Tópicos | sobrepreço

A Controladoria-Geral da União (CGU) detectou sobrepreço de até R$ 130 milhões em uma megalicitação do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), realizada em dezembro para comprar 6.240 máquinas pesadas, pelo valor global de R$ 2,89 bilhões, com recursos do orçamento secreto.

A apuração da CGU faz parte das ações de auditoria iniciadas após o Estadão revelar, em maio passado, o esquema montado pelo governo para garantir blindagem ao presidente Jair Bolsonaro no Congresso em troca de permitir a um grupo de políticos impor o que fazer com milhões de reais do orçamento. Parte determinou a compra de tratores e máquinas agrícolas, indicando até mesmo o valor e as cidades que deveriam receber - o que rendeu ao esquema o apelido de "tratoraço".

##RECOMENDA##

O Estadão revelou ontem que a CGU encontrou "risco extremo de sobrepreço" em convênio do MDR com prefeituras. Agora, uma nova auditoria indica que sobrepreço já foi identificado também em contratos feitos diretamente pela pasta com recursos do tratoraço.

O edital com sobrepreço de até R$ 130 milhões começou a ser preparado em julho de 2020, pela Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional e Urbano, comandada por Tiago Queiroz, um advogado nomeado em maio de 2020 ao posto, por indicação do Republicanos e com aval do Progressistas, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), e do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.

A aquisição centralizada de máquinas, para posterior distribuição entre municípios, permitiria, em tese, a economia de valores, com ganhos de escala. No entanto, a CGU constatou que o edital foi feito com preços longe de trazerem qualquer vantagem aos cofres públicos. "Entende-se que há evidências suficientes para afirmar que há preços em alguns dos lotes do Edital nº 22/2020 expressivamente acima das médias das demais contratações públicas analisadas e, portanto, com sobrepreço na ordem de R$ 101 milhões", diz trecho de nota de auditoria elaborada pela CGU, referente à parte do edital que trata da compra de motoniveladoras.

O ministério assinou atas de registro de preço para a compra de 1.544 motoniveladoras de uma única empresa, a XCMG Brasil Indústria Ltda., com valor de R$ 1,13 bilhão, para entrega de máquinas na maior parte dos Estados da federação. Desses valores, R$ 101 milhões seriam sobrepreço - isto é, valores que não deveriam ter sido pagos pelo governo, por estarem expressivamente acima dos preços de mercado.

A auditoria em andamento constatou ainda sobrepreço em atas de registro de preços para a compra de pás carregadeiras (R$ 14,1 milhões) e de escavadeiras hidráulicas (R$ 14,7 milhões). Daí o cálculo alcançar R$ 130 milhões.

A CGU apontou que a pesquisa de preços feita pelo ministério se baseou, predominantemente, em cotações feitas por fornecedores, o que contraria a instrução normativa nº 73/2021 do Ministério da Economia. A orientação geral é que o edital seja montado, prioritariamente, a partir de valores de contratações anteriores feitas pela administração pública, em vez de se sustentar com base no orçamento apresentado por empresas.

Entregue ao MDR, o documento da CGU frisa que, se a pasta quiser prosseguir com a licitação, deve promover o reajuste nos preços, para evitar o prejuízo aos cofres públicos.

No caso das motoniveladoras, o secretário Tiago Pontes Queiroz e o representante da XCMG assinaram, em fevereiro, um primeiro contrato para a compra de 61 ao preço de R$ 44 milhões. Desse valor, o governo já fez pagamentos de R$15,7 milhões à empresa, referente a 20 máquinas, já entregues em Paraíba, Pernambuco e São Paulo.

De acordo com os cálculos da CGU, houve sobrepreço na licitação para a compra das máquinas para entrega nesses três Estados. As máquinas da Paraíba, contratadas ao valor unitário de R$ 798 mil, não deveriam custar mais do que R$ 643,8 mil. As de Pernambuco, contratadas por R$ 802,5 mil, deveriam custar R$ 641 mil. E as de São Paulo, contratadas por R$ 774,1 mil, deveriam ser por R$ 638,5 mil. Assim, em vez dos R$ 15,7 milhões pagos pelas 20 máquinas, o governo deveria pagar, R$ 12,8 milhões. Como os valores já foram pagos pode configurar superfaturamento de R$ 2,9 milhões.

