Tópicos | Excludente de ilicitude

O presidente Jair Bolsonaro defendeu nesta quinta-feira, 25, a aprovação do chamado excludente de ilicitude, medida que pode livrar agentes de segurança da responsabilização de eventuais crimes cometidos em operações.

"Não pode o policial terminar a missão e no dia seguinte receber visita do oficial de Justiça. Se a gente aprovar isso um dia, se o Braga Netto (ministro da Defesa) autorizar, eu boto a farda e vou à luta. É a maneira que temos de melhorar o Brasil", afirmou Bolsonaro em cerimônia no Ministério da Justiça. "Me dá excludente de ilicitude que a gente vai para GLO Operações de Garantia de Lei e da Ordem", acrescentou.

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Com apoio do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, hoje pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo Podemos, o governo tentou aprovar em 2019 a lei do chamado excludente de ilicitude, uma espécie de "perdão" a agentes de segurança pública que matem em confronto. Mas a iniciativa, criticada por especialistas, não prosperou.

"Não queremos carta branca para matar, queremos direito de não morrer", disse Bolsonaro no evento de hoje. "Pode ter certeza que, com isso, vai diminuir e muito a violência no Brasil". Na cerimônia no Palácio da Justiça, o governo selou a entrega de R$ 73 milhões em equipamentos a policiais no Programa Nacional de Segurança nas Fronteiras e Divisas (VIGIA), como viaturas, óculos de visão noturna, e placas de proteção balística.

Deputados e senadores ligados à chamada "bancada da bala" no Congresso questionam a existência de um acordo no Legislativo para aprovar a ampliação do excludente de ilicitude e afirmam que esta não é uma demanda de agentes de segurança e militares. No início do mês, o presidente Jair Bolsonaro afirmou já ter acordado com os novos presidentes da Câmara e do Senado para a votação de uma proposta que isenta de investigação (e punição) o agente de segurança que cometer crime durante o exercício da atividade profissional.

"É uma licença para matar ou para ferir? Nem as organizações policiais e nem as Forças Armadas nunca fizeram questão disso", disse o senador Major Olimpio (PSL-SP), que é ligado à Polícia Militar de São Paulo. De acordo com o parlamentar, ex-aliado de Bolsonaro e hoje na oposição, não há acordo no Senado para que a ampliação seja votada.

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O Estadão apurou que outros integrantes da Casa avaliam que dificilmente haverá acordo para que se leve um tema tão juridicamente delicado ao plenário. "A tal criação do novo excludente de ilicitude é uma tremenda besteira para o Bolsonaro dizer: 'Olha, é para amparar o policial'. Quando você vai buscar no próprio campo do direito, você já tem amparo para o policial que está em ação", completou Olímpio.

Para a deputada Margarete Coelho (PP-PI), uma das integrantes da Frente Parlamentar da Segurança Pública, nenhuma associação ou entidade representativa de policiais ou das Forças Armadas solicitou a ampliação do excludente quando a Câmara analisou o pacote anticrime do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, em 2019.

Foi Margarete Coelho quem coordenou o grupo de trabalho da Câmara criado para avaliar as propostas de combate ao crime enviadas pelo governo. "Nós ouvimos toda a sociedade civil organizada e nenhum grupo ligado a movimentos da categoria de militares e da segurança pública reivindicou esse dispositivo. Foi uma coisa que me chamou muita atenção", disse. "Foram dez audiências públicas, o grupo debateu intensamente, ouvimos especialistas e ouvimos as categorias. Nenhuma reivindicou."

Na Câmara, a iniciativa foi removida em 2019 pelos deputados do conjunto de medidas para combater a criminalidade. Para amparar as forças de segurança, o grupo coordenado por Margarete Coelho criou a possibilidade de o Estado custear a defesa dos policiais investigados durante a fase de inquérito, quando se colhem as provas. Segundo a deputada, a legislação atual já é robusta o bastante para lidar com os momentos em que agentes de segurança se envolvem com o uso letal da força.

