O amor de pai ultrapassa o entendimento das relações entre as pessoas e como simbolismo da importância dessa figura paterna, o segundo domingo de agosto é totalmente dedicado a eles. Portanto, desde o começo do século passado, com início nos Estados Unidos, a comemoração traz consigo momentos de reunião em família, entrega de presentes e troca de experiências entre pais e filhos.
Se contar com a presença de um pai é um privilégio, imagina se forem dois? Esse é o caso dos gêmeos, de nove anos, Mikeias e Mikael que foram adotados há um ano e cinco meses pelo casal de funcionários públicos Leandro Pinheiro e Júlio Miranda. Os pequenos têm motivo para comemorar a data todos os dias, afinal, contam com a presença dos pais no acompanhamento diário. “Posso dizer com toda certeza que essa foi a melhor escolha que já fizemos na vida. Porém, nosso maior desafio é formar cidadãos e lidar com as dificuldades diariamente”, explicou Leandro, que apontou a importância de caminhadar sempre junto aos filhos.
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A data comemorativa tem uma dinâmica um pouco complicada na família, afinal, os filhos precisam contemplar todos os homens importantes nas suas vidas como é o caso dos pais e avôs. “A gente precisa se dividir para poder prestigiar a data com todo mundo. Eu vou pra casa do meu pai e Júlio vai na casa do pai dele e os meninos ficam comigo. Depois disso, nós quatro nos encontramos e fazemos algo juntos como jantar ou ir ao cinema. Passamos o resto do dia juntos. Quanto a compra de presentes, eu vou com os meninos comprar os presentes e no dia entregamos juntos”, explicou Leandro.
Marcar presença na casa dos avôs também é a realidade vivida no Dia dos Pais da família do executivo de compras Ivson Melo e do bancário Carlos Alberto. Os dois têm três filhos adotivos e vivem a emoção da data há quatro anos quando o pequeno Carlos Eduardo, de nove anos, chegou. Em seguida, foi a vez dos irmãos João Lucas - de 15 anos - e Ivson Junior, de 13 anos, integrarem a família. “A gente sempre fica na expectativa para o dia dos pais, pois, como Eduardo ainda está em idade escolar, ainda ficamos na surpresa sobre as festinhas realizadas na escola, as lembrancinhas, as danças, no entanto, o que vale pra gente é a lembrança da data”, detalhou Ivson.
Além disso, o executivo lembrou que esta é uma realidade e sentimento novo para eles, afinal, na vida que levam em abrigos, essas datas não são esperadas porque eles não possuem a presença dessas pessoas como referência. “Eles estão muito voltados ao pensamento sobre a possibilidade de terem uma família, então essas datas nem existem para eles. Isso só passa a ter significado quando eles são inseridos em uma família”, explicou.
Dia dos Pais para os filhos
O conceito do Dia dos Pais é resumido brevemente nas palavras do pequeno Carlos Eduardo. “A data é muito importante pra mim porque antes eu não tinha pai e agora eu tenho dois pais. Peço a Deus que as crianças que estão na rua tenham uma família como eu, porque hoje eu sou muito feliz pelos meus pais e meus irmãos e minha família”.
Mikael expõe o seu sentimento pelos pais e a data que julga tão importante. “Pai é quem ama, cuida e protege as crianças. Ter dois pais é muito bom e muito legal e o Dia dos Pais é importante porque eu dou presente para os meus pais e lembranças”.
Não somente os pequenos veem o segundo domingo de agosto como sendo um dia de tamanha importância. “A data é muito importante pra mim porque eu nunca tive um pai que me desse amor e carinho e hoje eu tenho dois pais que me dão isso”, explicou o tímido João Lucas com o sentimento acalorado de quem vive essa realidade há apenas três anos.
Presente não é prioridade
Mesmo a data tendo um viés econômico da troca de presentes, Ivson explica que é nesses momentos em que é mostrada na prática a educação financeira. “Usamos a data comemorativa e a rotina diária para passarmos conhecimento sobre finanças, como economizar. Também discutimos sobre política e cidadania dentro de casa”, detalhou Melo que conclui importar mais a presença de todos juntos do que o bem material.
Mesmo assim, os presentes são comprados e, para isso, já sabendo a necessidade do outro, os pais adquirem os presentes e as crianças realizam a entrega. “Outras vezes eu vou com os meninos comprar o presente e no dia eles entregam, mas o mais importante não é o bem material porque nós temos que valorizar a família e as pessoas que a gente ama”.
Preconceito
Apesar do suporte, as crianças, que chegaram ao lar após um processo que levou cerca de um ano, enfrentam o desafio do preconceito. “Os meninos já passaram por situações em que crianças questionaram o fato da família deles ser composta por dois pais, mas eles reagem com tranquilidade, afinal, criança não é preconceituosa, os adultos são e as crianças precisam somente de esclarecimento”, pontua Leandro.
Por conta das lacunas e situações que já enfrentaram na vida como traumas e resquícios da vivência em casa de acolhimento, as crianças têm apoio psicológico. “O caçula (Eduardo) também recebe acompanhamento psicológico por conta da experiência de vida em abrigo. Além dele, Ivson Junior também já recebeu acompanhamento, mas o mais velho não”, apontou o executivo.
Além disso, a questão da família ser composta por dois pais também é um elemento abordado no consultório a fim de assegurá-los de que a família está acima do preconceito.