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Com quase um ataque armado mensal em escolas pelo país, o Brasil fechou outubro com nove casos registrados desde o início do ano. Apesar das particularidades de cada incidente, é possível observar padrões que se repetem entre os autores e podem explicar as causas dessa onda de violência.

O professor de Filosofia e Sociologia, Matheus Souto, destaca que a maioria dos autores de atentados em massa nas escolas são homens recém-formados. "São geralmente pessoas que não saíram da escola há muito tempo e que retornam para cometer o atentado na escola em que estudaram", apontou.

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Ele indica que o aumento de casos sofre influência da interseccionalidade entre três fatores favoráveis à manifestação da violência em jovens e adolescentes. O mais comum é o bullying sofrido na época da escola e o sentimento de repulsa e trauma gerado por esse ambiente.

"Ele sente que perdeu o controle da vida social naquele espaço e deseja retomá-lo nem que seja pela violência", descreve. “Ele perdeu esse espaço porque foi marginalizado ou se sentiu estranho ao grupo como um todo e criou então esse trauma”, continua.

Outro fator comum é a origem em um lar mal estruturado. Essa realidade se reflete na condição de abandono familiar, principalmente nas fases críticas do desenvolvimento do indivíduo. "Seja um pai ausente ou uma mãe ausente. Muitos casos no crime são casos de pais ausentes ou uma família disfuncional como um todo", sintetiza Souto.

Os atentados também se relacionam com danos psicológicos causados entre a adolescência e os 25 anos. O professor detalha que esta fase representa uma janela para psicopatias mais agressivas ao mesmo tempo em que há uma maior propensão à crise existencial: “perda do sentido da vida, das pessoas a nossa volta, das instituições e das tradições”, resume.

A Secretaria de Defesa Social (SDS) de Pernambuco divulgou atualizações de segurança diante da crescente no número de atentados a escolas no Brasil. No estado, as denúncias devem ser feitas por telefone, ao número 190, já utilizado para acionar emergências policiais. As informações são sigilosas e o serviço funciona 24 horas. De acordo com a pasta, haverá uma reunião conjunta entre Segurança e Educação para realizar alinhamento estratégico das medidas de monitoramento e controle. 

A reunião contará com a participação de todos os diretores das Polícias Civil e Militar e com os gestores regionais da Educação, além dos respectivos secretários. As redes sociais estão sendo monitoradas e, com isto, já foram identificados e encaminhados para delegacias suspeitos de praticarem ameaças e atos semelhantes a terrorismo. 

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“O Sistema Estadual de Inteligência e Segurança Pública da SDS está em contato direto com o Ministério da Justiça e empresas que operam redes sociais no Brasil a fim de obter dados que auxiliam neste trabalho. Além disso, está reforçando as rondas escolares”, informou a nota pública da SDS. 

A nível federal, o Ministério da Justiça e Segurança Pública criou um canal exclusivo para recebimento de informações de ameaças e ataques contra as escolas. Todas as denúncias são anônimas e as informações enviadas serão mantidas sob sigilo. Acesse o serviço em https://www.gov.br/mj/pt-br/escolasegura.

 

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, autorizou na quarta-feira (15) o envio de agentes da Força de Cooperação Penitenciária, antiga Força-tarefa de Intervenção Penitenciária (FTIP), para o Rio Grande do Norte. O Estado assiste a ataques coordenados nas ruas em diferentes cidades efetuados a partir de ordens emitidas por líderes presos.

A força-tarefa será de caráter "episódico e planejado" pelo período de 30 dias, com o objetivo de coordenar os serviços de guarda, de vigilância e de custódia de presos.

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"A operação terá o apoio logístico e a supervisão dos órgãos de administração penitenciária e segurança pública do ente federado solicitante. O número de profissionais a ser disponibilizado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública obedecerá ao planejamento definido pelos entes envolvidos na operação", informou o ministério na noite desta quarta-feira.

A pasta ressaltou que a força-tarefa não configura uma intervenção federal no Estado, "mas ampara tecnicamente e juridicamente as atividades de cooperação integrada de apoio ao Estado".

Força Nacional

O Rio Grande do Norte já havia pedido e o governo federal já havia decidido pelo envio de agentes da Força Nacional, que começaram a chegar ao Estado na madrugada desta quarta-feira. Dino autorizou o envio de 190 agentes, dos quais 83 já estão em Natal.

"Eles atuarão em ações conjuntas e coordenadas com órgãos locais. As ações da Força Nacional têm por objetivo coibir as ações de terrorismo e vandalismo que têm ocorrido na capital potiguar, bem como proporcionar à população uma maior sensação de segurança e o restabelecimento da ordem pública", declarou o ministério.

"Já há uma queda no número de ocorrências, mas o nosso governo permanece atento e com todo o foco para superarmos o mais rápido possível esse momento difícil", afirmou a governadora Fátima Bezerra (PT) no início da noite da quarta.

Ataques coordenados

Cidades do Rio Grande do Norte estão registrando uma onda de ataques coordenados contra prédios públicos e veículos desde a noite de segunda-feira.

Os casos, que chegaram a cerca de 20 cidades, incluindo a capital, Natal, consistem em incêndios de estruturas de prefeituras e do governo, além de ataques a tiros a bases policiais e sedes do Judiciário.

Com ataques violentos em cerca de 20 cidades do Rio Grande do Norte, incluindo a capital, uma equipe da Força Nacional de Segurança Pública desembarcou no Estado na madrugada desta quarta-feira (15). O anúncio foi feito em uma publicação nas redes sociais pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. Ele também informou que policiais serão enviados gradualmente e todas as equipes devem desembarcar até quinta-feira (16).

"Destinamos 220 policiais para auxiliar as forças estaduais", afirmou o ministro.

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A onda de ataques coordenados contra prédios públicos e veículos consiste em incêndios de estruturas de prefeituras e do governo, além de ataques a tiros a bases policiais e sedes do Judiciário. Há a suspeita de que a facção Sindicato do Crime esteja por trás das ações criminosas.

Até a noite da terça-feira, 14, segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), ao menos 21 suspeitos de envolvimento nos ataques já tinham sido presos, sendo dois foragidos da Justiça e um adolescente apreendido.

Também foram apreendidas: cinco armas de fogo, um simulacro, 18 artefatos explosivos, três galões de gasolina, quatro motos e um carro, além de dinheiro e munições. Um homem morreu em confronto com policiais, informou a pasta.

A governadora do Estado, Fátima Bezerra (PT), que desembarcou junto com as forças, também se manifestou no Twitter e afirmou que 190 policiais enviados pelo governo federal se juntam nesta madrugada as forças estaduais de segurança. "Não descansaremos até restabelecer a paz, a ordem e a tranquilidade do povo do RN", disse.

Para acelerar a logística, foram cedidos aviões do Ministério da Defesa que viabilizaram a ida dos agentes da Força Nacional para o Rio Grande do Norte.