Discussão

Entidades ligadas às forças policiais e militares consultadas pelo Estadão confirmam o desinteresse ou o estágio ainda de avaliação do tema. O diretor jurídico da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Flávio Werneck, afirmou que a entidade não possui uma posição formal sobre o tema. Ele, no entanto, observa que "a princípio, a legítima defesa, o estado de necessidade, o exercício regular de um direito da sua profissão já estão contemplados dentro do Código Penal".

O presidente da Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais (Feneme), coronel da PM Marlon Jorge Teza, disse que a discussão mais recente é para ampliar o excludente em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), executadas por militares das Forças Armadas. Ele também afirmou que a entidade vai discutir o tema. "Não somos contra, mas a gente sabe da dificuldade de aprovar como está. Vamos discutir para chegar a um consenso. Hoje já temos leis que garantem o excludente de ilicitude. Evidentemente que alguns reparos teriam que ter, mas são coisas localizadas."

O presidente da Associação Nacional de Entidades Representativas de Praças (Anaspra), Heder Martins de Oliveira - subtenente da PM de Minas -, afirmou que há divergência interna sobre o tema. Um encontro será realizado no fim do mês para tirar uma posição oficial da entidade.

Major Olimpio também criticou as falas de Bolsonaro, segundo as quais policiais e militares seriam poupados de investigação. "Por mais que ele crie mais excludentes de ilicitude, ainda vai ter que haver inquérito e vai ser feita prova pericial", disse o senador. "Tem gente que argumenta que o policial tem medo dessa investigação. Claro que tem. Mas o Bolsonaro está tentando forçar uma situação que não vai se aplicar em nenhum caso concreto", afirmou.

Para ele, a iniciativa causa má impressão porque sugere que policiais e militares que cometerem excessos estarão blindados. "E se (a morte) for de uma forma dolosa (com intenção)? E se o cara está mancomunado com organizações criminosas?"

Casos arquivados

Especialistas na área da Segurança Pública ouvidos pelo Estadão criticaram a intenção do governo de fazer uma nova tentativa para aprovar a ampliação do excludente de ilicitude no Congresso. De acordo com analistas, a maioria dos casos em que policiais ou militares são investigados pela morte de civis é arquivada. A avaliação é que a ampliação do excludente de ilicitude levaria ao aumento da impunidade.

Pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Bruno Paes Manso disse que aprovar o excludente de ilicitude fragiliza um sistema já frágil de controle das polícias. "O Brasil tem a polícia mais violenta do mundo. São 6 mil mortes causadas por policiais ao ano, e temos batido sucessivos recordes nos últimos três anos. Os casos de violência têm aumentado na pandemia", destacou. "Hoje já é muito fácil para qualquer policial matar e não ser condenado. A maioria dos casos já é arquivada."

Renato Sergio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirmou que a pauta é "um grande engodo" pois já existem excludentes. "Está previsto no Código de Processo Penal. O policial já pode eventualmente fazer o uso letal da força. Quem vai dizer se foi ou não é crime é o Poder Judiciário", afirmou.

Lima classificou a iniciativa como mais uma situação desgastante para o Supremo Tribunal Federal (STF), que ele prevê que será chamado para agir. Segundo Lima, isso pode alimentar ainda mais a retórica de que o Poder Judiciário estaria de novo se colocando como obstáculo para o que bolsonaristas dizem ser o "anseio da população". "Bolsonaro quer fazer uma média com os policiais, colocar uma faca na cabeça do Judiciário e testar a fidelidade do Centrão", concluiu.

O criminalista Augusto de Arruda Botelho, conselheiro da organização Human Rights Watch e um dos fundadores do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), considera que a nova tentativa de Bolsonaro não deve ser analisada de forma isolada. Ele relembra de outras medidas adotadas pelo presidente no mesmo sentido. "Não podemos pegar essa fala de forma isolada, ela vem em uma escalada", disse.

