Basta haver chuvas um pouco mais intensas que os moradores do Recife e Região Metropolitana (RMR) se deparam com ruas e avenidas alagadas, além dos deslizamentos de barreiras. Dificuldade de mobilidade pelas ruas da capital pernambucana e famílias obrigadas a sair de casa por causa das enchentes são cenas recorrentes.
O cenário, que já se tornou comum para a população, não é causado apenas por questões meteorológicas, trata-se também de uma combinação de fatores: ocupação desordenada, acúmulo de lixo e entulho, além da falta de planejamento urbano. “Temos muitas ruas impermeabilizadas que impedem a água de penetrar no solo, e um sistema de escoamento e saneamento básico ineficientes que dificultam o escoamento de água. Além disso, o fato de Recife está na linha do mar também influencia, pois as marés altas às vezes combinam com as chuvas e agravam ainda mais as enchentes”, explica a geóloga Nayara Mesquita.
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Para a geóloga, o principal agravante para os transtornos causados pelas chuvas está na falta de conscientização da população e políticas públicas não tão eficazes. “O acúmulo de lixo nas redes de escoamento de água, a ocupação indevida da população em áreas aterradas de manguezais e nas planícies de inundação do rio são um dos principais causadores de alagamentos”, afirma.
Moradora do bairro do Espinheiro, na Zona Norte do Recife, Luisa Pereira afirma que toda vez que chove sua rua alaga. “Basta chover por algumas horas seguidas que fica tudo alagado. É um problema porque, além de dificultar o trânsito, ficamos sujeitos a queda de árvores, falta de energia. São problemas que já se tornaram comuns em dias de chuva aqui em Recife”, conta.
Quanto aos deslizamentos de barreiras, Nayara explica que o problema está diretamente ligado à ocupação indevida dos locais junto à formação das encostas na RMR. “As barreiras são constituídas por sedimentos da Formação Barreiras a qual intercala areias grossas, finas e argila, que são suscetíveis a erosão. As fortes chuvas podem acarretar na perda de coesão do solo, com a água encharcando e aumentando o peso nas encostas. Esse peso é ainda maior quando considerado o peso adicional das casas e das grandes árvores no topo dos taludes”, explica.
De acordo com a geóloga, a manutenção do ângulo das encostas, a instalação de um sistema eficiente de drenagem planejada, a construção de muros de contenção de arrimo ou outras obras de engenharia, além da colaboração da população local, são fatores fundamentais para que a cidade se adeque aos sistemas geológicos naturais e recorrentes que acontecem na cidade.
Ações preventivas
De acordo com a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), desde 2013, a Prefeitura do Recife realiza um trabalho de levantamento, planejamento e atuação em pontos críticos de alagamento. Até o momento, foram feitas ações em 49 pontos graves de alagamento, com um investimento total de quase R$ 14,8 milhões.
A Emlurb explicou que são ações de intervenção em vias com baixo dimensionamento de captação na rede de drenagem ou obstrução nas tubulações existentes. Além dessas intervenções, há outras ações de melhorias como obras de manutenção, contemplando os serviços de limpeza, construção de elementos de drenagem (poços de visitas, caixas coletoras, sarjetas) e substituição de tubulações em alguns casos.
Dentro dessas ações preventivas, há a limpeza dos canais que cortam a capital. De dezembro do ano passado até agora, a PCR afirma ter limpado 45 locais e removido quase 26,6 mil toneladas de resíduos. Contudo, é preciso que a população colabore com a limpeza e a manutenção pública, respeitando, por exemplo, os horários da coleta e não jogando lixo e objetos domésticos que dificultam o funcionamento da rede de drenagem.
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A servidora pública Solange Sampaio mora nas proximidades do canal do bairro do Arruda, Zona Norte do Recife e afirma que já viu até sofá jogado no canal. “É absurdo as coisas que jogam naquele canal. Já vi várias vezes os próprios moradores jogando lixo lá. Há a limpeza de forma até regular, mas as pessoas não respeitam. Eu já vi sofá jogado na água. É inadmissível”, ressalta.
Previsões de chuvas
Um outro ponto que vem chamando atenção nos últimos anos são as previsões de chuvas realizadas pela Agência Pernambucana de Águas e Climas (APAC). Por mais que haja um trabalho de previsão dos meteorologistas, se tornou “comum” chover mais do que o esperado para determinado mês.
Meteorologista da APAC, Roberto Pereira explica que o trabalho feito para medir a quantidade de chuva nos municípios tem que ter pelo menos 30 anos de medidas diárias de chuva, e que dessa série temporal de dados é extraída uma média mensal. Essa é a estatística que o órgão usa como base para um determinado mês.
“É importante saber que o regime pluviométrico não só de Pernambuco, mas como de todo o Nordeste é irregular, quanto ao volume de chuva, tanto considerando espaço, ou seja, de uma lugar para outro, como no tempo, de um mês para o outro. Sendo assim, é normal ocorrer valores que são diferentes aos das estatísticas, e comum falar que o valor observado em um determinado intervalo de tempo esteja com uma variação em torno do esperado”, detalha Pereira.
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