Além disso, o Ministério da Justiça também determinou que a Polícia Rodoviária Federal aumente o patrulhamento em rodovias no interior do Estado para controlar a movimentação de criminosos.

De acordo com o secretário Rafael Velasco, outros 30 policiais penais integrantes da força de treinamento localizada em Porto Velho, em Rondônia, foram deslocados para Mossoró, município do interior do Rio Grande do Norte que abriga um presídio federal.

Representantes do governo estadual, que se reuniram na sede do Ministério da Justiça na tarde da terça-feira, acreditam que ataques são uma retaliação de criminosos insatisfeitos por causa de mudanças realizadas pelo poder público local no sistema carcerário e com algumas detenções feitas nas últimas semanas.

Nove pessoas morreram e outras dez ficaram feridas em dois atentados suicidas reivindicados pelos islamistas radicais shebab no centro da Somália, onde autoridades anunciaram ter matado um líder jihadista importante.

"Os terroristas realizaram ataques suicidas usando dois veículos carregados de explosivos em Beledweyne, a 300 km de Mogadíscio", declarou à AFP o comandante da polícia na região de Hiiraan, Mohamed Moalim Ali. "Nove pessoas morreram, entre elas a ministra da Saúde do estado de Hirshabelle e um comissário distrital encarregado das finanças, e mais de dez ficaram feridas", acrescentou.

A autoria do ataque, que teve como alvo um prédio do governo, foi reivindicada pelos shebab, grupo ligado à Al-Qaeda há 15 anos em luta contra o governo somali. "A explosão foi enorme e destruiu vários edifícios", relatou Mohamud Addow, testemunha do atentado. "Vi várias pessoas sendo levadas para o hospital e várias pessoas mortas", completou.

O governo somali anunciou hoje, a morte de um importante líder dos shebab em um ataque aéreo no sul da Somália. Uma recompensa de US$ 3 milhões estava sendo oferecida por sua cabeça.

Abdullahi Yare, um fundadores do movimento islamita, morreu no último dia 1º em um bombardeio de drone realizado pelo Exército da Somália e por seus "parceiros internacionais em temas de segurança", perto da cidade costeira de Haramka, informou o ministro somali da Informação.

Yare era considerado candidato a assumir a direção do movimento no lugar de seu chefe atual, Ahmed Diriye, que está doente, acrescentou o ministério. O comando militar dos Estados Unidos para a África (Africom) confirmou ter "realizado um ataque de drone em 1º de outubro contra a rede Shebab" perto de Jilib, a 370 km de Mogadíscio.

"A avaliação inicial do comando é de que o ataque matou um líder dos shebab e que nenhum civil morreu ou ficou ferido", destaca o comunicado do Africom, sem informar a identidade do alvo.

A embaixada dos Estados Unidos na Somália condenou em um tuíte "os ataques dos shebab em Beledweyne contra membros do governo que trabalham para trazer a paz à região". Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, também condenou os atentados.

No começo de setembro, 19 civis foram mortos por islamitas shebab no centro do país. Duas semanas antes, os shebab atacaram o hotel Hayat de Mogadíscio e deixaram 21 mortos e 117 feridos, em uma invasão que durou 30 horas.

O julgamento dos atentados terroristas que mataram 130 pessoas em novembro de 2015 em Paris e Saint-Denis terminou nesta segunda-feira, após quase 10 meses de processo, e o veredicto deve ser anunciado na quarta-feira (29) à tarde.

Os acusados falaram pela última vez, incluindo o único integrante vivo dos comandos que deixaram um rastro de sangue no Stade de France, ao norte de Paris, em bares da capital e na casa de espetáculos Bataclan.

"Cometi erros, é verdade, mas não sou um assassino e se for condenado por assassinatos, vocês cometeriam uma injustiça", disse ao tribunal Salah Abdeslam, que pode ser condenado à prisão perpétua sem direito a liberdade condicional, a maior pena previsa pela justiça da França.

O francês de 32 anos pediu novamente desculpas aos sobreviventes e parentes das vítimas: "Alguns dirão que não são sinceras, que é uma estratégia (...) como se as desculpas pudessem ser insinceras diante de tanto sofrimento".

Na sexta-feira, durante as alegações finais, os advogados afirmaram que a prisão perpétua seria "uma pena de morte social" e uma sentença "excessiva". Eles destacaram que Abdeslam renunciou a explodir a carga presa ao seu corpo na noite do ataque.

Os outros réus também insistiram nos "arrependimentos" e "pedidos de desculpas". Alguns expressaram "condolências" às vítimas e agradeceram a seus advogados. Muitos afirmaram "confiar na justiça".

"A audiência foi suspensa e será retomada na quarta-feira 29 de junho de 2022 a partir das 17H00 (12H00 de Brasília), quando se espera o veredicto", anunciou o juiz Jean-Louis Périès, ao final do 148º dia do processo.

As penas solicitadas contra os 20 acusados vão de cinco anos de prisão até prisão perpétua sem liberdade condicional para Abdeslam e dois ex-dirigentes do grupo Estado Islâmico, que são considerados mortos na região da Síria e Iraque.

Os atentados de 2015 aconteceram em um contexto de ataques na Europa, enquanto uma coalizão internacional lutava contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque. Milhares de sírios chegavam por sua vez ao continente europeu para fugir da guerra em seu país.

Doze pessoas morreram nesta quarta-feira (25) em quatro atentados no Afeganistão, três deles contra microônibus em Mazar-i-Sharif (norte) e um contra uma mesquita em Cabul, anunciaram autoridades.

A autoria dos ataques aos três microônibus foi reivindicada pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI) por meio de seu veículo de propaganda Amaq. "Os soldados do califado explodiram duas bombas colocadas em dois ônibus e uma terceira bomba em um terceiro ônibus", indicou o EI no aplicativo Telegram.

"As bombas foram colocadas em três microônibus em diferentes bairros da cidade", declarou à AFP o porta-voz da polícia da província de Balj, Asif Waziri. Ao menos 10 pessoas morreram e 15 ficaram feridas nos atentados, segundo a polícia e os serviços de saúde.

De acordo com Najibullah Tawana, responsável do serviço de saúde de Balkh, três mulheres estão entre os dez mortos nas explosões de ônibus.

Outro atentado com bomba nesta noite atingiu uma mesquita na capital Cabul, matando ao menos duas pessoas e ferindo outras 10, informou o Ministério do Interior.

O número de atentados diminuiu no país desde que os talibãs tomaram o poder em agosto, mas uma série de ataques com bombas deixou dezenas de mortos no final de abril, mês sagrado do Ramadã. Alguns foram reivindicados pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI).

O hospital de emergência de Cabul indicou em um tuíte um balanço de cinco mortos e 22 feridos na explosão na mesquita.

Salah Abdeslam, o principal acusado no julgamento sobre os atentados jihadistas que mataram 130 pessoas em 13 de novembro de 2015 em Paris, quebrou seu silêncio nesta quarta-feira (30) para reafirmar que "desistiu" de usar seu cinto de explosivos nessa noite.

