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O governo federal exonerou Cesar Augusto Martinez do comando da Diretoria de Proteção Territorial da Fundação Nacional do Índio, (Funai), vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. A diretoria é responsável pela proteção de indígenas isolados, além de tratar de estudos e políticas de apoio a atividades de regularização fundiária, geoprocessamento, identificação e delimitação de terras indígenas. Martinez, que é delegado federal, será substituído por Elisabete Ribeiro Alcântara Lopes, que era assessora da Presidência da Funai.

Carlos Augusto Martinez (diretor exonerado) - Foto: Mário Vilela/Funai

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A troca está publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira (8) em portarias assinadas pela Casa Civil da Presidência da República e ocorre na mesma semana do desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, e do indigenista e servidor da Funai Bruno Araújo Pereira na Amazônia brasileira.

Eles desapareceram no Vale do Javari, no Estado do Amazonas, próximo à fronteira com o Peru, no último domingo (5), segundo divulgado pela organização União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). O caso ganhou repercussão internacional também pela atuação do servidor em projeto de vigilância de aldeias indígenas contra exploradores e narcotraficantes.

O desaparecimento, que está sendo investigado pela Polícia Federal, preocupa as autoridades por acontecer poucos dias após os dois receberem ameaças. Segundo nota da Univaja, ambos desapareceram quando faziam o trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte.

O presidente Jair Bolsonaro disse, nessa terça-feira (7), que o indigenista e o jornalista inglês podem ter sido executados. Bolsonaro afirmou duas vezes que "tudo pode acontecer" nessa região, classificada por ele como "selvagem", e criticou o que classificou como "aventura" da dupla.

"O que nós sabemos, até o momento, é que no meio do caminho (eles) teriam se encontrado com duas pessoas, que já estão detidas pela Polícia Federal, estão sendo investigadas. E realmente duas pessoas apenas num barco, numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. A gente espera e pede a Deus para que sejam encontrados brevemente", afirmou Bolsonaro ontem em entrevista ao SBT News.

Órgãos federais intensificam as buscas pelos dois desaparecidos. Participam do trabalho Polícia Federal, Força Nacional de Segurança Pública, além da Marinha e do Exército.

Um suspeito de envolvimento no desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira foi preso em flagrante nesta terça-feira, 7, de acordo com o procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliesio Marubo.

Em entrevista à Rádio Eldorado nesta quarta-feira, 8, Marubo afirmou que o suspeito chama-se Amarildo, conhecido como "Pelado", o mesmo que já havia prestado depoimento à polícia na terça-feira. A Polícia Civil do Amazonas confirma a prisão em flagrante por posse de munição de uso restrito, mas ainda não trata da relação dele com o desaparecimento, informa apenas que a conexão ainda será apurada. Como mostrou o Estadão, "Pelado" já havia sido interrogado como suspeito no caso.

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Segundo Marubo, há "uma vasta quantidade de provas" contra o detido, que teria relação com pescadores e caçadores da região. "Ainda estamos tentando buscar informações para esclarecer de que maneira e que grau de interesse ele possuiria nesse caso", afirmou.

O homem vive na comunidade de São Rafael, conhecida pela forte influência de garimpeiros, caçadores, pescadores e traficantes de drogas. A localidade é usada como base para invasões de terras indígenas do Javari.

Quanto ao bilhete contendo ameaças a Bruno Pereira, recebido por Marubo há um mês e meio e revelado ontem pelo Estadão, o advogado afirmou que encaminhou um pedido de abertura de inquérito para o Ministério Público Federal, mas, como não ainda não obteve resposta, continuou as atividades com normalidade.

"Se tiver atuação mais efetiva das forças, sobretudo da parte de inteligência, acho que a gente consegue, sim, avançar com algumas informações, mas estamos falando de uma área de fronteira, onde os recursos são escassos e cada vez mais o Estado é menos presente", disse.

As buscas pelos desaparecidos seguem nesta quarta-feira, três dias após a dupla ter sido vista deixando a comunidade São Gabriel em direção a Atalaia do Norte, no Amazonas.

Marubo avalia como "paliativas" e "desordenadas" as ações das autoridades na varredura da região do Vale do Javari. Segundo ele, são cerca de 35 homens do Exército, Marinha e PMs contra um grupo de 50 indigenistas atuando nas buscas.

Um bilhete apócrifo com ameaças dirigidas ao servidor licenciado Bruno Araújo Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai), e a líderes indígenas foi deixado no escritório de advocacia que representa a organização para a qual ele vinha trabalhando voluntariamente, em Tabatinga (AM). Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do The Guardian, desapareceram no domingo, quando faziam viagem a trabalho no Vale do Javari.

"Sei quem são vocês e vamos achar para acertar as contas", diz um trecho do bilhete, com a grafia corrigida, endereçado ao advogado Eliesio Marubo. "Sei que quem é contra nós é o Beto Índio, e o Bruno da Funai é quem manda os índios irem prender nossos motores e tomar os nossos peixes. (...) Se querem dar prejuízo, melhor se aprontarem. Está avisado."

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Indigenista, Pereira foi visto pela última vez há três dias, quando voltava da Comunidade São Rafael em direção a Atalaia do Norte, na companhia de Phillips. O Comando Militar da Amazônia e a Marinha enviaram ontem dois helicópteros à região para reforçar as buscas.

