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Quando o grupo extremista Taleban tomou o controle do Afeganistão, há um ano e meio, o diplomata Shabir Ahmad, de 35 anos, se viu em uma encruzilhada. Funcionário do governo afegão em uma embaixada no Irã, ele conta que precisou decidir entre retornar ao país ou tomar um novo destino. "Eu não tinha direito de ficar no Irã, pois meu visto era político", explica. Os diplomatas eram alvo da violência. "Fizemos campanhas contra a violação dos direitos humanos pelo Taleban em nossas missões diplomáticas. Eles disseram: 'Se vierem ao Afeganistão, não aceitaremos vocês'."

Com medo, Shabir solicitou visto humanitário ao Brasil e em julho desembarcou com a família no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Por lá, dormiram uma semana no chão - hoje, há outros 80 afegãos nessa mesma condição -, até serem encaminhados para um abrigo em Morungaba, a 100 km da capital paulista. Com o diplomata, vieram a mãe, um casal de filhos pequenos e a mulher, grávida de 8 meses quando chegaram. A caçula, Fatima, nasceu semanas depois. "É um nome comum na sociedade islâmica e também na brasileira", diz ele, em inglês. "Ela agora está bem, é uma brasileira."

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Levantamento feito a pedido do Estadão pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), cooperação entre o Ministério da Justiça e a Universidade de Brasília (UnB), aponta que 3.367 imigrantes afegãos entraram no País de janeiro a outubro deste ano - 98,9% deles pelo aeroporto de Guarulhos. O número é 13 vezes maior do que o registrado no ano passado.

A tomada do poder pelo Taleban simbolizou a perseguição a vários segmentos da sociedade afegã. As mulheres, sobretudo as ativas no mercado de trabalho, passaram a ser alvo diante da repressão promovida pelo grupo extremista. Assim como grupos étnicos específicos, como o povo hazara, e quem trabalhava nas forças de segurança no país ou em outros setores visados, como a diplomacia ou as universidades. Diante disso, o Brasil concedeu vistos humanitários aos afegãos e autorizou pouco mais de 6 mil deles até o momento. O País enfrenta agora os desafios de dar um encaminhamento digno a todos.

"Não temos medo do amanhã. Nós gostamos de trabalhar, e desejamos continuar nossa vida em um lugar pacífico como o Brasil", afirma o professor de inglês Amir Ishinzada, de 32 anos. Assim como Shabir, ele foi acolhido pela Vila Minha Pátria, abrigo da Junta das Missões da Convenção Batista Brasileira que já recebeu mais de 400 afegãos.

DESASSISTIDOS. Conforme entidades que auxiliam no acolhimento dos imigrantes, alguns afegãos que vêm para o País têm para onde ir. Mas há outros que, sem destino certo, ficam desassistidos e esperam por abrigos. No último mês, segundo a prefeitura de Guarulhos, o Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante, instalado no aeroporto para realizar o cadastro daqueles que precisam de ajuda, atendeu 399 afegãos. Ao longo de todo ano, o número total foi de 1.838, mais da metade dos que entraram no País.

Parte deles já foi encaminhada para vagas em centros de acolhimento da sociedade civil e de órgãos públicos, mas, como solução provisória, dezenas seguem acampados no maior aeroporto do País. Há alguns dias, dois afegãos testaram positivo para covid, o que elevou a preocupação sobre a situação que se arrasta pelo menos desde agosto.

Novos voos chegam a todo momento. O perfil predominante são famílias, muitas vezes com crianças pequenas, e homens solteiros. São normalmente representantes da classe média do Afeganistão, o que os possibilita comprar as passagens de avião e se dedicar aos trâmites para vir ao Brasil. Ao desembarcar, porém, muitos não têm dinheiro suficiente para alugar um espaço ou um lugar de confiança para ir. Também se veem limitados pela barreira linguística.

"Eu não me sentia segura mais no país desde que o Taleban chegou. Nós não sabemos quem é o alvo, o próximo alvo", diz a conselheira psicossocial Shekiva, de 27 anos, que preferiu não revelar o sobrenome e a cidade em que morava. "Eles estão matando diferentes pessoas, de diferentes lugares, mas praticamente todo povo hazara está sob o alvo. Nós não nos sentíamos seguros, então saímos do país."

Após 13 dias dormindo no aeroporto quando falou com a reportagem do Estadão, ela veio para o Brasil com os dois irmãos. Trabalhava com violência de gênero quando o Taleban assumiu o controle do Afeganistão. Na composição atual dos afegãos vivendo no aeroporto, poucos falam inglês, o que fez com Shekiva tenha se tornado uma tradutora informal. Ali, um homem se aproximou e, emocionado, pediu para ela relatar que tinha vindo para o Brasil após o assassinato do irmão, que era policial.

‘SEM COMIDA, ABRIGO OU REMÉDIOS’. "Quando a gente chegou ao aeroporto não havia ninguém nos esperando. Então nós ficamos uma semana no aeroporto, sem comida, abrigo ou remédios", conta Shabir. Ele relembra que em julho havia uma estrutura ainda mais precária. Agora, tanto o poder público quanto voluntários que atuam no local conseguem dar assistência maior.

A prefeitura de Guarulhos oferece atualmente café da manhã, almoço e jantar. Voluntários, além disso, recebem doações da sociedade civil, dão assistência a quem chega e se revezam para dormir no local com os refugiados. "Conseguimos avançar em muitas frentes", diz a voluntária Swany Zenobini, que coordena o coletivo Frente Afegã. O grupo começou a atuar na base do improviso em agosto e se articulou ao longo dos últimos meses. Entre as principais iniciativas, o Frente Afegã promove mutirões de saúde para prestar atendimento a quem está no aeroporto e leva os afegãos para tomar banho em um hotel parceiro - os banheiros comuns do aeroporto não possuem chuveiro. Busca ainda conversar sobre as possibilidades disponíveis para quem chega ao País.