"Não segui adiante, desisti do meu cinto, não por covardia, não por medo, e sim porque não quis, isso é tudo", disse Abdeslam em resposta a uma advogada da parte civil, Claire Josserand-Schmidt.

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O único membro sobrevivente dos comandos jihadistas estava há quase duas horas em silêncio diante das perguntas do tribunal, da Promotoria e dos primeiros advogados da parte civil, quando decidiu dar algumas respostas.

A advogada o questionou sobre suas declarações anteriores, quando sugeriu em fevereiro que havia "voltado atrás" e que desistiu de detonar seu cinto de explosivos na noite de 13 de novembro.

Algo que agora foi confirmado por Abdeslam.

Claire Josserand-Schmidt o perguntou por que disse então aos seus familiares que o cinto não funcionou. "É uma mentira, então?" disse a advogada. "Sim, é isso", respondeu o acusado.

"Me envergonhava por não ter seguido adiante. Tinha medo de como os outros [jihadistas] iriam olhar para mim. Tinha 25 anos. Isso é tudo, é o fato de eu ter vergonha, apenas", disse francês de 32 anos, que depois voltou a ficar calado.

O julgamento começou em setembro e até agora já compareceram sobreviventes, parentes das vítimas e investigadores, seguidos dos interrogatórios dos acusados.

Um tribunal indiano condenou nesta sexta-feira (18) à pena de morte 38 pessoas pelos atentados de 2008 na cidade de Ahmedabad, região oeste do país, que deixaram 56 vítimas fatais e mais de 200 feridos.

No dia 8 de fevereiro, o tribunal considerou 49 réus culpados pelos ataques coordenados que aconteceram em locais muito movimentados da cidade, a maior do estado de Gujarat.

"O juiz especial A R Patel decretou a pena de morte para 38 dos 49 condenados", anunciou o promotor especial Amit Patel. "Onze condenados receberam sentenças de prisão perpétua", acrescentou.

Um grupo autodenominado 'Indianos Mujahedines' assumiu a responsabilidade pelo ataque, que definiu como um ato de vingança por conflitos religiosos em 2002 no mesmo estado e que deixaram quase 1.000 mortos.

Quase 80 pessoas foram acusadas pelos atentados, mas 28 foram absolvidas, segundo o promotor Amit Patel.

Os condenados foram considerados culpados de assassinato e conspiração criminosa, explicou.

O julgamento gigantesco durou quase uma década devido ao complexo sistema jurídico indiano. Mais de 1.100 testemunhas foram ouvidas e vários atrasos foram registrados no processo.

Durante o período, a polícia evitou mais de 10 tentativas de fuga dos acusados da prisão - vários tentaram cavar túneis em suas celas com pratos de comida.

Ahmedabad foi o epicentro em 2002 de distúrbios religiosos que provocaram a morte de quase 1.000 pessoas, a maioria muçulmanas.

Em 2008, a Índia foi cenário de vários ataques com bombas reivindicados pelo grupo 'Indianos Mujahedines', com dezenas de pessoas assassinadas na capital Nova Délhi e na cidade turística de Jaipur.

Em novembro do mesmo ano, 166 pessoas morreram em um atentado coordenado de homens armados com explosivos em hotéis e outros locais de Mumbai, um ataque que as autoridades atribuíram a militantes paquistaneses.

"Eu não matei ninguém e não feri ninguém", afirmou nesta quarta-feira (9) Salah Abdeslam, o principal acusado no julgamento dos atentados que deixaram 130 mortos em novembro de 2015 em Paris.

"Nem um arranhão", acrescentou este francês de 32 anos, o único integrante vivo dos comandos que atacaram o Stade de France, bares e cafés na capital do país, assim como a casa de espetáculos Bataclan, antes do início de seu interrogatório no tribunal.

O primeiro interrogatório, que se concentra no período anterior ao ataque, pretende esclarecer o processo de radicalização de Abdeslam, que tinha fama de "festeiro", fã de cassinos e boates. Durante a instrução do julgamento, ele permaneceu quase em total silêncio.

Salah Abdeslam também poderá responder a perguntas sobre a estadia na Síria, no início de 2015, de seu irmão Brahim - que participou do ataque a locais a céu aberto de Paris - e sobre seu amigo Abdelhamid Abaaoud, que coordenou os atentados.

O tribunal também tentará esclarecer os motivos de uma misteriosa viagem que ele fez à Grécia, com outro dos réus. Mas ele responderá à primeira série de perguntas? Dois dos 14 acusados presentes ao julgamento já exerceram o seu direito ao silêncio.

"Desde o início do caso, não param de me caluniar", disse Abdeslam, para quem a justiça deseja "dar uma lição" com as sentenças "extremamente duras" nos casos de terrorismo. Mas isso envia, segundo ele, uma "mensagem".

"No futuro, quando um indivíduo entrar no metrô ou em um ônibus com uma maleta repleta de 50 quilos de explosivos e no último momento afirmar 'vou desistir', ele saberá que não tem o direito, que em caso contrário será preso ou morto", acrescentou.

Os sobreviventes dos atentados e as famílias das vítimas esperam respostas e o interrogatório de Abdeslam representa é um momento-chave.

"Quando olho para ele, sinto incompreensão. Como ele conseguiu fazer aquilo? (...) O julgamento vai terminar sem que nenhum de nós realmente compreenda", declarou ao canal France 2 Philippe Duperron, que perdeu o filho Thomas nos atentados e lidera uma associação de vítimas.

Em 8 de setembro, na abertura do julgamento, Abdeslam apresentou-se como "combatente" do grupo jihadista Estado Islâmico (EI). Mais tarde, considerou que o atentado foi "inevitável" devido às intervenções militares da França na Síria, ao mesmo tempo que fez um apelo por "diálogo" para evitar novos ataques.

O interrogatório de Abdeslam está previsto para durar dois dias.

aje-asl-mdh-tjc/zm/tt/fp

Kampala, a capital de Uganda, teve sua vigilância reforçada nesta quarta-feira (17), com ruas bloqueadas e postos de controle e patrulhas armadas instalados nas ruas, um dia depois de um duplo atentado suicida reivindicado pelo grupo do Estado Islâmico (EI).

As duas explosões ocorreram pela manhã, com três minutos de intervalo, perto do quartel-general da polícia e do Parlamento, no distrito financeiro e administrativo de Kampala.

"A segurança foi reforçada em Kampala e em seu entorno para garantir que a população esteja protegida de qualquer perigo", disse à AFP o porta-voz da polícia metropolitana da capital ugandesa, Like Owoyesigyire.

Hoje pela manhã, via-se muitos policiais e militares nas ruas de Kampala, assim como pontos de controle em algumas avenidas, provocando engarrafamentos, observou um jornalista da AFP no local.

Os investigadores continuam inspecionando os locais dos ataques, que deixaram três mortos e 33 feridos, segundo as forças policiais. De acordo com a Cruz Vermelha de Uganda, a maioria dos feridos são policiais.