O percurso da dupla pelo rio deveria demorar não mais do que duas horas e Pereira era um exímio conhecedor do trajeto. Ninguém sabe o que houve. "Temos muita esperança de que tenha sido algum acidente com o barco e que eles estejam à espera de socorro", disse Beatriz Matos, mulher do indigenista. "Mesmo que eu não encontre o amor da minha vida vivo, eles têm de ser encontrados", afirmou Alessandra Sampaio, casada com Phillips.

‘AVENTURA’

Pouco depois de o Itamaraty divulgar nota, ontem, para dizer que o governo havia tomado conhecimento do assunto "com grande preocupação", o presidente Jair Bolsonaro criticou o que chamou de "aventura" da dupla.

"O que nós sabemos, até o momento, é que, no meio do caminho, (eles) teriam se encontrado com duas pessoas, que já estão detidas pela Polícia Federal, estão sendo investigadas. (...) Duas pessoas apenas num barco, numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. A gente espera e pede a Deus para que sejam encontrados brevemente", afirmou Bolsonaro, em entrevista ao SBT News.

Pereira estava licenciado de suas atividades na Funai para coordenar um projeto sobre vigilância de terras indígenas na União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja). A medida contraria narcotraficantes, garimpeiros e madeireiros que invadem a Terra Indígena do Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas com o tamanho de Portugal.

O advogado Eliesio Marubo, que recebeu o bilhete anônimo há cerca de um mês e meio, é nativo do Vale do Javari. Ele deixou o território aos 16 anos e se tornou um importante ativista nos tribunais. Marubo e Beto, citado no bilhete, também são líderes da Univaja.

"Não tenho a menor dúvida (que o sumiço de Pereira está relacionado com a ameaça). Era uma questão de tempo para acontecer. Infelizmente, é dessa maneira, até finalizarem o que eles têm de fazer. O Estado não está presente e deixa um espaço vazio. Onde o Estado não está, o crime está", disse Marubo.

IMPUNE

Outra ameaça recente ocorreu na cidade. Um piloto de embarcações da Univaja e o consultor Orlando Possuelo, filho do sertanista Sydney Possuelo, foram intimidados. "Nosso piloto e o Orlando foram parados por pessoas dizendo que eles tinham de parar o que estavam fazendo, se não ia acontecer o mesmo que aconteceu com Maxciel", contou Marubo. Maxciel Pereira era um colaborador da Funai que atuava nas bases do Vale do Javari e foi assassinado, em 2019. Até hoje, o crime está impune. (Colaboraram Felipe Frazão e Davi Medeiros)

Presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) nos anos 1990 e a maior referência nacional em estudos sobre povos isolados, o sertanista Sydney Possuelo afirma que a região do Vale do Javari, onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips desapareceram, é marcada há décadas por um conflito com criminosos que vem se recrudescendo nos últimos anos.

Em seus mais de 40 anos dedicado às causas indígenas, Possuelo fez inúmeras vezes o trajeto no qual Pereira e Phillips foram vistos pela última vez. Possuelo avalia que realizar o percurso em apenas duas pessoas e sem a presença de nativos na embarcação é algo extremamente arriscado, mas que pode estar ligado à falta de estrutura e de recursos para as ações de proteção aos territórios. É que os indigenistas sacrificam a segurança para fazer economia de recursos. Quanto menos gente no barco, menor é o consumo de combustível.

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"Algumas vezes eu fiz isso, por questão de economia. Eu me expunha para fazer economia. Não era o certo e acho que não é seguro fazer ainda que seja até Atalaia. É bom ter sempre mais que duas pessoas a bordo para ter um pouco mais de segurança e de conhecimento. Nós brancos pensamos que entramos lá e conhecemos tudo. Na verdade, somos guiados pelos conhecimentos dos povos indígenas. Eles veem coisas que a gente não tem costume, hábito e sensibilidade para ver. Eu estaria em pelo menos em quatro pessoas", afirmou.

Décadas atrás, foi iniciativa de Possuelo erguer uma base da Funai nas imediações dos rios Ituí e Itacoaí. A instalação constantemente é alvo de criminosos, que usam armas de fogo para intimidar lideranças indígenas e servidores da Funai.

Pereira e Phillips desapareceram após partirem da comunidade São Rafael em direção à cidade de Atalaia do Norte, onde teriam outros compromissos. A comunidade é conhecida por sofrer influência financeira de traficantes de drogas, garimpeiros e demais exploradores que invadem o território preservado.

Pereira coordena um trabalho de formação de equipes de vigilância em terras indígenas por meio da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Esse trabalho foi o que o fez agendar uma reunião com um líder da comunidade São Rafael. O homem, identificado como "Churrasco", não estava no local para o compromisso. Segundo pessoas que trabalham com Bruno Pereira, os riscos deram a ele o direito ao porte de arma e ele costumava andar armado.

"Os caçadores entram por ali, por isso tem a base da Funai que coloquei lá. É a porta principal de invasão. Os rios Ituí e Itaquaí levam para o coração da terra indígena. É quase uma área internacional, perto da fronteira. Tem narcotráfico, cocaína. Por lá mora todo um pessoal que tem interesse na terra indígena, principalmente madeireiros, pescadores e caçadores. São esses interesses que levantam aquela economia predatória da região. Todos que estão ali permanecem constantemente ameaçados há anos", comentou.