Ao receber as informações da CGU, o MDR decidiu iniciar trâmites para ajustar a licitação. A consultoria jurídica entendeu que era possível seguir adiante o acordo, mas recomendou a invalidação de todo o edital.

Em nota, o ministério disse que buscou as empresas vencedoras do certame para renegociar os preços e que, nos dois casos em que não foi possível a repactuação, cancelará a parte do edital referente a elas. A pasta confirmou que, na compra de motoniveladoras para São Paulo e Pernambuco, houve "cobrança de maior no valor de R$ 2,9 milhões" e disse que, "a partir de acordo realizado com a empresa, esse valor será devolvido". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Na última semana, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) abriu um inquérito civil para apurar denúncia de venda superfaturada de munição pela Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) para o Estado de Pernambuco. As munições foram adquiridas para a utilização em treinamentos e operações das polícias Civil e Militar.

 Questionada, a Secretaria de Defesa Social do Estado de Pernambuco (SDS) enviou nota destacando que a compra das munições, realizada em agosto de 2017, transcorreu atendendo integralmente aos princípios da legalidade, lisura e transparência. “Todo o processo foi validado pela Procuradoria Geral do Estado (PGE), que fará os devidos esclarecimentos ao MPPE”, diz trecho. A secretaria ainda salienta que os preços cobrados a Pernambuco foram compatíveis com os praticados na venda para outros estados. Serão apresentadas ao MPPE notas fiscais, atas de registro de preços e certidão de exclusividade para descartar o sobrepreço.

##RECOMENDA##

 No Diário Oficial do mês de agosto de 2017, constam aquisições de munição de treinamento e de munição operacional. Para a primeira compra, foi pago o valor de R$ 7,28 milhões; para a segunda, R$ 3,052 milhões.  O texto não especifica a quantidade de itens comprados e a SDS ignorou a solicitação dessa informação.

A denúncia ao MPPE foi feita ainda em outubro de 2017 pela Confederação de Tiro e Caça do Brasil (CTCB), entidade situada no Rio de Janeiro que defende a caça de animais silvestres e constantemente denuncia o “monopólio” da CBC no mercado de armas do Brasil.

 Em conversa com o LeiaJá, o presidente da CTCB, Fernando Humberto Fernandes, diz que denúncias foram feitas não só em Pernambuco, mas também em estados como São Paulo e Rio de Janeiro. O principal ponto, segundo Fernando, é que a CBC exporta para os Estados Unidos os mesmos itens por um preço muito abaixo do que vende no país.  “A CBC exporta para os Estados Unidos uma caixa de munição calibre .40  a US$ 6,50, o que dá em torno de R$ 22, R$ 23.  Aqui chega a vender a R$ 153 o mesmo item. E estamos falando só de um tipo de munição”, ele pontua.  Ao Estado de Goiás, a CTCB enviou um texto dizendo que a caixa de munição é vendida a R$ 332,50 a órgãos de segurança pública.  Para Fernando, mesmo argumentos como acréscimo de impostos não justificam a diferença de preço.

“Pernambuco é vítima, todos os estados são vítimas. Estão sendo extorquidos. É uma empresa de munição que vende a preços dez vezes acima do cobrado do mercado internacional”, critica o presidente da confederação. O LeiaJá procurou a CBC, que não respondeu aos questionamentos sobre a denúncia até o fechamento da matéria.

Auditoria feita por fiscais do Tribunal de Contas do Município (TCM) constatou nove irregularidades e sobrepreço de ao menos R$ 1,4 milhão nos contratos feitos pela gestão Fernando Haddad (PT) para a construção das ciclovias da Avenida Paulista e do Minhocão, na capital paulista. Juntas, elas custaram cerca de R$ 18 milhões.

