Tópicos | desigualdade de gênero

Levantamento do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mostra que há uma diminuição do contingente de mulheres à medida que as carreiras progridem. Segundo o estudo, na maior parte dos campos do conhecimento, é possível identificar a queda em participação do grupo com o avanço em estágios profissionais.

Em apenas 34% das áreas, as mulheres alcançam equidade ou são maioria entre os docentes da pós-graduação. Por outro lado, houve aumento geral, ainda que discreto, da participação das mulheres com mestrado (2%), doutorado (3%) e na docência (5%) em diversas áreas do conhecimento no país, de 2004 a 2020.

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Os resultados da pesquisa foram disponibilizados recentemente na plataforma online criada pelo Gemaa. O estudo se baseou em dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), com o apoio do Instituto Serrapilheira.

A pesquisadora de pós-doutorado no Iesp Marcia Rangel Candido explicou que as dificuldades enfrentadas pelas mulheres são de origens variadas.

“Você vê até discriminações que podem ser consideradas mais leves, como o julgamento das roupas que as mulheres usam em seus espaços profissionais, quando elas estão fazendo pesquisas científicas, ou coisas do tipo. E, por outro lado, tem discriminações que são mais pesadas, como os assédios sexuais e morais.”

Segundo o coordenador do Gemaa, Luiz Augusto Campos, houve avanços recentes na ampliação da pós-graduação no Brasil, que foram seguidos, ainda que de modo “bastante modesto”, por uma preocupação em relação à diversificação.

“Isso levou a um aumento, também modesto, da participação das mulheres com doutorado em diversas áreas no Brasil”, avaliou Campos, em nota. “É preciso lembrar que o funil para entrar na docência de uma pós-graduação é muito mais estreito e muito mais injusto com as mulheres do que, por exemplo, para conseguir um doutorado.”

Desigualdade por áreas

Outro dado observado pelo levantamento se refere à relação mestrado-doutorado-docência de acordo com as áreas do conhecimento. Nesse caso, foi possível verificar que ainda há uma desigualdade grande de gênero quando se compara o contingente de mulheres nas chamadas “ciências duras”, tais como física, matemática e engenharias, tidas como “masculinas”, e aquelas tidas como “femininas”, como nutrição, enfermagem e serviço social.

No entanto, como destacou a professora do Instituto de Ciências Sociais e coordenadora acadêmica do Núcleo de Estudos sobre Desigualdades e Relações de Gênero (Nuderg) da Uerj Clara Araújo, também nessas carreiras tem havido incremento na presença feminina.

“A matemática é um campo em que a docência feminina cresceu, mas, tanto no mestrado quanto no doutorado e na docência, a diferença entre homens e mulheres ainda é muito grande. Na medicina, há também uma diferença, mas já temos 45% de docentes mulheres, ao passo que, em 2004, elas eram 36%. Nas engenharias, a docência na pós-graduação era baixa em 2004, 18%, e em 2020 subiu para 23%. Na área de ciências biológicas, temos quase 50% de mulheres”, disse, por meio de nota.

“É por isso que é preciso incentivar desde cedo as meninas a se interessarem pelas ditas ‘ciências duras’ e os meninos a irem para carreiras consideradas femininas, porque isso terá uma repercussão na socialização das próximas gerações”, acrescentou a professora.

Barreiras

Apesar dos avanços, o levantamento do Gemaa mostrou que a diminuição das desigualdades de gênero na ciência vem ocorrendo de forma lenta, indicando que ainda há barreiras a serem transpostas pelas pesquisadoras. Uma das questões mais discutidas atualmente no meio acadêmico é a da maternidade, vista como um entrave para a entrada ou permanência de mulheres na pós-graduação.

Segundo Clara Araújo, muitas vezes o número de filhos diminui porque as mulheres não conseguem compatibilizar com a carreira acadêmica, além do fato de o número de horas com que os homens se envolvem nas atividades domésticas é muito pequeno comparativamente à carga que sobra para as mulheres.

“A ideia do cuidado é algo ainda muito marcado pelo gênero. Há mulheres que não têm filhos, mas, em geral, são elas as responsáveis por cuidar de doentes e idosos, o que interfere na carreira acadêmica também”, disse a professora.