No retorno esperado a Atalaia, Bruno Pereira tinha um encontro com o também indigenista Orlando Possuelo, filho de Sydney. Foi ele quem primeiro estranhou a demora e se lançou à primeira procura no caminho contrário. "Eu estava no porto de Atalaia às 8 horas esperando. Esperei duas horas, ele não chegou e fomos atrás", disse. "Não tem como ele se perder no rio. Ele sabia dos perigos. De verdade, sendo sincero, infelizmente não tenho mais esperança. Agora é esperar que a polícia pegue os caras certos."

Na avaliação de Sydney Possuelo, as ameaças ao trabalho das equipes que preservam as terras indígenas se aprofundaram a partir de 2019.

"O presidente Bolsonaro é claramente desfavorável à demarcação. Os agressores se sentem mais protegidos e se expõem mais a fazer atitudes como essas", disse.

Histórico

Até outubro de 2019, Bruno Pereira atuava como coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Diretoria de Proteção Territorial da Funai. Foi demitido pelo atual presidente do órgão, o delegado Marcelo Xavier. Um mês antes, Maxciel Pereira, colaborador da Funai, foi assassinado em Tabatinga (AM) e até hoje as autoridades não solucionaram o crime.

Agente da Funai, Pereira é um dos maiores especialistas do órgão e é considerado uma espécie de sucessor de Sydney Possuelo. Ele vinha liderando todas as principais iniciativas de proteção aos povos isolados, especialmente os do Vale do Javari. A região do extremo oeste do Amazonas tem a maior quantidade de povos isolados no mundo e é parte mais intocada da floresta.

Após deixar a coordenação-geral, Pereira virou consultor da Univaja e coordenava um trabalho de formação de equipes de vigilância, com os índios, para monitoramento de invasões. Os nativos eram capacitados para operar drones e computadores. Em uma entrevista publicada pela WWF-Brasil em dezembro, o indigenista afirmou que as invasões vinham se intensificando.

"Trabalho lá há 11 anos e nunca vi uma situação tão difícil. Os indígenas dizem que hoje a quantidade de invasões é comparável à do período anterior à demarcação. Por isso, é absolutamente necessário que os indígenas busquem suas formas de organização, montando um esquema de monitoramento capaz de frear conflitos violentos", contou.

O Comando Militar da Amazônia e a Marinha do Brasil mobilizaram nesta terça-feira, dia 7, dois helicópteros para reforçar as buscas pelo indigenista Bruno Pereira, servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai), e do jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian. Eles desapareceram no Vale do Javari, próximo à fronteira com o Peru, no domingo, depois de receberem ameaças, e ainda não foram localizados.

A procura por eles começou ainda nesta segunda-feira, mas apenas por meios terrestres e por embarcações. As Forças Armadas sofreram críticas por causa de uma nota em que o Exército dizia ser capaz de cumprir uma missão humanitária de busca e salvamento, mas que aguardava instruções superiores para iniciar a operação.

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O envio de aeronaves pelo Ministério da Defesa para reforçar as buscas era um dos principais apelos de amigos e familiares dos desaparecidos, já que o deslocamento em grande parte da região de selva se faz apenas em barco ou por via aérea, forma mais eficaz para realizar uma varredura e mais rápida.

Agentes da Polícia Federal, do Comando de Operações Táticas (COT), a tropa de elite, participaram das buscas na aeronave Jaguar H225M, do 4º Batalhão de Aviação do Exército. Segundo o Exército, as buscas seguem de forma ininterrupta, com combatentes da 16ª Brigada de Infantaria de Selva.

A Marinha também havia informado que um helicóptero do 1º Esquadrão de Emprego Geral do Noroeste seria deslocado para auxiliar na missão, além de duas embarcações e de uma moto aquática. Os destacamentos da Marinha, da Capitania Fluvial de Tabatinga, já fizeram buscas pelos rios Javari, Itaquaí e Ituí.

 As famílias do indigenista brasileiro Bruno de Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips fizeram apelos nesta terça-feira (7) para que as autoridades promovam ações urgentes para encontrar os dois, que estão desaparecidos em uma área remota da Amazônia desde o último domingo (5).

Pereira, servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), e Phillips, colaborador do jornal The Guardian, visitaram uma localidade conhecida como Lago do Jaburu em 3 e 4 de junho para a realização de entrevistas com indígenas.

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Eles deveriam ter chegado na cidade de Atalaia do Norte (AM) na manhã de domingo, porém não deram mais notícias desde que saíram da comunidade ribeirinha São Rafael.

"Em virtude de mais de 48 horas do desaparecimento do nosso Bruno e seu companheiro de viagem Dom Phillips, apelamos às autoridades locais, estaduais e nacionais que deem prioridade e urgência na busca pelos desaparecidos", diz um comunicado assinado por Beatriz de Almeida Matos, companheira de Pereira, e por Max e Felipe da Cunha Araújo Pereira, irmãos do indigenista.

"Compreendemos que Bruno possui vasta experiência e conhecimento da região, porém o tempo é fator chave em operações de resgate, principalmente se estiverem feridos. É fundamental que buscas especializadas sejam realizadas por via aérea, fluvial e por terra, com todos os recursos humanos e materiais que a situação exige", acrescenta a nota.

Já a esposa de Dom Phillips, Alessandra Sampaio, divulgou um vídeo no qual faz um apelo emocionado ao governo federal e aos órgãos competentes para que intensifiquem as buscas. "A gente ainda tem um pouquinho de esperança de encontrar eles. Mesmo que eu não encontre o amor da minha vida vivo, eles têm que ser encontrados, por favor. Intensifiquem essas buscas", afirmou.