No relatório, o órgão questiona o fato de a São Paulo Transportes (SPTrans), empresa municipal responsável pela construção das ciclovias, ter usado uma ata de registro de preços da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) com valores unitários bem superiores aos que constam em outro documento, da Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras, para executar os mesmos serviços.

##RECOMENDA##

Apenas na ciclovia da Paulista, em uma amostragem feita sobre serviços que custaram R$ 8,6 milhões - 81% do valor total do contrato -, o TCM constatou que ações como demolição de concreto, recapeamento asfáltico e lavagem de rua poderiam ter custado R$ 7,6 milhões, se a Prefeitura tivesse usado a outra ata de registro de preços - ou seja, um sobrepreço de R$ 1 milhão, ou 13,3% a mais.

No caso da ciclovia da Avenida Amaral Gurgel, que fica sob o Minhocão, a diferença entre as duas tabelas de preço ficou em R$ 365 mil no mesmo tipo de amostragem, 6,7% mais caro do que era possível ter pago. Só no caso da lavagem de rua, a auditoria apontou que o preço estipulado no contrato fechado pela SPTrans foi de R$ 180 mil, quando o valor previsto para o serviço na ata da Coordenação das Subprefeituras seria de R$ 28 mil. Além disso, o tribunal alega que essas obras deveriam ter sido contratadas por licitações específicas para essa finalidade.

"As obras das ciclovias da Paulista e da Amaral Gurgel foram feitas com base em Ata de Registro de Preços, sem licitação específica, conforme recomendado pela auditoria e as obras se iniciaram no dia 5 de janeiro de 2015, sendo que as providências adotadas ocorreram durante o período de festas de fim de ano, Natal e ano-novo, justamente o período em que o TCM está em recesso", diz o órgão.

Vistorias

O relatório aponta ainda que os fiscais vistoriaram as obras das duas ciclovias em abril e constataram deficiência na demarcação das vias, falhas de sinalização, supressão de espaço para pedestres, problemas de aderência das tintas, irregularidade na colocação de gradis, falhas de projeto e iminência de riscos de acidentes, por causa da falta de segurança para ciclistas e pedestres. Em 7 de agosto, eles retornaram aos locais e concluíram que nada havia sido alterado." Procurada, a SPTrans não se manifestou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Operação Lava Jato suspeita que as obras relativas a apenas um dos contratos da Refinaria Abreu e Lima (RNEST, Pernambuco), da Petrobras, custaram R$ 648 milhões a mais que o orçado, revelou reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, na terça-feira, 7. Os investigadores calculam sobrepreço de 16%. Eles trabalham com a hipótese de que parte desse valor foi pago em propinas para deputados, senadores e partidos políticos.

Segundo o Jornal Nacional, laudo pericial produzido com base na análise de extratos bancários, movimentações financeiras e troca de e-mails entre executivos mostra que o preço da corrupção nesse contrato da Abreu e Lima superou em mais de cinco vezes o que foi revelado pelo primeiro delator da Lava Jato, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa (Abastecimento). Ele afirmou que a propina repassada a parlamentares e agremiações ficava em torno de 3% do valor superfaturado de cada contrato.

##RECOMENDA##

O laudo aborda o contrato de montagem, construção, fornecimento de suprimentos e aditivos das unidades de coqueamento retardado da Abreu e Lima. Para chegar à conclusão de que foram liberados a mais R$ 648 milhões, os investigadores cotejaram preços pagos pelo consórcio a fornecedores e os valores que revendia à Petrobras.

Os investigadores da Lava Jato sustentam que em alguns casos o lucro do consórcio atingiu 1.600%, destacou o Jornal Nacional.

A reportagem mostra que na documentação recolhida na sede da empreiteira Camargo Corrêa durante a Operação Juízo Final - fase da Lava Jato que derrubou o cartel de empreiteiras no esquema de propinas na Petrobras - identificou depósitos que somaram R$ 26 milhões para 30 empresas sob suspeita de lavagem de dinheiro.

