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Os talibãs deram gritos de vitória nesta segunda-feira (15) em Cabul, perto da antiga embaixada dos Estados Unidos, para celebrar o primeiro aniversário de seu retorno ao poder no Afeganistão, depois de um ano turbulento marcado por um grande retrocesso nos direitos das mulheres e o agravamento da crise humanitária.

Em 15 de agosto de 2021, os extremistas capturaram Cabul após uma ofensiva relâmpago contra as forças do governo, após o fim da intervenção militar internacional de 20 anos liderada pelos Estados Unidos.

"Cumprimos a obrigação da jihad e libertamos nosso país", afirmou Niamatulah Hekmat, um combatente que entrou em Cabul em 15 de agosto do ano passado.

"Hoje é o dia da vitória e da felicidade para os muçulmanos e o povo afegão. É o dia da conquista e da vitória da bandeira branca do Emirado Islâmico", destacou no Twitter o porta-voz do governo afegão, Bilal Karimi.

A retirada caótica das forças estrangeiras prosseguiu até 31 de agosto, com dezenas de milhares de pessoas correndo desesperadas para o aeroporto de Cabul com a esperança de embarcar em um voo de saída do Afeganistão.

As imagens da multidão invadindo o aeroporto, pessoas tentando entrar nos aviões, incluindo algumas penduradas em aeronaves militares de carga quando estavam prestes a decolar, foram observadas nos noticiários de todo o mundo.

Nesta segunda-feira, feriado no país, muitos talibãs faziam selfies na Praça Masud, que recebeu várias bandeiras brancas do Emirado Islâmico, diante da antiga embaixada dos Estados Unidos.

"Viva o Emirado Islâmico! Alá é grande!", gritaram os talibãs.

Nas ruas de Cabul, a movimentação era pequena, mas como é habitual diversas patrulhas de talibãs eram observadas em postos de controle.

Os combatentes talibãs expressam alegria com o retorno ao poder, apesar da informação das agências de ajuda humanitária de que metade do país de 38 milhões de habitantes enfrenta pobreza extrema.

"Quando entramos em Cabul e os americanos saíram, estes foram momentos de alegria", disse Hekmat, integrante das forças especiais que protegem o palácio presidencial.

- Vida sem sentido -

Mas para os afegãos comuns, em particular as mulheres, o retorno dos talibãs apenas agravou as dificuldades.

Inicialmente, os talibãs prometeram uma versão mais suave em comparação com a linha dura de seu primeiro governo, de 1996 a 2001. Mas rapidamente adotaram uma série de restrições para as mulheres, para cumprir com sua visão rigorosa do islã.

Dezenas de milhares de alunas foram excluídas do Ensino Médio e as mulheres estão impedidas de assumir diversos cargos públicos. Além disso, elas estão proibidas de viajar sozinhas para fora de suas cidades.

Em maio receberam ordens de cobrir o corpo dos pés à cabeça em público, de preferência com a burca.

"A partir do dia em que chegaram, a vida perdeu o sentido", lamenta Ogai Amail, moradora de Cabul. "Nos tiraram tudo, entraram inclusive em nosso espaço privado".

No sábado, em Cabul, os talibãs dispersaram com agressões e tiros para o alto um protesto de 40 mulheres, que defendiam o direito ao trabalho e à educação.

Nesta segunda-feira, 30 mulheres se reuniram em uma residência e publicaram fotos nas redes sociais com frases como "a história do Afeganistão sente vergonha do fechamento das escolas para as meninas".

"Nossa defesa da justiça foi silenciada pelos tiros, mas hoje continuamos pedindo a partir de nossa casa", afirmou uma das manifestantes, Munisa Mubariz.

Embora os afegãos reconheçam a violência diminuiu com a chegada dos talibãs ao poder, a crise humanitária deixa muitos desesperados. A ajuda internacional, que financiava 80% do orçamento afegão, está apenas começando a ser retomada, depois de ser completamente interrompida.

"Pessoas que visitam as nossas lojas reclamam muito dos preços elevados", declarou Noor Mohammad, gerente de um estabelecimento em Kandahar, centro de poder dos talibãs.

Até o momento, nenhum país reconheceu o regime talibã.

Quase mil pessoas pessoas morreram em um terremoto que afetou nesta quarta-feira (22) a região leste do Afeganistão, anunciaram as autoridades locais, que temem um balanço ainda maior.

O terremoto de 5,9 graus de magnitude aconteceu em uma zona remota do leste do país, perto da fronteira com o Paquistão, onde a população já vive em condições muito precárias.

"Até o momento, segundo as informações que temos, ao menos 920 pessoas morreram e 600 ficaram feridas", declarou em uma entrevista coletiva o vice-ministro de Gestão de Desastres Naturais, Sharafuddin Muslim.

O balanço da tragédia aumentou rapidamente e o líder supremo do país, Hibatullah Akhundzada, advertiu que os números podem ser ainda mais elevados.

O terremoto aconteceu a 10 km de profundidade, às 1H30, em uma área de difícil acesso do leste do país, informou o Centro Geológico dos Estados Unidos (USGS). Um segundo tremor de 4,5 graus aconteceu na mesma área e quase no mesmo horário.

"Pedimos às agências de ajuda que proporcionem assistência imediata às vítimas do terremoto para evitar um desastre humanitário", afirmou o vice-porta-voz do governo, Bilal Karimi.

Yaqub Manzor, líder tribal de Paktika, disse que muitos feridos são do distrito de Giyan e foram transportados em ambulâncias e helicópteros.

"Os mercados locais estão fechados e as pessoas correram para ajudar nas áreas afetadas", declarou à AFP por telefone.

Fotos de casas destruídas nesta região rural pobre e isolada foram divulgadas nas redes sociais. Um vídeo mostra alguns moradores carregando feridos até um helicóptero.

"Grande parte da região é montanhosa e os deslocamentos são difíceis. Vamos precisar de tempo para transportar os falecidos e os feridos", explicou o ministro de Gestão de Desastres Naturais, Mohamad Abas Akhund.

- Ajuda internacional -

Os serviços de emergência do país, limitados há muitos anos em número de funcionários e capacidade, não estão preparados para enfrentar catástrofes naturais de grandes proporções.

"O governo faz o máximo dentro de suas capacidades", tuitou Anas Haqqani, dirigente talibã.

"Esperamos que a comunidade internacional e as organizações humanitárias ajudem as pessoas nesta situação terrível", acrescentou.

O terremoto foi sentido em várias províncias da região, assim como na capital Cabul, que fica 200 km ao norte do epicentro do tremor.

Também foi sentido no Paquistão, onde uma pessoa morreu e várias casas ficaram danificadas.

O primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, disse que está "profundamente entristecido" com a tragédia e afirmou que o governo do país está trabalhando para dar apoio aos colegas afegãos.

ONU e União Europeia (UE) prometeram ajuda.

"As equipes de avaliação das agências já estão mobilizadas em várias áreas afetadas", informou o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU no Twitter.

"A União Europeia acompanha a situação (...) e está disposta a coordenar e fornecer ajuda de emergência", tuitou o enviado especial do bloco para o Afeganistão, Tomas Niklasson.

O papa Francisco expressou solidariedade com as vítimas do terremoto e disse esperar que "com a ajuda de todos o sofrimento do querido povo afegão possa ser aliviado".

- Terremotos frequentes -

O Afeganistão registra terremotos com frequência, em particular na região de Hindu Kush, que fica entre o Afeganistão e o Paquistão, na união das placas tectônicas eurasiática e indiana.

As catástrofes podem ser devastadoras devido à pouca resistência das casas rurais afegãs.