As mulheres enfrentam mais dificuldades no acesso ao mundo do trabalho do que se pensava anteriormente, e a diferença de salários e condições permaneceu quase inalterada nas últimas duas décadas, alertou a Organização Internacional do Trabalho (OIT) nesta segunda-feira (6).

A OIT afirmou ter desenvolvido um novo indicador que mede melhor a taxa de desemprego e detecta todas as pessoas sem emprego à procura de alguma atividade.

Isso projeta "um panorama muito mais sombrio da situação das mulheres no mundo do trabalho do que a taxa de desemprego mais comumente usada", disse esta agência da ONU em um comunicado, a dois dias do Dia Internacional da Mulher.

"Os novos dados mostram que as mulheres continuam tendo muito mais dificuldades para encontrar trabalho do que os homens", disse a agência.

Segundo dados da OIT, 15% das mulheres em idade ativa no mundo gostariam de ter um emprego, mas não têm, contra 10,5% dos homens.

"Essa desigualdade de gênero permaneceu praticamente inalterada por duas décadas", observou a organização.

Em contraste, as taxas oficiais de desemprego para homens e mulheres são muito parecidas.

Isso se deve, segundo a OIT, ao fato de que os critérios usados para determinar se alguém deve ser considerado oficialmente desempregado tendem a excluir de forma desproporcional as mulheres.

De acordo com o relatório, as responsabilidades pessoais e familiares, incluindo o trabalho de cuidado não remunerado, afetam desproporcionalmente as mulheres.

Esse tipo de atividade impede as mulheres de trabalhar, procurar emprego ativamente ou estar disponíveis com pouca antecedência.

"A brecha (de gênero) no trabalho é especialmente grave nos países em desenvolvimento, onde a proporção de mulheres que não conseguem encontrar um emprego chega a 24,9% nos países de baixa renda", disse a agência.

O acesso ao emprego não é o único problema. A OIT observou que as mulheres tendem a estar super-representadas em alguns empregos vulneráveis, inclusive em negócios familiares.

"Essa vulnerabilidade, junto a índices de emprego mais baixos, tem impacto sobre as rendas das mulheres", disse a agência.

A OIT concluiu que "a nível mundial, para cada dólar de renda do trabalho ganho pelos homens, as mulheres ganham apenas 51 centavos".

A Universidade de Pernambuco (UPE) realizará o minicurso remoto sobre 'Desigualdade de Gênero e Direitos Sexuais', nos dias 19, 20 e 21 de maio, das 19h as 22h. As inscrições podem ser realizadas de maneira gratuita.

Com a proposta de discutir questões de cidadania, violência sexual, direitos humanos e políticas públicas, o minicurso é gratuito e dará direito a certifico de carga de 10 horas, sendo emitido se o participante estiver presente em 70% das atividades. O acesso será enviado no ato da inscrição.

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Confira as palestras e palestrantes confirmados:

19.05 - Desigualdade de gênero e cidadania - Drª Fabiana Leite (OAB/ESA)

19.05 - Direitos humanos e gênero - Drª Rebeca Lins (UPE/ LIGEDDH/ Grupo Mulheres do Brasil)

20.05 - Violência sexual de gênero - Drª Gisele Araújo (OAB/ Centro Clarice Lispector/ Grupo Mulheres do Brasil)

20.05 - Políticas públicas para mulheres - Drª Adriana Rocha (OAB/Unicap/ Prefeitura do Recife)

21.05 - Abordagens práticas para gerenciamento de situações traumáticas (Foco em direito) - Drª Gisele Araújo (OAB/ Centro Clarice Lispector/ Grupo Mulheres do Brasil)

21.05 - Abordagens práticas para gerenciamento de situações traumáticas (Foco saúde mental) - Elza Alexandre (Psicóloga/ docente/Grupo Mulheres do Brasil)

Das 26 capitais brasileiras, apenas uma será chefiada por uma mulher durante a gestão de 2021-2024. Cinthia Ribeiro (PSDB) foi reeleita prefeita de Palmas, no Tocantins, e é exceção entre os demais 25 cargos que não foram alcançados por mulheres nessas eleições municipais. O número repete a tendência de 2012 e 2016, e evidencia a lacuna entre a participação feminina na política, através das candidaturas, e das vitórias efetivas.

