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O Vaticano publicou, nessa quarta-feira (25), a carta aos fiéis elaborada a partir do Sínodo dos Bispos, encontro do papa Francisco com demais clérigos no qual deliberam, em assembleia, sobre o futuro da Igreja Católica. Não há referências às guerras da Ucrânia e de Israel.

Apesar dos dois conflitos, o texto não faz qualquer menção direta. "Rezamos pelas vítimas da violência assassina, sem esquecer todos aqueles que a pobreza e a corrupção lançaram nos perigosos caminhos da migração", diz. Pela primeira vez, mulheres puderam participar do Sínodo dos Bispos e ter poder de voto - ao todo, 54 delas estiveram na assembleia.

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O documento, o primeiro divulgado em quase um mês de reuniões, diz que a Igreja deve se comprometer para garantir que nenhuma pessoa seja vítima de abusos por parte do clero. Também afirma que deve se aproximar dos mais pobres e a escutar as pessoas que são vítimas de racismo, incluindo os indígenas e os povos cujas culturas são desprezadas. Porém, a reunião manteve a resistência à abertura para a participação das mulheres em cargos altos dentro da Igreja.

O Sínodo foi convocado por Francisco para ser realizado entre os anos 2021 e 2024, como parte de seus esforços para reformar a Igreja. Durante dois anos de consultas preliminares entre os católicos em todo o mundo, houve um apelo para que a Igreja, que proíbe mulheres nos seus cargos mais altos, abrisse mais oportunidades para o público feminino assumir papéis de tomada de decisão. O processo acabou gerando uma expectativa por mudanças, mas a carta divulgada nesta quarta-feira deixa claro que essas diferenças permanecem.

O cardeal Robert Prevost, chefe americano do escritório dos bispos do Vaticano, disse que as mulheres estão recebendo cada vez mais cargos de alto escalão no Vaticano e estão até sendo consultadas na nomeação de bispos. Mas, ele insistiu que não há como mudar a tradição de 2.000 anos da Igreja, que confere a ordenação sacerdotal apenas aos homens.

O cardeal Dieudonn Nzapalainga, arcebispo de Bangui, na República Centro-Africana, disse que as mulheres não podem ser deixadas para trás. No entanto, afirmou que incluí-las em funções de autoridade na Igreja era um "trabalho em andamento". "Eles não têm um papel formal, mas eu escuto. Eu ouço as mulheres. Convido as mulheres a participar", disse.

Mulheres reclamam que são excluídas do sacerdócio e dos mais altos cargos de poder, mas, em contrapartida, são as responsáveis pela maior parte do trabalho da Igreja. Nas observações à assembleia nesta quarta-feira, o papa Francisco falou longamente sobre a natureza feminina da Igreja.

A carta teve aprovação de 336 dos 364 membros que integram o Sínodo. Os delegados retornarão a Roma em outubro do próximo ano para continuar o debate e apresentar propostas a Francisco. (Com Associated Press).

O papa Francisco abrirá na quarta-feira (4), no Vaticano, a 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, ponto alto de uma extensa consulta mundial sobre o futuro da Igreja Católica que terminará em 29 de outubro.

Confira abaixo cinco pontos sobre o evento:

- Consulta -

Durante dois anos, os quase 1,3 bilhão de católicos em todo o mundo foram convidados a expressar sua visão da Igreja e de temas da atualidade. O processo foi lançado pelo papa Francisco, que deseja implementar um funcionamento menos piramidal na Igreja Católica.

"É um grande espaço de reflexão da Igreja, sobre sua maneira de ser e de proceder", resume o secretário especial da assembleia, o padre italiano Giacomo Costa.

Para "ter um momento de discernimento mais importante", o papa decidiu dividir a assembleia do sínodo em dois tempos, com uma segunda sessão plenária em outubro de 2024.

- Violência sexual, LGBT+ e mulheres -

Em um documento de trabalho publicado em junho, o Vaticano apresentou as questões que serão discutidas: acolhimento de pessoas LGBT+ e de pessoas divorciadas, poligamia, padres casados, o lugar das mulheres na Igreja, violência sexual, entre outros.