"Primeiro, as portarias revogadas pelo presidente que auxiliariam na fiscalização de armas e munições. Isso é gravíssimo e não havia justificativa nenhuma para revogar essas portarias. Uma coisa é uma promessa de campanha de flexibilizar e de facilitar o acesso e o porte às armas. É completamente diferente de dificultar ou impossibilitar que os órgãos públicos fiscalizem e rastreiem armas e munições. Isso é essencial para combater o crime organizado."

Botelho citou ainda a fala do presidente de que a população precisaria se armar para enfrentar governadores que, segundo ele, têm pautas autoritárias, como o isolamento social para o combate ao coronavírus. "É evidente que, com o avanço da criminalidade, a política tenha que cada vez mais entrar em confronto com a criminalidade. Isso é fato. Agora, outro fato concreto é que o aumento da letalidade é exponencial. E essas mortes precisam ser investigadas", disse. "Ninguém está dizendo que os policiais precisem ser punidos pelo cumprimento do seu trabalho. Mas, quando acontecem mortes, isso precisa ser investigado. Não da para jogar uma pá de cal em investigações."

César Muñoz, pesquisador sênior da Human Rights Watch, também condenou a iniciativa. "O policial que atira em legítima defesa da própria vida ou de terceiros já está totalmente protegido pela legislação brasileira e as normas internacionais. O que o presidente Jair Bolsonaro parece querer é uma licença para matar para o policial, sem que haja investigação ou que ele tenha que prestar contas de seus atos." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou, nesta quinta-feira (4), que já tem "acordado" com os novos presidentes da Câmara e do Senado a votação de um projeto que amplia os critérios previstos para o chamado excludente de ilicitude para agentes de segurança e militares. A medida - que chegou a ser incluída pelo ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, no pacote anticrime, mas foi rejeitada em sua votação na Câmara, em 2019 - prevê possibilidade de redução ou mesmo isenção de pena a policiais e militares que causarem morte durante suas atividades.

O presidente, que participou da inauguração de um complexo esportivo em Cascavel (PR), também disse que pretende editar três novos decretos sobre armas. No caso do excludente de ilicitude, a intenção é que o projeto de lei tenha efeito para militares e agentes de segurança que atuam em operações de Garantias da Lei e da Ordem (GLO).

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Bolsonaro já havia dito, em dezembro, que enviaria o projeto após as eleições no Congresso. Na segunda-feira, Arthur Lira (Progressistas-AL) foi eleito presidente da Câmara, e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado. Ambos tiveram apoio de Bolsonaro.

"Pretendo botar em votação, já acordado, conversado, com os presidentes da Câmara e do Senado, e vai passar pelo Parlamento, o excludente de ilicitude para policiais em operação", afirmou o presidente. "O policial em operação tem de ter uma garantia, e quem manda as Forças Armadas para as ruas sou eu. Quem bota o polícia na rua é o governador Ratinho (Jr., do Paraná). Nós temos de ter responsabilidade. Se ele está armado na rua, é porque nós colocamos as armas nas mãos deles."

O excludente de ilicitude foi rejeitado pelo grupo de trabalho da Câmara que analisou o texto final do pacote anticrime. A proposta previa a possibilidade de redução pela metade ou mesmo a não aplicação da pena para agentes de segurança pública que agirem com "excesso" motivado por "medo, surpresa ou violenta emoção".

O Código Penal já estabelece a exclusão de ilicitude em circunstâncias específicas, como na legítima defesa, no estrito cumprimento de dever legal e em estado de necessidade. Mas, no caso de excessos, a lei atual não isenta de punição quem pratica esses atos.

Para Bolsonaro, o Parlamento saberá aperfeiçoar a medida. "Homens sérios, honestos, chefes de família, trabalhadores, não podem após o cumprimento da missão, receber a visita do oficial de Justiça para começar a responder um inquérito, ou até mesmo receber uma ordem de prisão preventiva", disse Bolsonaro.