O primeiro ataque teve como alvo um posto de controle próximo ao QG da polícia por um homem carregando uma bomba em uma mochila. No segundo, dois homens "disfarçados de mototáxis" deflagraram sua carga explosiva, perto da entrada do Parlamento.

As forças de contraterrorismo detiveram um quarto terrorista e "apreenderam um dispositivo explosivo caseiro não detonado de sua casa", relatou ontem a polícia.

A explosão perto das instalações da polícia destruiu janelas, e a outra, perto do Parlamento, incendiou veículos estacionados na área.

A polícia de Uganda atribuiu o duplo atentado de terça-feira (16) a um "grupo local ligado às ADF", as Forças Democráticas Aliadas, uma rebelião ativa no leste da vizinha República Democrática do Congo (RDC).

Posteriormente, no entanto, o Estado Islâmico (EI) assumiu a responsabilidade pelos ataques, em nota publicada ontem em seus canais no aplicativo de mensagens instantâneas Telegram. Nela, o EI anunciou que os ataques foram cometidos por três homens-bomba.

Este é o segundo atentado mortal em Uganda reivindicado pelo EI em poucas semanas. Em 23 de outubro, o grupo já havia reivindicado a autoria de atentado a bomba em um restaurante de Kampala. Nesta ocorrência, uma garçonete morreu, e várias pessoas ficaram feridas.

Desde abril de 2019, o EI assume a responsabilidade por alguns ataques cometidos pelas ADF, às quais se refere como sua "Província da África Central" (Iscap, na sigla em inglês).

Em março, os Estados Unidos incluíram as ADF à sua lista de "organizações terroristas" afiliadas ao EI.

strs-sva/mar/me/tt

Seis anos depois do horror, as autoridades francesas prestaram neste sábado (13) várias homenagens em Paris e Saint-Denis às vítimas dos atentados de 13 de novembro de 2015, no momento em que acontece o julgamento dos responsáveis pelos ataques.

Acompanhado pela prefeita de Paris, Anne Hidalgo, o primeiro-ministro francês, Jean Castex, iniciou as homenagens depositando uma oferenda de flores, que foi seguida de um minuto de silêncio, em frente ao Stade de France, antes de se dirigir aos cafés e à casa de espetáculos Bataclan, em Paris, onde as células do grupo extremista Estado Islâmico mataram 130 pessoas e feriram mais de 350 naquela fatídica noite.

A seu lado, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, que finaliza neste sábado uma visita de quatro dias à França, também depositou um buquê de flores brancas diante do café Carillon, uma das cenas dos ataques.

A série de homenagens terminará com um minuto de silêncio antes do início da partida de futebol entre França e Cazaquistão, às 16h45 (no horário de Brasília), no Stade de France.

Em frente ao Bataclan, os sobreviventes e os familiares das vítimas ouviram emocionados os nomes de cada uma das 90 pessoas que morreram na casa de espetáculos.

Depois de uma cerimônia sem público em 2020 por causa da pandemia, as homenagens parecem mais importantes do que nunca, pois acontecem em paralelo ao julgamento histórico que, desde setembro, revive a lembrança do ataque terrorista mais mortal já cometido na França.

- Solidariedade coletiva -

"O julgamento nos aproxima e há um desejo muito forte de se encontrar em um marco de recordação", explicou à AFP Arthur Denouveaux, presidente da associação de vítimas Life for Paris.

Para enfrentar o resto do julgamento, que continuará até o fim de maio, "as pessoas sentem que é importante se aproximar uns dos outros", resumiu.

Este ano, "a recordação cristaliza o grande relato compartilhado que atualmente está sendo construído no julgamento", observa o historiador Denis Peschanski, corresponsável do "Programa 13 Novembro", um amplo projeto de pesquisa que estuda a evolução da memória dos atentados ao longo de dez anos.

As audiências judiciais e a reprodução das mesmas pela imprensa "influenciam a memória coletiva dos franceses" e permitem "completar o quebra-cabeça com peças que ainda eram desconhecidas", constatou.

Suas pesquisas, realizadas com uma amostra representativa da população francesa, colocam em evidência que, além do massacre no Bataclan, o julgamento "faz reviver todos os lugares afetados" pelos atentados, graças aos testemunhos das vítimas do Stade de France e dos cafés, dos quais o grande público tende a se esquecer progressivamente.

Seis anos depois dos atentados, no entanto, a ameaça terrorista continua bastante elevada na França, mas agora sob novas formas, como ficou evidente nos assassinatos da agente de polícia Stéphanie Monfermé, em abril, nos arredores de Paris, e do professor Samuel Paty, em outubro de 2020.

Agora, a ameaça é conduzida por agressores mais "autônomos", cujo vínculo com as organizações terroristas - que já não reivindicam sistematicamente suas ações - se distanciou amplamente.

"Atacamos a França, a população, civis, mas não foi nada pessoal", declarou nesta quarta-feira (15) Salah Abdeslam, o único integrante com vida dos comandos extremistas que mataram 130 pessoas em 13 de novembro de 2015 na França.

No início de uma nova audiência no tribunal de Paris que o julga ao lado de outros 19 acusados, Abdeslam - que disse "não querer meter o dedo na ferida" - afirmou que os atentados eram uma resposta a "bombardeios franceses contra o Estado Islâmico" (EI) na Síria.

O presidente do tribunal permitiu nesta quarta-feira que os 14 réus presentes fizessem uma primeira e "breve" declaração sobre os fatos de que são acusados. Durante seus discursos, o silêncio tomou conta da sala.

Salah Abdeslam, o principal acusado, foi o último a falar. "Bom dia a todos, por onde começar?", disse o franco-marroquino com uma voz tranquila, que contrastou com suas interrupções durante os primeiros dias de audiência.

Com a máscara ao nível de sua barba, ele falou durante quase cinco minutos e disse que os "terroristas, jihadistas, radicalizados" citados durante as audiências eram na verdade "muçulmanos". "Trata-se do Islã autêntico", completou.

O ex-presidente "François Hollande disse que lutamos contra a França por seus valores, mas é mentira", afirmou Abdeslam, que citou os "aviões franceses que bombardearam o Estado Islâmico, homens, mulheres e crianças".

"Hollande sabia dos riscos que corria ao atacar o Estado Islâmico na Síria", completou o acusado, que completa 32 anos nesta quarta-feira. "O mínimo é dizer a verdade, costumam falar que sou um provocador, mas não é verdade. Quero ser sincero".

No tribunal, alguns parentes de vítimas e sobreviventes dos atentados começaram a chorar, outros se abraçaram, durante o discurso de Abdeslam.

O julgamento, que começou na semana passada e deve prosseguir até o fim de maio, não prevê o interrogatório dos acusados antes de janeiro de 2022. Depois dos investigadores esta semana, na próxima será a oportunidade de falar dos sobreviventes.