Considerando os 96 maiores colégios eleitorais do Brasil, apenas oito mulheres foram eleitas prefeitas, de acordo com os resultados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esse grupo de colégios engloba as 26 capitais e os 70 municípios com mais de 200 mil eleitores aptos, e nos quais é possível a realização do segundo turno.

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O resultado representa 8% de participação feminina no bloco e, nacionalmente, o percentual é de 12%. Em 2012, Teresa Surita (MDB) foi eleita prefeita de Boa Vista (RR), a única mulher escolhida para comandar uma capital no País. Ela foi reeleita em 2016.

Além da tucana no Tocantins, as mulheres eleitas nesse grupo foram Suéllen Rosim (Patriota) em Bauru, o município mais populoso do Centro-Oeste paulista; Rachel Chini (PSDB), em Praia Grande, na Baixada Santista; Professora Elizabeth (PSD), em Ponta Grossa, no Paraná; e Raquel Lyra (PSDB), reeleita no primeiro turno em Caruaru, Agreste pernambucano.

Em Minas Gerais, foram eleitas as postulantes Marília Campos (PT) em Contagem, na região metropolitana; Margarida Salomão (PT) em Juiz de Fora, Zona da Mata mineira; e Elisa Araújo (SD) no interior, em Uberaba. 

Quase chegaram lá

Também chamam a atenção as candidatas que quase chegaram lá. É possível começar a observação pelo Macapá, capital amapaense, onde as eleições foram adiadas por conta do apagão em 3 de novembro. A candidata Patrícia Ferraz (Podemos) aparece em segundo lugar na pesquisa do Ibope, divulgada no último dia 11. Com 18%, a postulante está atrás de Josiel (DEM), que lidera com 26%. Ela se difere no terceiro lugar, Dr. Furlan (Cidadania) por apenas 1%.

Na capital pernambucana, o conflito familiar entre os Campos e Arraes, que se arrastou até o segundo turno, com a vitória de João Campos (PSB), esteve sob atenção de todo o Brasil. A petista Marília Arraes liderava as pesquisas de intenção desde o fim do primeiro turno, mas foi derrotada pelo primo com uma diferença de 12,54 pontos percentuais.

Outras candidaturas tinham chance de aumentar o número de mulheres no comando das principais prefeituras do país, mas todas foram derrotadas no segundo turno. Manuela D’Ávila (PCdoB) perdeu em Porto Alegre (RS) para Sebastião Melo (MDB) por 54,63% a 45,37%. Cristiane Lopes (PP) também foi derrotada em Porto Velho-RO por Hildon Chaves (PSDB), ele teve 54,45% contra 45,55% dela.

O mesmo aconteceu com as candidatas Delegada Danielle (Cidadania) em Aracaju-SE e Socorro Neri (PSB) em Rio Branco-AC.

O contexto nacional

O cientista político e professor universitário Elton Gomes fala que o “fetichismo jurídico” atrapalha a expressão das candidaturas femininas e pode reduzir o potencial dos seus trabalhos. Para ele, há no Brasil uma tendência de instrumentalizar o voto feminino e a causa identitária.

“Temos aí políticos que do dia para a noite viram feministas. A lei exige que os partidos tenham 30% de bancada feminina para conseguir participar das eleições, e isso pode esvaziar o significado dessas candidaturas, mas acontece que o voto feminino é identitário. Toda teoria política discute os incentivos seletivos. Quando se conquista o povo, isso pode significar que você não precisa mais da lei. O caminho aqui é pelo código penal, o partido arruma qualquer política, candidaturas que funcionam como 'laranja', só para o registro. É uma forma de perpetuar e potencializar a desigualdade. As mulheres não são devidamente estimuladas, nem verdadeiramente representadas. O corpo continua sendo uma maioria de homens”, diz o especialista, e completa: “é fetichismo jurídico, e às vezes é difícil pensar juridicamente no mundo real”. 

