizador do MOF, André Lourenço, o Kajaman.

“A ideia foi concentrar em um evento anual o pessoal do grafite, não só do Rio de Janeiro, mas de outros estados. O objetivo foi trazer para a Baixada Fluminense a coisa da integração, do grafite, introduzindo o município no cenário da arte urbana”, explicou Kajaman.

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Este ano, participaram grafiteiros da França, Argentina e Japão, além de representantes de todo o Brasil. Segundo Kajaman, tão logo terminar o evento deste ano, “aprendendo com os acertos”, os organizadores do MOF começam a planejar a edição de 2018.

A adesão às atividades é voluntária e cada artista traz seu próprio material. “É como se fosse o Natal da galera, uma comemoração. É um evento que lacra o calendário de eventos do Brasil”. O MOF faz parte do Mapa da Cultura do estado do Rio de Janeiro.

Renovação

Há três anos participando do MOF, o grafiteiro Igor Moreno da Silva atua na zona norte, onde mora, no bairro de Guadalupe, próximo a Madureira. Para ele, o Meeting of Favela é um “evento ótimo, porque além de você estar encontrando seus amigos de outros estados e países, é um momento de trocar ideias e experiências também com outras pessoas e não só com a comunidade, que é algo crucial. A gente vai para lá, rola uma troca máxima com a comunidade, porque os moradores querem renovar todo ano aquela pintura no muro. Para mim, é um momento mágico”, afirmou Igor.

O artista conta que já consegue viver do grafite, que é seu trabalho e fonte de renda. A preocupação é em relação a onde ele está colocando sua arte. “Tem que estar colocando ela nos lugares certos, conhecendo bastante gente para poder expandir o que você está fazendo”, disse.

Igor salientou que os grafiteiros que participam do MOF se dedicam também a passar adiante o que sabem. “A interação com os moradores é crucial. Você está passando a experiência que tem. É algo muito importante”, definiu.

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Nascida no início de junho deste ano, a Brigada da Hora - coletivo que reúne artistas plásticos e grafiteiros do Recife e Olinda - surgiu como um movimento pelo uso da arte em prol do engajamento político. A primeira ação do grupo se deu no Cinema Duarte Coelho, equipamento cultural abandonado da cidade olindense, e, nesta terça (28), uma reunião na Casa do Cachorro Preto, às 20h, decidirá as próximas atividades da Brigada. O artista plástico Raul Córdula, idealizador do projeto, conversou com o Portal LeiaJá sobre os ideais e ideias do coletivo. 

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Incomodados com o atual momento político que o país atravessa, Raul e sua esposa, a fótografa Amélia Couto, pensaram numa maneira de materializar seu decontentamento e, artistas que são, escolheram a arte como meio para tal: "Pensei na ideia de manifestar nossa indignação a respeito do momento político que vivemos, estampando no muro nossos protestos e clamando pela restauração da democracia", disse Raul. O casal foi então ao encontro de Raoni Assis, artista plástico e coordenador da Casa do Cachorro Preto (localizada em Olinda) e, juntos, recrutaram mais de 30 artistas visuais para um primeiro encontro. A ideia de usar o grafite como meio de comunicação foi imediata: "Considero a grafitagem uma forma de comunicação fantástica, melhor de que o outdoor, porque está no horizonte da pessoa que passa".

Nesta primeira reunião, o grupo deicidiu iniciar os trabalhos da Brigada com a intervenção no Cinema Duarte Coelho, abandonado há cerca de 40 anos. "O primeiro trabalho foi feito a partir da ideia de Raoni de pintar tudo de vermelho, escrevendo apenas a assinatura 'Brigada da Hora'. Esse nome serve tanto para definir a urgência política que o momento requer, quanto para homenagear o incansável artista lutador Abelardo da Hora", explicou Córdula. Durante a ação, ocorrida no dia 19 deste mês, vizinhos do imóvel chegaram a chamar a polícia: "Um casal de policiais, por sinal muito simpáticos, parou e nos disse que telefonaram dizendo que 'vândalos' estavam atujando no cine Duarte Coelho. Conversamos bastante e eles saíram numa boa, sem nenhuma desavença", contou Raul, esclarecendo não haver necessidade de uma preocupação com este tipo de abordagem. "No caso específico do Cine Duarte Coelho, nós interferimos num edifício fisicamente degradado portanto, qualquer interferência que não signifique depredação seria uma forma de utilizar este espaço de forma política e ética.Nosso trabalho continuará no Recife e em locais de Olinda fora do Sítio Histórico onde a questão patrimonial permita".  