Em entrevista ao SBT nesta terça, o presidente Jair Bolsonaro disse esperar que Pereira e Phillips sejam "encontrados brevemente", mas acrescentou que não é "recomendável" fazer uma "aventura" do tipo.

O indigenista era presença frequente na região do desaparecimento, conhecida como Vale do Javari, no oeste do Amazonas, enquanto o jornalista já fez diversas reportagens na floresta, tanto que as famílias e organizações indígenas consideram pouco provável que eles tenham se perdido.

As buscas por Pereira e Phillips são feitas pela Marinha, que utiliza um helicóptero, dois barcos e uma moto aquática para cobrir uma extensa área de floresta. Já a Funai informou que deslocou 15 servidores para as operações.

Da Ansa

Sian Phillips, irmã do jornalista britânico Dom Phillips, que está desaparecido na região do Vale do Javari, no Amazonas, fez novo apelo às autoridades brasileiras para que ele e o indigenista Bruno Pereira sejam encontrados rapidamente. Em vídeo publicado nas redes sociais na noite desta segunda-feira (6), ela afirmou que sua família está "desesperadamente preocupada" e pediu que as missões de buscas empreguem todos os recursos possíveis para localizar a dupla.

"Ele ama esse país (Brasil) e se importa profundamente com a Amazônia e com as pessoas de lá", disse Sian, emocionada. "Nós sabíamos que era um lugar perigoso, mas Dom acredita que é possível proteger a natureza e o meio de vida dos povos indígenas. Ele é um jornalista talentoso e estava pesquisando para um livro quando desapareceu".

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Sian prosseguiu: "estamos realmente preocupados com ele e imploramos às autoridades que façam tudo o que puderem, que procurem no caminho pelo qual ele seguia. Se alguém puder ajudar a aumentar os recursos disponíveis para as buscas seria ótimo, porque tempo é crucial. Aqui no Reino Unido, meu outro irmão e eu estamos desesperadamente preocupados, nós amamos nosso irmão e queremos que ele e seu guia brasileiro, Bruno Pereira, sejam encontrados. Cada minuto conta".

Antes de desaparecer, Dom Phillips percorria a região fazendo entrevistas acompanhado do indigenista Bruno Pereira, que é servidor da Funai. No último domingo (5), a dupla voltava da comunidade São Rafael em direção à cidade de Atalaia do Norte, percurso que deveria demorar não mais do que duas horas.

Há cerca de um mês e meio, o advogado de Pereira recebeu um bilhete anônimo com ameaças ao indigenista. Na noite desta segunda-feira, o perfil oficial do Ministério da Defesa no Twitter informou que a pasta está "prestando todo o apoio necessário" nas buscas aos desaparecidos. Segundo o ministério, um helicóptero do 1° Esquadrão de Emprego Geral do Noroeste deve entrar na força-tarefa nesta terça-feira (7), além de duas embarcações e uma moto aquática.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) informou nessa segunda-feira (6) que está monitorando as providências que estão sendo tomadas para localizar o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, correspondente do jornal The Guardian no Brasil. 

Segundo a coordenação da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), região localizada no oeste do Amazonas, eles estão desaparecidos há mais de 24 horas. 

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"A informação repassada ao MPF é que os agentes ligados a essas forças estão fazendo varreduras no trecho entre a comunidade São Rafael e o município de Atalaia do Norte (AM), onde teria ocorrido o desaparecimento", informou a PGR. 

Na tarde de hoje, o procurador-geral da República, Augusto Aras, e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, se reuniram em Brasília para tratar de providências sobre o caso. 

Além da PGR, o Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas abriu um procedimento administrativo para acompanhar a questão e acionou a Marinha, a Polícia Federal (PF) e demais autoridades. 

Bruno Pereira e Dom Phillips chegaram na sexta-feira no Lago do Jaburu, nas proximidades do rio Ituí, para que o jornalista visitasse o local e fizesse entrevistas com indígenas. Segundo a Unijava, ontem os dois deveriam retornar para a cidade de Atalaia do Norte por volta de 9h da manhã, após parada na comunidade São Rafael, para que o indigenista fizesse uma reunião com uma pessoa da comunidade apelidado de Churrasco. No início da tarde, uma primeira equipe de busca da Unijava saiu de Atalaia do Norte em busca dos desaparecidos, mas não os encontrou.

A PF informou que também está acompanhando e trabalhando no caso. “As diligências estão sendo empreendidas e serão divulgadas oportunamente”, diz nota da instituição.

A Marinha emitiu uma nota oficial em que informa que enviou, na manhã desta segunda-feira,  uma equipe de Busca e Salvamento (SAR) da Capitania Fluvial de Tabatinga para o município de Atalaia do Norte (AM) para auxiliar nas buscas pela embarcação em que estavam o jornalista  e o indigenista. As buscas, com a participação de sete militares, seguiram ao longo da tarde e foram feitas ações nos rios Javari, Itaquaí e Ituí, no interior do Amazonas. 

A Marinha também informou que, na manhã desta terça-feira, um helicóptero do 1º Esquadrão de Emprego Geral do Noroeste também será utilizado nas buscas, além de duas embarcações e uma moto aquática.

O servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) Bruno da Cunha Araújo Pereira está licenciado do órgão para trabalhar em um projeto voltado a melhorar a vigilância em territórios indígenas contra narcotraficantes, garimpeiros e madeireiros que atuam no Vale do Javari, Estado do Amazonas. A missão, conferida a ele por uma organização que representa povos isolados e de recente contato da região, vem desafiando o poder econômico de criminosos brasileiros, colombianos e peruanos que usam aldeias e comunidades ribeirinhas para exploração da floresta e para rota de tráfico.

Pereira está desaparecido desde a manhã do último domingo (5), quando deixou a comunidade São Rafael em direção à cidade de Atalaia do Norte (AM), num percurso que deveria durar duas horas. Experiente, ele atua na região desde 2010 e estava na companhia do jornalista inglês, Dom Phillips, do jornal britânico The Guardian. Ainda não se sabe qual o paradeiro da dupla. O caso ganhou repercussão internacional e mobiliza Polícia Federal, Exército, Marinha, Força Nacional e Ministério Público Federal. O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça, Anderson Torres, ainda não se manifestaram.

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A expedição por São Rafael é considerada extremamente perigosa. Especialistas na dinâmica do crime nas imediações da Terra Indígena (TI) do Vale do Javari não recomendam a passagem pela comunidade em grupos pequenos por causa da movimentação de criminosos estrangeiros e nacionais. Bruno Pereira e Dom Phillips estavam sozinhos numa embarcação de 40 HP, nova, e com combustível suficiente para o retorno.

Segundo experientes indigenistas ouvidos pelo Estadão, a comunidade de São Rafael tem forte influência financeira de criminosos e é usada como base de partida de exploradores para dentro dos territórios protegidos. É um dos motivos para a existência de uma base da Funai, na confluência dos rios Ituí e Itacoaí. A instalação, erguida há décadas, constantemente é alvo de ataques a tiros.

A fiscalização de órgãos ambientais prejudica atividades criminosas praticadas por não indígenas. Uma simples malhadeira usada na pesca predatória pode custar R$ 5 mil e fazer parte de investimentos maiores para a estrutura necessária à exploração. Além disso, segundo indigenistas, os crimes costumam ser sobrepostos. Diferentes organizações atuam tanto no desmatamento, quanto no garimpeiro e no tráfico de drogas.

Ameaças contra servidores e membros de organizações não governamentais são comuns. A reportagem colheu relatos de funcionários da Funai que preferiam dormir com a família em um único cômodo para tentar se proteger das ameaças de incêndio contra as habitações de madeira.

A tensão na localidade existe há décadas e, de acordo com profissionais que trabalham na localidade, só vem piorando. Eles se queixam de falta de respostas das autoridades ao assassinato de Maxciel Pereira dos Santos, colaborador da Funai, morto em setembro de 2019. Ele trabalhava em uma base do órgão no Vale do Javari.

Últimos passos

O relato mais detalhado sobre os últimos passos de Bruno Pereira e Dom Phillips foi feito em conjunto pela União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), para a qual o indigenista fazia a coordenação técnica de um trabalho de vigilância, e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi).

Primeiro, eles visitaram a equipe de vigilância indígena na localidade de Lago do Jaburu, próximo à base da Funai, e Phillips pôde fazer uma série de entrevistas, na sexta-feira (3). Segundo o relato, ambos partiram na manhã de domingo, 5, de volta para a cidade de Atalaia do Norte. No caminho, porém, eles pararam em São Rafael porque Bruno Pereira tinha uma reunião marcada com um líder local identificado como "Churrasco" para tratar do projeto de vigilância nas terras indígenas.

O equipamento de GPS registrou que ambos chegaram na comunidade por volta das 6 horas de domingo. "Churrasco" não estava no local, apesar do encontro agendado e, segundo o informe, Pereira conversou com a esposa do líder antes de continuar o caminho de volta para Atalaia.

A pauta do encontro era o projeto da Univaja, coordenado por Pereira, que visa "treinar e equipar" indígenas para que eles defendam os próprios territórios com estratégias de monitoramento presencial e remoto de atividades ilegais. O Vale do Javari é 80 vezes maior do que a cidade de São Paulo e tem acessos a partir do Peru e da Colômbia.

Em uma entrevista publicada pela WWF-Brasil em dezembro, Bruno Pereira afirmava que o cenário era dramático. Por meio do projeto, os indígenas formaram equipes para que fossem treinadas, por exemplo, na operação de drones e computadores. "Trabalho lá há 11 anos e nunca vi uma situação tão difícil. Os indígenas dizem que hoje a quantidade de invasões é comparável à do período anterior à demarcação. Por isso é absolutamente necessário que os indígenas busquem suas formas de organização, montando um esquema de monitoramento capaz de frear conflitos violentos", afirmou.

Em nota, a Funai informou que Bruno Pereira "não estava na região em missão institucional" e que "está em contato com as forças de segurança que atuam na região".

O presidente Jair Bolsonaro escolheu para o comando da Funai o delegado e pastor evangélico Marcelo Xavier. Pela primeira vez desde a ditadura, nenhuma nova terra indígena foi demarcada. Xavier tem ligação com ruralistas e chegou a se tornar réu por descumprir decisão da Justiça que o obrigava a dar andamento à demarcação de um território Munduruku.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), senador Humberto Costa (PT-PE), encaminhou três ofícios pedindo informações sobre as buscas ao indigenista Bruno Araújo Pereira e ao jornalista Dom Phillips, que foram dados como desaparecidos na Floresta Amazônica nesta segunda-feira (6). 

O senador também quer apurações sobre as denúncias de que Araújo vinha recebendo ameaças em função do seu trabalho com líderes comunitários na região do município de Atalaia do Norte (AM), na fronteira com o Peru. Os ofícios foram enviados para a superintendência da Polícia Federal no Amazonas, para a Polícia Civil do estado e para a Fundação Nacional do Índio (Funai). 

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“As informações recebidas dão conta de que na mesma semana do desaparecimento a equipe havia recebido nova ameaça, conforme relatos oficializados para a Polícia Federal, para o Ministério Público Federal, para o Conselho Nacional de Direitos Humanos e para o Indigenous Peoples Rights International. Bruno Araújo era alvo de constantes ameaças em função do trabalho que vinha fazendo junto aos indígenas contra invasores na região”, explica Humberto.

O desaparecimento foi comunicado na tarde desta segunda-feira pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Segundo a entidade, Araújo e Phillips foram vistos pela última vez na véspera, deixando uma comunidade ribeirinha chamada São Rafael em direção a Atalaia do Norte. 

Bruno Araújo Pereira é servidor da Funai, especializado em trabalho com povos isolados. Entre 2018 e 2019, foi o coordenador-geral de Índios Isolados e de Recém Contatados da fundação.

O jornalista Dom Phillips é inglês, reside no Brasil há 15 anos e faz coberturas sobre meio ambiente para diversos veículos — atualmente, é colaborador do jornal britânico The Guardian. 

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, se manifestou sobre o caso pelas redes sociais. Ele afirmou que recebeu “com grande preocupação” a notícia do desaparecimento da dupla. 

“Seguirei acompanhando as operações de busca com apreensão, na expectativa de que serão envidados todos os esforços para a pronta elucidação do caso”, disse Pacheco. 

Outros senadores também exigiram apuração. Jean Paul Prates (PT-RN) lembrou que o fato acontece na véspera do Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. Randolfe Rodrigues (Rede-AP) comunicou que também enviará ofícios para os ministérios da Justiça e da Defesa e afirmou que “a indiferença não é uma opção”, lembrando da denúncia de ameaças contra Bruno Araújo Pereira. Já Paulo Rocha (PT-PA) classificou o caso como “muito grave” e pediu a ação das forças de segurança pública. 

Fake news

Humberto Costa também encaminhou ofícios à Procuradoria-Geral da República e à Polícia Federal sobre o caso das ameaças de morte dirigidas ao jornalista Lucas Neiva, do site Congresso em Foco. Neiva foi alvo de ameaças e teve dados pessoais vazados após publicar uma reportagem sobre um fórum anônimo que produz fake news em favor do presidente Jair Bolsonaro. A CDH discutiu o assunto nesta segunda-feira.  Humberto afirma que a comissão vai acompanhar as investigações e quer saber quais medidas policiais e judiciais serão adotadas. 

*Da Agência Senado

Após a notícia do desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira, neste domingo, 5, no Amazonas, a família do jornalista implorou às autoridades brasileiras que iniciem as buscas na região o mais rápido possível.

O Ministério Público Federal (MPF) afirma que já acionou a Polícia Federal, a Polícia Civil, a Força Nacional, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha do Brasil para encontrar o jornalista e o indigenista. Ainda segundo o MPF, quem conduzirá as buscas é a Marinha do Brasil pelo Comando de Operações Navais.

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"Imploramos às autoridades brasileiras que enviem a Força Nacional, a Polícia Federal e todos os poderes à sua disposição para encontrar nosso querido Dom", disse o cunhado do jornalista Dom Phillips, Paul Sherwood, em rede social. "Ele ama o Brasil e dedicou sua vida à cobertura da Floresta Amazônica".

"Entendemos que o tempo é essencial, então por favor encontrem nosso Dom o mais rápido possível", continuou.

Área remota

Segundo um funcionário do Ibama, que preferiu não se identificar, a região do Vale do Javarí faz fronteira com a Colômbia e o Peru, é de difícil acesso, conflituosa e concentra muitos pontos de garimpo ilegal. Além disso, a área também é uma rota de tráfico de cocaína.

Em nota, o Ministério Público Federal (MPF) afirma que instaurou um procedimento administrativo para apurar o caso e acionou as autoridades para buscar os dois homens desaparecidos entre a comunidade de São Rafael e o município de Atalaia do Norte (AM).

O desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira foi confirmado hoje, 6, pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari - Univaja e do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato. Eles desapareceram na manhã de domingo, 5, enquanto faziam o trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael até o município de Atalaia do Norte, no Amazonas.

Ainda no domingo uma equipe saiu de Atalaia do Norte em busca dos dois, percorrendo de barco o mesmo caminho feito por eles, mas até agora ninguém foi encontrado.

O indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, correspondente do jornal The Guardian no Brasil, estão desaparecidos há mais de 24 horas, de acordo com nota divulgada pela coordenação da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

Eles estavam no Vale do Javari, no Amazonas, e teriam recebido ameaças. O desaparecimento ocorreu no trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte. Bruno Pereira e Dom Phillips chegaram na sexta-feira no Lago do Jaburu, nas proximidades do rio Ituí, para que o jornalista visitasse o local e fizesse entrevistas com indígenas.

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Segundo a Unijava, ontem os dois deveriam retornar para a cidade de Atalaia do Norte por volta de 9h da manhã, após parada na comunidade São Rafael, para que o indigenista fizesse uma reunião com uma pessoa da comunidade apelidado de Churrasco. No início da tarde, uma primeira equipe de busca da Unijava saiu de Atalaia do Norte em busca dos desaparecidos, mas não os encontrou. 

“A última informação de avistamento deles é da comunidade São Gabriel – que fica abaixo da São Rafael – com relatos de que avistaram o barco passando em direção a Atalaia do Norte. Às 16h, outra equipe de busca saiu de Tabatinga, em uma embarcação maior, retornando ao mesmo local, mas novamente nenhum vestígio foi localizado”, diz a nota. 

Conforme a organização, Pereira, que faz parte do quadro da da Fundação Nacional do Índio (Funai), é pessoa “experiente e profundo conhecedor da região” e os dois viajavam com uma embarcação nova, com combustível suficiente para a viagem.

Investigações

A Polícia Federal (PF)  disse, nesta segunda-feira (6), que já está acompanhando e trabalhando no caso. “As diligências estão sendo empreendidas e serão divulgadas oportunamente”, diz nota da instituição. 

Já a Funai informou que acompanha o caso, está em contato com as forças de segurança que atuam na região e colabora com as buscas.

Em nota a instituição comentou que, embora o indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira integre o quadro de servidores da Funai, ele não estava na região em missão institucional, pois se encontrava de licença para tratar de interesses particulares. 

A Marinha do Brasil disse que tomou conhecimento, no fim da manhã desta segunda, do desaparecimento de uma embarcação de pequeno porte, em Atalaia do Norte (AM), próximo à comunidade São Rafael. Segundo o órgão, uma equipe de Busca e Salvamento (SAR), subordinada à Capitania Fluvial de Tabatinga foi direcionada ao local da ocorrência. 

Repercussão

O porta-voz do jornal The Guardian disse que está acompanhando a situação e em contato com as embaixadas brasileira e britânica. “O Guardian está muito preocupado e busca urgentemente informações sobre o paradeiro e a condição de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e com as autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível”. 

A Human Rights Watch divulgou nota em que diz que está muito preocupada com o desaparecimento. “É extremamente importante que as autoridades brasileiras dediquem todos os recursos disponíveis e necessários para a realização imediata das buscas, a fim de garantir, o quanto antes, a segurança dos dois”, diz a nota assinada pela diretora do escritório da Human Rights Watch no Brasil, Maria Laura Canineu.

O Ministério Público Federal no Amazonas abriu um procedimento administrativo para investigar o desaparecimento do indigenista Bruno Araújo e do jornalista Dom Phillips na região do Vale do Javari, no extremo oeste do Estado.

A Procuradoria acionou a Polícia Federal, a Polícia Civil, a Força Nacional, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari, e a Marinha para acompanhamento do caso.

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A Marinha informou ao órgão que vai conduzir as atividades de busca na região, por meio do Comando de Operações Navais.

Os procuradores vão intermediar as ações de buscas, "mobilizando as forças para assegurar a atuação integrada e articulada das autoridades".

Em nota, a superintendência da Polícia Federal no Amazonas diz que está "acompanhando e trabalhando" no caso. Segundo a corporação, as "diligências estão sendo empreendidas e serão divulgadas oportunamente".

A Procuradoria da República no Amazonas foi acionada pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari na manhã desta segunda-feira, 6.

De acordo com as informações iniciais, o desaparecimento ocorreu no trecho entre a comunidade São Rafael e o município de Atalaia do Norte, informou o MPF.

Segundo a Univaja, Bruno Araújo e Dom Philips estão desaparecidos há mais de 24 horas, tendo se deslocado para visitar a equipe de Vigilância Indígena que se encontra próximo ao chamado Lago do Jaburu. A União diz que a dupla saiu da comunidade de São Rafael por volta das seis horas da manhã, rumo a Atalaia do Note, em uma viagem que dura cerca de duas horas, mas não chegaram à cidade no horário previsto.

Uma equipe da Univaja, formada por indígenas "extremamente conhecedores da região", saiu em busca do indigenista e do jornalista, percorrendo o mesmo trecho que Bruno Pereira e Dom Phillips supostamente teriam percorrido, mas não encontraram vestígios da dupla.

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari ressaltou ainda que, na semana do desaparecimento, a equipe recebeu ameaças em campo. "A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da UNIVAJA, além de outros relatos já oficializados para a Policia Federal, ao Ministério Público Federal em Tabatinga, ao Conselho nacional de Direitos Humanos e ao Indigenous Peoples Rights International", registrou a entidade em nota.

O indigenista e ex-servidor da Funai Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, do jornal The Guardian, estão desaparecidos há mais de 24 horas na Amazônia. Da última vez que foram vistos, os dois trafegavam de barco entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, no Amazonas. A chegada deles ao destino final estava prevista para o último domingo (5), o que não aconteceu. 

De acordo com a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), a visita de Pereira e Phillips à comunidade estava agendada. Lá, eles participariam de uma reunião com o líder comunitário do local, conhecido como "Churrasco". Segundo dados obtidos via satélite, ambos teriam chegado a São Rafael por volta das 6 da manhã, onde conversaram com a esposa de “Churrasco”, e depois partiram rumo a Atalaia do Norte.

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 A comunidade de São Rafael, que fica fora da Terra Indígena do Vale do Javari, sofre com a ação de garimpeiros e do narcotráfico. Na semana passada, colaboradores da Univaja que acompanhavam Pereira e Phillips dizem ter recebido ameaças em campo.

Concursado da Funai, Bruno Pereira é especialista em tribos isoladas e atuou como coordenador regional da fundação de Atalaia do Norte. Em 2019, após pressão de ruralistas, foi exonerado da coordenadoria-geral de Índios Isolados e de Recém Contratados da Funai.

Maior indigenista da atualidade, Sydney Possuelo, 78 anos, afirma que o índio vive o seu pior momento no País. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele critica o risco de o futuro governo mudar o foco das políticas determinadas pela Funai - o órgão deixará a estrutura do Ministério da Justiça para se integrar à pasta da Mulher. A futura titular do ministério, Damares Alves, já falou, por exemplo, em rever a política para os chamados povos isolados. O sertanista avalia que só cabe ao índio fazer o primeiro contato.

Possuelo foi demitido da Funai em 2006 durante o governo Lula, após criticar a visão de que índio tinha terra demais - um discurso que agora volta à tona. "Índio não tem um palmo de terra. A terra indígena pertence à União para usufruto do índio." A seguir, os principais trechos da entrevista:

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Como o sr. avalia a vitória de Jair Bolsonaro?

Como ele ainda não assumiu, tenho esperança de que, a partir de um esclarecimento, o presidente possa mudar sua posição sobre os índios. Há um risco de extinção da Funai, que já não tem força.

Como fica a situação dos militares neste cenário?

A questão indígena nasceu no meio militar, com o Marechal Rondon, nosso herói, que criou em 1910 o Serviço de Proteção ao Índio, o SIP. Se formos analisar especificamente o período do regime militar, depois de 1964, tivemos uma das melhores épocas da Funai na questão de estrutura e recursos. Havia poder de demarcar as terras, de vigiá-las, de não permitir invasões. Manter essa tradição seria um fato fantástico desse novo governo.

O sr. acha que essa possibilidade existe?

Temos de admitir que não é isso que está ocorrendo, infelizmente, mas tenho esperanças de que essa postura mude. A retórica antiga de que há muita terra para pouco índio é perigosa. Primeiro, é preciso deixar claro que índio não tem um só palmo de terra no Brasil. Ele não é dono de nada. O dono é a União, que lhe garante o usufruto exclusivo daquela área.

Foi por criticar esse discurso que o sr. foi demitido em 2006 pelo governo Lula.

Um só homem do agronegócio pode ter centenas de milhares de hectares, mas uma comunidade inteira de índios não pode ter. É preciso lembrar que o Brasil foi configurado pelo braço e pela presença do índio.

A futura ministra de Mulher, Damares Alves, disse que é preciso integrar os índios e acabar com a política de povos isolados. Como o sr. vê isso?

Eu criei essa política em 1987. Ela nasce exatamente do acompanhamento da história. Antes, quando se fazia contato, morriam muitos índios. Mas havia o dilema: se não fizer o contato, a comunidade indígena também morre com a abertura de estradas e fazendas. Então, trabalhamos com vários presidentes para definir uma política específica para esses povos isolados, sem contato com a sociedade nacional. Quando você contacta esse povo, ele começa a mudar sua atitude. Vai mudar para quê? Rondon achava que o índio tinha de vir para nossa sociedade para usufruir das nossas benesses, mas não é isso o que ocorre. O índio é sempre desprezado, não participa diretamente da nossa sociedade.

O que o sr. diria ao presidente eleito sobre esse cenário?

Quando foi candidato, ele disse que iria abrir as terras indígenas para o agronegócio. Isso é acabar com os índios, é um erro. Temos uma quantidade imensa de terras onde já cabe o agronegócio, que é importante para o País, mas as florestas nacionais e as terras indígenas também são. Tudo cabe neste País imenso.

O sr. acredita na possibilidade de mudança dessa postura?

Acredito que tudo isso faz parte apenas de um desconhecimento. E penso que, em algum momento, o presidente vai raciocinar melhor e, mais tranquilo, vai consultar a si mesmo. Não precisa consultar luminares. Basta ele analisar a nossa história, a história das Forças Armadas, para perceber como esses homens foram importantes para o País. Seria um erro gravíssimo fazer da floresta um campo de soja. Há outras terras para a agricultura.

Como o sr. vê a atuação das ONGs na área indígena?

O terceiro setor nasce como um auxiliar do governo quando o governo não dá conta de tudo. Nesse sentido, é interessante haver organizações para crianças, adultos, negros, índios, mas desde que essas entidades venham para cá e se juntem ao governo na busca do melhor caminho. O que não pode acontecer é cada um ter a sua política. O governo que estabeleça as diretrizes para as ONGs. A política deve ser estabelecida pelo governo.

O governo, então, precisa rever a política em relação às ONGs?

Creio que sim. Não é cortar recursos, é fiscalizar com braço de ferro. Essas organizações pegam dinheiro e ninguém vai atrás.

Como vê a presença de missionários evangélicos nas comunidades isoladas?

Quando fui presidente da Funai (1991 a 1993), botei para fora, expulsei missionários americanos que estavam na terra dos zoé, no Pará. A meta desses missionários é aprender a língua indígena para fazer uma Bíblia na língua deles e, a partir daí, o índio escolhe se vai para o céu ou para o inferno. Quando você vai para os EUA, é grande a chance de você não passar pela alfândega. Por isso, eu os expulsei da área e a Funai assumiu. É uma questão de soberania.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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