A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) divulgou, ainda no ano de 2018, um novo processo seletivo para os seus Programas de Pós-Graduação. Com mais de 500 vagas ofertadas para cursos de mestrado e doutorado, pela primeira vez a instituição disponibilizou cotas para pessoas trans.
As inscrições para o processo seletivo encerraram no dia 29 de outubro do ano passado. Segundo a Universidade, 23 candidatos solicitaram o direito às cotas, sendo 19 deles negros, um indígena, três pessoas com deficiência física e nenhum transexual, travesti ou transgênero.
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De acordo com a pró-reitora de pesquisa e pós-graduação da UFRPE, Maria Madalena Pessoa Guerra, os números precisam ser avaliados para possíveis melhorias serem implementadas, a fim de beneficiar os concorrentes. “Essa foi a primeira seleção, a gente agora vai fazer uma análise disso com mais detalhes, porque alguns programas que não tiveram as vagas preenchidas e ainda têm editais sendo avaliados, que foram abertos posteriormente. Então quando finalizar tudo a gente vai poder fazer uma análise real para ver o que isso beneficiou essas pessoas ou o que isso não beneficiou”, destaca.
A docente ainda ressalta que o objetivo das cotas para os transexuais é fazer com que a universidade seja aberta para todos. “Nós tivemos uma comissão, à época, com várias pessoas dentro da comunidade, pessoas que são ligadas à área de educação, de serviços sociais, entre outras. Algumas delas colocaram em debate a questão dos candidatos, por serem trans, por serem negros ou por serem indígenas, por algum motivo se sentem à margem do processo de seleção e do processo de inclusão no ambiente da universidade e no nosso caso na pós-graduação. Possivelmente elas têm traumas de infância, sofrem bullying e isso diminui a capacidade psicológica dessas pessoas de alcançarem essas vagas, fragilizando-as”, conclui.
Juntos, os cursos de mestrado oferecidos pela UFRPE somam 401 vagas, sendo 89 reservadas para candidatos pretos, pardos, indígenas, deficientes ou trans e 30 exclusivas para servidores da Universidade. Já para os cursos de doutorado, 128 vagas são ofertadas, em que desse montante, 29 são destinadas a candidatos pretos, pardos, indígenas, com deficiência ou trans e 14 exclusivamente para servidores da UFRPE.
Transexuais na educação
Para o gestor da Gerência de Livre Orientação Sexual (GLOS) do Recife, Wellington Pastor, a falta de transexuais no ambiente universitário reflete o preconceito existente nas universidades. “A gente precisa ver duas questões. A primeira, que é a principal, é a dificuldade que as pessoas trans têm de estar dentro das escolas e universidades. Infelizmente, a evasão escolar, que na verdade a gente nem chama de evasão, mas sim de expulsão, das pessoas trans das escolas, ainda é uma realidade. (...) chegar nos cursos de pós-graduação e mestrado é ainda mais difícil, porque se elas não conseguem nem terminar o ensino médio e chegar na universidade, é praticamente impossível elas chegarem no programa de pós-graduação”, diz.
Ainda segundo Wellington, à medida que os transexuais não chegam aos níveis mais altos de educação, a prostituição se torna cada vez mais uma opção à margem do mercado de trabalho. “Mesmo as pessoas trans que têm uma formação de nível superior, elas não conseguem ingressar no mercado de trabalho. O mercado de trabalho é, muitas vezes, um ambiente de preconceito e discriminação. Então, a medida que elas não conseguem trabalhar de forma que garanta seu sustento e possivelmente continuar os seus estudos, elas terminam tendo que encontrar outra forma de sobrevivência, e no caso dos trans, a prostituição, na maioria das vezes, é a única alternativa”, conclui.