Conforme o governo do Estado, o Grupo de Trabalho Acolhimento assegurou direitos à assistência social para 3,5 mil refugiados afegãos que desembarcaram em Guarulhos com vistos humanitários. As ações são em parceria com as prefeituras de Guarulhos e São Paulo, organizações sociais da sociedade civil e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).

A Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado diz investir mais de R$ 4 milhões em 100 vagas de acolhimento dos afegãos. Já a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social da capital informa que encaminhou, em setembro, 93 afegãos que estavam em Cumbica a um centro de acolhida na zona leste, aberto exclusivamente para esse grupo.

O Ministério Público Federal fez reunião este mês, com o objetivo de buscar saídas de acolhimento e interiorização - autoridades discutem a ida dos refugiados também para outros Estados, como o Paraná. O Ministério das Relações Exteriores diz acompanhar a situação, mas acrescenta não ter competência para criar ou executar políticas de acolhida.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Meninas do ensino médio estão em casa em quase todos os lugares do Afeganistão, proibidas de assistir às aulas pelo Taleban. Mas há uma grande exceção. Durante semanas, as garotas da Província de Herat voltaram às salas de aula - fruto de um esforço único e coordenado de professores e pais para persuadir os administradores locais a permitir a reabertura. Fadieh Ismailzadeh, uma jovem de 14 anos, disse que chorou de felicidade com a notícia. "Havíamos perdido as esperanças de que as escolas fossem reabertas."

Funcionários do Taleban nunca aprovaram formalmente a retomada das aulas após a campanha, mas também não a impediram quando professores e pais começaram as aulas por conta própria, no início de outubro. "Pais, alunos e professores se uniram para fazer isso", disse Mohamed Saber Meshaal, chefe do sindicato de professores de Herat, que ajudou a organizar a campanha. "Este é o único lugar onde ativistas comunitários e professores correram o risco de conversar com o Taleban."

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O sucesso em Herat destaca uma diferença significativa no atual governo do Taleban em relação ao anterior, no final da década de 1990. Naquela época, os militantes eram intransigentes em sua ideologia linha-dura, banindo as mulheres da vida pública e do trabalho e proibindo todas as meninas de estudar. Eles usaram a força e as punições brutais para fazer cumprir as regras.

Mudança

Desta vez, eles parecem reconhecer que não podem ser tão cruéis em um Afeganistão que mudou drasticamente nos últimos 20 anos. Eles impuseram algumas regras antigas, mas foram ambíguos sobre o que é permitido e o que não é. A ambiguidade pode ter como objetivo evitar a alienação do público, enquanto o Taleban luta contra um colapso econômico quase total, a paralisação do financiamento internacional, o aumento alarmante da fome e uma insurgência perigosa de militantes do Estado Islâmico. Isso deixou pequenas margens onde os afegãos podem avançar.

Quando o Taleban tomou o poder, em agosto, a maioria das escolas foi fechada em razão da covid-19. Sob forte pressão internacional, o Taleban logo reabriu escolas para meninas da 1.ª à 6.ª séries, assim como para meninos em todos os níveis.

No entanto, eles não permitiram que as meninas do ensino médio voltassem, dizendo que, primeiro, eles devem garantir que as aulas sejam ministradas de "maneira islâmica". Quando os professores e pais de Herat pediram a reabertura, os funcionários do Taleban hesitaram, alegando que precisavam de uma autorização do governo em Cabul.

Em outubro, os professores sentiram que tinham o acordo tácito do Taleban de não atrapalhar. Os professores começaram a espalhar a notícia em páginas do Facebook e aplicativos de mensagens, anunciando que as escolas de ensino médio para meninas reabririam em 3 de outubro.

Resistência

Nem todas as alunas apareceram quando as escolas reabriram em Tajrobawai. Mas, à medida que os pais ficavam mais confiantes, as salas de aula foram preenchidas após alguns dias. Meshaal destaca que houve mudanças no Taleban e algumas facções são mais abertas. "Eles entendem que as pessoas resistirão na questão da educação."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A jogadora da seleção feminina juvenil de vôlei do Afeganistão Mahjabin Hakimi teria sido decapitada pelo Taleban no início de outubro, segundo o jornal Persian Independent. Uma treinadora, Suraya Afzali (um pseudônimo), disse ao diário que a morte ficou em segredo porque a família de Mahjabin foi ameaçada para não falar sobre o assunto.

Mahjabin era destaque da equipe do Kabul Municipality Volleyball Club antes de o Taleban tomar controle do governo afegão em agosto. Desde então, as atletas femininas em todo o país enfrentam grave ameaça à sua segurança, sofrendo perseguição de membros do grupo fundamentalista.

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Ainda segundo a treinadora, apenas duas jogadoras da seleção conseguiram deixar o Afeganistão, enquanto o restante está sob terror. "Todas estão em uma situação ruim, desesperadas e com medo. Todas foram forçadas a fugir e viver em lugares desconhecidos", alertou. Os esforços de membros da seleção feminina de vôlei para ter o apoio de organizações e países para deixar o país não tiveram sucesso.

Nesta semana, o governo do Catar, em cooperação com a Fifa, fretou voo para retirar jogadores do Afeganistão. Dezenas de atletas afegãos, incluindo mulheres, deixaram o país na quarta-feira a bordo de um avião com destino a Doha, como parte de uma série de evacuações organizadas pelo governo do Catar em cooperação com a Fifa.

"Havia 369 passageiros no voo e mais de 55 pessoas foram evacuadas em coordenação com a Fifa", disse um alto funcionário do Catar em um comunicado.

Com o Taleban assumindo o controle do Afeganistão, todas as atividades femininas nas esferas esportiva, política e social cessaram, e ainda há preocupações sobre as contínuas restrições à vida, ao trabalho e à segurança das mulheres ativas na arena social.

Após a tomada de Cabul pelos integrantes do Taleban, as mais altas instâncias do esporte mundial manifestaram preocupações especiais com as mulheres, considerando que estas podem estar ameaçadas pelo regime.