Gomes se refere à Emenda Constitucional (EC) nª 97/2017, a “cota dos 30%” do TSE, que indica o mínimo de 30% de mulheres filiadas aos partidos que queiram concorrer em um pleito eleitoral. A medida, na opinião do cientista, necessária, pode ser ao mesmo tempo aplaudida e questionada. A obrigatoriedade pode fazer com que as candidaturas sejam para “preencher” registro, e não para verdadeiramente agregar.

Ele também chama atenção para as respostas do eleitorado a essas candidaturas, e ressalta o fervor da causa identitária, que nem sempre avalia as questões reais de desigualdade e o significado das candidaturas. 

“O identitarismo cria uma expectativa errada, e pensando em termos analíticos, nas estruturas de poder, essa expectativa não se reverbera enquanto verdade. É uma perspectiva normativa e não prática do que ‘deveria ser’, e não do mundo como é. Além disso, por razões identitárias, o Brasil instrumentaliza a causa e faz parecer que elas só podem chegar na representação se for pela esquerda. Isso não deveria acontecer. O feminismo, por exemplo, pode ser muito plural”, desenvolveu. 

“A única prefeita eleita é uma tucana”, continuou, referindo-se à reeleição de Cinthia Ribeiro. Ele relembra que o espectro político das candidatas é amplo e que é possível representar diversas mulheres através dessas figuras. O problema segue sendo o quantitativo. Sobre isso, ele comenta: “As pessoas com chances de ganhar são bem vistas pelos partidos. Mulheres como Marília Arraes (PT), Raquel Lyra (PSDB), Dani Portela (PSOL) e outras vereadoras, como Liana Cirne (PT), Andreza Romero (PP) mostram que não só tem mulheres na política como o espectro delas é enorme. O que dá para questionar é o número. De 39 vereadores, temos somente seis mulheres, plurais, que passeiam da direita conservadora à esquerda liberal. No Brasil a coisa não decola por causa da questão social, que muda pouco a pouco com as lideranças que transitam pelos espectros políticos”.

Segundo o levantamento da plataforma Fiquem Sabendo (O Brasil em dados), em parceria com o Yahoo Brasil, apenas 7 mulheres foram eleitas prefeitas das capitais brasileiras nos últimos 20 anos. A proporção de mulheres à frente das capitais diminuiu ao longo dos anos. Em 2000, a presença feminina marcava 19,2%. Em 2012, estacionou em apenas 3,8%, taxa que se manteve em 2016, com apenas uma mulher eleita prefeita.

Em adição, Elton Gomes fala sobre descentralizar o poder de fala das candidaturas femininas, que soam patenteadas pelos grupos de esquerda, mas reconhece o papel protagonista do espectro no acolhimento das pautas voltadas às mulheres.

“Não sejamos injustos. A esquerda, no mundo todo, detém a imensa maior parte das representações desses movimentos de minoria, sobretudo com a frente do feminismo. Mas vale mais falar de feminismos, no plural, do que de um feminismo único. Todas têm como ponto comum a diferenciação entre sexo e gênero, mas elas divergem com relação ao caráter do movimento. Quando a esquerda diz que só ela pode ter a legitimidade de falar dessa luta, primeiramente não condiz com a realidade pela quantidade de correntes de pensamento, e em segundo lugar isso acaba impõe uma autoridade moral sobre as demais pessoas”, explica, e finaliza dizendo que, nesse aspecto, não deve haver “monopólio em nenhum espectro, e nem pessoas colocadas como "ultra ativistas".

O pedido judicial das jogadoras (e campeãs mundiais) da equipe feminina da seleção americana de futebol - que pleiteava igualdade salarial em relação aos jogadores homens - foi negado pelo juiz R.Gary Klausner, do Tribunal do Distrito Central da Califórnia, após quatro anos de campanha legal contra a Federação Americana de Futebol, a US Soccer. 

O juiz concordou com as alegações da federação de que as jogadoras haviam ganho mais que a equipe masculina “tanto cumulativamente quanto na média por jogo”, rejeitando os argumentos de discrepância salarial sistemática por parte das atletas. 