Sobre os três decretos que pretende editar, o presidente disse à plateia que "arma é um direito". "A arma evita que um governante de plantão queira ser ditador. Eu não tenho medo do povo armado, muito pelo contrário, me sinto muito bem, estar ao lado do povo de bem armado no nosso Brasil."

Para Renato Sergio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a ideia é inconstitucional porque invade "a competência do Judiciário".

"É um grande engodo. Já existe excludente e já está prevista no Código de Processo Penal. O policial já pode eventualmente fazer o uso letal da força. Quem vai dizer se foi ou não é crime é o Poder Judiciário", disse, destacando que esta "era uma das pautas que mais se encaixavam na negociação com o Centrão".

O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o projeto que amplia o conceito de excludente de ilicitude previsto no Código Penal, para agentes de segurança em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Segundo ele, a medida pode auxiliar a atuação dos agentes no combate a protestos violentos e atos de vandalismo.

"Protesto é uma coisa, vandalismo, terrorismo são completamente diferentes. Incendiar bancos, invadir ministério, isso aí não é protesto. E se o Congresso nos der o que gente quer, esse protesto vai ser impedido de ser feito. O Congresso é que vai dizer se nós devemos combater esses atos terroristas ou não", afirmou o presidente a jornalistas aos chegar no Palácio do Alvorada, residência oficial, nessa segunda-feira (25).

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O Código Penal, no Artigo 23, estabelece a exclusão de ilicitude em três casos: estrito cumprimento de dever legal, em legítima defesa e em estado de necessidade. Nessas circunstâncias específicas, atos praticados por agentes de segurança não são considerados crimes. A lei atual também prevê que quem pratica esses atos pode ser punido se cometer excessos.

O texto enviado pelo governo ao Congresso na semana passada amplia os casos previstos para o excludente de ilicitude. O projeto estabelece as situações em que o agente de segurança (policial, bombeiro ou militar das Forças Armadas) pode ficar isento de punição criminal, caso sua conduta seja considerada como legítima defesa. O projeto define cinco situações em que a legítima defesa do agente de segurança poderá ser validada: prática ou iminência de prática de ato de terrorismo; prática ou iminência de prática de conduta capaz de gerar morte ou lesão corporal; restringir a liberdade da vítima, mediante violência ou grave ameaça; portar ou utilizar ostensivamente arma de fogo.

Em todos esses casos, os agentes de segurança só estariam amparados em caso de vigência de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem. Realizadas exclusivamente por ordem expressa da Presidência da República, as missões de GLO das Forças Armadas ocorrem por tempo limitado, nos casos em que há o esgotamento das forças tradicionais de segurança pública.

Por meio do Twitter, o presidente Jair Bolsonaro falou novamente sobre o projeto de lei que prevê a criação da excludente de ilicitude para operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A medida está sendo discutida por líderes de partidos do Centrão que visam derrubar a proposta.

De acordo com reportagem do O Globo, parlamentares avaliam que a medida pode criar "licença para matar". O projeto que foi enviado ao Congresso Nacional na quinta-feira (21), trata somente da ação dos agentes de segurança militar, os quais poderão ter penas aliviadas ou até isentas, caso matem ou cometam outros atos proibidos por lei. 

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Na rede social, Bolsonaro justificou que quando um governador recorre a GLO é porque o Estado não tem mais condições de manter o controle da situação usando os próprios meios. "A tropa da GLO não é para fazer relações públicas, ela vai para se impor, conter ações terroristas, depredação de bens, queima de ônibus, evitar que inocentes morram, etc", disse.

Em outro post, o presidente frisou que com o projeto pretende garantir a autonomia dos militares, zelando pela própria vida e liberdade após o cumprimento da missão.

"No mais, para enfrentar a esses marginais, é que se faz necessário o excludente de ilicitude", acrescentou o chefe do Estado.