Esta é a primeira vez que o Vaticano aborda tantas questões sensíveis de forma tão aberta.

"Há questões sobre as quais todos já concordamos, como o lugar das mulheres na Igreja, que deve ser repensado. Mas como? E, depois, há outras questões, sobre as quais não estamos de acordoo. É preciso perguntar a teólogos, especialistas, sociólogos", explica Giacomo Costa.

Uma atenção especial será reservada à delicada questão do acesso das mulheres às funções de diácono, até agora reservadas aos homens, ou à ordenação de homens casados, tema sobre o qual o papa recuou em 2019.

- Voto das mulheres e laicos -

O sínodo é uma instituição consultiva criada pelo papa Paulo VI em 1965 no âmbito do Concílio Vaticano II que se reúne regularmente em assembleias.

Depois dos sínodos sobre a família (2014 e 2015), a juventude (2018) e a Amazônia (2019), Francisco deu um passo histórico na Igreja Católica e pela primeira vez permitirá o voto das mulheres e laicos não consagrados.

"É uma mudança total em relação a Paulo VI. Desta vez, convoca-se o povo de Deus, e não os representantes", comenta um observador do Vaticano em entrevista à AFP.

"Entre os bispos, existe uma cultura eclesiástica. Com os laicos, isto não funcionará: eles não se contentarão com boas palavras. Haverá exigências sobre o procedimento, sobre a vontade de mudar, sobre a eficácia", acrescenta.

- Uma agenda carregada -

Durante quatro semanas, os 464 participantes, 365 deles com direito a voto, se reunirão diariamente no Vaticano, divididos em grupos de reflexão em cinco idiomas (inglês, italiano, espanhol, francês e português). Entre eles, há 54 mulheres.

Os trabalhos serão divididos em quatro módulos.

Destaca-se a participação de dois bispos chineses no contexto da delicada relação entre a Santa Sé e a República Popular, que se baseia em um acordo secreto assinado em 2018 sobre a nomeação de bispos.

O sínodo começará e terminará com uma missa presidida pelo pontífice na Basílica de São Pedro e será marcado por momentos de oração. O Vaticano decidiu limitar as comunicações sobre o conteúdo das discussões neste período.

- Risco de divergências -

A assembleia permitirá calibrar o equilíbrio de forças dentro da Igreja em relação aos desafios da instituição. A posição do clero alemão, radicalmente diferente da opinião do Vaticano, será acompanhada de perto.

A Igreja provocou uma disputa com Rom, ao exigir que o papa "reexaminasse" a questão do celibato dos sacerdotes e da ordenação das mulheres.

"No sínodo não há lugar para ideologia", alertou Francisco no início de setembro. No domingo (1º), o papa insistiu na importância do diálogo e de "caminhar juntos".

Relator-geral do Sínodo da Amazônia, o cardeal d. Cláudio Hummes afirmou, nesta quarta-feira (12), que a proposta de ordenação de homens casados em áreas remotas será retomada pelo Vaticano. A medida, que mudaria as circunstâncias de exigência do celibato, uma tradição da Igreja, ficou de fora da exortação apostólica do papa Francisco, divulgada pela Santa Sé, apesar do apelo feito pela assembleia de bispos em outubro do ano passado.

"Essa questão deverá ser trabalhada agora com o papa, nas instâncias da Santa Sé. Será retomada", disse d. Cláudio Hummes. "Esse pedido terá que ser elaborado e cumprido."

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O relator-geral disse que o organismo eclesial anunciado pelo papa a Amazônia, após o Sínodo, terá um papel importante na discussão, no âmbito do Vaticano, sobre como realizar o ordenamento de padres casados em áreas de escassez.

Segundo d. Cláudio, a igreja não pode deixar de se preocupar em buscar uma solução para que os povos tenham acesso à eucaristia. "O que edifica a Igreja é a assembleia eucarística reunida, isso é o que forma e alimenta a Igreja", ressaltou.

O cardeal disse que o documento final do Sínodo, votado pelos bispos em outubro e não citado pelo papa na exortação, "não vai para a estante" e que a Igreja deve se empenhar na sua aplicação. "Não significa que, feita a exortação pós-sinodal, se possa incinerar o documento final do Sínodo. Talvez se esperasse que fosse um decreto, o que não é próprio da exortação", afirmou d. Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O bispo lembrou que o sumo pontífice determinou um estudo para atualização de questões referentes ao ministério, cujo documento atual tem mais de 50 anos.