Em outubro de 2015, um terremoto de 7,5 graus nas montanhas de Hindu Kush deixou mais de 380 mortos nos dois países.

As vítimas afegãs incluíram 12 meninas, que em pânico tentaram fugir da escola durante o tremor.

Desde que o Talibã retomou o poder em agosto do ano passado, o Afeganistão vive uma grave crise financeira e humanitária, provocada pelo bloqueio de milhões de ativos no exterior e pela suspensão da ajuda internacional, que sustentava o país há duas décadas e que agora chega a conta-gotas.

Doze pessoas morreram nesta quarta-feira (25) em quatro atentados no Afeganistão, três deles contra microônibus em Mazar-i-Sharif (norte) e um contra uma mesquita em Cabul, anunciaram autoridades.

A autoria dos ataques aos três microônibus foi reivindicada pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI) por meio de seu veículo de propaganda Amaq. "Os soldados do califado explodiram duas bombas colocadas em dois ônibus e uma terceira bomba em um terceiro ônibus", indicou o EI no aplicativo Telegram.

"As bombas foram colocadas em três microônibus em diferentes bairros da cidade", declarou à AFP o porta-voz da polícia da província de Balj, Asif Waziri. Ao menos 10 pessoas morreram e 15 ficaram feridas nos atentados, segundo a polícia e os serviços de saúde.

De acordo com Najibullah Tawana, responsável do serviço de saúde de Balkh, três mulheres estão entre os dez mortos nas explosões de ônibus.

Outro atentado com bomba nesta noite atingiu uma mesquita na capital Cabul, matando ao menos duas pessoas e ferindo outras 10, informou o Ministério do Interior.

O número de atentados diminuiu no país desde que os talibãs tomaram o poder em agosto, mas uma série de ataques com bombas deixou dezenas de mortos no final de abril, mês sagrado do Ramadã. Alguns foram reivindicados pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI).

O hospital de emergência de Cabul indicou em um tuíte um balanço de cinco mortos e 22 feridos na explosão na mesquita.

As apresentadoras das principais redes de televisão afegãs foram ao ar, neste domingo (21), com seus rostos cobertos, voltando a cumprir uma ordem dos talibãs um dia depois de desafiá-la.

Desde que voltou ao poder no ano passado, os talibãs impuseram uma série de restrições à sociedade civil. Muitas delas visam a limitar os direitos das mulheres.

No início deste mês, o chefe supremo dos talibãs emitiu uma ordem, segundo a qual as mulheres devem se cobrir completamente em público, incluindo o rosto e, de preferência, com a burca tradicional. Antes, bastava um lenço, cobrindo o cabelo.

O temido Ministério afegão para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício ordenou às apresentadores de televisão que fizessem isso.

No sábado, as jornalistas desafiaram essa medida e foram ao ar, ao vivo, sem esconder o rosto.

Mas, no dia seguinte, as mulheres voltaram a usar véus completos, revelando apenas os olhos e a testa ao apresentar as notícias nos canais TOLOnews, Ariana Television, Shamshad TV e 1TV.

"Resistimos e somos contra o uso" do véu integral, disse à AFP Sonia Niazi, apresentadora da TOLOnews.

"Mas a TOLOnews está sob pressão, (os talibãs) disseram que qualquer apresentadora que aparecesse na tela sem cobrir o rosto deveria receber outro emprego", afirmou.

"Seguiremos nossa luta"

"Seguiremos nossa luta usando nossa voz. Serei a voz de outras mulheres afegãs", prometeu a âncora após apresentar o jornal. "Vamos trabalhar até que o emirado islâmico nos retire do espaço público ou nos obrigue a ficar em casa."

"Vamos continuar com nossa luta até o último suspiro", afirmou por sua vez Lima Spesaly, apresentadora da 1TV, alguns minutos antes de entrar no ar com o rosto coberto.

O diretor da TOLOnews, Khpolwak Sapai, afirmou que o canal foi "obrigado" a implementar a ordem para sua equipe.

"Nos disseram: vocês são obrigados a fazê-lo. Devem fazê-lo. Não há outra solução", disse Sapai à AFP.

O porta-voz do Ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, Mohamad Sadeq Akif Mohajir, afirmou que as autoridades não pretendiam forçar as apresentadoras a deixar o emprego.

"Estamos felizes que os canais tenham exercido corretamente sua responsabilidade", delcarou à AFP.

Os talibãs ordenaram que as mulheres que trabalham no governo sejam demitidas, se não cumprirem o novo código de vestimenta. Os funcionários também correm o risco de serem suspensos se suas esposas, ou filhas, não acatarem a ordem.

Os canais de televisão já deixaram de transmitir séries e novelas protagonizadas por mulheres, por ordem dos talibãs.

Ao menos 33 pessoas morreram e 43 ficaram feridas em uma explosão durante as orações de sexta-feira (22) em uma mesquita no norte do Afeganistão, informou um porta-voz do governo talibã, no dia seguinte a dois atentados reivindicados pelo grupo Estado Islâmico (EI).

"A explosão aconteceu em uma mesquita no distrito Iman Sahib de Kunduz e matou 33 civis, incluídas crianças", indicou, no Twitter, o porta-voz Zabihullah Mujahid.

Desde que os talibãs voltaram ao poder em agosto do ano passado após derrotar o governo apoiado pelos Estados Unidos, o número de atentados diminuiu no Afeganistão, mas os jihadistas sunitas do EI prosseguiram com os ataques contra grupos que consideram hereges.

"Condenamos este crime... e expressamos nossas mais profundas condolências ao falecido", disse Zabihullah Mujahid.

Imagens postadas nas redes sociais, que não puderam ser verificadas, mostraram as paredes esburacadas da mesquita Mawlavi Sikandar, frequentada por sufis.

Grupos jihadistas como o EI odeiam profundamente essa corrente do Islã, que consideram herética e acusam seus fiéis de politeísmo - o maior pecado do Islã - por venerar os santos mortos.

"O que aconteceu na mesquita foi horrível. Todos que estavam rezando lá dentro ficaram feridos ou mortos", disse Mohammad Esah, dono de uma loja próxima.

Um membro da equipe médica de um hospital próximo disse à AFP por telefone que 30 a 40 pessoas foram internadas no hospital após a explosão.

"As pessoas se reuniram para rezar na mesquita e a explosão aconteceu", disse uma testemunha à AFP por telefone.

Atentados em série

A explosão ocorre um dia após dois ataques reivindicados pelo grupo Estado Islâmico no Afeganistão, que deixaram pelo menos 16 mortos e dezenas de feridos.

Na quinta-feira (21), ao menos 12 pessoas morreram e várias ficaram feridas em um atentado reivindicado pelo EI em uma mesquita xiita em Mazar-i-Shariff, também no norte do Afeganistão.

Outro atentado nesse mesmo dia deixou quatro mortos em Kunduz.

Nenhum grupo assumiu a responsabilidade por duas explosões na terça-feira em uma escola para meninos em um bairro xiita de Cabul, matando seis pessoas e ferindo mais de 25.

Os afegãos xiitas, principalmente da comunidade hazara, que representa de 10% a 20% dos 38 milhões de habitantes do país, são alvo antigo do EI, que também os considera hereges.

Mais cedo nesta sexta-feira, as autoridades do Talibã disseram ter prendido o "cérebro" do ataque de quinta-feira à mesquita Mazar-i-Sharif.

Autoridades do Talibã insistem que suas forças derrotaram o grupo Estado Islâmico, mas analistas dizem que a organização jihadista continua sendo uma grande ameaça à segurança no Afeganistão.

O líder supremo do Talibã ordenou, neste domingo (3), a proibição do cultivo no Afeganistão da papoula, planta da qual são extraídos ópio e heroína, alertando que as autoridades destruiriam quaisquer plantações descobertas e puniriam os responsáveis.