Entre essas empresas estão a consultoria Costa Global, controlada por Paulo Roberto Costa, que captou R$ 2,8 milhões da construtora, entre outubro de 2012 e dezembro de 2013.

A JD Assessoria e Consultoria, do ex-ministro-chefe da Casa Civil (Governo Lula), José Dirceu, recebeu R$ 844 mil da Camargo Corrêa, entre maio de 2010 e fevereiro de 2012.

Defesa

O Consórcio Nacional Camargo Corrêa considera que não procede a informação de sobrepreço e destacou à reportagem do Jornal Nacional que está prestando esclarecimentos às autoridades.

A defesa de Dirceu argumentou que sua empresa de consultoria, já desativada, foi contratada pela Camargo Corrêa para atuar em Portugal e que a própria empreiteira reconhece este dado. A defesa do ex-ministro sustenta que o contrato e notas fiscais foram entregues à Justiça Federal no Paraná em janeiro.

A defesa de Paulo Roberto Costa disse que ainda não teve acesso ao laudo da Lava Jato.

A segunda Câmara do Tribunal de Contas do Estado (TCE) julgou irregulares as contas do ex-prefeito de Afrânio, Carlos Cavalcanti (PSD), relativas ao exercício financeiro de 2012.  O voto da relatoria foi aprovado pela unanimidade dos membros da Câmara de julgamento. De acordo com o relator, o conselheiro substituto Adriano Cisneiros, foram apresentadas diversas irregularidades no processo de prestação de contas do município, principalmente nos contratos e no recolhimento previdenciário. 

Nos indícios de sobrepreço o destaque foi a contratação da empresa AJA Locadora de Veículos e Serviços LTDA para locação de veículos, por meio do Pregão 09/201, contrato 51/2011. Além disso, ainda dentro da temática de licitações, foram apontadas irregularidades nas Inexigibilidades 05/12, 06/12, 07/12 e 08/12. Todos esses processos licitatórios eram referentes à contratação de bandas para apresentações artísticas promovidas pela Prefeitura.

##RECOMENDA##

Também  foram apontadas irregularidades no pagamento de honorários advocatícios sem a devida comprovação dos serviços prestados na área de recuperação de créditos indevidamente recolhidos ao FGTS a Mílton Pastick Fujino, relativo ao Contrato 32/2012, no montante de R$ 180.143,57 e deficiências na execução do Contrato nº 79/2012 (Pregão 25/2012). O referido contrato foi assinado em favor da empresa NISAUTO PEÇAS E SERVIÇOS LTDA. Em sua execução, foi observado o pagamento de horas de trabalho, no valor de R$ 173.736,00 que não tinham condições de terem sido executadas pela empresa contratada, em função do tempo decorrido entre a assinatura do contrato e as datas dos pagamentos.

A auditoria identificou divergências no montante do estoque de depósitos da Prefeitura no valor de R$ 1.718.349,03 e ausência de vários documentos na prestação de contas ou apresentação dos mesmos em desconformidade com a Resolução do TCE que estabelece normas relativas à composição das contas anuais dos gestores (Resolução TC nº 03/2013).

Por essas razões, as contas (Processo TC nº 1380124-7) foram julgadas irregulares e foi determinada a restituição do montante de R$ 353.879,57 da seguinte forma: (R$ 173.736,00) de responsabilidade de Carlos Cavalcanti Fernandes e da empresa NISAUTO PEÇAS E SERVIÇOS LTDA. E, R$ 180.143,57 de responsabilidade solidária de Carlos Cavalcanti e Milton Pastick Fujino. Além disso, foi aplicada uma multa ao prefeito de R$ 7.000, 00 e de R$ 3.500,00 ao pregoeiro Edimar da Paixão. 