Agora, a Brigada da Hora se prepara para discutir uma nova ação. Nesta terça (28), os artistas se reúnem na Casa do Cachorro Preto para idealizar a próxima intervenção. "Tudo ainda é muito novo, não temos uma programação definida, mas já temos uma doação espontânea de uma parede no Recife, e já estamos em contato com outras áreas para atuar", disse o artista plástico. Ele também explicou como a sociedade pode colaborar com o movimento: "Claro que existem algumas normas estéticas que precisam ser seguidas em função da finalização da ideia, mas todo apoio será muito bem vindo. A sociedade pode contribuir se engajando na luta, doando tintas, divulgando nas redes sociais nossos propósitos e imagens geradas".

Serviço

Reunião da brigada da Hora

Terça (28) | 20h

A Casa do Cachorro Preto (Rua Treze de Maio, 99 - Carmo)

LeiaJá também

--> Brigada da Hora, um coletivo de artistas pela democracia

--> Grafitti em defesa dos direitos da mulher

O Recife é palco, neste sábado (26), de um encontro que reúne grafiteiros brasileiros e internacionais, que através de sua arte colorem muros da Rua da Fundição, próximo ao Parque 13 de Maio, área central da capital pernambucana. O “Recifusion – Festival Internacional de Graffiti” chega a sua oitava edição comemorando, mais uma vez, o 27 de março, data que homenageia esse tipo de arte.

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“Do Caos a Lata” é o tema da edição deste ano, em uma referência ao álbum “Da Lama ao Caos”, de Chico Science. Segundo o produtor do Festival, Johny Cavalcanti, o líder do movimento mangue beat é uma inspiração para os artistas de rua. “Chico Science é uma referência muito forte, não só na música, mas visualmente também. Ele era um cara muito icônico, que influenciou de alguma forma os artistas urbanos”, destacou o produtor.

Pelos menos cinco países participam do evento, como Chile e Argentina. Entre as bandeiras levantadas pelos participantes, estão a liberdade artística, a presença de pessoas de várias comunidades e a participação feminina na arte. De acordo com Johny, o fato de participantes de várias partes do Recife e do mundo estarem no evento, ajuda a fortalecer o movimento. “O mais importante é fazer as pessoas se reencontrarem. A cena se fortalece muito. O movimento do graffiti é muito forte”, complementou o produtor.   

De nome artístico Smile, o grafiteiro Carlos Júnior conheceu o graffiti no início dos anos 2000, após ler revistas e apreciar obras feitas pela cidade de Goiania, onde ele reside. Através de um amigo do Recife, Smile foi convidado para participar do evento e mostrar suas técnicas de desenho. “O que me atrai no graffiti são as letras e as cores, principalmente. A questão da junção das cores, do brilho... O beco e a rua também me atraem no graffiti”, contou o grafiteiro.

Natural de Belo Horizonte, Nica (nome artístico) é uma das mulheres grafiteiras que participam do Festival. Como o evento estimula a participação feminina no meio artístico, ela acredita que a presença da mulher deve acontecer também em outras manifestações. “A participação da mulher é importante em qualquer meio que seja de manifestação artística e cultural. Não é muito fácil esta chegada e conquistar o espaço que a gente tem de direito, mas acho que se a mulher se impor, ela consegue ter seus aliados e ficar no lugar onde quiser. Eu sou muito a favor da igualdade entre o homem e a mulher”, afirmou a artista.

O argentino Emepece é um dos convidados estrangeiros. Para ele, o fortalecimento do graffiti é fator essencial para o respeito à arte de rua. “É fundamental. É uma arte legítima, genuína. Ela ocupa o espaço público, a rua... Sempre tem uma mensagem política ou uma revelação”, disse. Já o recifense Gustavo de Albuquerque, conhecido como Guga Baygon, antes de ingressar no graffiti, se arriscou no mundo da pichação. Quando pichava, Guga sempre colocava desenhos nas paredes, mas não sabia nada sobre grafitagem. Após participar de uma oficina, começou a conhecer, a partir de 1995, as técnicas e os valores do graffitti e desta forma não deixou de representar a arte.