O Afeganistão é de longe o maior produtor mundial de papoula, e a produção e exportação cresceram consideravelmente nos últimos anos.

"Todos os afegãos estão agora informados, o cultivo da papoula está estritamente proibido em todo o país", indica um decreto do líder talibã, Hibatullah Akhundzada.

"Em caso de violação do decreto, o cultivo será imediatamente destruído e os culpados tratados de acordo com a sharia", a lei islâmica, indica o texto.

Entre 80% e 90% da heroína e do ópio do mundo vêm do Afeganistão, segundo a ONU.

A área dedicada a essa cultura bateu recorde em 2017 com 250 mil hectares, quatro vezes mais do que na década de 1990.

O menino de cinco anos preso desde terça-feira em um poço seco profundo no sudeste do Afeganistão morreu, anunciou nesta sexta-feira (18) o governo Talibã.

A criança, identificada como Haidar, "nos deixou para sempre", escreveu no Twitter Anas Haqqani, alto conselheiro do ministério do Interior.

"É um novo dia de luto e tristeza para o nosso país", acrescentou.

"Haidar não está mais conosco", declarou Abdullah Azzam, secretário do vice-primeiro-ministro Abdul Ghani Baradar.

Na manhã de sexta-feira, as equipes de resgate conseguiram chegar até o menino, que caiu em um poço de 25 metros de profundidade na localidade de Shokak, na província de Zabul, 400 km ao sudoeste de Cabul.

Quando chegaram até ele, o menino ainda estava vivo, mas o estado de saúde "não era bom" e ele precisou receber atendimento médico no local, informou Ahmadullah Wasiq, porta-voz adjunto do governo Talibã.

A tragédia acontece poucos dias depois de outra similar no Marrocos, onde o pequeno Rayan, também de cinco anos, caiu em um poço e foi encontrado sem vida depois de passar cindo dias no local.

Com passos rápidos e a cabeça baixa para não chamar a atenção, algumas mulheres entram com prudência, uma depois da outra, em um pequeno apartamento em Cabul. Mesmo com suas vidas em risco, elas iniciam uma resistência incipiente ao Talibã.

O grupo prepara a próxima ação contra o movimento fundamentalista islâmico que provocou o fim de seus sonhos e conquistas ao retornar ao poder no Afeganistão, em 15 de agosto de 2021, após duas décadas de insurreição.

No início eram apenas 15 mulheres que participavam do movimento de resistência civil, a maioria jovens na casa dos 20 anos que já eram amigas.

Mas após sua primeira ação em setembro, a rede aumentou para dezenas de mulheres, ex-estudantes, professoras, trabalhadoras de agências humanitárias ou donas de casa que agora atuam em sigilo para defender seus direitos.

"Me perguntei: por que não me unir a elas em vez de ficar em casa, deprimida, remoendo tudo que perdemos?", relatou uma delas, de 20 anos, à AFP.

Elas têm perfeita consciência do perigo: várias companheiras desapareceram nos últimos meses.

Mas estão decididas a prosseguir o combate contra os Talibã, que durante seu primeiro regime esmagou as liberdades fundamentais das mulheres. E apesar das promessas de mudança em seu retorno ao poder, os fundamentalistas não demoraram a atacar os mesmos direitos outra vez.

Jornalistas da AFP foram autorizados a acompanhar duas reuniões das ativistas em janeiro.

Assumindo o risco de serem detidas, marginalizadas ou observarem suas famílias ameaçadas, mais de 40 mulheres, incluindo algumas mães com suas filhas, participaram no primeiro encontro. Muitas falaram sob anonimato por motivos de segurança.

Na segunda reunião, algumas militantes prepararam de maneira ativa a próxima manifestação. Com um telefone celular em uma mão e uma caneta na outra, uma ativista analisa uma faixa que pede igualdade de tratamento para as mulheres.

"Estas são as nossas armas", afirma.

- Lutar contra o medo -

Entre 1996 e 2001, os talibãs proibiram as mulheres de trabalhar, estudar, praticar esportes ou sair às ruas.

Agora, eles alegam que mudaram, mas adotaram um rigorosa segregação de gênero na maioria dos locais de trabalho, excluíram as mulheres de muitos empregos públicos, fecharam a maioria das escolas do Ensino Médio para as adolescentes e modificaram os programas universitários para impor sua interpretação estrita da sharia, a lei islâmica.

Ainda marcadas pelas recordações do regime Talibã anterior, muitas afegãs são reféns do medo de sair para protestar ou sucumbem à pressão de suas famílias para que permaneçam em casa.

Uma jovem de 24 anos explica como enfrentou sua família conservadora, incluindo um tio que escondeu seus livros para que não prossiga com os estudos. "Não quero deixar que o medo me controle e me impeça de falar", disse.

Nos últimos 20 anos, as afegãs, especialmente nas grandes cidades, estudaram em universidades, assumiram a direção de empresas e ocuparam cargos ministeriais.

O maior medo de Shala é que as meninas e as mulheres voltem a ser confinadas em casa. A ex-funcionário do governo de 40 anos perdeu o emprego com a volta do Talibã ao poder.

Algumas noites, esta mãe de quatro filhos vai para as ruas para escrever frases como "Viva a igualdade" nos muros.

"Quero apenas ser um exemplo para as jovens, mostrar que não abandonei o combate", afirma, com voz calma.

Ela tem o apoio do marido e dos filhos, que correm pela casa aos gritos de "Educação! Educação!".

- Precauções -

Para concretizar suas ações, as ativistas tomam todas as precauções.

Antes de aceitar novos membros, Hoda Kmosh, uma poeta de 26 anos e ex-funcionária de uma ONG que ajudava a reforçar a autonomia das mulheres, tenta assegurar que esta é uma pessoa de confiança e comprometida.

Um dos testes consiste em pedir que preparem rapidamente bandeiras ou slogans. As mais rápidas costumam ser as mais determinadas, opina Hoda.

Uma vez elas convocaram uma postulante para uma manifestação falsa. Os talibãs chegaram ao local e elas cortaram a relação com a mulher suspeita de ter passado a informação aos novos governantes.

O núcleo duro das ativistas utiliza um número de telefone reservado apenas para a coordenação antes de cada ação. Este número é abandonado em seguida para não ser rastreado. Hoda, cujo marido foi ameaçado, teve que mudar de número diversas vezes.

No dia do protesto elas enviam uma mensagem poucas horas antes do encontro. As mulheres chegam em grupos de duas ou três e ficam próximas às lojas, como clientes.

No horário marcado, elas se reúnem rapidamente, exibem seus cartazes e gritam as palavras de ordem: "Igualdade!, Igualdade! Chega de restrições".

Elas sempre são cercadas por combatentes talibãs que dispersam os protestos, gritam e apontam suas armas. Uma lembra que deu um tapa em um talibã. Outra que continuou gritando mesmo com uma arma contra suas costas.

"Quando a manifestação acaba, colocamos um véu e roupas que costumamos carregar para não sermos reconhecidas", explica Hoda.

- Operações noturnas -

Mas isto é cada vez mais perigoso.

O Talibã "não tolera protestos. Eles agridem manifestantes e jornalistas que cobrem os protestos. Eles procuram manifestantes e pessoas que organizam protestos", disse Heather Barr, pesquisadora especializada em direitos das mulheres da Human Rights Watch.

Em meados de janeiro, os talibãs usaram gás lacrimogêneo pela primeira vez contra contra militantes que pintaram burcas brancas com manchas cor vermelho-sangue para protestar contra o uso do véu integral, que tem apenas uma tela na altura dos olhos.