Veja a seguir as principais reações internacionais e da mídia ao aniversário de 20 anos dos atentados do 11 de Setembro nos Estados Unidos, os ataques terroristas mais mortíferos da história.

- "Jamais esqueceremos. Sempre lutaremos pela liberdade", tuitou o presidente francês Emmanuel Macron, com um vídeo da bandeira americana na escadaria do Palácio do Eliseu, em Paris.

- Em Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prestou homenagem às vítimas dos ataques terroristas. "Em 11 de setembro, lembramos aqueles que perderam suas vidas e homenageamos aqueles que arriscaram tudo para ajudá-los. Mesmo nos tempos mais sombrios e difíceis, o melhor da natureza humana pode brilhar. A UE está ao lado dos Estados Unidos para defender a liberdade e a compaixão contra o ódio", tuitou.

- No Reino Unido, a rainha Elizabeth II prestou homenagem às vítimas dos ataques, bem como àqueles que então começaram a "reconstruir", em uma mensagem dirigida ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. "Meus pensamentos e orações - e os de minha família e do país como um todo - estão com as vítimas, sobreviventes e famílias afetadas, bem como com os primeiros que intervieram e socorristas", declarou a soberana de 95 anos.

- Na Itália, o presidente Sergio Matterella expressou a solidariedade de seu país aos Estados Unidos e seus outros aliados "para conter qualquer ameaça terrorista".

- Na Suíça, o presidente Guy Parmelin ressaltou no Twitter "a rejeição incondicional do terrorismo". Esses ataques "mudaram a política em todo o mundo e também tiveram um impacto em nossa vida na Suíça. Afirmo a rejeição incondicional do terrorismo em todos os lugares e sempre e expresso minha solidariedade a todas as suas vítimas", escreveu.

- Na Alemanha, o porta-voz da chanceler Angela Merkel, Steffen Seibert, prestou homenagem às vítimas dos ataques. "Hoje os ataques de 11 de Setembro nos Estados Unidos marcam seu vigésimo aniversário. Lembramos as vítimas", tuitou o porta-voz.

- Na Austrália, o primeiro-ministro Scott Morrison prestou homenagem "às 2.977 pessoas que perderam a vida naquele dia". "O 11 de Setembro nos lembra que nunca podemos dar por garantidos nossa paz, nossa liberdade e nosso modo de vida", escreveu em uma carta aberta apresentando suas "sinceras condolências" a "todo o povo americano".

- No Irã, vários jornais criticaram as intervenções militares americanas lançadas em retaliação aos ataques de 11 de Setembro.

Em editorial publicado sob a manchete "o começo do fim dos Estados Unidos", o Hamshahri (jornal da prefeitura de Teerã, ultraconservador), escreveu que Washington seguiu "uma trajetória errônea".

"O erro de apreciação dos Estados Unidos é ter acreditado que poderiam lutar contra este novo inimigo (Al-Qaeda) com as armas e as operações militares, enquanto esta nebulosa terrorista se beneficiava de um terreno favorável intelectual, social e econômico tanto no Paquistão como no Afeganistão, bem como no Iraque e na Síria".

Lá se vão 20 anos de um dos dias mais fotografados, filmados e comentados da história da humanidade. Quando uma das duas torres do World Trade Center foi atingida por um avião com 92 pessoas a bordo, toda a imprensa mundial interrompeu o que estava fazendo e voltou suas atenções para Nova York. No horário de Brasília, adiantado uma hora em relação ao epicentro dos acontecimentos, os relógios marcavam 9h46. Menos de 20 minutos depois, a outra torre se tornou alvo de um segundo avião, com 65 passageiros a bordo. 

Muitas pessoas que nasceram nas décadas de 1960, 1970 e 1980 ou mesmo no início da década de 1990 costumam se lembrar com exatidão do que estavam fazendo naquele 11 de setembro de 2001 quando tomaram conhecimento do que se passava. Em todo o mundo, onde houvesse uma televisão ligada, havia uma reunião de pessoas intrigadas com as cenas: cada uma das duas torres em chamas demoraria cerca de uma hora para ir ao chão depois de atingida. Com a queda dos edifícios, que funcionavam como um complexo comercial, quase 3 mil pessoas perderam suas vidas. Uma nuvem de poeira se formou por quilômetros.

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O atentado se tornou um dos maiores eventos da história.

"Faço uma associação curiosa porque eu cresci escutando meus pais e meus avós falando onde estavam quando o homem pisou na Lua. E eu lembro exatamente do 11 de setembro de 2001. Estava fazendo estágio em uma empresa, entrou na sala uma pessoa falando que havia tido um acidente com um avião em Nova York. Ainda não se tinha ideia de que era um ataque. Nós corremos para a televisão e vimos ao vivo o segundo avião se chocando com o edifício", diz Jorge Lasmar, especialista em Relações Internacionais e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).

Ao todo, quatro aviões comerciais foram sequestrados por terroristas. Além dos dois direcionados ao World Trade Center, um foi jogado contra o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos localizado na capital Washington. O último acabou caindo na zona rural de Shanksville, no estado da Pensilvânia. Especula-se que o alvo poderia ser o Capitólio, sede do Congresso, ou a Casa Branca, residência oficial do presidente do país.

Os desdobramentos são bastante conhecidos: a Al Qaeda assumiu a autoria do atentado e, no mês seguinte, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão, onde a organização terrorista estaria abrigada. O país era comandado na época pelo Talibã, um grupo fundamentalista que aplica sua interpretação da Sharia, a lei islâmica. Após duas décadas, o governo norte-americano decidiu encerrar a ocupação e, no mês passado, o Talibã retomou o controle do Afeganistão, quando as tropas dos Estados Unidos estavam organizando sua retirada. O então presidente afegão Ashraf Ghani, eleito em 2014 e reeleito em 2019, não ofereceu resistência ao Talibã e fugiu do país.

Apesar da cronologia dos acontecimentos ser de domínio público, muitos aspectos ainda são debatidos por especialistas. São questões que vão além da superficialidade dos fatos e envolve os seus efeitos.

“Não há dúvida de que o mundo que a gente vive hoje foi consequência do que aconteceu", afirma Jorge Lasmar.

"No final da década de 1990, caminhávamos para a consolidação de uma atmosfera mais liberal no sentido capitalista, com os Estados abrindo suas fronteiras e seus mercados e com relações mais pacíficas entre os países. De repente, isso mudou. Começou a haver contestações à visão americana, sobretudo pela Rússia e pela China. As fronteiras ficaram mais fechadas. A questão do uso da força voltou a ser um componente nas relações internacionais. E tivemos um avanço do terrorismo. Mesmo com a redução dos ataques e das mortes nos últimos anos, os números hoje ainda são muito mais altos do que eram antes de 2001", completa.

Ele pondera, no entanto, que o mundo não deve ser analisado somente pela ótica de um evento. “Muita coisa aconteceu de lá pra cá. Há efeitos, mas estamos hoje numa situação mais complexa e delicada”, avalia.