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A decisão do juiz, no entanto, preservou as queixas das jogadoras no que diz respeito a tratamento desigual em viagens, acomodações de hotéis, e equipe técnica. Essa parte do processo será julgada no dia 16 de junho.  

Por meio de um porta voz, elas afirmaram que vão recorrer da decisão. Apesar da vitória no tribunal, a US Soccer não celebrou o feito, que é altamente impopular uma vez que as demandas por igualdade de gênero vêm ganhando força dentro e fora do mundo esportivo. 

“Estamos ansiosos para trabalhar com a equipe nacional feminina para traçar um caminho positivo para o crescimento do esporte aqui e em todo o mundo. A US Soccer tem sido a líder mundial do futebol feminino dentro e fora do campo, e estamos comprometidos em continuar esse trabalho para garantir que nossa equipe nacional de mulheres continue sendo a melhor do mundo e estabeleça o padrão para o futebol feminino”, disse a federação em comunicado.

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As desigualdades de gênero no mercado de trabalho ainda são uma barreira na luta pela equidade de direitos entre homens e mulheres. É o que aponta o levantamento intitulado “Mulheres no mundo do trabalho: desafios pendentes para uma equidade efetiva na América Latina e no Caribe”, realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado nesta terça-feira (27). De acordo com a pesquisa, as mulheres ganham por hora trabalhada 17% a menos do que os homens com a mesma idade e nível de escolaridade. O objetivo do estudo é apresentar propostas que transformem esse quadro na América Latina.

A diferença salarial é só uma das lacunas que ainda persistem na vida profissional de homens e mulheres. Mesmo com avanços na inserção das mulheres no mercado de trabalho, o crescimento ainda é inferior se comparado aos homens. Segundo a organização, até o ano 2000, houve um aumento considerável na participação das mulheres em atividades fora do ambiente doméstico. Contudo, após esse período, o relatório identificou uma desaceleração, que agora soma 50,3%, dado que está 25 pontos percentuais abaixo que os homens.

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“Embora seja verdade que houve avanços muito importantes na incorporação das mulheres ao trabalho, o caminho para a igualdade ainda é longo, e, às vezes, íngreme", declarou a diretoria da OIT.

Ocupação das mulheres ainda é maior nos lares

Ainda de acordo com a pesquisa, 80% das mulheres da América Latina e Caribe continuam sendo responsáveis por assumir as tarefas do lar, o que impede a incorporação das mulheres no mercado de trabalho. Diante do dado alarmante, a entidade propõe que sejam adotadas políticas públicas para que mais mulheres possam ter o direito de poder trabalhar fora de casa.

As políticas públicas sugeridas pela OIT incluem que sejam criados programas de capacitação e de formação às mulheres que as coloque no mundo da empregabilidade. Além disso, é defendido pela organização que serviços de informação e de orientação são importantes para atender as necessidades das mulheres, especialmente as que fazem parte de grupos culturalmente afetados pelas desigualdades, como as migrantes e as mulheres rurais.

 

Uma pesquisa anual sobre o uso do tempo realizada pelo Departamento do Trabalho dos EUA (Labor Department’s) mostrou que as mulheres norte-americanas estão trabalhando mais e tendo cada vez menos tempo para o lazer. O tempo de trabalho também inclui as atividades domésticas, designadas como responsabilidades das mulheres na maior parte do tempo. O levantamento também chamou atenção para a diferença salarial entre homens e mulheres, que no caso do sexo feminino, ainda é inferior. 

De acordo com o estudo, tal desigualdade pode estar ligada ao baixo índice de desemprego no país, que já é o menor desde 1969. Além disso, existe a questão da expansão econômica no Estados Unidos, cuja a mão de obra tem sofrido queda. 

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Contudo, o maior motivo do crescimento das disparidades de gênero no mercado de trabalho ainda é o fato de que as mulheres tendem a assumir afazeres em casa e cuidar dos filhos, mais do que os homens. O departamento indicou que mesmo os homens se dedicando mais na última década com as ocupações domésticas, como fazer refeições, e limpar a casa, as mulheres gastam do próprio tempo três vezes a mais para realizar os mesmos serviços.

Segundo dados da pesquisa, o grupo de trabalhadores com maiores salários nos EUA (que tem os homens como maioria), é o que mais aproveita momentos de lazer, bem como para fazer, durante 30 minutos diários, exercícios físicos.

No quesito qualificação profissional: cerca de 29,5 milhões de trabalhadoras norte-americanas possuem diploma universitário, número que ultrapassou o sexo masculino este ano. 

A desigualdade de gênero diminuiu nos últimos anos, mas a discrepância salarial entre homens e mulheres ainda precisará de 202 anos para ter fim. É o que aponta o relatório global do Fórum Econômico Mundial.

Em 2018, a disparidade de gênero na política, no trabalho, na saúde e na educação melhorou menos de 0,1%, o que significa que levará 108 anos para chegar à igualdade. A área econômica, com base na participação, remuneração e avanço na força de trabalho, permanece como a que vai precisar de mais tempo para alcançar a paridade.

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"O que se observa globalmente é que nenhum país atingiu a igualdade de gênero, independentemente do nível de desenvolvimento, da região e do tipo de economia. A desigualdade de gênero é uma realidade em todo o planeta", afirma a diretora da ONU Mulheres, Anna-Karin Jargões.

Anna-Karin acrescenta que os governos podem ajudar a diminuir as diferenças de gênero com políticas de remuneração igualitária e ao conceder às mulheres proteção jurídica, como segurança no emprego durante a gravidez.

Ainda de acordo com o relatório global, os países com pior desempenho no indicador de participação e oportunidades econômicas estão no Oriente médio e no Norte da África. Somente 34% dos gestores mundiais são mulheres e as disparidades de renda são persistentes.

Já a Islândia teve o melhor desempenho pelo 10° ano seguido. O país europeu também é líder no empoderamento político feminino, apesar de a representação das mulheres ter caído entre legisladores e cargos de gerência.

O empoderamento político é o indicador em que a diferença de gênero continua mais alta, segundo o relatório global. Nesse aspecto, os Estados Unidos caíram do 66° lugar em 2006 para o 98° lugar neste ano, embora nas eleições parlamentares de novembro as mulheres tenham conquistado 102 assentos na Câmara.

"Há muito a percorrer", disse a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, sobre o enfrentamento à desigualdade de gênero no Brasil. "O preconceito contra a mulher continua e ele é grande. Não há nenhum engano quanto a isso", enfatizou a ministra, na manhã desta quinta-feira, 9, durante o 'Seminário Nacional - Os Direitos Humanos, os 30 anos da Constituição Federal e os 70 anos das Declarações Americanas e Universal', do qual participou ao lado da procuradora-Geral da República, Raquel Dodge.

A ministra começou a palestra comentando, descontraída, a experiência como professora, para chegar ao tema do direito das mulheres e de minorias no País. "Eu costumo dizer para os meus alunos: claro, aluno 'cola', a gente apenas dificulta, na medida do possível", iniciou a ministra, para contar sobre a história de um aluno que escreveu sobre os 'freios e contratempos' no Brasil, em vez de 'freios e contrapesos', sistema da separação de poderes, como a ministra havia pedido - o que divertiu a plateia.

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"O Brasil já nasceu com os 'contratempos', mas eu costumo dizer que estamos construindo freios, pelo menos ao abuso de poder, pelo menos a todas as formas de ilícitos práticos. Estamos vencendo pouco a pouco as dificuldades", disse Cármen, que deixa a presidência do STF em setembro, quando será sucedida pelo ministro Dias Toffoli.

A ministra também chamou a atenção para a violência sofrida pelas mulheres, asseverando que essas situações nada têm a ver com "ciúme, nem com amor, nem com carência".

"Começamos esta semana com a imprensa mostrando cenas cruéis, perversas, contrárias a qualquer possibilidade de aceitação, de violência contra mulheres. E isso não tem nada a ver nem com ciúme, nem com amor, nem com carência. Tem a ver com estrutura de poder, de uma sociedade machista, de uma sociedade preconceituosa, de uma sociedade intolerante, de uma sociedade na qual cada vez mais mostra-se, estampa-se, a absoluta incompreensão com o diferente", comentou ministra, que, mais cedo, participou da cerimônia de abertura da XII Jornada Maria da Penha.