Duas manifestantes, Tamana Zaryabi Paryani e Parwana Ibrahimkhel, foram detidas em uma série de operações durante a noite de 19 de janeiro.

Em um vídeo dramático vídeo divulgado nas redes sociais pouco antes de sua detenção, Paryani pede ajuda: "Por favor, me ajudem! Os talibãs vieram aqui em casa (...) Minhas irmãs estão aqui", afirmou desesperada.

Ela também foi vista perto da porta implorando ao homem que aguardava. "Se você quiser conversar, vamos conversar amanhã. Não posso falar com vocês no meio da noite com as meninas em casa. Não quero, não quero... Por favor! Ajuda!".

As duas permanecem desaparecidas. A ONU e a HRW pediram ao governo que investigue o paradeiro das ativistas.

O porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid, negou qualquer envolvimento do Talibã, mas afirmou que as autoridades têm o "direito de deter e prender os opositores ou aqueles que violam a lei".

Muitas mulheres entrevistadas pela AFP antes dos desaparecimentos decidiram se esconder, alegando "ameaças ininterruptas".

A ONU solicitou na semana passada publicamente que o regime Talibã apresente informações sobre outras duas militantes desaparecidas.

- "Meu coração e corpo tremem" -

"Estas mulheres (...) precisaram criar algo do nada", destaca Heather Barr, da HWR. "Há muitas militantes experientes que trabalharam durante anos no Afeganistão (...) mas quase todas partiram depois de 15 de agosto".

Ao longo dos meses, elas aprenderam a adaptar-se: no início, os protestos terminavam quando uma mulher era agredida. Agora, nestes casos, duas militantes cuidam da vítima e as demais continuam sua ação, explica Hoda.

Como o Talibã proíbe os jornalistas de cobrir os protestos, elas usam telefones para fazer fotos e vídeos, que publicam rapidamente em suas redes sociais.

As imagens, em que aparecem com os rostos descobertos em um gesto de desafio, são exibidas para todo o mundo.

Outro grupo de mulheres, mais modesto, busca formas de protesto que evitem o confronto direto com os islamitas.

"Quando estou na rua, meu coração e meu corpo tremem", explica Wahida Amiri, ex-bibliotecária de 33 anos que já estava envolvida na luta contra a corrupção no governo anterior.

Às vezes ela se vezes se encontra com amigas na privacidade de uma casa onde filmam e postam imagens de vigílias à luz de velas, com faixas que exigem o direito de estudar e trabalhar.

Elas também recorrem a artigos, debates no Twitter ou ao aplicativo de conversas de áudio Clubhouse, com a esperança de que as redes sociais conscientizem o mundo sobre seu destino.

Em outras partes do país, como Herat (noroeste), Bamiyan (centro) ou Mazar-i-Sharif (norte), foram organizadas manifestações mais esporádicas.

"É possível que fracassemos. Tudo o que queremos é ressoar a voz da igualdade e que, em vez de cinco mulheres, milhares se unam a nós", explica Wahida.

"Porque se não lutarmos por nosso futuro hoje, a história do Afeganistão vai se repetir", adverte Hoda.

As equipes de resgate buscavam, nesta terça-feira (18), sobreviventes de um terremoto que atingiu uma área remota do oeste do Afeganistão e deixou ao menos 22 mortos e centenas de casas danificadas, informaram as autoridades.

O terremoto de magnitude 5,3 abalou a província de Badghis e derrubou casas, especialmente no distrito Qadis, uma zona rural de difícil acesso por estrada.

"O terremoto causou grandes danos nas casas, entre 700 e 1.000 foram danificadas", declarou o porta-voz provincial de Badghis, Baz Mohammad Sarwary, em uma mensagem de vídeo.

Sarwary informou que 22 pessoas morreram e que há quatro feridos, revisando para baixo um balanço anterior entregue à AFP que contabilizava 26 mortos.

"Existe a possibilidade de que aumente o número de vítimas", acrescentou o funcionário.

Este novo balanço foi confirmado pelo porta-voz do governo dos talibãs, Zabihullah Mujahid.

As imagens que circulam nas redes sociais mostram habitantes do local, incluindo crianças, procurando os restos de seus pertences e bens entre os escombros das casas derrubadas.

As equipes de socorro, incluindo os talibãs, foram ao local para tentar encontrar sobreviventes e levar os feridos para os hospitais locais, segundo as autoridades.

Essa catástrofe aconteceu em um momento de aguda crise humanitária por uma dura seca que afeta o país. A situação piorou após a chegada dos talibãs ao poder em agosto do ano passado, o que implicou o congelamento das ajudas internacionais que financiavam 80% do orçamento.

Segundo a ONU, a fome afeta 23 milhões de afegãos, o que representa 55% da população. O órgão precisa de 5 bilhões de dólares este ano para evitar uma catástrofe humanitária.

- Área sísmica -

No Twitter, Mujahid fez um apelo às organizações internacionais de ajuda humanitária para que ajudem as vítimas.

O movimento telúrico teve seu epicentro perto da cidade de Qala i Naw, capital de Badghis, a menos de 100 km da fronteira com o Turcomenistão, segundo o Serviço Geológico de Estados Unidos.

A área de Badghis é uma das mais afetadas pela seca e nos últimos 20 anos se beneficiou muito pouco da ajuda internacional.

Algumas das vítimas morreram pela queda dos telhados das suas casas, segundo as autoridades.

O terremoto também afetou os moradores do distrito de Muqr, mas não foram fornecidos detalhes dos danos.

No Afeganistão, os terremotos são frequentes, especialmente perto da cadeia montanhosa de Hindu Kush, onde a placa euroasiática e a indiana se chocam.

Qualquer movimento telúrico pode ser devastador devido à precariedade das construções rurais.

Em outubro de 2015, um terremoto de magnitude 7,5 uma área montanhosa da cadeia Hindu Kush, perto da fronteira com Paquistão e deixou mais de 380 mortos em ambos os países.

Os talibãs usaram gás pimenta para dispersar um grupo de mulheres que protestava neste domingo (16), em Cabul, exigindo seu direito ao trabalho e à educação - disseram três manifestantes à AFP.

Desde que retomaram o poder no país à força, em meados de agosto passado, os talibãs impuseram, progressivamente, restrições aos afegãos - em particular às mulheres.

Cerca de 20 mulheres se reuniram na frente da Universidade de Cabul, gritando "Igualdade e justiça!". Nas mãos, levavam cartazes que diziam "Direitos das mulheres, direitos humanos".

Os combatentes talibãs chegaram ao local a bordo de vários veículos, usando o gás para dispersar o grupo, relataram as manifestantes.

O grupo islâmico proibiu as manifestações não autorizadas e, com frequência, dispersa à força os atos pelos direitos das mulheres.

As autoridades não permitiram que muitas mulheres voltassem ao trabalho no serviço público e, em alguns casos, as meninas são rejeitadas nas escolas. Também se proibiu a televisão de transmitir séries, por causa da participação de atrizes.

A ONU pediu um recorde de US$ 5 bilhões para financiar a ajuda necessária este ano para garantir o futuro do Afeganistão, que está à beira de uma catástrofe humanitária.

Os Estados Unidos, cuja retirada acelerada da ajuda militar precipitou a volta do Talibã ao poder, anunciaram uma primeira doação de US$ 308 milhões.

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É uma solução de emergência, mas "o fato é que, sem (essa ajuda), não haverá futuro" para o Afeganistão, declarou o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, em Genebra, na segunda-feira (10).

O plano da ONU exige US$ 4,4 bilhões dos países cooperantes para financiar as necessidades humanitárias em 2022. Trata-se da maior quantia solicitada para um único país, informou a entidade em um comunicado.