A exclusão de ilicitude foi uma das bandeiras mais defendidas pelo presidente durante a campanha em 2018. Para entrar em vigor, o projeto precisa ser aprovado pela Câmara e em seguida, o Senado, os quais podem alterar trechos do texto, caso haja necessário.

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O presidente Jair Bolsonaro reiterou nesta sexta-feira (22) seu apoio ao projeto de lei que amplia o conceito de excludente de ilicitude, previsto no Código Penal, para agentes de segurança em operações. Ele anunciou na quinta-feira (21) que enviou a proposta para o Congresso Nacional.

“O projeto nosso trata de GLO [Garantia da Lei e da Ordem] e quem estiver conosco nessa operação”, disse após dar uma palestra na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), na Urca, zona sul do Rio de Janeiro.

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Realizadas exclusivamente por ordem expressa da Presidência da República, as missões de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) das Forças Armadas ocorrem por tempo limitado nos casos em que há o esgotamento das forças tradicionais de segurança pública.

O presidente usou o exemplo de um jovem, de 20 anos, das Forças Armadas que, eventualmente, se envolva em "um imprevisto". "Aí, numa operação GLO, acontece um imprevisto numa área urbana, que pode acontecer. Você submetê-lo a uma auditoria militar para pegar de 12 a 30 anos de cadeia. Isso não é justo. É isso que está em jogo. Nenhum militar vai sair cometendo absurdos e excessos. Isso não passa pela nossa cabeça”.

Previsão legal

O Código Penal, no Artigo 23, estabelece a exclusão de ilicitude em três casos: estrito cumprimento de dever legal, em legítima defesa e em estado de necessidade. Nessas circunstâncias específicas, atos praticados por agentes de segurança não são considerados crimes. A lei atual também prevê que quem pratica esses atos pode ser punido se cometer excessos.

A ampliação do excludente de ilicitude já estava prevista no pacote anticrime proposto pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro e foi rejeitada pela Câmara dos Deputados. De acordo com Bolsonaro, esse é um projeto complementar ao pacote anticrime.

Uma edição extra do Diário Oficial da União trouxe, no início da tarde dessa quinta-feira, despacho do presidente anunciando o encaminhamento do texto que "estabelece normas aplicáveis aos militares em operações de Garantia da Lei e da Ordem e aos integrantes dos órgãos a que se refere o caput do Art. 144 da Constituição e da Força Nacional de Segurança Pública, quando em apoio a operações de Garantia da Lei e da Ordem".

 

O presidente Jair Bolsonaro enviou projeto de lei ao Congresso que isenta de eventuais punições o militar ou o integrante de forças de segurança que atuar em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A proposta, defendida pela bancada parlamentar da segurança, retoma o chamado excludente de ilicitude, que a Câmara rejeitou duas vezes este ano. Para especialistas, o texto é vago e pode ser usado até para reprimir manifestações.

Essas operações ocorrem quando há esgotamento das forças tradicionais de segurança, em graves perturbações da ordem, e as Forças Armadas são convocadas com poder de polícia, até o restabelecimento da normalidade. A ideia de isentar as punições aos militares é uma promessa de campanha de Bolsonaro que, ontem, ao anunciar a medida, afirmou que era um marco importante na luta contra a criminalidade no Brasil.

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O novo texto do governo restringe o benefício em casos que o presidente da República autorize o uso da GLO. O projeto de lei diz que o agente de segurança será isento de punição ou terá sua pena abrandada em casos de legítima defesa ou para "repelir injusta agressão", mesmo que façam o uso da força preventivamente.

O governo classifica, no texto, como "injusta agressão" qualquer tipo de conduta capaz de criar morte ou lesão corporal; a restrição de liberdade da vítima, mediante violência ou grave ameaça; ou até portar ou utilizar ostensivamente arma de fogo. Nesses casos, o militar que usar da força durante uma GLO, mesmo se ocorrer uma morte, responderá somente pelo excesso doloso e o juiz poderá atenuar a pena.