*Com informações do TCE

As empreiteiras suspeitas de integrar o esquema de corrupção na Petrobras ganharam de outros órgãos e empresas federais obras com valores que podem ter sido inflados em ao menos R$ 1,1 bilhão, segundo relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU) analisados pelo jornal O Estado de S. Paulo. De acordo com auditorias abertas a partir de 2003, o chamado "clube vip" de empreiteiros teve contratos superfaturados em 20 grandes empreendimentos, como a construção de ferrovias, rodovias, aeroportos e canais da Transposição do Rio São Francisco.

As auditorias e relatórios técnicos ainda não chegaram a render conclusões do TCU. Isso porque, na maioria dos casos, as empreiteiras contestam, por meio de recursos, os critérios usados pelo tribunal.

##RECOMENDA##

De acordo com os técnicos do TCU, tanto na Petrobras quanto em obras de outras áreas do governo, o sobrepreço em planilhas de materiais e serviços é a principal fonte de prejuízos nos empreendimentos tocados pelas construtoras, que tiveram parte de executivos presa na sétima fase da Operação Lava Jato, batizada de Juízo Final e deflagrada no dia 14. Na estatal petrolífera, o "clube" dos empreiteiros obteve contratos de R$ 59 bilhões. Segundo o TCU, as irregularidades detectadas em empreendimentos da Petrobrás somam R$ 3 bilhões.

Ampliação

A Polícia Federal pretende ampliar o leque das investigações para além da Petrobras. Os relatórios do TCU são usados como ponto de partida para as investigações. A suspeita é que o esquema de corrupção na estatal, que envolvia o pagamento de propina e o financiamento ilegal de partidos em troca de contratos superfaturados, tenha funcionado em outras áreas do governo.

"Essas empresas tinham interesses em outros ministérios capitaneados por partidos. São as mesmas que participaram de várias outras obras no Brasil", afirmou à Justiça Federal o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, que aceitou colaborar com as investigações.

Na construção das ferrovias Norte-Sul e Leste-Oeste em Goiás e Tocantins, contratada pela Valec, a diferença de preços alcança R$ 475 milhões. Na Norte-Sul, as empresas do "clube" assumiram 14 lotes de obras. Em quatro deles, sob responsabilidade da Constran-UTC, o TCU achou "gordura" de R$ 64,6 milhões em contratos que somam R$ 390 milhões.

Em outros três segmentos a cargo da Andrade Gutierrez, orçados em R$ 702 milhões, os preços tiveram um aumento de R$ 112 milhões. Só no trecho de 109 quilômetros entre Córrego Jabuti e Córrego Cachoeira Grande, no Tocantins, o contrato inicial com a construtora, de R$ 270 milhões, estava R$ 43 milhões ou 15% mais caro.

A Valec ainda firmou aditivos que aumentaram o valor global dos serviços para R$ 290 milhões. Um dormente, que deveria custar R$ 279, saiu a R$ 367 para o contribuinte. O TCU mandou a estatal repactuar os preços e abriu tomadas de contas - tipo de processo que serve para confirmar os danos ao Erário e identificar responsáveis.

Por conta do superfaturamento nas ferrovias, o Ministério Público Federal ajuizou ações penais e de improbidade administrativa contra executivos das empreiteiras e a antiga cúpula da Valec - afastada em 2011, em meio a denúncias de corrupção. Para a procuradoria, há similaridades com o caso Petrobrás. O ex-presidente da estatal José Francisco das Neves, o Juquinha, chegou a ser preso em 2012, na Operação Trem Pagador, acusado de enriquecer a partir de desvios da Norte-Sul. Ele nega.

Os contratos com a Valec se encerraram sem que todas as obras previstas fossem entregues. A estatal contratou novas construtoras para terminá-las.

O TCU também suspeita de superfaturamento em outros projetos, como o Metrô de Salvador. O consórcio formado por Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez recebeu R$ 312 milhões para construir o trecho Lapa-Pirajá, Segundo cálculos de auditores, a preços de mercado, o segmento custaria R$ 146 milhões. Por causa disso, a corte determinou que as empresas recolham a diferença de R$ 166 milhões aos cofres federais. Elas recorreram.

