“Uma grande parte diz que teve manchas no corpo durante os primeiros quatro meses e foram tratados para alergia ou para dengue”. A afirmativa é da chefe de infectologia pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), Ângela Rocha, sobre as mães de filhos com microcefalia atendidos na unidade. De agosto para cá, Pernambuco contabilizou 141 casos da anomalia. Em 2014, foram registrados apenas 12 casos no estado. Ainda não se sabe a causa do grande aumento nos casos.
O HUOC atendeu 40 crianças com microcefalia. Mesmo que a maioria das mães tenha mencionado as manchas no corpo, outras disseram não ter tido nada semelhante, fazendo com que seja precipitado afirmar as causas. Angela lembra que as mães diziam ter sido apenas sintomas leves, alguns com ou sem febre. “Era sem muita intensidade, mas nos primeiros quatro meses as crianças são muito vulneráveis, pois estão em formação”, explica a infectologista.
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Como dengue é uma doença recorrente em Pernambuco, os infectologistas não acreditam que esta seja causa. Chikungunya e zika vírus, entretanto, são explicações mais plausíveis. “São possibilidades, zika, chikungunya, mas a gente tem que ter um consenso. Essas coisas devem ter interferido? Talvez, provavelmente, mas a gente não tem essa segurança”, complementa Ângela.
A estudante Lurdes Sulamita, de 18 anos, com quatro meses de gestação, esteve no Hospital Oswaldo Cruz com receio de que seu filho nasça com microcefalia. Desde a segunda-feira (9), ela diz ter apresentado sintomas de chikungunya, com manchas pelo corpo, fraqueza e dor nas pernas. “Estou muito preocupada, porque não é comigo que vai acontecer não, é com meu filho”, ela afirma.
Gravidez - “Não há indicação formal para que as mulheres não engravidem”, afirmou Ângela Rocha. Apesar de não haver um posicionamento oficial do Governo do Estado nesse sentido, a infectologista recomenda que se for uma gravidez planejada, que se evite neste momento. “Os obstetras e infectologistas vão falar ‘é o momento ideal para engravidar? Não, espere um pouco’ ”, ela complementa.
O posicionamento vem após o diretor do departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, aconselhar as mulheres a não engravidar devido ao aumento drástico nos casos de microcefalia em Pernambuco. O Ministério da Saúde também se manifestou nesta manhã reforçando que não há recomendação para evitar a gravidez. Desta vez, o órgão colocou que “uma gestação é individual de cada mulher e sua família”. O ministério apresentou uma série de orientações que as gestantes devem tomar:
1 -Devem ter a sua gestação acompanhada em consultas pré-natal, realizando todos os exames recomendados pelo seu médico;
2 - Não devem consumir bebidas alcoólicas ou qualquer tipo de drogas;
3 - Não utilizar medicamentos sem a orientação médica;
4 - Evitar contato com pessoas com febre, exantemas ou infecções;
5 - Adoção de medidas que possam reduzir a presença de mosquitos transmissores de doenças, com a eliminação de criadouros (retirar recipentes que tenham água parada e cobrir adequadamente locais de armazenamento de água);
6 - Proteger-se de mosquitos, como manter portas e janelas fechadas ou teladas, usar calça e camisa de manga comprida e utilizar repelentes indicados para gestantes.
O boletim epidemiológico sobre os casos de microcefalia no país será divulgado pelo ministério na próxima terça-feira (17). A previsão é que, com a atualização dos dados, o número de casos no estado ultrapasse os 150.