O texto afasta a possibilidade de prisão em flagrante ou de qualquer outra medida restritiva, caso a reação se encaixe em um dos pontos do excludente de ilicitude. E obriga a União a defender o agente.

Repercussão

Para especialistas, o texto fere o direito à vida, previsto na Constituição. "O que se pretende é emitir um salvo-conduto, autorização geral para as forças de segurança. Isso é absolutamente inconstitucional e humanamente inadmissível", disse o criminalista José Carlos Cal Garcia Filho. "O texto é marcado por total falta de técnica legislativa, contem expressões vagas e serve, tão somente, para estimular a ação violenta das forças policiais. A depender da situação, é possível que as excludentes sejam aplicadas em atos e manifestações políticas", afirmou Conrado Gontijo, doutor em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (USP). O temor ocorre após manifestações policiais violentas em países vizinhos, como foi o caso da Bolívia.

Para o coronel reformado da PM José Vicente Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública, a legislação atual já resguarda agentes de segurança que se envolvam em ocorrências com morte. Para ele, o projeto pode tornar mais frequentes mortes como a do músico Evaldo Rosa dos Santos, de 46 anos, alvo de 83 tiros de militares no Rio.

Já o coronel Elias Miler da Silva, presidente da Associação de Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo (Defenda-PM), acredita que a proposta pode dar mais segurança aos agentes de GLO. "Durante a ação, encontrar um indivíduo ostensivamente armado já caracteriza a figura do risco iminente. Atuei em casos em que eu estava com um 38 e o indivíduo com metralhadora. Eu vou falar: 'Em nome da lei, o senhor se renda'?"

Para o deputado Fábio Trad (PSD-MT), que participou do grupo de trabalho que rejeitou uma das tentativas do governo de aprovar o excludente de ilicitude, o texto abre brecha para "abusos". "A proposição cria uma 'jabuticaba jurídica' que é a presunção de legítima defesa."

Coube ao ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, entregar o texto pessoalmente ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A estratégia foi evitar contaminação pela proposta que o ministro Sérgio Moro enviou em fevereiro, a qual Maia classificou como "perigosa". "É uma proteção jurídica para o pessoal trabalhar em operações delicadas.", alegou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o conceito de excludente de ilicitude e disse que enviou projeto de lei para tratar do assunto ao Congresso. O projeto, cuja mensagem de envio ao Legislativo foi publicada hoje, beneficia militares e agentes de segurança pública para que possam agir sem ter de responder criminalmente em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Bolsonaro disse que agora "cabe ao Parlamento" a análise do projeto, que chamou de marco importante na luta contra a criminalidade no Brasil. O presidente também disse que "ladrão de celular tem que ir pro pau", numa referência a uma fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma semana atrás, o petista disse que "não aguenta mais um jovem ser morto porque roubou um celular".

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As falas de Bolsonaro ocorreram nesta quinta-feira, 21, durante convenção do partido que tenta fundar, a Aliança pelo Brasil.

De acordo com a mensagem do projeto, o PL enviado ao Congresso "estabelece normas aplicáveis aos militares em operações de Garantia da Lei e da Ordem e aos integrantes dos órgãos a que se refere o caput do art. 144 da Constituição e da Força Nacional de Segurança Pública, quando em apoio a operações de Garantia da Lei e da Ordem". Os órgãos listados pelo artigo 144 da Constituição são Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícia Civil, Polícia Militar e Corpos de Bombeiros Militares.

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) usou o Twitter, nesta terça-feira (24), para afirmar que o trecho do pacote anticrime, em tramitação na Câmara dos Deputados, que prevê o excludente de ilicitude “precisa ser barrado”. Na avaliação da ex-presidente, a proposta tem relação direta com o assassinato de  Ágatha Vitória, de 8 anos. 