“A grafitagem tira todo o caos que a galera coloca na cidade. O caos que o poder público não cuida e a cidade começa a ficar abandonada. A galera do graffiti começa a desenhar e diminui esse caos”, declarou o artista recifense, em tom de crítica a falta de cuidados do poder público em relação às construções públicas espalhadas pela cidade.

Além dos desenhos feitos pelos grafiteiros, outras atividades estão programadas, até o final da tarde deste sábado, na Rua da Fundição. Artistas musicais, principalmente do estilo rap, prometem agitar o público. É tudo gratuito e aberto aos interessados.   

Com informações de Jorge Cosme

 

O festival de grafite Recifusion chega à 7ª edição em 2015 e já está com a convocatória aberta para artistas que trabalham com a técnica participarem da programação do evento. Uma novidade é que esta é a primeira vez que o festival abre uma seletiva para grafiteiros, que têm até o dia 13 de fevereiro para inscrever seus trabalhos no site oficial do evento. O Recifusion será realizado entre os dias 23 e 29 de março, no Recife, e conta com o apoio do Funcultura.

Os selecionados para integrar a equipe do evento irão produzir painéis de grafite na Culminância Multicultural, etapa do festival que acontece nos dias 28 e 29 de março. O Recifusion oferecerá aos selecionados alojamento para os dois dias da Culminância, alimentação nos dois dias de atividades, material de pintura para desenvolvimento do painel, brindes e camisa oficial do festival. A lista dos selecionados estará disponível no site do evento no dia 20 de fevereiro.

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Responsáveis por envolver o público num ritmo único e em vários momentos exaltar a cultura negra, indivíduos ligados à cultura hip hop estão perto de se tornarem profissionais. Tramita na Câmara um projeto de lei, de autoria do deputado Romário (PSB-RJ), que além de querer essa profissionalização, também determina que as atividades dessas pessoas serão regidas pelo Consolidação das Lei do Trabalho (CLT).

Segundo informações da Agência Câmara de Notícias, são definidos como profissionais da cultura hip hop os disc-jockeys (DJs) ou operadores de disco; os mestres de cerimônia (MCs); os rappers; os beat box (percussionistas vocais); os artistas de break dance ou dança de rua; e os grafiteiros. A jornada máxima de trabalho para eles, segundo a proposta, será de seis horas e carga horária não superior a 30 horas por semana.

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A proposta também informa que os futuros profissionais estão resguardados quanto aos seus direitos autorais de criação e não serão obrigados a participar de projetos que julgam a oferecer risco a sua integridade física ou moral. Eles deverão fazer registro na Superintendência Regional do Trabalho de suas regiões, porém, será necessário comprovar a aprovação e conclusão em cursos técnicos de capacitação profissional, em instituições credenciadas e reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC) ou o exercício da profissão, sem interrupções, no ano anterior à publicação de lei de regulamentação. Ainda de acordo com a proposta, menores de 18 anos não poderão exercer as profissões ligadas à cultura hip hop, ao menos que seja na condição de aprendiz, a partir dos 14 aos, ou de estagiários, aos 16 anos de idade.

O projeto de lei já está tramitando em caráter de conclusão, apensado a proposta do ex-deputado Maurício Randes, que declara o hip hop como manifestação de cultura popular de caráter nacional. Ambos os textos serão analisados pelas comissões de Cultura; de Trabalho, de Administração e Serviço Público; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Com informações da Agência Câmara de Notícias 

A Prefeitura do Jaboatão, através das Secretarias de Cultura, Juventude, Assistência Social e Mobilização, realiza o cadastro de grafiteiros e aerógrafos municipais, com objetivo de escolher as melhores composições artísticas que irão dar nova cara ao viaduto Geraldo Melo, nos dias 13 a 15 de fevereiro, em Prazeres.

O objetivo da seleção é incentivar a produção de arte urbana com a utilização de técnicas de pinturas com sprays e/ou aerógrafos na área do Viaduto Geraldo Melo e proporcionar a reflexão sobre a cultura de paz, promovendo os valores humanos e fortalecendo a relação da juventude com a sua comunidade.