Os talebans conquistaram a capital Cabul em 15 de agosto, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares dos Estados Unidos e da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Em busca de legitimidade internacional, o Taleban nomeou seu porta-voz baseado em Doha, Suhail Shaheen, como embaixador do Afeganistão na Organização das Nações Unidas (ONU) e pediu espaço para um discurso de seu chanceler, Amir Khan Muttaqi, durante a Assembleia-Geral, que vai até segunda-feira (27).

O ministro das Relações Exteriores do governo do Taleban, Amir Khan Muttaqi, fez o pedido em uma carta ao secretário-geral da ONU, António Guterres, na segunda-feira.

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Muttaqi pediu para falar durante a reunião anual da Assembleia-Geral, que termina na próxima segunda-feira. O porta-voz do português, Farhan Haq, confirmou o recebimento da correspondência.

A iniciativa do grupo extremista, que retomou o poder após a retirada das tropas ocidentais do Afeganistão, é mais um passo em busca de legitimidade internacional - que, por sua vez, auxiliaria a ampliar a ajuda humanitária e a obter fundos em reservas internacionais para reativar a economia.

Da primeira vez em que governou o país, de 1996 a 2001, o Taleban tinha reconhecimento oficial apenas de Paquistão, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

O movimento estabelece um conflito com o atual representante do país na ONU, Ghulam Isaczai, nomeado pelo governo de Ashraf Ghani. O ex-presidente, derrubado pelo Taleban, se refugiou em Abu Dhabi no dia da reconquista da capital, Cabul. A mensagem do Taleban diz que a missão de Isczai está "considerada encerrada".

Guterres disse que o desejo do Taleban de reconhecimento internacional é a única alavanca que outros países têm para pressionar por um governo inclusivo e que respeite os direitos humanos, especialmente das mulheres, no Afeganistão.

Até que uma decisão seja tomada pelo comitê, Isaczai permanecerá na cadeira, de acordo com as regras da Assembleia-Geral. Ele deverá discursar no último dia da reunião, em 27 de setembro, mas não ficou claro se algum país poderia objetar após a carta do Taleban.

O comitê tradicionalmente se reúne em outubro ou novembro para avaliar as credenciais de todos os membros da ONU antes de enviar um relatório para aprovação da Assembleia-Geral antes do final do ano. O comitê e a Assembleia-Geral geralmente operam por consenso em relação às credenciais, disseram diplomatas.

Um porta-voz da entidade disse que o secretário-geral recebeu também uma segunda carta, enviada pelo atual embaixador, com data de 15 de setembro, informando os integrantes da delegação afegã.

Shah Mahmood Qureshi, chanceler do Paquistão, país vizinho ao Afeganistão, disse em uma entrevista classificou o pedido do Taleban como complexo.

"Quem ele representa? A quem ele se reporta? Que tipo de comunicação você pode ter com uma pessoa na ONU que não tem reconhecimento? É uma situação complexa e que está em andamento", disse, segundo relatado pelo jornal americano The New York Times.

Haq explicou que o pedido de Muttaqi foi encaminhado para um comitê de credenciais, que possui entre seus nove membros EUA, China e Rússia - Pequim e Moscou buscam ocupar o vácuo de influência deixado pela retirada de Washington do Afeganistão e já disseram que podem firmar relações com os taleban.

É improvável, no entanto, que a cúpula se reúna para discutir a questão antes de segunda, o que torna difícil um pronunciamento de Muttaqi no evento que reúne mais de cem líderes mundiais em Nova York.

Pelas regras da ONU, as credenciais continuam com Isaczai, que teria seu pronunciamento na Assembleia-Geral pré-agendado para o próximo dia 27. O comitê de credenciais se reúne geralmente entre outubro e novembro para analisar os pedidos das delegações.

O Taleban ainda é alvo de sanções econômicas de organismos multilaterais, e delegações alertaram à Assembleia-Geral que qualquer mudança na representação do Afeganistão precisaria ser analisada de forma criteriosa.

Líderes que já discursaram no evento iniciado na terça-feira, 21, manifestaram preocupação com o futuro do Afeganistão. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Do futebol à natação, passando pelo atletismo e hipismo. Em Cabul, o novo diretor de esportes do Taleban, Bashir Ahmad Rustamzai, anunciou nesta quarta-feira que todos os homens do Afeganistão estão autorizados a praticar "até 400 esportes". No entanto, o direito ainda não foi estendido às mulheres do país para realizar qualquer atividade esportiva em público.

Segundo Rustamzai, a única exigência é que todos os esportes "sejam praticados de acordo com a lei islâmica", o que representa poucos problemas para os homens. Para cumprir com a sharia - conjunto de leis islâmicas baseadas no Alcorão -, eles precisam apenas cobrir os joelhos. Isso vale para todos os esportes, incluindo o futebol.

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Governos do ocidente esperam uma mudança por parte do grupo em relação ao assunto. Algumas declarações, porém, geram sérias dúvidas. Há uma semana, o funcionário taleban Ahmadullah Wasiq disse ao jornal australiano SBS que o governo não deve permitir que as mulheres joguem críquete, se estiverem expostas ao público.

"É possível que enfrentem uma situação em que seu rosto e corpo não estejam cobertos. O Islã não permite que as mulheres sejam vistas assim", destacou.

Depois das declarações de Ahmadullah Wasiq, a Austrália ameaçou cancelar a primeira partida histórica masculina entre os dois países, programada para ser disputada em novembro, em Hobart. Nesta quarta-feira, cerca de 100 jogadoras afegãs de futebol feminino conseguiram deixar o país e embarcaram rumo ao vizinho Paquistão.

O Aeroporto de Cabul, palco da retirada de civis e militares americanos do Afeganistão nas últimas semanas, foi reaberto neste domingo, 5, depois de passar por reparos feitos por técnicos enviados pelo governo do Catar. A medida é mais um passo importante no controle do país pelo Taleban.

O terminal começou a operar voos domésticos, mas ainda sem radares ou sistemas de navegação, o que ainda torna inviável sua reabertura para viagens internacionais.