Essa quantia permitirá a entrega de alimentos e o apoio à agricultura, financiará serviços de saúde, tratará a desnutrição, fornecerá acesso à água, saneamento e educação.

Cerca de 22 milhões de pessoas, mais da metade da população afegã, precisam de ajuda urgente.

A isso, serão adicionados US$ 623 milhões para ajudar os 5,7 milhões de refugiados afegãos em cinco países vizinhos, principalmente Irã e Paquistão.

O alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, alertou que, "se o país entrar em colapso (...), veremos um êxodo de pessoas muito mais importante. E esse deslocamento de pessoas será difícil de enfrentar dentro e fora da região, porque não vai ficar dentro da região".

Os Estados Unidos anunciaram uma primeira doação de US$ 308 milhões destinada, sobretudo, a alimentos, saúde e proteção contra o inverno rigoroso, informou a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), em um comunicado.

- Nada para os talibãs -

Desde agosto, o Afeganistão está sob o comando dos talibãs, que retomaram o poder após derrubarem o governo apoiado pela comunidade internacional e pelos militares americanos por duas décadas.

As sanções impostas para tentar pressionar os radicais islâmicos a fazer concessões, especialmente em relação aos direitos das mulheres, mergulharam o país em uma grave crise econômica. Este quadro se agrava com uma seca de vários anos.

Griffiths insistiu em que os fundos, que representam 25% do Produto Interno Bruto (PIB) oficial do país, não passarão pelos talibãs e serão usados diretamente por cerca de 160 ONGs e agências da ONU no local.

A distribuição é facilitada pela situação de segurança, "a melhor dos últimos anos", segundo Griffiths.

A decisão de dezembro do Conselho de Segurança da ONU de fornecer ajuda humanitária por um ano, juntamente com os gestos de boa vontade de Washington, ajudaram a tranquilizar os atores financeiros, paralisados pelo medo de sanções. Este cenário privou o país da liquidez necessária para sua operação.

Funcionários públicos, educadores e profissionais de saúde não recebem salário há meses.

A comunidade internacional procura uma forma eficaz de pressionar o Talibã a mudar, em especial, a forma como trata as mulheres, agora privadas de direitos essenciais conquistados durante 20 anos de luta.

Por isso, Grandi explicou que a ajuda da ONU "também cria um espaço de diálogo com o Talibã que é muito valioso".

"Nossos colegas no terreno falam com eles todos os dias. Certamente falam de acesso, entregas, necessidades, mas também falam das mulheres no trabalho, das meninas nas escolas, dos direitos das minorias", insistiu.

"É um espaço que devemos preservar", reforçou Grandi, reconhecendo que levará tempo para "avançar em direção à estabilidade e, quem sabe, talvez a uma forma de normalização".

Entre festas canceladas, toques de recolher e outras restrições, o mundo começou a dar as boas-vindas a 2022 após mais um ano de pandemia em que, apesar das vacinas, a variante ômicron provoca um pico incontrolável de contágios.

Os últimos doze meses foram marcados por uma mudança de presidente nos Estados Unidos, Jogos Olímpicos sem espectadores, sonhos de democracia rompidos no Afeganistão, Mianmar ou Nicarágua e preocupações crescentes com as mudanças climáticas.

Mas foi a pandemia, que entra em seu terceiro ano, que mais uma vez dominou a vida de grande parte da humanidade. Mais de 5,4 milhões de pessoas morreram desde que o vírus foi detectado na China, em dezembro de 2019.

Mais de 280 milhões contraíram o vírus, de acordo com um balanço da AFP baseado em dados oficiais, embora o número real possa ser muito maior.

E quase toda a humanidade foi afetada por confinamentos e restrições aplicados em função da evolução da pandemia.

As vacinas deram esperança, com mais de 60% da população mundial imunizada. Mas sua distribuição tem sido desigual, especialmente nos países pobres, o que facilitou o surgimento de novas variantes.

A última, a ômicron, provocou pela primeira vez mais de um milhão de contágios em uma semana, segundo contagem da AFP.

A França, que alcançou máximos históricos de novos casos, se tornou na noite de quinta-feira o último país a anunciar que esta variante já é dominante em seu território.

Outros países, como Estados Unidos, Reino Unido, Espanha, França ou Argentina registraram recordes de novas infecções diárias.

Seis toneladas de fogos de artifício

Kiribati, no Pacífico, se tornou uma das primeiras a dar as boas-vindas ao novo ano.

Sydney, a maior cidade da Austrália e uma das primeiras a receber o ano de 2022, lançou seis toneladas de fogos de artifício, iluminando seu porto icônico.

Ao contrário de 2020, o show pirotécnico reuniu dezenas de milhares de pessoas depois que a Austrália abandonou sua estratégia de erradicação do vírus e busca viver com ele.

Mas o influxo estava longe do milhão ou mais de pessoas habituais. Os turistas ainda não conseguiram entrar no país e muitos moradores temem a rápida disseminação da ômicron.

"Esperemos que 2022 seja melhor para todos", disse Oscar Ramírez, de 31 anos.

Nos Emirados Árabes Unidos, Dubai comemorou a chegada de 2022 com 36 fogos de artifício lançados em 29 locais diferentes. Na primeira hora da tarde, grupos de pessoas já tinham se reunido para assistir ao espetáculo na torre mais alta do mundo, o Burj Khalifa, de 828 metros.

Na Expo 2020, a feira mundial inaugurada com um ano de atraso devido à covid-19, as comemorações começaram à tarde e está previsto que continuem até o dia do Ano Novo.

Na Tunísia, as autoridades cancelaram na última hora os festejos previstos na avenida Bourguiba, a via central da capital, pelo aumento dos contágios.

No Rio de Janeiro, que costuma reunir 3 milhões de pessoas na praia de Copacabana, será mantida a queima de fogos de artifício, mas o alcance da festa foi reduzida e foram tomadas medidas para evitar aglomerações.

Enquanto isso, na Times Square, em Nova York, os eventos oficiais serão reduzidos, mas multidões são esperadas.

Festas reduzidas

Mas, diante de uma onda de infecções sem paralelos causada pela contagiosa variante ômicron, muitos governos acabaram restaurando restrições para esse período festivo.

A Cidade do México, São Paulo e Bangcoc cancelaram suas celebrações de Ano Novo, a Grécia proibiu música em bares e restaurantes e o papa Francisco suspendeu sua visita regular de Réveillon à manjedoura na Praça de São Pedro, nem presidiu a cerimônia na véspera do Ano Novo.

Na Holanda, as autoridades proibiram os fogos de artifício pelo segundo ano consecutivo, para evitar que as lesões provocadas por sua queima representem uma carga adicional aos serviços sanitários.

No entanto, um menino de 12 anos morreu e outro ficou gravemente ferido enquanto, aparentemente, observava como um adulto disparava fogos de artifício, segundo a polícia.

Na Espanha, a maioria das cidades cancelaram suas festividades públicas, mas não Madri, o que permitirá que 7.000 pessoas comam as uvas na Puerta del Sol.

Para muitos - em Bombaim, Barcelona ou Montreal - a festa terá que terminar mais cedo devido aos toques de recolher impostos contra o vírus.

Por outro lado, na África do Sul, onde a nova variante foi detectada no final de novembro, a presidência suspendeu o toque de recolher na véspera após considerar o pico de infecções por ômicron terminado.

"Nossa esperança é que esta medida se mantenha", disse nesta sexta-feira a Presidência do ministro, Mondli Gungubele.

Os especialistas têm esperança de que essa tendência seja replicada em outros lugares, levando a uma fase menos mortal da pandemia em 2022.