Políticas de segurança

Como desdobramento do atentado, uma série de leis aprovadas em torno da palavra de ordem “guerra ao terror” reduziram a liberdade e a privacidade de cidadãos nos Estados Unidos, especialmente de estrangeiros. A Europa também seguiu essa tendência. Foram definidos, em todo o mundo, novos mecanismos e protocolos de controle nos aeroportos: revista mais minuciosa das bagagens, uso de detector de metal, restrição a líquidos na mala de mão. A tecnologia foi aprimorada para aprofundar o monitoramento, com scanners corporais, detectores de explosivos e outros equipamentos.

“Assim como o final da Guerra Fria inaugurou uma nova era nas relações internacionais, o atentado de 11 de setembro também simbolizou uma ruptura na forma como se analisava a segurança internacional. A ideia de inimigo transacional, desterritorializado e que pode causar um caos e muitas mortes sem ter o domínio de armas bélicas sofisticadas trouxeram novos parâmetros para o planejamento de segurança dos Estados, reforçando a importância da cooperação internacional”, observa a cientista política Ariane Roder, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Segundo Thiago Rodrigues, pesquisador em relações internacionais e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), o desenvolvimento da tecnologia de segurança colocado em marcha após o 11 de setembro gerou e continua gerando mecanismos de controle das populações, como a biometria e os variados dispositivos para monitoramento do espaço urbano.

"Quem começou a viajar nos últimos 20 anos, principalmente as pessoas mais jovens, não sabe como era antes. Hoje temos diversas camadas de controle, que vão desde a emissão de vistos até as revistas rigorosas nos aeroportos. Mas com exceção dos grupos capturados na iminência de um atentado, não dá pra saber exatamente quantos ataques foram inibidos por essas medidas de segurança. Então os efeitos realmente mensuráveis não são os efeitos sobre os terroristas, mas sobre nós. Mesmo que o terrorismo sumisse hoje, essas tecnologias criadas em nome do combate ao terrorismo não seriam abandonadas", avalia.

Jorge Lasmar considera que o terrorismo exige que o mundo se mantenha vigilante. “A gente continua tendo atentados e algumas dessas regras conseguem impedir novos ataques.”

No entanto, ele também vê efeitos colaterais que decorrem desse ambiente de controle, como a construção de muros entre os países. “As fronteiras do mundo estão mais fechadas. Temos mais fronteiras físicas entre os Estados do que tínhamos depois da Segunda Guerra Mundial. Há a questão dos refugiados e as dificuldades para o reconhecimento de asilo. A exigência de vistos diante do fluxo de pessoas."

Em meio a toda essa vigília das populações, os pesquisadores veem um fortalecimento dos estereótipos contra imigrantes provenientes de países considerados como uma ameaça aos valores ocidentais, como a democracia e a liberdade individual.

"Isso tem gerado um outro tipo de extremismo, que tem motivação étnica. Está ligado aos movimentos de supremacia branca, que se alimentam dessa retórica estereotipada contra as pessoas do Oriente Médio. É algo que cresceu muito nos últimos anos no mundo ocidental. E ainda se fala pouco disso. Ainda há um pudor em reconhecer esses grupos como grupos. Mas fechar os olhos para essa questão é um problema, porque esse movimentos vão ganhando força", observa Lasmar.

Impactos militares

O atentado também revelou sofisticações nos modos de operar de grupos terroristas. Um aspecto que chama a atenção foi a dificuldade encontrada para localizar Osama bin Laden, líder da Al-Qaeda e apontado como o idealizador dos ataques. Mesmo empregando a mais avançada tecnologia, foram necessários quase 10 anos para que as forças norte-americanas o localizassem. Sua morte foi anunciada em maio de 2011.

A guerra ao terror se desdobrou em outras ações militares como a ocupação do Iraque em 2003, país que era comandado por Saddam Hussein desde o final da década de 1970. Na época, Estados Unidos e Inglaterra diziam deter provas de que o país guardava um grande arsenal de armas de destruição em massa que representava um perigo à população mundial. Saddam foi enforcado em 2006, mas as armas nunca foram encontradas. Os dois governos que lideraram a ocupação afirmaram, posteriormente, que confiaram em informações que se mostraram falsas.

As incursões militares no Oriente Médio não eliminaram os grupos terroristas. Nos últimos anos, o Estado Islâmico tem se tornando uma peça-chave nos conflitos que se desdobram na região, sobretudo na Síria, no Iraque e no Afeganistão.

A retomada do poder do Talibã no Afeganistão, na visão de Ariane Roder, retrata a ineficácia do uso de instrumentos clássicos de guerra para lidar com a situação. Segundo ela, as soluções requerem muito mais do que o uso da força.

Ela também observa que há uma dimensão de resistência cultural que alimenta os grupos terroristas. "A utilização realizada por alguns grupos terroristas da religião extremista como instrumento de aliciamento e construção do poder causou um distanciamento ainda maior entre culturas do Ocidente e Oriente, com desconfianças, preconceitos e desrespeitos", acrescenta.

Para Jorge Lasmar, os Estados Unidos apostaram equivocadamente em um investimento maciço de propaganda sobre sua própria sociedade. 

"Buscaram disseminar os valores americanos. Mostraram como a democracia ocidental é legal, como a vida no país é legal, como a liberdade não comporta o terrorismo. Mas muito disso não foi bem recebido não só no mundo muçulmano, mas em todo o mundo oriental. Era uma cultura exógena. E há outros caminhos. Diversos líderes muçulmanos são capazes de mostrar que não há nada na religião islâmica que legitime o terrorismo."

Lei nacional

No Brasil, na véspera dos Jogos Olímpicos sediados pelo Rio de Janeiro em 2016, foi aprovada uma Lei Antiterrorismo (Lei 13.260/2016). Havia um temor de que se repetissem cenas ocorridas dois anos antes, na Copa das Confederações de 2014, quando uma forte onda de manifestações resultou em cenas de violência e assustou turistas. Foi definida como terrorismo qualquer ação motivada por razões de xenofobia, racismo, etnia e religião, que tenha por objetivo causar terror social a partir do uso, transporte ou armazenamento de explosivos; gases tóxicos; conteúdos químicos, biológicos e nucleares; ou outros meios que possam promover a destruição em massa.

Essas ações podem envolver sabotagem ou ameaça em meios de transporte, portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares e instalações de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias.

Segundo Thiago Rodrigues, a lei incorpora uma perspectiva de terrorismo disseminada de forma global. "Em parte, é resultado de uma pressão que tem a ver com o 11 de setembro. É uma pressão que vem do Comitê Olímpico Internacional, de alguns países específicos como os Estados Unidos e também do capital privado que investe e patrocina os eventos esportivos. Houve uma cobrança por medidas afinadas com as expectativas de países mais envolvidos na guerra contra o terrorismo".