Transposição

Na Transposição do Rio São Francisco, vinculada ao Ministério da Integração Nacional, a Odebrecht firmou contrato de R$ 458 milhões para construir o canal do Sertão Alagoano. Pelas contas do tribunal, houve um sobrepreço R$ 59 milhões, equivalente a 13%.

A Queiroz Galvão, em consórcio com a Galvão Engenharia, arrematou outros dois lotes, orçados em R$ 690 milhões, para escavar o Canal Adutor Vertente Litorânea, no Estado da Paraíba. Materiais e serviços previstos no contrato estão R$ 34 milhões mais caros que no mercado. Na quarta-feira, o tribunal determinou ajuste nos orçamentos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Polícia Federal afirma que a Petrobras bancou a compra de um lote de materiais das obras da refinaria de Abreu e Lima a um preço 17 vezes superior ao que foi pago pelo Consórcio CNCC para o Grupo Sanko.

Segundo o laudo 1786/2014, do Serviço Técnico Científico da PF, o consórcio pagou o equivalente a R$ 1,27 milhão por 155 unidades de um material e esse mesmo lote de produtos foi vendido para a Petrobras ao custo de R$ 16,2 milhões.

##RECOMENDA##

Os peritos suspeitam que a manobra configurou o chamado "jogo de planilha", que consiste na alteração das planilhas de contrato "que modifiquem o ponto de equilíbrio econômico-financeiro, sem justificativa adequada, causando dano ao erário", afirma o laudo.

Os peritos também chamam a atenção para o fato de que o número de materiais comprados pelo consórcio e vendidos para Petrobras neste lote é o triplo do inicialmente previsto no Demonstrativo de Formação de Preços, planilha apresentada pela empresa que disputa a licitação com as estimativas de gastos.

No laudo, os técnicos da PF ressaltam ainda que não conseguiram comparar a amostra dos produtos analisados da empresa Sanko com os materiais negociados entre o CNCC e a Petrobras, "restando prejudicada a análise de superfaturamento no restante da lista de amostragem", afirma o documento.

Cadastro

O documento da Polícia Federal afirma ainda que a Petrobras descumpriu as próprias normas internas para dar às empresas do Grupo Sanko o Certificado de Registro e Classificação Cadastral (CRCC), que permite a elas fornecerem produtos ou serviços de maior qualidade ou valor à estatal petrolífera.

Em outras palavras, o CRCC faz com que uma empresa fique no Cadastro Corporativo da Petrobras, podendo fornecer materiais e serviços para obras da estatal petrolífera. Ao analisar a contabilidade da Sanko Sider entre 2009 e 2013, contudo, os peritos observaram que a empresa passou por grandes dificuldades financeiras, com "seguidos prejuízos e relevante endividamento".

Os critérios para uma empresa ter o CRCC são, segundo levantaram os agentes da PF: comprovar a habilitação jurídica, a capacidade técnica, a regularidade fiscal e a qualificação econômico-financeira. Os peritos também observaram que, de 2009 a 2011, a Sanko Sider registrou seguidos prejuízos, que só foram revertidos em 2012 e 2013.

A empresa não obteve o CRCC em 2008, e, de 2009 a 2011, conseguiu o certificado utilizando o balanço patrimonial da empresa Cia Mecânica Auxiliar LTDA que, segundo a PF, detêm 33% das ações da Sanko Sider.

Questionada pelos agentes, a Petrobras informou que é possível ao avaliador, em casos especiais em que as demonstrações contábeis da empresa não são aprovadas, analisar as demonstrações financeiras de uma holding, a sócia controladora da empresa. A própria estatal, contudo, não conseguiu confirmar se este foi o caso.

O Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou irregularidades graves em seis de cada dez obras tocadas pelo governo federal em 2012. De acordo com relatório divulgado na terça-feira (30), de um total de 200 empreendimentos fiscalizados, que cobrem os maiores projetos de infraestrutura do País, 124 tinham falhas. O risco de prejuízo aos cofres públicos apurado nas auditorias alcança R$ 2,5 bilhões.