Mas a Organização Mundial da Saúde não quer baixar a guarda e alerta que o "tsunami" de infecções pode colocar os sistemas de saúde "à beira do colapso".

As autoridades talibãs do Afeganistão anunciaram neste sábado (18) a retomada da entrega de passaportes em Cabul, renovando a esperança de poder deixar o país para aqueles que se sentem ameaçados pelos islamistas.

Milhares de afegãos também buscam fugir da crise econômica que ameaça se transformar em uma grande crise humanitária, em um contexto de interrupção da ajuda internacional desde a chegada do Talibã ao poder.

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"A entrega de passaportes começará amanhã (domingo) em três regiões, incluindo Cabul", disse o chefe do serviço afegão de passaportes, Alam Gul Haqqani, à imprensa.

Fechado desde que os talibãs recuperaram o poder em meados de agosto, o serviço foi reaberto brevemente em outubro. O fluxo de demandas acabou gerando problemas técnicos, o que levou os talibãs a interromperem as entregas depois de alguns dias.

"Todos os problemas técnicos estão resolvidos, os aparelhos biométricos foram consertados", disse Alam Gul Haqqani neste sábado, acrescentando que os passaportes serão entregues, primeiramente, para aqueles que já fizeram o pedido.

Novas demandas serão aceitas a partir de 10 de janeiro, afirmou.

Muitos afegãos que queriam ir para o vizinho Paquistão para receber tratamento médico também foram bloqueados pela falta de um passaporte válido.

"Minha mãe tem problemas de saúde e, há tempos, a gente precisava ir ao Paquistão, mas não tinha como fazer isso", disse à AFP Jamshid, que, como muitos afegãos, não tem sobrenome.

"Estamos felizes (...) por podermos tirar nossos passaportes e ir para o Paquistão", acrescentou.

- Apelos de retorno

Com a retomada da entrega dos passaportes, os talibãs querem manifestar um gesto de boa vontade, depois de terem-se comprometido com a comunidade internacional a deixar partir os compatriotas que assim o desejarem.

Segundo a ONU, o Afeganistão enfrenta "uma das piores catástrofes humanitárias do mundo", que deve se agravar com o inverno boreal (verão no Brasil).

O Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA) alertou, inclusive, para a chegada de uma "avalanche de fome".

Os talibãs reivindicam o desbloqueio de seus recursos para relançar a economia e combater a fome. Em Cabul, muitas pessoas estão vendendo seus bens para se alimentar.

Neste sábado, o vice-ministro das Relações Exteriores do governo talibã, Sher Mohammad Abbas Stanikzai, voltou a pedir às agências da ONU que "pressionem" os Estados Unidos para liberarem os US$ 9,5 bilhões em reservas do Banco Central afegão que foram congelados.

O vice-chanceler também pediu aos afegãos que vivem no exterior que retornem para o país agora que a guerra acabou.

"Convidamos e estimulamos todos a retornarem para o Afeganistão, incluindo nossos opositores políticos", disse ele, durante uma recepção em Cabul por ocasião do Dia Internacional do Migrante.

"Peço aos Estados Unidos que nos apoiem, dando ao nosso povo uma boa vida aqui no Afeganistão, em vez de expulsá-lo do país", insistiu.

Nos últimos 40 anos, mais de seis milhões de afegãos fugiram do país para escapar da guerra e das crises econômicas e humanitárias. A maioria vive nos vizinhos Irã e no Paquistão.

Até agora, nenhum país reconheceu oficialmente o governo talibã, que recuperou o poder em agosto passado, após a saída das tropas americanas do território afegão.

Os voos internacionais, principalmente para Dubai e Abu Dhabi, foram retomados em setembro, no aeroporto de Cabul.

Meninas do ensino médio estão em casa em quase todos os lugares do Afeganistão, proibidas de assistir às aulas pelo Taleban. Mas há uma grande exceção. Durante semanas, as garotas da Província de Herat voltaram às salas de aula - fruto de um esforço único e coordenado de professores e pais para persuadir os administradores locais a permitir a reabertura. Fadieh Ismailzadeh, uma jovem de 14 anos, disse que chorou de felicidade com a notícia. "Havíamos perdido as esperanças de que as escolas fossem reabertas."

Funcionários do Taleban nunca aprovaram formalmente a retomada das aulas após a campanha, mas também não a impediram quando professores e pais começaram as aulas por conta própria, no início de outubro. "Pais, alunos e professores se uniram para fazer isso", disse Mohamed Saber Meshaal, chefe do sindicato de professores de Herat, que ajudou a organizar a campanha. "Este é o único lugar onde ativistas comunitários e professores correram o risco de conversar com o Taleban."

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O sucesso em Herat destaca uma diferença significativa no atual governo do Taleban em relação ao anterior, no final da década de 1990. Naquela época, os militantes eram intransigentes em sua ideologia linha-dura, banindo as mulheres da vida pública e do trabalho e proibindo todas as meninas de estudar. Eles usaram a força e as punições brutais para fazer cumprir as regras.

Mudança

Desta vez, eles parecem reconhecer que não podem ser tão cruéis em um Afeganistão que mudou drasticamente nos últimos 20 anos. Eles impuseram algumas regras antigas, mas foram ambíguos sobre o que é permitido e o que não é. A ambiguidade pode ter como objetivo evitar a alienação do público, enquanto o Taleban luta contra um colapso econômico quase total, a paralisação do financiamento internacional, o aumento alarmante da fome e uma insurgência perigosa de militantes do Estado Islâmico. Isso deixou pequenas margens onde os afegãos podem avançar.

Quando o Taleban tomou o poder, em agosto, a maioria das escolas foi fechada em razão da covid-19. Sob forte pressão internacional, o Taleban logo reabriu escolas para meninas da 1.ª à 6.ª séries, assim como para meninos em todos os níveis.

No entanto, eles não permitiram que as meninas do ensino médio voltassem, dizendo que, primeiro, eles devem garantir que as aulas sejam ministradas de "maneira islâmica". Quando os professores e pais de Herat pediram a reabertura, os funcionários do Taleban hesitaram, alegando que precisavam de uma autorização do governo em Cabul.

Em outubro, os professores sentiram que tinham o acordo tácito do Taleban de não atrapalhar. Os professores começaram a espalhar a notícia em páginas do Facebook e aplicativos de mensagens, anunciando que as escolas de ensino médio para meninas reabririam em 3 de outubro.

Resistência

Nem todas as alunas apareceram quando as escolas reabriram em Tajrobawai. Mas, à medida que os pais ficavam mais confiantes, as salas de aula foram preenchidas após alguns dias. Meshaal destaca que houve mudanças no Taleban e algumas facções são mais abertas. "Eles entendem que as pessoas resistirão na questão da educação."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Ao menos três pessoas morreram em uma explosão nesta sexta-feira (12) em uma mesquita na província de Nangarhar, leste do Afeganistão, que virou o epicentro da recente onda de violência entre o Talibã e o grupo rival Estado Islâmico.

De acordo com fontes talibãs, a explosão aconteceu durante a oração de sexta-feira dentro de uma mesquita no distrito de Spin Ghar. Até o momento o ataque não foi reivindicado.

"Até o momento, temos três mortos e 15 feridos", disse à AFP um médico do hospital local. Entre os feridos está o imã da mesquita.

A bomba estava escondida em um alto-falante, próximo do local em que estava o imã, afirmou à AFP Walli Mohammed, morador do bairro.

A explosão aconteceu no momento em que alto-falante foi ligado para o início da oração.

O ataque aconteceu nas proximidades de Jalalabad, cidade do leste do Afeganistão próxima da fronteira com o Paquistão e que se tornou um reduto do braço afegão do grupo extremista Estado Islâmico, que é conhecido como de EI-K.