“O assassinato de Ághata tem, óbvio, relação direta com a proposta de Moro de facilitar a absolvição de policiais que matam civis, se alegam que foram movidos por emoção ou surpresa. Este projeto é uma oferta de impunidade e uma licença para matar. Precisa ser barrado no Congresso”, escreveu Dilma. 

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Para a petista, “a violência fardada cresce com a impunidade oferecida pelo presidente que quer anistiar policiais assassinos, pelo ministro que quer absolvê-los e pelo governador [Wilson Witzel] que manda atirar ‘na cabecinha’. E a violência policial também induz à violência CONTRA [sic] os policiais”.

Ágatha morreu na noite da sexta-feira (20), após ser baleada nas costas durante uma ação policial no Complexo do Alemão. Ela estava dentro de uma kombi com o avô quando foi atingida, chegou a ser levada ao hospital, mas não resistiu.  Testemunhas apontam que disparo partiu dos policiais. 

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Líder do PSB na Câmara, o deputado Tadeu Alencar (PE) considerou a morte da menina Ágatha Vitória, no Rio de Janeiro, um precedente que pode derrubar parte do pacote anticrime do governo federal, no que trata da figura do excludente de ilicitude. Ágatha foi vítima de um tiro que, segundo testemunhas, foi disparado por um soldado da Polícia Militar do Rio. Pela figura jurídica do excludente de ilicitude, um policial pode matar sem sofrer punição, se for a serviço e em situação de perigo.

“Nós estamos falando do bem jurídico maior, a vida. O exemplo trágico de Ágatha, ceifada brutalmente no verdor dos seus 8 anos, nos faz pensar. O excludente de ilicitude, a pretexto de defender os policiais, termina por gerar uma sensação de que tudo é permitido, abolindo-se as cautelas que devem sempre ter quem exerce função tão essencial à vida em sociedade”, considerou o parlamentar, acrescentando: “Não tem outra expressão. É uma verdadeira licença para matar”.

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O pacote anticrime, elaborado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, está sendo discutido na Câmara dos Deputados. A tendência demonstrada pelas reações de deputados ao assassinato da menina Ágatha, de acordo com Tadeu, é de que o excludente de ilicitude seja derrubado e retirado do projeto.

Ágatha foi morta por volta das 21h30 da última sexta-feira (20). Ela voltava com sua mãe para casa quando a kombi em que estava parou para pegar um passageiro. Neste momento, a menina foi alvejada por um tiro. Segundo versão apresentada por ocupantes da kombi, o tiro seria em direção a uma moto. Segundo a PM, houve confronto com traficantes, mas moradores negam esta versão.

*Da assessoria de imprensa

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta segunda-feira, 23, que o pedido de cautela em relação à ampliação da chamada excludente de ilicitude não teve como objetivo polemizar com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, autor do pacote de projetos que tratam do assunto. Maia criticou, porém, a integração do Ministério da Segurança Pública ao da Justiça feita pelo presidente Jair Bolsonaro no início do governo. "O fim do Ministério da Segurança Pública tirou a importância do tema do governo federal", disse.

Para o presidente da Câmara, Moro mudou de posição desde o início do ano em relação à excludente de ilicitude, que agora, de acordo com o deputado, o ministro passou a defender.

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"A minha posição não é de polemizar. O ministro Moro tinha no início do ano posições divergentes das que ele defendeu ontem e hoje em relação à excludente. A posição dele era muito mais na defensiva, como se fosse do presidente (Jair Bolsonaro) e não da que ele tem hoje. Ele mudou de posição, é legítimo", disse Maia, em Curitiba. Ele está na capital paranaense para participar de um evento sobre parcerias público-privadas (PPPs).