Ao mesmo tempo, ele observa a presença de outros componentes que não têm relação com o 11 de setembro. “Há outra parte que tem mais a ver com o nosso ambiente político. Há muitos anos de pressão de segmentos da sociedade e de uma ala do Congresso para se ter um maior controle de movimentos sociais consolidados no país. E a lei é ambígua o suficiente para deixar brechas. Dependendo da interpretação, pode ser usada para tentar criminalizar movimentos sociais."

Jorge Lasmar vê pontos positivos e lacunas no texto da Lei Antiterrorista. "Caminhou numa direção certa de não de designar terroristas e, sim, atos terroristas. Há um excludente explícito dizendo que movimentos sociais não podem ser caracterizados com grupos terroristas. Pode-se até discutir se isso seria redundante, mas as legislações antiterroristas possuem um alto custo social, que pode ensejar maior militarização da polícia e aumento de força do Poder Executivo, o que faz com que esse tipo de resguardo seja positivo. Mal não faz. Movimento social não tem nada a ver com terrorismo", explica.

"Mas o conceito de ato terrorista no artigo 2º o vincula a uma motivação de discriminação racial, étnica, religiosa. Isso pode ser problemático porque existe um terrorismo político onde não há essa instância de discriminação", completa o especialista.

Salah Abdeslam, o único membro com vida dos comandos que mataram 130 pessoas na França em novembro de 2015, interrompeu o segundo dia do julgamento dos atentados para tentar inocentar três acusados.

"Me ajudaram sem saber de nada" sobre os atentados de 13 de novembro, declarou no banco dos réus Abdeslam. "Estão na prisão e não fizeram nada", completou, antes de ter o microfone cortado.

O principal acusado se referia a Mohammed Amri, Hamza Attou e Ali Oulkali, três amigos de Bruxelas que o ajudaram durante sua fuga após os atentados executados em Paris e na vizinha Saint-Denis.

O presidente do tribunal especial, Jean-Louis Périès, suspendeu a audiência do processo, que também registrou em seu primeiro dia as intervenções intempestivas de Abdeslam.

Na quarta-feira, após um recesso de quase 30 minutos pela indisposição de um dos acusados, ele tomou a palavra de maneira inesperada para denunciar que a justiça trata os réus "como cachorros".

No início da segunda jornada, o homem de 31 anos voltou a interromper a audiência, destinada à constituição das partes civis, quando era debatido se deveriam ser aceitas as cidades de Paris e Saint-Denis, entre outras.

"As vítimas na Síria e no Iraque poderão falar?", gritou Abdeslam. "Em princípio, se presume que alguém é inocente antes de ser julgado (...) mesmo que eu não aprove sua justiça, completou.

"Nos desviamos do debate, senhor Abdeslam", afirmou o presidente do tribunal, a quem o acusado franco-marroquino respondeu: "Não seja egoísta, senhor, há outras pessoas aqui que desejam me ouvir".

O magistrado Périès o recordou que durante cinco anos ele não quis apresentar explicações sobre o ocorrido. "Agora entendi que você quer fazê-lo, e isso é muito bom, mas não é o momento", disse Jean-Louis Périès antes de suspender a audição.

O julgamento do ataque mais violento em Paris desde a Segunda Guerra Mundial começou na quarta-feira e deve prosseguir até maio de 2022.

Vinte pessoas são julgadas, seis delas à revelia.

O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou o ataque executado em 2015 contra o Stade de France, bares e restaurantes de Paris e a casa de espetáculos Bataclan.

No momento, uma coalizão internacional apoiava a luta contra o EI na Síria e no Iraque e milhares de sírios tentavam chegar à Europa para fugir dos anos de guerra em seu país.

A França iniciou nesta quarta-feira (8) o julgamento de um dos ataques terroristas mais violentos em seu território, seis anos após uma noite de horror em Paris em novembro de 2015 que terminou com 130 mortos e um agressor vivo.

Às 13h17 (8h17 de Brasília), o tribunal abriu o megaprocesso no imponente Palácio da Justiça de Paris e que deve ter a duração de nove meses, com quase 1.800 partes civis e 20 réus, seis deles julgados à revelia.

O franco-marroquino Salah Abdeslam, presente na sala, é o principal acusado pelos massacres perpetrados no dia 13 de novembro de 2015 no Stade de France, norte de Paris, nos cafés da zona leste da capital e na casa de espetáculos Bataclan.

Suas primeiras palavras no tribunal foram a profissão de fé islâmica e garantindo, quando questionado sobre sua profissão, que deixou tudo para se tornar "um combatente do Estado Islâmico", a organização terrorista que assumiu a responsabilidade pelos ataques.

Usando máscara, o único membro vivo dos comandos que atacaram Paris sentou-se no banco dos réus, cercado por vários membros das forças de segurança.

O esquema de segurança também foi reforçado fora do tribunal, em razão do risco de uma ameaça terrorista, de acordo com o porta-voz do governo, Gabriel Attal.

Em 2020, durante o julgamento do ataque à revista satírica Charlie Hebdo, novos atentados atingiram a França.

O "julgamento do século", nas palavras da imprensa francesa, "é um salto para o desconhecido", considera Arthur Dénouveaux, sobrevivente do Bataclan e presidente da associação de vítimas 'Life for Paris'.

"Sem dúvida será o julgamento mais longo da história", disse à AFP Christian Saint-Palais, advogado de um dos réus. E todos as atenções estarão voltadas a Abdeslam.

- "Julgamento excepcional" -

Este homem de 31 anos, que no passado cometeu crimes menores antes de se converter ao jihadismo, é o único agressor com vida, o "décimo homem", e o julgamento deve esclarecer seu papel exato.

"Em primeiro lugar, quero dizer que não há outro Deus além de Alá e que Maomé é seu profeta", disse, quando solicitado a se identificar.

"Agora, julguem-me, façam o que quiser de mim", "Não tenho medo de vocês (...) coloco minha confiança em Alá e isso é tudo, não tenho nada a acrescentar", declarou.

"Vamos garantir que este julgamento excepcional não se torne um julgamento de exceção", advertiram seus advogados. Doze dos 20 réus enfrentam a possibilidade de prisão perpétua pelo massacre que começou pouco depois das 21h15 em Saint-Denis.

Naquele momento, um homem-bomba detonou seus explosivos perto do Stade de France, onde acontecia um jogo amistoso entre França e Alemanha, com milhares de torcedores nas arquibancadas, incluindo o então presidente François Hollande.

Outros dois terroristas continuaram a ação, matando um motorista de ônibus. Abdeslam também deveria ter atacado, mas acabou fugindo para a Bélgica porque, segundo os investigadores, seu cinto de explosivos estava com defeito.

Então, no centro de Paris, dois comandos de três homens dispararam contra as pessoas que estavam em bares e restaurantes e no Bataclan, onde as forças de segurança lançaram um assalto depois da meia-noite.

O balanço do pior ataque em Paris desde a Segunda Guerra Mundial foi de 130 mortos e mais de 350 feridos, em um momento em que uma coalizão internacional lutava contra o EI na Síria e no Iraque e milhares de sírios tentavam chegar à Europa fugindo da guerra.