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Os trabalhos, com o tema 'Cultura de Paz', podem ser enviados até esta sexta-feira (7). Um grupo de grafiteiros profissionais selecionará os 30 melhores desenhos que vão dar mais cor ao viaduto e os artistas aprovados receberão um kit contendo latas de tinta spray, tinta acrílica, 1 kit para pintura (rolo e bandeja), 1 máscara descartável e 1 par de luvas, além de uma bolsa no valor R$ 350.

Um grupo de dez grafiteiros fez um churrasco na tarde desta segunda-feira (6) na frente de dois amplos imóveis da São Paulo Previdência (SPPrev), autarquia do governo do Estado - um deles foi invadido em maio. "É a primeira ocupação artística da cidade", diz o artista Thiago de Sampaio Bender, de 34 anos. A SPPrev informou que registrou boletim de ocorrência contra a ocupação do imóvel localizado na Rua Domingos Barbieri, no Butantã, Zona Oeste da capital.

A tarde desta segunda-feira era considerada o Dia D para as intervenções do grupo por causa do BO. O imóvel da SP Prev onde os artistas assavam a carne, enquanto pintavam grafites coloridos nas paredes, abriga o movimento Ocupe - Oficinas Criativas de Ocupação Pública.

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Bender, que é morador do bairro, contou que o imóvel ficou por 12 anos sem uso, em processo de deterioração. Seguranças eram mantidos no local. Há 8 meses, Bender pediu para guardar nos galpões do prédio os materiais que usava em suas obras urbanas. Aos poucos, foi se apropriando "artisticamente" do espaço.

Começou a limpar o imóvel e plantou uma horta no jardim. As paredes da casa foram grafitadas com obras de diferentes artistas da cidade, que vieram de todas as regiões. Conforme o movimento ganhava corpo, os responsáveis pelo prédio começaram a se preocupar e pediram o imóvel de volta. Nesta segunda, era a data-limite para a saída dos artistas do edifício.

"Eles invadiram sem a nossa autorização. Vamos fazer um boletim de ocorrência e pedir ajuda da Polícia Militar para retirá-los daqui", disse um dos funcionários da SP Prev, que esteve no local observando o churrasco e as novas pinturas.

Coragem

Os artistas, contudo, prometem resistência. Bender tentou se respaldar com a declaração por escrito de 30 vizinhos confirmando que os artistas ocuparam o espaço há mais de dois anos. Ele tem planos de criar oficinas em parceria com duas escolas públicas do bairro no prédio. "Um processo de reintegração de posse leva uns quatro anos. Foi o que meu advogado disse. Vamos enfrentar com coragem", disse o artista.

O funcionário da SPPrev, que pediu para não ser identificado, foi registrar o BO na delegacia. Até a noite de hoje, a PM não havia ido ao local desocupar o imóvel. Em nota, a SPPrev informou que aguarda que sejam adotadas as medidas cabíveis para a resolução do caso. A SPPrev disse que os imóveis são herança do antigo Instituto de Previdência do Estado de São Paulo (Ipesp). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Em mais uma ação do grupo Grafitando o Recife, mais de 40 artistas de diversas comunidades da cidade vão pintar o Viaduto Tancredo Neves, no bairro da Imbiribeira, durante a manhã deste domingo (26). A iniciativa da Prefeitura da Cidade do Recife (PCR), através da Secretaria de Direitos Humanos e Segurança Cidadã (SDHSC), promove o mutirão de grafiteiros. O momento de interação entre os artistas é, principalmente, com o intuito de valorizar o trabalho e embelezar a cidade. Os grafiteiros vão retratar o período de repressão vivido durante a Ditadura Militar.

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O projeto tem como objetivo a formação de jovens e adultos visando contribuir com a melhoria da qualidade de vida das comunidades do Recife, através da democratização e descentralização das ações culturais, da construção da identidade cultural e do pertencimento. O encontro marca ainda o forte sentido na cena urbana, representada pelo grafite.  “A cidade fica mais alegre com o Grafite e esses artistas de rua, imitados e admirados por muitos jovens de nossas comunidades, são valorizados e respeitados, apesar do preconceito que ainda causam na sociedade”, afirma Amparo Araújo,secretária da SDHSC.

A ação faz parte do Projeto Inserção nas Linguagens das Artes, desenvolvido pela PCR com recursos do Projeto Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), do Ministério da Justiça.

A secretária também fala de outras intervenções feitas pela prefeitura para valorizar o grafite. (Veja o vídeo abaixo).