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Essas viagens são importantes para viabilizar voos humanitários e a saíde de refugiados do país. Apesar do retorno do aeroporto ao controle civil, o Taleban ainda enfrenta dificuldades para consolidar um governo no Afeganistão. No sábado, o grupo voltou a adiar a apresentação de um gabinete, cuja composição poderia dar pistas sobre como serão os próximos anos no Afeganistão.

Uma explicação para este atraso pode ser a situação em Panshir, um dos últimos focos de oposição armada ao novo regime. Um antigo reduto antitalibã, este vale fica a cerca de 80 quilômetros ao norte da capital e é de difícil acesso.

Desde segunda-feira (30), quando as últimas tropas americanas deixaram o país, o vale é palco de combates entre o grupo e a Frente Nacional de Resistência (FNR).

Uma explicação para este atraso pode ser a situação em Panshir, um dos últimos focos de oposição armada ao novo regime. Um antigo reduto antitalibã, este vale fica a cerca de 80 quilômetros ao norte da capital e é de difícil acesso.

Desde segunda-feira (30), quando as últimas tropas americanas deixaram o país, o vale é palco de combates entre o grupo e a Frente Nacional de Resistência (FNR).

(Com agências internacionais)

Antes ameaçado pelo medo e terror, o sonho paralímpico foi realizado. Após conseguir fugir do Taleban, a atleta de taekwondo Zakia Khudadadi estreou em Tóquio e se tornou a primeira mulher a representar o Afeganistão nos Jogos. Usando hijab branco, ela entrou na arena de competição Makuhari Messe, em Chiba, nesta quinta-feira. Suas duas derrotas foram detalhes perto do feito de pisar em solo japonês.

Khudadadi chegou ao Japão no último sábado, após embarcar secretamente em um voo rumo à Austrália para conseguir fugir do Afeganistão. Com o grupo extremista tomando o controle da capital Cabul e fechando aeroportos, a participação da jovem de 22 anos na Paralimpíada foi colocada em risco. O governo australiano não mediu esforços para conseguir tirar ela e o compatriota Hossain Rasouli do cenário de caos às vésperas da competição.

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Apesar do êxito em conseguir sair do Afeganistão, Khudadadi preferiu não comentar seu desempenho em Tóquio, evitando conversar com jornalistas depois de suas lutas. Rasouli competiu no salto em distância masculino na terça-feira e também não falou com a mídia.

"Estou preocupada com a situação no Afeganistão, mas estou muito feliz que ela tenha conseguido vir e competir comigo", disse a ucraniana Viktoriia Marchuk depois de derrotar Khudadadi na rodada de repescagem. Em seu apelo para ir aos Jogos, Khudadadi disse que não queria que toda sua preparação tivesse sido em vão.

Não se sabe imediatamente o que os atletas afegãos pretendem fazer após os Jogos, mas Alison Battisson, da organização Direitos Humanos para Todos, que esteve envolvida na evacuação, disse que a Austrália lhes concedeu vistos humanitários.

O Taleban disse que respeitaria os direitos das mulheres, permitindo-lhes trabalhar e estudar "dentro da estrutura do Islã", mas muitos afegãos temem que isso seja uma um argumento de fachada, em uma tentativa de diminuir as críticas pela comunidade internacional.

Durante seu governo de 1996-2001, também guiado pela lei islâmica sharia, o Taleban impediu as mulheres de trabalhar. As meninas não podiam ir à escola e as mulheres tinham que usar burca que cobriam tudo para sair, e apenas quando acompanhadas por um parente do sexo masculino.

Uma grande explosão ocorreu na manhã desta quinta-feira (26) em um dos portões do aeroporto internacional de Cabul - onde uma das maiores operações de retirada aérea da história vem sendo realizada desde a tomada da capital afegã pelo Taleban. A informação foi confirmada pelo porta-voz do Pentágono, John Kirby, mas ainda não há um levantamento sobre vítimas.

O atentado ocorre na mesma semana em que autoridades ocidentais externaram preocupação com um possível ataque do Estado Islâmico (EI) no Afeganistão - com indicações claras de que as pessoas evitassem o aeroporto nesta quinta-feira.

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O Estado Islâmico no Afeganistão, também conhecido como Estado Islâmico Khorasan (ISIS-K), foi criado há seis anos por dissidentes do Taleban paquistanês. O grupo é grupo afiliado ao Estado Islâmico, que atuou na guerra civil da Síria, sendo apontado como responsável por dezenas de atentados terroristas no país neste ano.

Diversas lideranças mundiais alertaram sobre o perigo de uma ataque nos últimos dias, mas da noite de quarta para a manhã desta quinta, novos alertas surgiram sobre a ameaça. O ministro das Forças Armadas britânicas, James Heappey, disse à BBC hoje que havia "uma informação muito confiável de um ataque iminente" no aeroporto, possivelmente dentro de "horas".

Na noite de quarta-feira, a Embaixada dos EUA alertou os cidadãos em três portões de aeroporto para sair imediatamente dos locais devido a uma ameaça à segurança não especificada. Antes, na terça-feira, 24, o presidente americano, Joe Biden, já havia mencionado o grupo terrorista. "Cada dia que estamos no terreno é mais um dia em que sabemos que o ISIS-K está tentando atingir o aeroporto e atacar as forças dos EUA e aliadas e civis inocentes", disse.

Um alto funcionário dos EUA, que falou sob condição de anonimato ao The New York Times, confirmou que os EUA estavam rastreando uma ameaça "específica" e "confiável" no aeroporto programada pelo ISIS-K.

Austrália, Reino Unido e Nova Zelândia também aconselharam seus cidadãos a não irem ao aeroporto nesta quinta-feira, com o ministro das Relações Exteriores da Austrália dizendo que havia uma "ameaça muito alta de um ataque terrorista". Vários países pediram às pessoas que evitem o aeroporto, onde a Bélgica disse haver ameaça de um ataque suicida.

O porta-voz do Taleban, Zabihullah Mujahid, negou que qualquer ataque fosse iminente. "Não está correto", escreveu em uma mensagem de texto após ser questionado sobre os avisos. Ele não deu mais detalhes.

Em meio às preocupações, os aviões de carga militares que saem do aeroporto de Cabul já utilizam sinalizadores para interromper qualquer possível ataque com mísseis. Também há a preocupação de que alguém possa detonar explosivos na multidão em frente ao aeroporto.

"Recebemos informações a nível militar dos Estados Unidos, mas também de outros países, de que havia indicações de que havia uma ameaça de ataques suicidas contra a massa da população", disse o primeiro-ministro belga Alexander De Croo, falando sobre a ameaça em torno do aeroporto de Cabul.

Desespero

Apesar de todos os alertas, no entanto, poucos pareceram atender aos alertas faltando apenas alguns dias para o término do esforço de retirada. Heappey admitiu que há pessoas desesperadas para partir e que muitos na fila estão dispostos a se arriscar, mas reforçou que as informações sobre a ameaça eram muito confiáveis. "Há chances de que, à medida que mais relatórios forem chegando, possamos mudar a recomendação novamente e processar as pessoas de novo, mas não há garantia disso", acrescentou.

O Estado Islâmico no Afeganistão surgiu a partir de uma dissidência do Taleban no Paquistão, reunindo representantes que têm uma visão ainda mais extrema do Islã. O grupo é uma das muitas afiliadas que do Estado Islâmico (EI) estabeleceu depois que invadiu o norte do Iraque vindo da Síria em 2014 e criou um califado do tamanho da Grã-Bretanha. Desde junho de 2020, sob o comando de um novo líder, Shahab al-Muhajir, o ISIS-K "permanece ativo e perigoso" e busca aumentar suas fileiras com combatentes do Taleban insatisfeitos e outros militantes, aponta um relatório da ONU.

Oficiais de contraterrorismo da ONU disseram no relatório de junho que o grupo do Estado Islâmico realizou 77 ataques no Afeganistão nos primeiros quatro meses deste ano, contra 21 no mesmo período em 2020. Os ataques do ano passado incluíram um ataque contra a Universidade de Cabul em novembro. Acredita-se que o ISIS-K tenha sido o responsável pelo atentado a bomba em uma escola na capital, que matou 80 meninas, em maio.

Apesar de combaterem as forças americanas e do governo afegão por anos, o ISIS-K também lutou contra o Taleban ao longo dos últimos anos, e seus líderes denunciaram a tomada do país pelos rivais, criticando sua versão do governo islâmico como uma linha que não é dura o suficiente.

Prazo final

Em meio às ameaças e à iminente retirada americana, alguns países europeus disseram que teriam de encerrar suas evacuações. O primeiro-ministro francês, Jean Castex, disse à rádio RTL que os esforços de seu país terminariam na sexta-feira (27) à noite devido à retirada dos EUA.

O ministro da Defesa dinamarquês, Trine Bramsen, advertiu sem rodeios: "não é mais seguro voar para dentro ou para fora de Cabul". O último voo da Dinamarca já partiu, e Polônia e Bélgica também anunciaram o fim de suas evacuações. O governo holandês disse que os EUA disseram para partir na quinta-feira.

O Taleban disse que permitirá que os afegãos partam em voos comerciais após o prazo final da semana que vem, mas ainda não está claro quais companhias aéreas retornarão a um aeroporto controlado pelos militantes. O porta-voz presidencial turco Ibrahim Kalin disse que conversas estão em andamento entre seu país e o Taleban sobre permitir que especialistas civis turcos ajudem a administrar as instalações. (Com agências internacionais).

O Talibã proibiu aulas mistas em universidades públicas e privadas na província de Herat, que até junho passado abrigou uma base militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) chefiada pela Itália.

A informação é da agência afegã Khaama Press, que diz que os governantes talibãs na província determinaram que homens e mulheres sejam colocados em classes separadas.

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Professores alertaram que isso pode impedir o acesso de mulheres à educação universitária, já que as instituições privadas não conseguem arcar com os custos financeiros de organizar cursos separados.

A província de Herat, no oeste do Afeganistão, tem cerca de 40 mil estudantes e 2 mil professores universitários. Após reassumir o poder no país, o Talibã havia prometido respeitar os direitos das mulheres e garantir seu acesso à educação, mas "à luz da lei islâmica".

Da Ansa

O avião militar dos Estados Unidos que aparece na foto que deu a volta ao mundo devido à quantidade de afegãos que fogem espremidos uns nos outros no avião após a chegada do Talibã a Cabul, levava 823 passageiros, disse o Pentágono nesta sexta-feira (20).

O comando militar aéreo dos EUA explicou que a estimativa inicial de 640 afegãos que fugiam sentados no chão duro do gigante C-17 Globemaster III - que já era mais que o dobro da capacidade da aeronave - omitiu as crianças que iam a bordo.

A conta inicial foi feita tomando como referência a quantidade de assentos ocupados nos ônibus que levaram os passageiros ao C-17 e deixou de lado todas as crianças sentadas no colo dos adultos, explicou no Twitter.

Por fim, o avião, que se dirigiu ao Catar, "transportou com segurança 823 cidadãos afegãos do aeroporto Hamid Karzai em 15 de agosto de 2021. Isso representa um recorde para esta aeronave", disse o comando do Pentágono.

Não foi especificado quantos tripulantes estavam a bordo.

Segundo o jornal Defense One, a pressão dos afegãos para deixarem o país no domingo levou a tripulação a decidir fazer o voo sem que os passageiros fossem registrados.

"Temos mulheres e crianças e a vida de pessoas em risco, não se trata de capacidade ou regras e regulamentos, se trata de treinamento e das diretrizes que fomos capazes de seguir para garantir que poderíamos tirar (do país) tantas pessoas de forma segura e efetiva", disse o tenente coronel Eric Kut, que comandou o voo, ao jornal.

Esses aviões são geralmente usados para levar equipamento pesado ou poucas centenas de soldados, além de pacotes pesados com suas próprias armas e pertences.

Zaki Anwari, ex-jogador de futebol da seleção de base do Afeganistão, morreu após tentar se segurar em um avião para fugir do país, tomado pelo grupo radical islâmico Taleban no último domingo. A informação foi divulgada nesta quinta-feira pela agência de notícias afegã Ariana News.

Anwari foi encontrado morto no aeroporto de Cabul. Ainda de acordo com a agência, ele caiu depois de tentar se segurar no trem de pouso do de um Boeing C-17, aeronave da Forças Armadas dos Estados Unidos, durante o resgate de estrangeiros e afegãos.

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A morte foi confirmada pela Diretoria Geral de Educação Física e Esportes do Afeganistão. Anteriormente, o jovem atuou pela seleção sub-16 do país.

Multidões lotaram o aeroporto de Cabul nos últimos dias desde a insurgência do Taleban. No desespero para deixar o país, dezenas morreram da mesma forma que Anwari, tentando embarcar em aviões em movimento.

O retorno do grupo extremista também trouxe dúvidas sobre o futuro das mulheres no esporte. Nesta semana, Zakia Khudadadi, atleta de parataekwondo, pediu ajuda para conseguir viajar e participar da Paralimpíada de Tóquio. Ela pode se tornar a primeira mulher do seu país a disputar a competição.

Por sua vez, Shabnam Mobarez, capitã da seleção feminina afegã, falou ao Estadão sobre a esperança que o esporte trouxe para o país nas últimas décadas e o temor de ter que abandonar o futebol após a retomada do Taleban.

Em um apelo por uma mobilização para ajudar os afegãos, o diretor-geral do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Robert Mardini, disse que ainda é difícil prever o resultado na transição que acontece no país, mas que as necessidades humanitárias continuarão altas. Com essa preocupação, algumas organizações já mantêm campanhas para quem quiser doar e ajudar os afegãos, que assistem ao retorno da milícia radical Taleban ao poder no país após 20 anos.

Segundo Mardini, o CICV está aliviada ao ver que a cidade de Cabul está evitando o que poderia ter sido uma guerra urbana devastadora. No entanto, disse, a organização continua atenta aos milhares de civis que estão feridos e foram deslocados em decorrência dos últimos combates em outros centros urbanos.

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Desde 1º de agosto, mais de 7,6 mil pacientes com ferimentos causados por armas receberam tratamento em estabelecimentos de saúde apoiados pelo CICV em todo o país. Nos meses de junho, julho e agosto, mais de 40 mil pessoas feridas por armas foram tratadas nesses estabelecimentos de saúde, explicou ele, prevendo que as equipes de saúde e reabilitação física do CICV deverão receber pacientes nos próximos meses e anos.

"Atualmente, o CICV tem um déficit de financiamento de cerca de 30 milhões de francos suíços (US$ 33 milhões), de um orçamento de aproximadamente 79 milhões de francos suíços (US$ 86 milhões). Fazemos um apelo de fundos aos doadores para um financiamento adicional imediato que tem como objetivo apoiar o nosso trabalho, incluindo na área médica e nos nossos centros de reabilitação física."

A Acnur (Agência da ONU para Refugiados), destacou estar particularmente preocupada com o impacto do conflito sobre mulheres e meninas. Aproximadamente 80% dos cerca de 250 mil afegãos forçados a abandonar suas casas desde o fim de maio são mulheres e crianças, lembrou a organização. "Quase 400 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas desde o início do ano. Esse número soma-se a 2,9 milhões de afegãos já deslocados internamente em todo o país - dado registrado no final de 2020", explica a Acnur.

Segundo a porta-voz da Acnur Shabia Mantoo, as equipes humanitárias, como parte do esforço mais amplo da ONU, avaliaram as necessidades de quase 400 mil deslocados internamente este ano. "Respondendo inicialmente às prioridades mais críticas, foram fornecidos alimentos, abrigo, kits de higiene e sanitários e outros tipos de assistência para salvar vidas, juntamente com parceiros", afirmou a porta-voz.

Ela explica que a esmagadora maioria dos afegãos forçados a deixar suas casas permanece dentro do país, tão perto de suas casas quanto os combates permitem. Desde o início deste ano, segundo Mantoo, quase 120 mil afegãos fugiram de áreas rurais e cidades provinciais para a província de Cabul. "O Acnur pede à comunidade internacional que aumente urgentemente seu apoio para responder a esta última crise de deslocamento do Afeganistão."

Saiba como doar:

- Comitê Internacional da Cruz Vermelha

https://doe.cicv.org.br/doe-africa/people/new

- Acnur

https://doar.acnur.org/acnur/afeganistao.html#doacao-section

O governo do Reino Unido informa, em comunicado nesta terça-feira (17) que o primeiro-ministro Boris Johnson conversou hoje com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. No telefonema, a dupla coincidiu sobre a importância da cooperação global, tanto na "necessidade urgente" de retirar estrangeiros "e outros" do Afeganistão, bem como na importância de mais longo prazo de se evitar uma crise humanitária no país e na região. Com a retirada de tropas dos Estados Unidos, o Taleban voltou ao poder.

Os dois líderes se mostraram dispostos a usar sua influência para encorajar parceiros internacionais a adotarem uma abordagem conjunta aos desafios para o país, diz o comunicado do governo britânico. "O primeiro-ministro também ressaltou a necessidade de concordar sobre padrões internacionais compartilhados sobre direitos humanos que qualquer governo futuro do Taleban no Afeganistão terá de manter frente à comunidade internacional", aponta o texto. Johnson ainda disse que pretende convocar líderes do G-7 a um encontro virtual para discutir a questão "na primeira oportunidade".

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A tomada de Cabul pelo Taleban ontem de uma forma muito rápida não chegou a ser grande surpresa para as autoridades americanas, segundo o jornalista Craig Whitlock. Autor do recém-lançado The Afghanistan Papers: A Secret History of the War (Os documentos do Afeganistão: uma história secreta da guerra, em tradução livre), Whitlock deu entrevista ao Estadão na última sexta-feira (13). Para ele, o poder bélico do Taleban e o despreparo das forças afegãs eram conhecidos dos EUA e da Otan.

Como os rebeldes conseguiram organizar essa ofensiva tão rápido e vencer as forças afegãs que receberam recursos e treinamento dos EUA?

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Duas respostas rápidas para isso. O Taleban é mais forte e mais inteligente do que nós pensávamos e se preparou para este momento. E as forças de defesa do Afeganistão são muito piores do que se sabia. Os EUA sabiam que o Taleban teria vantagens, mas nem por um momento imaginaram que o Exército e a polícia entregariam as armas e se renderiam tão rápido, quase sem oferecer resistência. O governo americano e seus aliados gastaram bilhões de dólares criando um Exército de mentira. No papel, deve haver 350 mil homens entre militares e polícia, mas na realidade há, talvez, metade disso. Ao mesmo tempo, é evidente que o Taleban planejou este momento. O acordo para retirada das tropas americanas foi feito na administração Trump e o grupo sabia que este dia estava chegando. Quando os americanos finalmente começaram a retirada, por volta de julho, eles aproveitaram o momento. O domínio do Taleban parece ter acontecido muito rápido, mas eles se planejaram para isso. É exatamente o desfecho que queriam. Não foi da noite para o dia.

 

No livro, o sr. sustenta que os presidentes americanos do período e seus oficiais militares distorceram a verdade sobre a guerra para o público geral. O que o levou a essa afirmação?

Infelizmente há uma distância muito grande entre o que os líderes americanos disseram em público ao longo dos anos e a verdade. Nós obtivemos uma série de documentos públicos contendo depoimentos de uma série de autoridades, nos quais elas admitiam que o que era dito em público era muito diferente do que era discutido internamente. Ao mesmo tempo em que os generais iam a público dizer que estavam vencendo a guerra, em mesas diplomáticas ou encontros reservados, eles diziam exatamente o oposto. Presidentes disseram estar colaborando com o treinamento e o equipamento das forças de segurança afegãs, que elas estavam evoluindo, mas o que o livro mostra é que os militares americanos responsáveis pelo treinamento sabiam que os recrutas afegãos eram horríveis: não sabiam ler, não sabiam contar, desertavam o tempo todo, não tinham motivação, não recebiam bem e seus comandantes os agrediam brutalmente. E isso aconteceu nos governos Bush, Obama e Trump.

No começo, a guerra teve um apoio popular muito grande, após o 11 de Setembro. Qual foi o momento da virada?

Eu acho que isso aconteceu gradualmente, a partir do governo Obama. Em 2014, houve uma cerimônia da Otan em Cabul, na qual Obama e seus generais declararam o fim da guerra. Apesar dos discursos, o que houve foi uma espécie de ilusionismo. Enquanto diziam que a guerra acabou, mantinham as tropas no país. Neste ponto, percebemos que as pessoas cansaram de tudo.

Podemos dizer que a presença dos EUA e seus aliados no Afeganistão por um período tão longo fragilizou as instituições?

Eu acho que uma das conclusões apresentadas no meu livro é que (a intervenção prolongada) não tinha como dar certo. Se sabia há 10 ou 15 anos que essa estratégia não iria funcionar. Que o governo afegão é excessivamente corrupto e as forças de defesa são incompetentes. Em resumo, que não tinha como durar no longo prazo.

O sr. cobre o tema no The Washington Post. O que os repórteres lá têm relatado?

É um cenário pessimista. O Taleban tem trabalhado sua imagem pública, mas a realidade ainda é de um movimento muito brutal e fundamentalista. Eles têm uma visão muito ultrapassada sobre religião e sociedade.

Grupo expulsou russos do país

1. O que é o Taleban?

O Taleban chegou ao poder no Afeganistão na década de 1990, formado por guerrilheiros que expulsaram os soviéticos na década anterior com o apoio da CIA. O Taleban tem uma agenda local, com a ambição de transformar o Afeganistão em um Emirado Islâmico. Apesar de ter apoiado a Al-Qaeda no passado, os taleban não tem ligação com o Estado Islâmico, que possui uma agenda global.

2. Como ele é financiado?

Parte do dinheiro vem do comércio de ópio e do tráfico de drogas ou de outros crimes, como o contrabando. O grupo tributa e extorque fazendeiros, além de outros negócios. Os militantes também se envolvem em sequestros para obter resgate.

3. Quem é o líder?

Mawlawi Hibatullah Akhunadzad foi nomeado Comandante Supremo do Taleban em 25 de maio de 2016, depois que Mullah Akhtar Mansour foi morto em um ataque de drones dos EUA.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Combatentes do grupo fundamentalista islâmico Taleban assumiram o controle da capital afegã Cabul, enquanto o presidente Ashraf Ghani deixava o país. Embora o Taleban tenha dito inicialmente que não entraria na cidade antes que um governo de transição fosse formado, o grupo mudou de ideia ao anoitecer, justificando que era preciso manter a ordem pública após a polícia afegã ter abandonado seus postos.

"Para evitar o caos e os saques, o Emirado Islâmico ordenou aos mujahedeen que assumam o controle das áreas abandonadas", disse o Taleban em comunicado, acrescentando que combatentes do Taleban não atacarão nenhum oficial civil ou militar do antigo regime.

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As forças de segurança afegãs não ofereceram resistência enquanto os insurgentes, que tomaram a maior parte do país em apenas uma semana, apareceram na manhã deste domingo (horário local) nos arredores de Cabul.

No fim da manhã, os postos de controle tinham sido abandonados por tropas afegãs, enquanto moradores em pânico congestionavam as ruas. Também pela manhã, Ghani fugiu do palácio presidencial e ficou na Embaixada dos Estados Unidos. Ele deixou a capital afegã à tarde.

