A estrela americana da ginástica artística Simone Biles citou o fenômeno da perda de noção de espaço ("twisies") para explicar sua desistência. Essa perda de referências no ar, conhecida principalmente pelos ginastas de trampolim, pode ser reforçada ou ocasionada pelo estresse e principalmente colocar o atleta em perigo.
Na tarde de terça-feira (27), quando Simone Biles, para surpresa de todos, decidiu deixar a competição por equipes, ela explicou que não queria "arriscar se machucar, ou fazer algo estúpido, ao participar dessa competição".
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Ao abordar sua "saúde mental", a ginasta falou dos "twisties", fenômeno conhecido no mundo da ginástica, que também pode afetar os jogadores de golfe ("yips"). De repente, o corpo do atleta não responde mais a ele mesmo, e suas referências desaparecem. Uma espécie de desconexão que leva à desorientação.
Quando a equipe americana entra no Centro de Ginástica Ariake na tarde de terça-feira para a competição geral, começa com o salto.
- 'Não sabia onde estava' -
É a vez de Biles, e todos pensam apenas em uma coisa: ela vai fazer uma nova acrobacia, um salto duplo carpado para trás que tentou nos treinos? Se ela fizer isso nos Jogos, será o quinto movimento com seu nome, o que tornaria sua lenda ainda maior.
Mas não. Em vez disso, ela dá um salto "Amanar", movimento muito difícil com dois giros e meio, mas um dos giros desaparece.
"Não entendi o que aconteceu. Não sabia onde estava no ar, poderia ter me machucado", descreveu em sua coletiva de imprensa. Ela é, então, interrompida pelas meninas da equipe: "Tivemos um pequeno ataque do coração, vendo o que estava acontecendo!".
A infalível Simone Biles, superdotada da ginástica, que sobe a três metros do solo graças a um salto excepcional, é mais de acrescentar um giro do que de tirar um.
- 'Voltar a aprender' -
Este fenômeno de perda de controle do corpo e da noção de espaço é "complexo", explica um técnico francês à AFP, e é difícil de resolver. Pode ser "reforçado pela pressão". A ginasta vítima desse fenômeno é "absorvida pelo medo de se perder" e, posteriormente, de se ferir gravemente.
Nestas últimas horas, várias ginastas contaram nas redes sociais terem sofrido "twisties". Pode ser mais ou menos intenso e levar um certo tempo para ser superado.
"Eu tenho 'twisties' desde os 11 anos de idade. Não posso imaginar como deve ser assustador, se acontecer durante uma competição", contou a ginasta americana Aleah Finnegan.
"Você não tem nenhum controle sobre seu corpo e sobre o que ele faz", relata, acrescentando que é "difícil explicar para alguém que não faz ginástica".
A ginasta suíça Giulia Steingruber, especialista em saltos, que participa da final da competição geral na tarde desta quinta-feira em Tóquio, também relatou que teve um "bloqueio mental" semelhante em 2014.
"Fiquei com muito medo" e "não conseguia superar isso", conta a atleta, em um documentário. "Teve que reaprender tudo aos poucos", diz seu treinador.
Pressão, estresse e ansiedade podem favorecer o surgimento desses "twisties". Simone Biles, que conquistou cinco medalhas olímpicas no Rio, falou da pressão que sofre há meses, o ano do confinamento, o adiamento dos Jogos, fatores que a abalaram muito no início.
No entanto, "Simone tem um equilíbrio incrível no ar", havia dito Aime Boorman, sua treinadora de longa data, à mãe de Simone quando ela tinha apenas seis anos.
"Você sabe exatamente onde está no ar quando faz um giro e instintivamente sabe como cair sobre seus pés para fazer a aterrissagem corretamente. É algo que um treinador não pode ensinar", disse a ela.