A imprensa local informou nas últimas semanas uma série de assassinatos na província de Nangarhar, atribuídos a conflitos entre talibãs e combatentes do EI-K.

Desde que tomou o poder no Afeganistão em 15 de agosto, o Talibã, que considera a segurança uma prioridade após 20 anos de guerra, enfrenta uma onda de atentados violentos executados pelo EI-K.

O grupo Estado Islâmico atacou nas últimas semanas os talibãs e a minoria xiita afegã.

Criado em 2014 e presente sobretudo no leste do Afeganistão, o EI-K é um grupo islamita sunita, como o Talibã, mas ainda mais rigoroso e defende uma "jihad global".

Um dos atentados mais recentes, executado no início de novembro contra o Hospital Militar Nacional de Cabul, matou pelo menos 19 pessoas, incluindo um dirigente talibã, e deixou quase 50 feridos.

Mais de 120 pessoas morreram em ataques do EI nas últimas semanas em duas mesquitas frequentadas pela comunidade hazara, uma minoria xiita, em Kandahar (sul) e Kunduz (norte).

Mas o governo Talibã tenta minimizar publicamente a ameaça.

O braço do EI no Afeganistão "está mais ou menos sob nosso controle e não é uma grande ameaça", afirmou na quarta-feira o porta-voz do governo afegão, Zabihullah Mujahid, em uma entrevista coletiva durante a qual anunciou 600 detenções relacionadas com o grupo rival nos últimos meses.

Quatro mulheres foram encontradas mortas na cidade de Mazar-i-Sharif, no norte do Afeganistão, informou um porta-voz do governo talibã neste sábado(6).

Dois suspeitos foram detidos após a descoberta dos quatro corpos em uma casa, disse o porta-voz do Ministério do Interior, Qari Sayed Khosti, em um vídeo.

“Os detidos admitiram no interrogatório inicial que convidaram as mulheres para a casa. Novas investigações estão em andamento e o caso foi encaminhado ao tribunal”, disse ele.

Khosti não identificou as vítimas, mas uma fonte em Mazar-i-Sharif disse à AFP que pelo menos uma era ativista dos direitos das mulheres. Sua família não quer falar com a imprensa.

De acordo com a BBC Persian, citando fontes da sociedade civil, as quatro mulheres eram amigas que esperavam ir para o aeroporto de Mazar-i-Sharif para deixar o país.

Um grupo de direitos humanos disse à AFP, sob condição de anonimato, que as mulheres receberam uma ligação e acreditaram que era um convite para um voo de evacuação. Elas foram levadas por um carro antes de serem encontradas mortas.

O Talibã, que chegou ao poder no Afeganistão em agosto após uma guerra de 20 anos contra o governo anterior apoiado pelos EUA, é um movimento islâmico extremamente conservador. Sob seu último governo, as mulheres não podiam participar da vida pública.

Desde seu retorno ao poder, muitos ativistas de direitos humanos fugiram do país.

Alguns dos que permaneceram protestaram nas ruas de Cabul, a capital, para exigir o respeito por seus direitos e que as meninas pudessem frequentar escolas públicas secundárias.

Os combatentes do Talibã reprimiram alguns dos protestos e o governo ameaçou prender jornalistas que cobrissem as manifestações não autorizadas.

No entanto, os líderes do movimento insistem que seus combatentes não têm permissão para matar ativistas e prometeram punir aqueles que o fizerem.

Duas explosões seguidas de tiros deixaram ao menos 25 mortos e cerca de 50 feridos no hospital militar Sardar Mohammad Dawood Khan, em Cabul, na manhã desta terça-feira, 2, de acordo com números atualizados das autoridades locais. O Taleban, grupo que tomou o poder no Afeganistão em agosto, atribuiu o ataque ao braço afegão do grupo terrorista Estado Islâmico.

O ataque teve como alvo o hospital militar, com 400 leitos, localizado em um dos bairros mais ricos de Cabul, onde tanto soldados feridos que lutaram pelo antigo governo quanto combatentes do Taleban estavam sendo tratados.

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Em 2017, a mesma instituição foi atacada pelo grupo terrorista. O ataque, na época, deixou mais de 30 mortos.

O grupo italiano de ajuda Emergency, que dirige um hospital para traumas a cerca de 3 quilômetros do local, informou que estava tratando alguns dos feridos.

Zabihullah Mujahid, porta-voz do Taleban, disse que o ataque foi realizado por vários membros do Estado Islâmico, incluindo um homem-bomba que detonou seus explosivos no portão do hospital. Um carro cheio de explosivos fora do hospital também explodiu, ferindo dezenas, e vários combatentes do Taleban foram mortos e feridos no tiroteio que se seguiu, disse Mujahid.

Um médico do hospital, que não quis ser identificado por temer por sua segurança, disse que os homens armados entraram em uma enfermaria cheia de combatentes do Taleban feridos e atiraram neles em suas camas.

Outro médico que estava escondido dentro do hospital disse que ainda podia ouvir tiros dentro do prédio no início da tarde de terça-feira. Outra pessoa disse que os agressores entraram em vários andares e abriram fogo contra qualquer pessoa que viram, acrescentando que alguns médicos e enfermeiras se trancaram no terceiro andar.

Um lojista do lado de fora do hospital, que não quis ser identificado, disse que as explosões iniciais ocorreram com 10 minutos de intervalo e que havia muitas pessoas no local. Ele foi ferido nas costas, acrescentou.

Este complexo ataque ao hospital Sardar Mohammad Daud Khan é provavelmente o primeiro do tipo com o qual o Taleban enfrenta: atores armados e um homem-bomba entrando em um prédio grande e lotado de civis. O governo apoiado pelo Ocidente lidou com esses incidentes desdobrando comandos, quase sempre apoiados pelas forças de operações especiais da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Embora o Estado Islâmico ainda não tenha assumido a responsabilidade, tem havido um aumento nos ataques do grupo em todo o Afeganistão desde a queda do governo apoiado pelo Ocidente e a conquista do país pelo Taleban. O grupo terrorista aproveitou a dificuldade do Taleban em proteger centros urbanos.

O Taleban, conhecido por realizar esse tipo de ataque durante os últimos 20 anos como insurgentes, tem pouco apoio ou experiência para lidar com esse tipo de evento por conta própria.

Quando tomou o poder do Afeganistão, o Taleban disse ter restaurado a segurança após décadas de guerra. As explosões, que se somam a uma lista crescente de ataques e assassinatos desde então, apontam o contrário.

Em agosto, um homem-bomba suicida do Estado Islâmico matou cerca de 170 civis e 13 militares dos EUA nos portões do aeroporto internacional de Cabul. No dia 15 de outubro, ao menos 47 pessoas morreram e 70 ficaram feridas em um atentado suicida reivindicado pelo Estado Islâmico, em uma mesquita xiita na cidade de Kandahar.

No último sábado, 30, combatentes do Taleban mataram dois convidados de um casamento por tocarem música laica, num ato condenado pelo governo comandado pela própria milícia, em Cabul. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Duas explosões seguidas de tiros deixaram ao menos 19 mortos e cerca de 50 feridos, perto do hospital militar Sardar Mohammad Dawood Khan, no centro de Cabul, na manhã desta terça-feira, 2, conforme um funcionário do Ministério da Saúde do Afeganistão. Outro oficial do Taleban disse que o atentado foi iniciado por um "terrorista suicida" que "se explodiu" na entrada da instituição.

O porta-voz do Ministério do Interior, Qari Saeed Khosty, disse que forças de segurança foram enviadas para a área.