No início da tarde, o Taleban assumiu o controle da principal prisão de Pul-e-Charkhi em Cabul, libertando milhares de presos, conforme vídeos publicados em redes sociais. À noite, a estrada principal para o aeroporto de Cabul - repleta de afegãos tentando escapar e com milhares de soldados norte-americanos tentando garantir a retirada da cidade - tinha combatentes do Taleban misturados a tropas afegãs uniformizadas.

(Com Dow Jones Newswires)

Os EUA bombardearam ontem um grupo de talebans que atacava forças de segurança do Afeganistão na província de Helmand, no sul do país.

O ataque aconteceu quatro dias após a assinatura de um acordo entre americanos e rebeldes para a retirada das tropas dos EUA do país.

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O bombardeio foi uma resposta a um ataque que matou ao menos 29 soldados e policiais afegãos ontem, horas depois de uma conversa telefônica entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder político do Taleban, o mulá Baradar Akhund.

Os Estados Unidos e o Taleban anunciaram nesta sexta-feira, 21, a assinatura de um acordo de paz no dia 29 de fevereiro, em Doha, no Catar, após 18 anos de conflitos. Os dois lados também iniciaram uma trégua de sete dias para reduzir a violência.

O acordo incluirá a libertação de prisioneiros dos dois lados. Pelo menos 14 mil militares dos EUA estão no Afeganistão como parte da missão da Otan. 

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Dois militares norte-americanos foram mortos e outros dois ficaram feridos quando o veículo onde estavam foi atingido por uma bomba em uma estrada no sul do Afeganistão, disseram as Forças Armadas dos Estados Unidos em comunicado.

De acordo com as regras do Departamento de Defesa, as vítimas não foram identificadas. O Taleban imediatamente assumiu a responsabilidade pelo ataque. Qari Yusouf Ahmadi, porta-voz do grupo, disse que o atentado ocorreu na província de Kandahar.

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Mais de 2.400 membros das forças armadas dos EUA já foram mortos no Afeganistão. O ano passado foi um dos mais mortais, mesmo quando os Estados Unidos se envolveram em negociações de paz com os insurgentes do Taleban.

Mais cedo, autoridades da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e do governo afegão haviam confirmado a ocorrência do ataque, mas não deram detalhes sobre vítimas. 

Autoridades dos EUA e do Taleban concordaram nesta segunda-feira (28) com o esboço de um acordo de paz para o mais longo conflito com participação americana. Pelo acerto, o grupo islâmico evitaria que o território afegão seja usado por terroristas e aceitaria negociar com o governo do Afeganistão. Apesar de ser o primeiro progresso em nove anos, o governo afegão afirmou que a medida pode ser "apressada".

O governo do Afeganistão foi excluído das negociações até agora porque os insurgentes o consideram um "fantoche americano". No entanto, entre as condições apresentadas pelos EUA para retirar suas forças de combate do Afeganistão está a exigência de conversas entre os líderes do Taleban e o governo afegão, além do compromisso de um cessar-fogo duradouro.

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"Nós temos o esboço da estrutura que tem de ser trabalhada antes de se tornar um acordo efetivo", afirmou nesta segunda o negociador-chefe americano, Zalmay Khalilzad. "O Taleban se comprometeu, para nossa satisfação, a fazer o que for necessário para evitar que o Afeganistão se torne uma plataforma para grupos e indivíduos terroristas. Sentimos confiança o suficiente."

Depois de nove anos de esforços por um acordo de paz, o esboço, embora preliminar, é o maior passo tangível na direção do fim de uma guerra de duas décadas que custou dezenas de milhares de vidas e mudou profundamente a política externa americana.

Os EUA mantêm atualmente 14 mil soldados no Afeganistão. Eles invadiram o país em 2001, pouco menos de um mês depois dos atentados do 11 de Setembro, para derrubar o governo do Taleban, que havia dado abrigo a Osama bin Laden, chefe da organização terrorista Al-Qaeda.

Desde então, o Taleban, que tem amplo apoio da maioria pashtun da população afegã, trava uma guerra de guerrilha contra o governo apoiado pela coalizão internacional comandada pelos Estados Unidos.

Uma autoridade de alto escalão dos EUA contou ao New York Times, sob a condição de anonimato, que a delegação do Taleban pediu tempo para deliberar com os líderes do grupo sobre a insistência americana em que os insurgentes conversem com o governo afegão e cheguem a um cessar-fogo como parte de qualquer acordo. Os americanos deixaram claro ao Taleban que todos os problemas discutidos são "interconectados", como parte de um "pacote de acordos".

Em pronunciamento à nação após a reunião com Khalilzad, o presidente afegão, Ashraf Ghani, expressou preocupação de que um acordo de paz seja "apressado". Ele citou pactos anteriores que terminaram em derramamento de sangue.

"Queremos paz rapidamente, queremos logo, mas queremos paz com prudência", afirmou Ghani. "A prudência é importante para não repetirmos erros do passado."

Eleição

A questão da inclusão do Afeganistão no processo de paz é sensível para Ghani, que está busca se reeleger em julho. Ele se opôs a sugestões de que um governo interino seja formado para implementar um plano de paz e expressou preocupação de que um acordo entre EUA e Taleban possa ocorrer à custa da "democracia e das liberdades afegãs".

Parlamentares afegãos e analistas disseram que, apesar de um importante passo para a negociação, é cedo para dizer que se trata de um acordo de paz. Um dos pontos principais seria a falta de capacidade das Forças Armadas afegãs de defender o país após a retirada americana. (Com agências internacionais).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Quatro ataques realizados por militantes do Taleban no norte do Afeganistão mataram 28 integrantes das forças de segurança afegãs e feriram outros 36 entre a noite de quarta-feira (9) e a madrugada de ontem (10), informaram fontes oficiais.

Segundo o governo, 40 militantes também morreram nos ataques. Após 17 anos de conflito, o governo controla 55% do território afegão e o Taleban, 11%.

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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