As constatações são do balanço do Fiscobrás, programa de fiscalização de obras realizado anualmente que é referência para o bloqueio de repasses na Lei Orçamentária do exercício seguinte, votado pelo Congresso. Apesar da imensa fatia de projetos problemáticos, o TCU pediu a paralisação de apenas 22 obras, 17% do total. Nos demais casos, entendeu ser possível corrigir os erros no curso dos serviços.

##RECOMENDA##

Na lista a ser enviada ao Legislativo, sete obras são novas. O tribunal aponta superfaturamento, falhas de projeto e suspeitas de direcionamento de licitação. O prejuízo maior (R$ 162 milhões) foi constatado nas tubovias (ligações entre tubulações) do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da Petrobrás. O TCU concluiu que os preços acertados no contrato, de R$ 731 milhões, ainda com 1% de execução, são mais altos que os do mercado.

As outras 15 obras já apareciam em anos anteriores, mas as irregularidades não foram sanadas, segundo o tribunal. Ao votar a Lei Orçamentária, os parlamentares tradicionalmente ignoram as recomendações do TCU, por orientação do governo, ou liberam recursos aos empreendimentos, mediante acordos feitos com os gestores.

Cortes efetivos

Em 2011, das 27 obras com pedido de paralisação, somente cinco tiveram corte no orçamento. Pivô de crise entre o TCU e o ex-presidente Lula em 2010, a Refinaria Abreu e Lima (PE), por exemplo, ficou livre de restrições e, agora, persiste na relação do TCU, por suposto sobrepreço em seis contratos. É o orçamento mais caro, de R$ 25 bilhões. Procurada, a Petrobrás não se pronunciou até o fechamento desta edição.

O TCU também quer parar projetos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), alvo da faxina de Dilma Rousseff em 2011, entre eles a construção de quatro portos fluviais no Amazonas, a R$ 58,8 milhões. O TCU diz que os valores previstos em três editais e em contrato já assinado foram inflados em R$ 15 milhões.

Alvo de um esquema de corrupção investigado pela Polícia Federal, a Valec tem as duas principais obras - as ferrovias Norte-Sul e Oeste-Leste - novamente na lista. Em São Paulo, o TCU pede o bloqueio de verba para a drenagem das bacias dos córregos Canela e Borá, em São José do Rio Preto (SP), por supostas deficiências em projetos, e para o Complexo Viário Baquirivu, em Guarulhos (SP), por alterações indevidas e superfaturamento. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

O Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou a paralisação das obras da Refinaria Abreu e Lima no complexo industrial de Suape por entender que houve superfaturamento e sobrepreço em seis contratos da refinaria e o projeto de terraplenagem. Somando esses contratos chega-se a mais de R$ 11 bilhões e a unidade mais cara, está na construção do coqueamento retardado, avaliada em mais de R$3,4 bilhões.

Outros contratos se referem a construção do espaço de Hidrotratamento de diesel, nafta e de geração de hidrogênio UGH no valor de R$ 3,6 bilhões. A implantar de tubovias para a interligação está orçado em R$ 2,6 bilhões e a edificação da unidade de destilação atmosférica R$ 1,4 bilhão. Terraplanagem e serviços complementares de drenagens, arruamento e pavimentação chegam a R$ 534 milhões. Já a implantação de dutos de recebimento e expedição de produtos somam R$ 649 milhões.

##RECOMENDA##

O levantamento faz parte do programa anual de fiscalização de obras públicas que será enviado ao congresso nacional, onde os deputados deveram acatar ou não as recomendações. O Tribunal julgou irregular 124 obras do Governo Federal e recomendou a paralisação de 22. Ao todo foram fiscalizados 514 empreendimentos que receberam um investimento de R$ 38 bilhões e 45% das irregularidades estão ligadas ao superfaturamento. 41% das construções estão desatualizados ou deficientes.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando