Já se vão 10 anos desde que Michael Jackson faleceu, em junho de 2009. Porém, o Rei do Pop ainda não conseguiu seu descanso eterno. E não apenas pelos ecos de sua obra que continuam reverberando, e mantendo fãs ao redor de todo o mundo, mas também pelas polêmicas que nunca deixaram de rondar o artista, nem em vida nem em morte.
No último sábado (16), o canal de TV a cabo HBO estreou o documentário Leaving Neverland (Deixando Nerverland), do diretor inglês Dan Reed; um polêmico filme que traz relatos escandalosos de dois homens que dizem ter sido abusados sexualmente por Michael quando crianças. No filme, Wade Robson, de 36 anos, e James Safechuck, de 40, contam em detalhes o que viveram ao lado do astro pop e como suas famílias foram usadas para que Jackson pudesse abusar deles quando meninos.
##RECOMENDA##Safechuck conheceu Michael Jackson aos nove anos em uma gravação de comercial. Ele diz que o cantor o ensinou a se masturbar e que dizia que os atos que ambos faziam eram um "resultado natural" do amor entre eles. Já Robson conheceu o 'Rei' aos cinco anos. Ele vivia na Austrália e foi levado a Neverland, rancho em que Michael morava, onde alega ter sido abusado ouvindo que a relação entre os dois era uma "benção de Deus". Ao ficarem um pouco mais velhos, os garotos foram substituídos por meninos mais novos, segundo seus testemunhos.
Deixando Neverland foi exibido pela primeira vez no festival Sundance, nos estados Unidos, em janeiro deste ano. A produção causou choque nos espectadores e retomaram antigas polêmicas acerca dos comportamentos de Jackson. Na década de 1990 e no início dos anos 2000, o astro enfrentou diversas acusações de abuso à crianças e foi aos tribunais algumas vezes. À época, Robson e Safechuck, chegaram a depor a favor do artista. Para tanto, a família do último ganhou uma casa e ele próprio várias joias. Já Robson e sua família ganharam vistos de permanência e moradia nos EUA. Jackson desembolsou cerca de US$ 40 milhões às famílias denunciantes e teve os processos encerrados.
Agora, diante dessas novas acusações, Michael Jackson já não pode mais sentar numa cadeira de réu. Nem por isso deixará de ser julgado. A repercussão do documentário reacendeu os holofotes sob essa parte sombria e escusa da história do artista e várias manifestações já se deram desde a estreia do filme. A rádio BBC 2, de Londres, retirou as canções do Rei do Pop de sua programação, assim como fizeram algumas emissoras da Nova Zelândia, Austrália e Canadá. A apresentadora Oprah Winfrey também reviu sua posição em relação a Jackson e ela, que chegou a defendê-lo no passado, declarou que não consegue mais ouvir suas músicas. Até a série Os Simpsons teve um episódio do qual o artista participou, em 1991, apagado. “Tenho a nítida impressão de que é a única escolha”, disse James L. Brooks, produtor executivo da atração, em entrevista ao The Wall Street Journal.
A marca Louis Vitton também decidiu retirar de sua última coleção, lançada em janeiro de 2019, as referências feitas a Michael Jackson. O diretor artístico da marca, responsável pelas criações, Virgil Abloh, havia dedicado a coleção ao artista antes visto como "ícone de sua infância". Porém, sua visão mudou após assistir Deixando Neverland: “Estou consciente de que, à luz do documentário, o desfile provoca reações emotivas. Condeno firmemente toda forma de abuso, violência, ou violação dos direitos humanos das crianças”, disse o estilista em entrevista ao site Women's Wear Daily.
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Por outro lado, alguns fãs e a família de Michael se revoltaram com o documentário e têm defendido ele nas redes sociais e jornais. Jermaine Jackson, irmão do artista, usou as redes sociais para pedir: "Deixem o homem descansar em paz"; enquanto um pronunciamento oficial do clã fez um apelo: "Michael não está aqui para se defender, senão essas acusações e jamais teriam acontecido". Já Paris Jackson, filha do cantor, usou seu Twitter para dizer que o contéudo do filme era uma grande mentira e que a imprensa deveria começar a "escrever notícias de verdade".
Para Catherine Strong, PhD em Sociologia e pesquisadora de música e cultura pop na Universidade RMIT, da Austrália, é delicada a situação e separar o artista de sua obra é quase impossível. Ela publicou um texto no site The Conversation no qual defende que a sociedade deve enfrentar tal situação de frente ao invés de apagar o artista completamente. "O abuso sexual na indústria da música é um problema sistêmico, contínuo, que não vai ser resolvido apenas apagando o legado musical". Para ela, banir o Rei do Pop seria como colocar "um pequeno band-aid sobre uma enorme ferida aberta"; ela sugere que as rádios continuem tocando Michael Jackson, porém, não antes de relembrar todas as coisas pelas quais ele foi acusado. E deixa um questionamento em seu texto: “Quem mais será silenciado se desligarmos a música”?