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O grupo italiano de ajuda Emergency, que dirige um hospital para traumas a cerca de 3 quilômetros do local, informou ter recebido nove feridos.

Um trabalhador do hospital disse ter ouvido uma grande explosão seguida por alguns minutos de tiros. Cerca de dez minutos depois, escutou um segundo estouro ainda maior.

Ele não conseguiu identificar se as explosões e os tiros ocorreram dentro da instituição. No Twitter, Khosty informou que os ataques se deram na entrada do estabelecimento.

Fotografias compartilhadas por moradores das proximidades mostraram uma nuvem de fumaça sobre a área das explosões perto da antiga zona diplomática, na área Wazir Akbar Khan. Testemunhas disseram que pelo menos dois helicópteros estavam sobrevoando a área.

Não houve reivindicação imediata de responsabilidade pelos atos. Porém, a agência oficial de notícias Bakhtar citou testemunhas que disseram que vários combatentes do Estado Islâmico entraram no hospital e confrontaram os seguranças. Em 2017, a mesma instituição foi atacada pelo grupo terrorista; o ataque deixou mais de 100 mortos.

Quando tomou o poder do Afeganistão, em agosto, o Taleban disse ter restaurado a segurança após décadas de guerra. As explosões, que se somam a uma lista crescente de ataques e assassinatos desde então, apontam o contrário.

No dia 15 de outubro, ao menos 47 pessoas morreram e 70 ficaram feridas em um atentado suicida reivindicado pelo Estado Islâmico, em uma mesquita xiita na cidade de Kandahar. No último sábado, 30, combatentes do Taleban mataram dois convidados de um casamento por tocarem música laica, num ato condenado pelo governo comandado pela própria milícia, em Cabul. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A jogadora da seleção feminina juvenil de vôlei do Afeganistão Mahjabin Hakimi teria sido decapitada pelo Taleban no início de outubro, segundo o jornal Persian Independent. Uma treinadora, Suraya Afzali (um pseudônimo), disse ao diário que a morte ficou em segredo porque a família de Mahjabin foi ameaçada para não falar sobre o assunto.

Mahjabin era destaque da equipe do Kabul Municipality Volleyball Club antes de o Taleban tomar controle do governo afegão em agosto. Desde então, as atletas femininas em todo o país enfrentam grave ameaça à sua segurança, sofrendo perseguição de membros do grupo fundamentalista.

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Ainda segundo a treinadora, apenas duas jogadoras da seleção conseguiram deixar o Afeganistão, enquanto o restante está sob terror. "Todas estão em uma situação ruim, desesperadas e com medo. Todas foram forçadas a fugir e viver em lugares desconhecidos", alertou. Os esforços de membros da seleção feminina de vôlei para ter o apoio de organizações e países para deixar o país não tiveram sucesso.

Nesta semana, o governo do Catar, em cooperação com a Fifa, fretou voo para retirar jogadores do Afeganistão. Dezenas de atletas afegãos, incluindo mulheres, deixaram o país na quarta-feira a bordo de um avião com destino a Doha, como parte de uma série de evacuações organizadas pelo governo do Catar em cooperação com a Fifa.

"Havia 369 passageiros no voo e mais de 55 pessoas foram evacuadas em coordenação com a Fifa", disse um alto funcionário do Catar em um comunicado.

Com o Taleban assumindo o controle do Afeganistão, todas as atividades femininas nas esferas esportiva, política e social cessaram, e ainda há preocupações sobre as contínuas restrições à vida, ao trabalho e à segurança das mulheres ativas na arena social.

Após a tomada de Cabul pelos integrantes do Taleban, as mais altas instâncias do esporte mundial manifestaram preocupações especiais com as mulheres, considerando que estas podem estar ameaçadas pelo regime.

Os talebans conquistaram a capital Cabul em 15 de agosto, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares dos Estados Unidos e da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

A adolescente afegã Amena viu dezenas de colegas de classe morrerem quando sua escola foi alvo de um ataque do Estado Islâmico, em maio. Mesmo assim, ela queria continuar estudando, mas os talibãs proibiram.

Os novos líderes do Afeganistão não permitem que a maioria das estudantes do ensino fundamental retomem as aulas. "Queria estudar, ver meus amigos e construir meu futuro, mas não tenho mais esse direito", lamenta Amena, 16, com quem a AFP conversou em Cabul. “Desde a chegada dos talibãs, estou triste e com raiva.”

Em 18 de setembro, os novos dirigentes islâmicos do Afeganistão permitiram que professores homens e meninos a partir de 13 anos voltassem às aulas, mas não as professoras e meninas. Posteriormente, informaram que permitiriam que as meninas voltassem aos centros de ensino fundamental uma vez garantida a divisão por gênero nas salas de aula, o que já era feito.

Algumas jovens puderam retornar aos institutos, como na província de Kunduz, mas a grande maioria permanece sem acesso à educação. Já as escolas primárias foram reabertas a todas as crianças.

- 'Por que não podemos estudar?' -

Amena reside perto da escola Sayed Al-Shuhada, onde 85 pessoas, a maioria adolescentes, foram mortas em ataques a bomba cuja autoria foi reivindicada pelo grupo Estado Islâmico. "Ainda assim, queria voltar para o colégio", diz.

Em vez disso, a jovem vive fechada em casa, com alguns livros e "nada de especial para fazer". Ele sonhava em ser jornalista, mas "agora já não há esperança no Afeganistão".

Os irmãos mais velhos de Amena a ajudam em casa, e de vez em quando ela é atendida pela psicóloga que cuida de sua irmã mais nova, traumatizada após o ataque à escola. “Meu irmão traz livros de história e eu os leio”, conta a jovem. "E sempre vejo as notícias."

Amena não entende por que as meninas têm acesso proibido ao ensino fundamental. "Elas também têm o direito de estudar, são metade da sociedade. Não há diferença entre nós."

Após a invasão dos Estados Unidos que expulsou os talibãs, em 2001, houve avanços na educação das meninas. O número de escolas triplicou e a taxa de alfabetização das mulheres quase dobrou, para 30%. Mas a mudança limitou-se às cidades.

“As mulheres afegãs tiveram grandes conquistas nos últimos 20 anos”, diz Nasrin Hasani, professora de 21 anos, que trabalhava em uma escola do ensino fundamental e se transferiu para uma escola primária. Mas a situação atual "mina nosso moral e o dos alunos. Que eu saiba, o islã nunca criou obstáculos à educação e ao trabalho das mulheres."

Nasrin não foi intimidada pelos talibãs, mas a Anistia Internacional informou que uma professora de educação física havia recebido ameaças de morte e sido convocada a um tribunal local por ensinar a prática de esportes a crianças.

Nasrin se apega à esperança de que os talibãs de 2021 sejam "um pouco diferentes" dos que estiveram no poder entre 1996 e 2001, que proibiam as mulheres de sair sozinhas.

- Sonhos enterrados -

Zainab, 12, lembra-se do dia em que as crianças puderam voltar para a escola. Ela os viu pela janela, com "uma sensação ultrajante". “Eu era feliz na escola”, conta. "Podia estudar o dia todo e sonhar com o futuro. Agora, as coisas pioram a cada dia."

“Se as escolas não reabrirem logo, o ano letivo irá terminar e não poderemos passar de ano", lamenta a menina, cujo nome foi alterado para proteger sua identidade.

Malalay, 16, irmã de Zainab, diz, emocionada, que sente "desespero e medo". “Não saímos, não vamos à escola, está tudo ruim. Os homens não deveriam me privar dos meus direitos. Tenho o direito de frequentar o colégio e a universidade. Todos os meus sonhos e projetos foram enterrados", lamenta.

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