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Por Maira Baracho e Marina Suassuna

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"Iniciei minha vida no mundo das artes sendo um pixador, aos 9 anos de idade. Era uma criança que gostava de desenhar nas paredes, pra mim isso nunca seria um crime. Com 16 anos fiz meus primeiros grafites, impulsionado pelo rap. Passei a levar mais do que meu nome para os muros, passei a levar o que penso, o que preciso dizer". É assim que o pernambucano Galo de Souza, aos 33 anos de idade, grafiteiro há 20 anos, define sua trajetória de vida no texto de apresentação do seu blog. Para o artista, a pichação começou a ter espaço em sua vida ao mesmo em que aprendia a ler. Nos anos 1990, Galo conheceu o grafite e incorporou a rítmica nos desenhos que fazia na rua. "A diferença entre os dois é política, é de consciência, fora isso, ambos precisam se expressar. A gente pinta as ruas como se fossem cavernas, porque a gente precisa se expressar", explica.

Todavia, o rótulo de ex-pichador não se aplica a todo grafiteiro. "Se o cara já pichava ou não, é uma coinscidência. Os pichadores já estavam nas ruas e não sabiam o que era o grafite. Quando descobriram e quiseram fazer, foi mais fácil porque já faziam isso de outra forma. Já um cara que nunca pichou e conhece o grafite, passa a entender a linguagem, aprende as técnicas, começa a entender como funciona." A intensa participação do grafite nos circuitos de arte do mundo ajuda a diferenciar este movimento do que se conhece por pichação. A ideia é diferente e, ao contrário das pichações, o grafite se apresenta como arte, tem um propósito estético, uma preocupação. A pichação ainda existe, principalmente nas periferias. Mas já deixa de ser enquadrada na mesma situação do grafite, mesmo sendo responsável por originá-lo. Tornou-se óbvio caracterizar cada um.

Tendo a rua como cenário, os grafiteiros dão vida a sua inquietação artística no momento em que intervêm nos espaços públicos de maneira pacífica, pensando na possibilidade de diálogo entre as pessoas. A ideia de comunicar, sinalizar o que gostam, o que não gostam, pontuar valores, vai fazendo do grafite uma linguagem onipresente no cotidiano da cidade, conquistando um espaço de atuação que não escapa de fotografias, filmagens e principalmente dos olhos de quem transita nas ruas do Recife. "Quando eu ando pela rua, já fico olhando para as paredes e pensando: pô, aqui tem que ter um trampo", conta Galo, que também acredita na galerização da arte de rua como um fator positivo. Para a maioria dos artistas, o fato de estar ocupando museus e galerias não compromete o mérito do grafite, que, dessa forma, se torna cada vez mais visível. " O grafite pode ir em galeria, pode estar no livro, ele sempre esteve em vários lugares", defende Galo. Mesmo sem abrir mão de participar de exposições, Cajú, ex-pichador e grafiteiro há 10 anos, é enfático: "Nós não podemos deixar a rua, se não perdemos nossa essência".



Entretanto, o circuito de arte, os salões e os museus continuam abrigando pessoas conservadoras, que muitas vezes resistem à afirmação do grafite nestes espaços. Mas isso não é visto inteiramente como um problema: o grafite nasceu nas ruas e esta atitude ainda é o que garante sua existência. Os ambientes renomados do meio artístico podem fechar suas portas para os grafiteiros, mas as ruas sempre vão ter um muro em branco, pronto para receber uma mensagem urbana. O pernambucano Derlon Almeida tem no grafite uma escola. Aos 14 anos, ele conheceu a arte urbana, aos 19 começou a produzir e entender a manifestação, incentivados por artistas como Galo de Souza.

Hoje, aos 27, Derlon se apresenta como artista plástico e já levou seu trabalho para o Rio de Janeiro – onde expôs quatro vezes -, Holanda e para espaços expositivos pernambucanos como o Museu do Estado, o Museu Murillo La Greca, a Sala Nordeste e a Torre Malakoff, ao lado de figuras renomadas como Abelardo da Hora e J. Borges. Para Derlon, a ligação com a rua gera estranhamentos. “Às vezes, isso gera um pouco de dificuldade porque as pessoas pensam 'ah, ele é das ruas', mas não tem problema”, revela. "'Ele' não necessariamente precisa estar nesse circuito, ele pode ser tatuador, o que for, e nas horas livres sair às ruas. Eu, por exemplo, trabalho como artista plástico e tenho que fazer esse equilíbrio", diz o artista. Derlon nota uma resistência entre os consumidores de arte, o que influencia na decisão de curadores, apesar de existirem vários grafiteiros inseridos no circuito representando bem essa categoria de artistas.

