Os docentes são, em parte, responsáveis pelo sucesso acadêmico e profissional dos alunos. E quem pensa que a vida de um professor universitário é fácil, principalmente da área de direito, está muito enganado. A profissão, como qualquer outra, exige foco, estudo, determinação e, acima de tudo, paixão pela docência.
O LeiaJá, inspirado em muitas histórias de profissionais que estão dando o seu máximo neste período de isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus, conversou com Ana Priscylla, professora de Direito Tributário e Constitucional da UNINASSAU - Centro Universitário Maurício de Nassau, e Manoela Alves, professora de Direito Constitucional da UNINABUCO - Centro Universitário Joaquim Nabuco, para compartilharem os passos que deram até se tornarem docentes.
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Essencialmente uma professora
Ana Priscylla investiu em várias atividades acadêmicas. Foto: Cortesia
Nascida em Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco, Ana Priscylla já se dedicava à docência e amava o que fazia. Estudiosa e cheia de determinação para realizar seu sonho de ser uma professora na àrea do direito, ensinava as bonecas e as crianças do bairro onde morava ainda pequena. “Eu sempre pensei em fazer direito e ser professora. Na realidade, eu nasci para ser professora. Já nessa época, eu não me via, por exemplo, advogando, sendo juíza ou promotora, as minhas melhores brincadeiras sempre foram ensinar”, diz Ana.
Da infância à vida adulta, Ana já sabia que uma das preocupações de seus pais era saber quando ela iria tirar a cara dos livros e aproveitar um pouco a juventude. Porém, a essência de professora dentro dela ainda fala mais alto. “Tanto é que até hoje meu apelido para alguns amigos do meu pai é 'professora', pois desde muito pequena eu queria exercer essa profissão. Meu pai até queria que eu fosse médica, mas eu sempre dizia a ele que eu não iria realizar esse sonho, porque eu tinha que escolher a profissão que fosse o meu propósito de vida, aquilo que me fizesse ser eu”, relembra.
Ana já entrou no curso pensando nessa paixão de infância. Para se destacar, ela começou a estagiar em um escritório de advocacia e logo depois saiu para se dedicar às atividades da faculdade. “Eu já sabia que assim que saísse da faculdade eu iria prestar um mestrado e um dos requisitos é você ter um bom currículo, por isso eu precisava fazer passos dentro da universidade para agregar valor ao meu currículo”, conclui.
Ela aconselha a quem deseja se tornar professor na área de direito apostar em atividades de extensão na faculdade. “Se você quer de fato seguir a carreira de professor, tem que trabalhar muito bem o currículo já na graduação. Um dos pontapés é participar de projetos de extensão, de pesquisa, escrever artigos científicos, resumos, enviar para revistas, congressos e fazer monitoria para você aprender a lidar com alunos em sala de aula, ter desenvoltura, adquirir uma boa oratória, preparação de material e de aula que pedem ao monitor. Além disso, outra coisa diferencial é ter a visão prática da realidade. Essas são as experiências excepcionais para você começar a planejar a carreira de docente enquanto está na faculdade”, explica.
Em 11 anos de atividade docente, Ana Priscylla, ao longo desse tempo, tem muitos momentos marcantes. “Para mim, a docência é a possibilidade de transformação de vida a partir da educação. Uma das formas de redução das desigualdades sociais, das mudanças de expectativa de vida e transformações de rumos e histórias. É no espaço da sala de aula onde eu me identifico, reconheço o meu propósito e ganho energia fazendo uma troca de conhecimento com tantos alunos que passam por mim diariamente”, diz. Ela ainda explica: “Eu aprendo muito mais com eles, porque cada aluno naquela sala traz consigo a sua história de vida, sua história cultural, sua história social e suas marcas familiares. Além disso, a sala é um espaço democrático onde todas as pessoas, de uma forma muito democrática, tem acesso à educação superior como elemento de transformação de vida, e eu acompanhei várias histórias assim ao longo da minha trajetória na faculdade”, finaliza.
