O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu desculpas às famílias das vítimas de Cesare Battisti e reconheceu o "erro" em manter o italiano no país em uma entrevista ao canal de YouTube "TV Democracia" nesta sexta-feira (21). Explicando todo o caso, Lula disse que tomou a decisão com base no que seu então ministro Tarso Genro havia lhe falado.
"O Tarso Genro quando tomou a decisão, ele tomou a decisão porque achava que ele era inocente. O Tarso Genro me disse o seguinte: 'não dá para mandar ele embora porque ele pode ser detonado na Itália e ele é inocente'. Toda a esquerda brasileira, todo mundo defendia que o Battisti ficasse aqui", disse aos jornalistas.
##RECOMENDA##"Eu nunca estive com o Battisti. Ele nunca me procurou porque talvez eu não fosse um revolucionário como ele achava. Por isso, me ative naquilo que meu ministro disse que ele era inocente, que não tinha provas da culpabilidade", acrescentou.
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No entanto, quando o italiano foi extraditado para a Itália, fato que ocorreu em 2019, ele confessou que cometeu os quatro assassinatos que era acusado enquanto fazia parte do grupo terrorista Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) na década de 1970.
"Quando ele foi preso e ele confessa foi uma frustração, foi uma frustração para mim porque ele comprometeu um governo que tinha uma relação extraordinária, que ainda tenho, com toda a esquerda italiana, com a esquerda europeia, e ele não precisaria ter mentido, pelo menos, para quem o estava querendo aqui. Porque a base da amizade na política é você não prejudicar um amigo. Você cometeu um crime, o advogado vai saber como defender. Porque não dá para mentir para os amigos", disse Lula.
Sobre as desculpas, o ex-presidente ressaltou que "não teria nenhum problema em pedir desculpas para a esquerda italiana, para as famílias [das vítimas] do Cesare Battisti".
"Ele enganou muita gente no Brasil, não sei se enganou muita gente na França, mas a verdade é que tinha muita gente que achava ele inocente. E se nós cometemos esse erro, nós pedimos desculpas sem dúvida nenhuma. Agora, ele mentiu para as pessoas de bem aqui do Brasil", disse ainda.
Lula ainda revelou que conversou com o ex-presidente da Itália Giorgio Napolitano e com membros da esquerda italiana e "todos estavam pressionando" para que o Brasil enviasse Battisti para a Itália.
Napolitano, que sempre foi aliado de Lula desde a década de 1980, fez diversas críticas ao presidente brasileiro por ele ter optado por não extraditar o terrorista.
- O caso: Battisti chegou ao Brasil em 2004 após fugir da França, que havia autorizado sua extradição para a Itália após anos vivendo em território francês. Em 2007, ele foi detido no Rio de Janeiro e, dois anos depois, Genro concedeu o status de refugiado para o italiano.
No entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou o benefício, mas reconheceu que a decisão sobre o caso devia ser tomada pelo presidente da República - fato que aconteceu no dia 31 de dezembro de 2010.
Oito anos depois, já no governo de Michel Temer, a Presidência revogou o status de refugiado e, pouco depois, o STF determinou uma nova prisão de Battisti. Com a determinação, ele fugiu novamente, dessa vez para a Bolívia, onde foi preso em janeiro de 2019 e extraditado para a Itália menos de 24 horas depois da detenção.
Atualmente, Battisti cumpre penas de prisão perpétua em isolamento na prisão de Oristano, na Sardenha.
Da Ansa