Quatro anos de investigação permitiram reconstituir grande parte da logística dos ataques e do percurso que os comandos tomaram: por uma rota migratória da Síria até os seus esconderijos alugados na Bélgica e perto de Paris.

Os investigadores descobriram uma célula terrorista muito maior e também responsável pelos atentados que deixaram 32 mortos em 22 de março de 2016 no metrô e no aeroporto de Bruxelas, outro ataque violento do período na Europa.

- "Até que eu morra" -

"Os sobreviventes dos ataques de 13 de novembro têm uma necessidade urgente de explicação sobre o que aconteceu, o que sofreram", disse a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, ao jornal Le Parisien, para quem este julgamento os ajudará em "seu processo de reconstrução".

Para François Molins, ex-procurador de Paris, é necessário construir "uma memória coletiva que reafirme os valores da humanidade e da dignidade" e permitir que "as famílias das vítimas compreendam o que aconteceu", disse à rádio RTL.

"A dor que tenho não vai ser reparada pela sentença proferida pelo tribunal. Sentirei dor até morrer e a falta de Juan Alberto terei até morrer", assegurou à AFP Cristina Garrido, cujo filho foi assassinado no Bataclan.

O primeiro momento importante do julgamento terá início no final de setembro com os depoimentos dos sobreviventes e familiares das vítimas, durante cinco semanas, e suas associações já alertaram para a emotividade.

O interrogatório dos acusados - seis dos quais são julgados à revelia - acontecerá em 2022 e a principal questão será se Abdeslam vai abandonar o silêncio que tomou desde sua prisão na Bélgica em 2016, além de suas referências ao Islã.

Dois "ataques terroristas islâmicos sunitas" foram frustrados na França em 2020, e 33, desde 2017 - afirmou o coordenador nacional de Inteligência e da luta contra o terrorismo, Laurent Nuñez, neste domingo (3).

Em um programa com vários meios de comunicação franceses, Laurent Nuñez não deu qualquer indicação sobre a natureza dessas duas tentativas de ataque.

Nuñez disse que o "terrorismo islamista sunita" é "uma ameaça prioritária", que é "endógena" (de origem interna) e "cada vez mais difícil de detectar".

"A passagem para o ato se faz de maneira muito rápida", completou, citando o assassinato do professor Samuel Paty, em outubro passado, nos arredores de Paris.

Laurent Nuñez destacou "um ponto comum" entre os três últimos atentados atribuídos a este movimento (contra a antiga sede do semanário satírico Charlie Hebdo, contra o professor Paty e em uma basílica de Nice, no sudeste da França): "a blasfêmia, a vontade de vingar o profeta" Maomé.

A ameaça exógena (procedente do exterior) é "menos provável", embora os serviços franceses "permaneçam extremamente vigilantes" a este respeito, acrescentou.

Em menos de 24 horas, a dois dias das eleições municipais, dois candidatos, um em Mairinque, em São Paulo, e outro em Magé, na Baixada Fluminense, foram alvos de atentados a tiros. O vereador e candidato a prefeito pelo MDB, Rafael de Oliveira Dias, o Rafael da Hípica, e o candidato a vereador Kleiton Sodré (PSL), conhecido como Kleiton Gatão, escaparam ilesos dos ataques.

No início a madrugada de ontem, a casa de Rafael Dias foi atingida por disparos de arma de fogo. Dois tiros atravessaram a vidraça da sala onde o candidato estava e abriram buracos na parede. Outro projétil atingiu a estrutura metálica do vitrô. O candidato estava com a família, mas ninguém se feriu. Ele disse ter ouvido o barulho de moto se afastando após os disparos. A Polícia Civil realizou perícia no imóvel.

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Rafael disputa a terceira eleição - a primeira para prefeito. Ele ficou como suplente de vereador em 2012 e se elegeu para a Câmara Municipal em 2016. "Foi um susto. Por volta da meia-noite e meia, eu estava sentado na sala, vendo as documentações de campanha, quando ouvi os disparos. Pulei do sofá e me abaixei. Aí vi que dois tiros atravessaram a vidraça e abriram buracos na parede. Outro atingiu o ferro da janela. Estamos assustados, eu, minha mãe, meu pai, meu irmão, toda minha família, mas estamos bem", disse.

O ataque foi registrado no plantão da Polícia Civil. O candidato disse que não recebeu ameaças e desconhece a motivação dos tiros. A investigação recolheu pedaços de chumbo na casa e requisitou imagens de câmeras instaladas nas proximidades. Rafael cancelou todas as ações de campanha e vai acompanhar a ação da polícia. Na cidade de 47 mil habitantes, outros quatro candidatos disputam a prefeitura.

Rio

Horas antes, na noite de quinta-feira, Kleiton Sodré, candidato a vereador em Magé, município na Baixada Fluminense, foi atacado a tiros quando chegava para abastecer em um posto de combustíveis. Além dele, um cabo eleitoral também estava no carro, que era blindado. Ninguém ficou ferido.

Imagens do circuito interno de TV do posto mostra o momento em que Sodré para em frente a uma das bombas de combustível. Pouco depois, outro veículo para ao lado e é possível ver disparos saindo do banco do carona. Os tiros, contudo, não atravessam os vidros. Os criminosos fogem na sequência.

O Estado do Rio, em especial a região da Baixada, tem registrado uma série de atentados contra candidatos ou seus colaboradores. No início do mês o vereador do Rio e candidato à reeleição Zico Bacana (Podemos) foi atingido por um tiro de raspão na cabeça. Ele foi hospitalizado mas já teve alta.

Outros três casos de violência contra candidatos foram registrados em São Paulo durante esta campanha eleitoral. Na quarta-feira, o carro onde estavam a candidata do PSDB à prefeitura de São Vicente, Solange Freitas, seu vice e assessores foi atingido por tiros. Ninguém se feriu.

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O americano Alexei Saab foi denunciado nesta quinta-feira por transmitir ao Hezbollah informação sobre possíveis alvos para ataques terroristas nos Estados Unidos, informou o departamento de Justiça.

Segundo a promotoria, Saab, 42 anos e cidadão americano naturalizado (em 2008) residente em Nova Jersey, treinou a partir de 1999 com o movimento libanês xiita Hezbollah, considerado pelos Estados Unidos como uma organização terrorista.

Saab se uniu ao braço de operações no estrangeiro do Hezbollah e desde sua chegada aos Estados Unidos, no ano 2000, passou a enviar informações ao grupo sobre possíveis alvos nas principais cidades dos EUA.

"Alexei Saab supostamente utilizou seu treinamento para buscar possíveis alvos em todo os Estados Unidos", disse o promotor Geoffrey Berman.

Entre as várias denúncias está a de apoio à organização terrorista, que pode lhe custar uma pena de até 20 anos de prisão.

A promotoria também acusa Saab por "matrimônio fraudulento" visando solicitar, em 2012, a nacionalidade americana para uma mulher não identificada.

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