Uma inspiração paterna à docência
Manoela Alves descreve sua alegria como professora. Foto: Cortesia
Decidir o caminho profissional que deseja seguir, muitas vezes, ocorre através de um sonho da infância ou no decorrer da vida escolar quando os estudantes se preparam para fazer os processos seletivos de ingresso ao ensino superior. Entretanto, no caso da professora Manoela Alves, atraída para a carreira na docência, essa paixão veio de uma inspiração paterna.
“Eu já pensava em cursar direito antes de entrar na faculdade. Na verdade, eu tenho a sorte de ser filha de uma pessoa que já é da área jurídica, que no caso é o meu pai. Ele é delegado de polícia formado em direito, o que me enche de muito orgulho. Ele sempre foi uma inspiração e, acredito, que fazer o curso de direito foi fruto da minha inspiração nele”, relata.
Desde muito pequena, Manoela já tinha o apelido de “juíza” na escola. Sua afinidade com o curso a fez se dedicar tanto na graduação que alguns professores da época a reconheciam no mestrado. Atualmente, ela os enche de orgulho. “Os professores da época me veem hoje atuando na área, militando na docência, dando palestras, me reconhecendo em todos os espaços”, celebra a professora.
Para uma mulher que vivenciou o curso de direito de forma intensa, ela não mediu esforços para se destacar. “Busquei por um diferencial na minha graduação e eu sei que nem todo mundo tem essa possibilidade. Participei de projetos de extensão normalmente voltados para a comunidade. Desenvolvi muitos projetos, palestras, acompanhamentos a populações vulneráveis na delegacia e acompanhei processos jurídicos. Essa atividade de extensão me deixou muito sensível e me aproximou muito de direitos humanos e das causas das populações vulneráveis”, conta Manoela.
Na graduação, ela estudava muito, participa de movimento estudantil e sempre buscava pelas oportunidades que a faculdade poderia lhe proporcionar. Além disso, os professores foram um divisor de águas em sua carreira como professora. Eles a incentivaram a escrever e a produzir conteúdos, assim como participar de atividades de extensão.
Somando isso a sua inspiração paterna, ela começou a trilhar seu caminho até chegar à docência. “Eu tenho certeza que foi na monitoria do curso que eu comecei a me apaixonar pelo direito. Ser monitora é ser uma mini professora. Eu dava aulas e, por causa disso, comecei a desenvolver habilidades como oratória, explanação, fiz articulações com alunos de outros períodos, escrevi artigos e busquei mais títulos para melhorar meu currículo, tudo isso me fez se apaixonar ainda mais pela docência”, relembra.
Um dos primeiros trabalhos que arranjou na área jurídica foi em uma instituição de ensino. Já desfrutando da docência, Manoela compartilha, em entrevista, seus momentos mais marcantes ao longo da sua carreira e desmistifica quem pensa que a vida de um professor universitário é fácil. “O dia a dia da carreira é muito corrido. Todo mundo acha que a gente chega na sala, dá três horas de aula e resolveu tudo. Porém não é tão simples assim, aquelas horas de aula é a parte 'fácil', o mais difícil é preparar uma aula. Precisamos ler diversos livros, procurar diferentes pontos de vistas, colocar um vídeo, um áudio, trazer uma apresentação que prenda a atenção do aluno, tudo isso para incentivá-los”, explica.
“Os momentos mais marcantes são aqueles nos quais a gente recebe algum tipo de homenagem no final do curso, sempre são momentos muito bons. Porém, o que mais marcam são as situações cotidianas com os alunos que, por exemplo, tiraram uma nota baixa no começo e me procuraram o semestre, recebem todo o meu suporte, eu vejo se esforçando e acabam tirando nota 10 no final. Também são momentos nos quais eu vejo que um estudante conseguiu vencer uma dificuldade. Além daqueles alunos que às vezes apresentam algum tipo de deficiência, mas superam suas dificuldades e conseguem um aproveitamento maravilhoso na minha disciplina. Tudo isso é algo que me honra, que me alegra muito”, conclui.
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