Dentro do próprio segmento existe resistência. Artistas que começaram nas ruas e jamais saíram dela, questionam a entrada do grafite nas galerias. “Tem gente que acha que o grafite tem que ficar só na rua, questionam aqueles que querem levar sua arte para outros lugares, mas acho isso bom, as pessoas tem o direito de se expressar”, afirma Derlon.

De forma autossuficiente, sem hierarquia e obrigações uns com os outros, os grafiteiros criaram o costume de se organizar em coletivos, também chamados de crews. Dessa forma, os artistas tendem para uma nova forma de expressão, em que se conectam com outros grafiteiros que atuam em linhas diferentes da arte de rua para culminarem no mesmo objetivo. Eles produzem eventos, sem periodicidade, em que se reúnem para promover mutirões de grafite. Uma cadeia de produção acaba sendo movida por artistas em diferentes linhas e locais de ação e atuação. Existem os que dão aula em presídios, em organizações educativas, os que pintam carros, trabalham com design, ou atuam apenas nas ruas. A tendência, segundo Galo, é as oportunidades se abrirem. "O grafite envolve muita gente, muita criatividade. Quanto mais arte diferente, mais as pessoas irão refletir sobre esse momento, essa situação".

O momento e a entrada no circuito tradicional de arte - O reconhecimento do grafite enquanto arte vem se fortalecendo, principalmente, nos últimos 10 anos. Esse acesso a outro ambiente gera a afirmação destes próprios artistas, que propõem novos estilos, novas linguagens e permitem ao grafiteiro se relacionar de uma nova maneira com sua arte. “Minha estética não é agressiva, mas a atitude de ir às ruas pintar permanece a mesma”, explica Derlon. Galo sintetiza o atual momento do grafite como uma economia criativa: "Talvez tenham roubado esse termo do grafite. A gente vem fazendo economia com criatividade, a criatividade vai construindo a nossa própria economia", avalia. O grafiteiro chama atenção para os artistas que trabalham na base, atuando de maneira pouco visível, mas comprometidos com a causa artística, a exemplo daqueles que dão aula. "É algo ativista, é um trabalho, nós criamos filhos, construímos casa... Não é só uma brincadeira de pintar, é muito mais que isso. E vai amadurecer cada vez mais. Eu acredito que nós, grafiteiros, vamos ser os Picassos do futuro, o movimento muralista que lá na frente vai estar conectando outras linguagens como filosofia, história, matemática, português", prevê Galo.

Derlon acredita que esse novo momento não é fruto de uma "bondade" do circuito e dos espaços. O artista enxerga o que vem acontecendo como um reflexo da qualidade das produções. Essa entrada não tirou dos artistas a liberdade criativa. “Os artistas começaram a mergulhar num campo de pesquisa muito mais amplo, fizeram das ruas uma verdadeira galeria aberta, tiveram essa preocupação estética e acabaram sendo sugados para as galerias”, explica. É uma nova cena da arte urbana, que acontece em sintonia com o que é feito nas ruas. O artista expõe num museu, mas isso não contém o desejo de pintar o espaço urbano e coletivo, o poste, o chão, os elementos da cidade e isso também faz o grafite se expandir.

Brasil, mercado de trabalho e futuro
Derlon segue o caminho do sucesso traçado pelo novo momento do grafite no mundo, mas acredita que a manifestação ainda tem muito espaço para conquistar no circuito de arte. O grafiteiro acredita que o crescimento e afirmação desta arte se deve mais ao que é produzido do que ao espaço que é dado. “O artista não pode manter sempre a mesma obra, tem que pensar coisas novas, se atualizar, pesquisar novas influencias, eu mesmo já mudei muito meu trabalho em poucos anos, se você faz isso consegue manter sua obras por muitos anos, o mercado suporta”, conta Derlon. O Brasil é um expoente deste processo, a arte urbana do país é forte e tem muitas produções. São Paulo, maior cidade brasileira e uma das maiores metrópoles do mundo, é uma das cidades referência quando se fala nesta arte, que muitos já chamam de pós-grafite.

Derlon esteve recentemente em Amsterdam, capital da Holanda, em um projeto que envolveu 7 artistas brasileiros, em que cada uma pintava um prédio. Ele acha super importante viajar, trocar ideias, vivenciar outras cenas, conhecer outros artistas. “Comecei a viajar muitas vezes por conta própria”, conta. Na viagem a Amsterdam, muitos artistas locais questionaram a escolha por brasileiros e a produtora do evento justificou a decisão a partir do caráter "mais concreto" do nosso trabalho.

Não se fala de grafite no Brasil sem citar os Gêmeos. Eles atuam em dupla desde os anos 80 e estão entre os cinco maiores nomes do grafite mundial. “É impressionante a capacidade criativa, eles dialogam com vários elementos. A posição deles não é demagogia”, opina Derlon. A evolução da cena proporciona o reconhecimento de muitos estilos. No Recife, muitos nomes têm ganho destaque por sua identidade forte.

"Mais do que um trabalho, o grafite para mim é uma missão", declara Galo, que recebe convites de trabalho com frequência e também tem seu planejamento interno, criando ilustrações para livros e discos, entre outros. "Nem sempre dá pra fazer tudo o que eu quero, mas, aos poucos, eu vou me concentrando e realizando, como o livro que estou fazendo junto com uma amiga advogada de Porto Alegre. A ideia é falar da arte do direito e do direito à arte". Galo já passou por locais como Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Brasília, Piauí, Paraíba, Curitiba, Florianópolis, entre outros. Fora do Brasil, encarou trabalhos na Suécia, Dinamarca, Holanda, Áustria, Portugal e Peru.



Técnicas - As obras de Derlon lembram muito a estética do cordel, mas a capacidade de dialogar com o público vai além desta referência. “Quem não conhece o cordel,
lá fora, sente o mesmo impacto, isso é impressionante: o poder de comunicação desta estética, são os mesmos sentimentos. A imagem tem essa simplicidade que torna ela universal”, explica o artista. Enquanto Derlon destaca entre as técnicas utilizadas o spray, rolo, colagem (lambe-lambe), pincel e estêncil, Galo brinca com o sombreado, volume, luz e a anatomia dos desenhos, seguindo uma modalidade própria, sem seguir tendências. "A minha regra é freestyle, chegar e criar, não tem como programar o que a gente vai fazer, o processo de criação é uma coisa que flui", diz Galo sobre seu processo criaivo. Personagens se repetem em suas composições, como a nuvem, a bicicleta, a casa, o 'LA' de Love Art. Galo explica que seu grafite sempre teve a ideia de comunicar.

Desenhos com frases, balões e pensamentos presentes em suas artes dão a idea de diálogo para quem passa na rua. Muito de sua cultura e produção são inspirados no Criativismo, movimento que criou e imprimiu em suas manifestações. "Tem o cubismo, o surrealismo, expressionismo, então eu também quis criar um 'ismo'. O criativismo é criatividade com ativismo, criativismo no sentido mais orgânico, o que eu crio como vida, não só como arte", diz Galo. Segundo o ex-pichador, o seu grafite já passou de grafite: "Eu dou o nome de Galoffitis, é a minha marca", resume.

A busca por uma marca é o caminho escolhido pela maior parte dos grafiteiros que se destacam, seja na rua, seja em galerias de arte e museus. Galo e Derlon são dois ótimos exemplos de personalidade criativa que vão além do óbvio e rompem barreiras com sua criatividade e talento.

A arte urbana invade São Paulo a partir do próximo dia 20. A mostra “Grafitti Ambiente”, curada pelo artista Binho Ribeiro, pioneiro da street art no Brasil e América Latina, reunirá peças originais e inéditas das obras desenvolvidas por grafiteiros e inicia o calendário de exposições da galeria Urban Arts.

A partir das obras de street art, os grafiteiros Anjo, Does, Feik, Gafi, Graphis, Nem, Nick e Snek dão cores e vidas a Rua Oscar Freire, nos Jardins. Registros fotográficos também fazem parte da exposição que pretende celebrar o conceito artístico da grafitagem provando a qualidade e originalidade presente nas obras. Os artistas participantes da mostra coletiva são referências em estilos e agentes ativos e promotores da arte por onde passam.  

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