Ao apontar a necessidade de avanços pela igualdade de gênero no Brasil, Dodge destacou que a democracia "depende" do conceito de universalidade dos direitos humanos. "A condição feminina passou a ser mais igualitária em relação aos homens porque os direitos humanos foram reconhecidos com universais e, portanto, para homens e para mulheres", assinalou, ressalvando que as mulheres ainda estão completando o "leque de acesso aos direitos fundamentais".

A procuradora-geral citou o assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco, morta a tiros no Rio de Janeiro em março. "Uma mulher que ousou ocupar o espaço público da tribuna da Câmara de vereadores do Rio de Janeiro para denunciar a violência que acontecia na favela. E foi assassinada. Muito provavelmente por ter ousado dar voz às comunidades mais carentes, aos menos favorecidos, aos discriminados", disse Dodge.

Ainda sobre a participação da mulher na política, a procuradora destacou a importância da definição de cotas para financiamento de campanhas femininas. "Porque embora tenhamos o direito de votar e de sermos votadas, o modo de assegurar o direito de sermos votadas ainda é muito desigual no País", asseverou a procuradora.

O panorama traçado no Relatório de Desigualdade Global de Gênero 2016 não mostra estagnação apenas no Brasil. Para os especialistas, no atual ritmo, o mundo terá uma paridade econômica entre os sexos apenas em 2186. Ou seja, em 170 anos.

Os estudiosos foram obrigados a recalcular suas projeções depois que identificaram que os avanços foram freados. Inicialmente, a estimativa era de que a lacuna econômica poderia ser fechada em 118 anos, ou seja, no ano de 2133. "No entanto, o progresso foi revertido desde então", alertou o relatório.

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"O mundo está enfrentando um mal-uso agudo de talento ao não agir mais rápido para enfrentar a oportunidade de se desenvolverem", alerta a entidade.

O Relatório de Desigualdade Global de Gênero 2016 também aponta para o fato de mulheres ao redor do mundo ganharem, em médio, pouco mais da metade do que os homens ganham, "apesar de trabalharem, em média, mais horas, levando em consideração trabalho remunerado e não remunerado".

O número de mulheres em altos cargos também se mantém persistentemente baixo. De acordo com o levantamento, apenas quatro países no mundo têm número igual de mulheres e homens de legisladores, oficiais de alto escalão e gerentes.

Apesar dessa realidade, em 95 países, há tanto quanto, se não mais, mulheres com educação em nível universitário.

A entidade também revela que a desigualdade de gênero permanece grande na esfera política. Hoje, somente dois países alcançaram a paridade no parlamento entre homens e mulheres e apenas quatro alcançaram paridade em funções ministeriais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um chamado à ação para acabar definitivamente com a desigualdade de gênero até 2030 foi feito neste sábado, ao término de uma conferência da ONU Mulheres, realizada em Santiago.

Após dois dias de debates, a presidente do Chile, Michelle Bachelet, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, assinaram um "chamado de ação" que declara 2015 como um "ano crucial" para a obtenção da igualdade de gênero.

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"Temos que acelerar o passo. A igualdade entre mulheres e homens não existe em nenhum país do mundo", disse Bachelet na cerimônia de encerramento da reunião "As mulheres e o poder", que reuniu cerca de 60 mulheres líderes em diferentes áreas.

O convite chama as "mulheres do mundo a renovar os esforços e as ações para colocar um fim à desigualdade de gênero".

No compromisso, é exigido "o empoderamento das mulheres no cumprimento efetivo dos direitos humanos das mulheres e meninas e o fim da desigualdade de gênero até 2030".

Além disso, pretende "acabar com a diferença de investimentos na igualdade de gênero, equiparando os compromissos com os meios disponíveis para seu cumprimento".

O secretário-geral da ONU afirmou que agora é o momento de fazer as transformações para as futuras gerações.

A reunião da ONU Mulheres tinha como objetivo analisar os avanços e retrocessos nos direitos das mulheres desde a Conferência Mundial da Mulher, celebrada em 1995, em Pequim.

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