Neste domingo, 22, em publicação no Twitter, Maia pediu cuidado ao grupo de trabalho que analisa o projeto do pacote anticrime e que trata da excludente de ilicitude. "Qualquer pai e mãe consegue se imaginar no lugar da família da Ágatha e sabe o tamanho dessa dor. Expresso minha solidariedade aos familiares sabendo que não há palavra que diminua tamanho sofrimento. É por isso que defendo uma avaliação muito cuidadosa e criteriosa sobre o excludente de ilicitude que está em discussão no Parlamento", disse o presidente da Casa, na postagem.

Nesta segunda-feira, Maia afirmou defender que o debate em torno do tema seja feito e não que a proposta seja simplesmente enterrada. "Acho que quem tem que decidir primeiro sobre esse tema são os deputados que entendem dessa área e estão no grupo de trabalho. Depois, o plenário vai discutir, pode passar ou não passar, é da democracia", disse.

Perguntado sobre se o assassinato da menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, na sexta-feira, 20, poderia atrapalhar as discussões sobre o tema, Maia afirmou que a discussão em torno do assunto pode levar mais uma ou duas semanas. "É uma decisão que precisa ser tomada sem a emoção. Por isso que eu disse que é com cautela", afirmou.

O deputado cobrou ainda um debate mais amplo com a sociedade sobre questões de segurança, como a proteção das fronteiras e o combate à entrada de armas e drogas no País. "Aprovamos o sistema integrado de Segurança Pública e no projeto de lei que o governo encaminhou, ele não trata do sistema de Segurança Pública", disse.

Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) defendeu uma análise cuidadosa diante do projeto sobre o excludente de ilicitude, que prevê que os policiais que matem em serviço não sejam punidos. A ponderação de Maia foi feita nesse domingo (22), dia em que o corpo da menina Ágatha Félix, de 8 anos, foi enterrado no Rio de Janeiro. 

Ágatha morreu na noite da sexta-feira (20), após ser baleada nas costas durante uma ação policial no Complexo do Alemão. Ela estava dentro de uma kombi com o avô quando foi atingida, chegou a ser levada ao hospital, mas não resistiu. Testemunhas apontam que disparo partiu dos policiais. 

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Rodrigo Maia disse que “qualquer pai e mãe consegue se imaginar no lugar da família da Ágatha e sabe o tamanho dessa dor”. “Expresso minha solidariedade aos familiares sabendo que não há palavra que diminua tamanho sofrimento. É por isso que defendo uma avaliação muito cuidadosa e criteriosa sobre o excludente de ilicitude que está em discussão no Parlamento”, observou o democrata.

O excludente de ilicitude faz parte do pacote anticrime, enviado ao Congresso Nacional pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Texto está sendo analisado por um grupo de trabalho específico na Câmara. Medida é uma defesa do presidente Jair Bolsonaro (PSL). 

Um criminoso que for morto por um policial, este agindo em legítima defesa de si ou de terceiros, não deverá mais ter o óbito classificado como “morto pela polícia”. A classificação, de acordo com um projeto de lei apresentado pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL), deverá ser de “suicídio por policial”.

A matéria tramita no Senado e, caso seja aprovada, vai alterar o Código Penal incluindo a medida como “excludente de ilicitude”.

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De acordo com a definição, suicídio é quando uma pessoa atenta contra a própria vida. Ao justificar o projeto, que tem duas páginas, Flávio Bolsonaro chama o “suicídio por policial” de um fenômeno que pode “ser entendido como a situação em que um indivíduo cria, intencionalmente ou não, uma sequência de atos e ações criminosas que resultam em uma reação por parte dos agentes de segurança pública ou policiais, e em que o agente criminoso aceita ou assume o risco de que a situação se resolva com o emprego de força letal”. 

Segundo o filho do presidente Jair Bolsonaro, que é defensor ferrenho do excludente de ilicitude, em algumas vezes - sem negociação - o autor da agressão “prefere morrer a se entregar, ou até mesmo busca se matar, e, nesse último caso, por alguma razão não consegue fazê-lo por seus próprios atos, e obriga a força policial agir”. E, por isso, é necessário que o policial seja isento de eventual sanção. 

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