Em resposta à falta de sacerdotes na região amazônica, em vez de citar o pedido pelo ordenamento como padres de homens com família já constituída, o sumo pontífice sugeriu dar ênfase ao trabalho missionário itinerante e que diáconos permanentes, mulheres religiosas e leigos "assumam responsabilidades importantes".

No documento Querida Amazônia, divulgado na manhã desta quarta-feira (12), o papa Francisco recua da proposta de que, em casos específicos e de acordo com a necessidade, homens casados sejam ordenados padres em comunidades afastadas da região amazônica. A proposta foi discutida pelos bispos durante o Sínodo da Amazônia, realizado em outubro, no Vaticano.

Francisco rejeitou a medida mesmo após a recomendação positiva de bispos. A "exceção amazônica" do celibato foi levantada por bispos

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em razão das "enormes dificuldades de acesso à eucaristia", já que parte das comunidades da região ficam meses e até vários anos sem a presença de um sacerdote. Para diminuir o problema, foi pedido ao papa que autorizasse a ordenação de sacerdotes sem exigência do celibato clerical.

A medida, frisaram os bispos favoráveis, seria aplicada a "homens idôneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham diaconato permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiteriado". Outra exigência é que esses homens tivessem "uma família legitimamente constituída e estável".

A estratégia foi criticada veementemente por bispos conservadores. Francisco foi atacado por posições contrárias de representantes dos mais variados níveis dentro da Igreja Católica, todos opostos à ideia de "tirar do sacerdócio aquilo que o torna mais especial". O cardeal canadense Marc Ouellet chegou a publicar um livro inteiro defendendo o celibato clerical e chegou a enviar dois exemplares da obra diretamente ao papa.

Até Bento XVI, seu antecessor que havia prometido manter-se afastado da vida pública quando renunciou ao cargo, entrou na conversa como um dos nomes que assina a autoria de um livro que também defende o celibato - e depois pediu para que seu nome fosse retirado da obra. "A habilidade de renunciar ao casamento para se posicionar completamente à disposição do Senhor tem se tornado um critério para o ministério sacerdotal", escreveu Bento XVI.

Apesar da tradição, a regra que prevê o celibato entre padres não é um dogma da Igreja Católica, o que significa que ela pode ser alterada ou revogada, em tese. Um dos últimos momentos de revisão do celibato foi em 2009, quando Bento XVI permitiu que padres anglicanos casados fossem convertidos ao catolicismo. Na ocasião, ele deixou claro que a medida não significava uma mudança abrangente na postura da Igreja. Em 2019, durante coletiva de imprensa, o próprio Francisco se posicionou sobre o tema. "Diria que não concordo com o celibato opcional", afirmou, classificando a prática como um "presente para a Igreja".

Na chamada exortação apostólica do Sínodo dos Bispos, o pontífice caracteriza como "desigual" a presença de padres na área, reforça a importância de preservação do meio ambiente e pede aos bispos da América Latina para "promoverem a oração" por mais vocações e aos missionários para irem à Amazônia.

"Exorto todos a avançar por caminhos concretos que permitam transformar a realidade da Amazônia e libertá-la dos males que a afligem", afirma Francisco, no texto redigido em espanhol e finalizado no dia 2 de fevereiro. O documento está disponível no link do Sínodo da Amazônia.

O texto está elaborado em quatro capítulos descritos como "sonhos" do pontífice: Social, em defesa dos mais pobres e povos nativos; Cultural, sobre a preservação da riqueza dos povos; Ecológico, sobre o resguardo da beleza natural; e Eclesial, dirigido às comunidades cristãs, para dar à Igreja "rostos novos com traços amazônicos".

Internacionalização

No documento, o papa Francisco também fala sobre a chamada "internacionalização" da Amazônia. Diz que a medida não é a solução para cuidar do bioma. O pontífice cobra, ao falar sobre a preservação do meio ambiente, que os governos não se vendam a "espúrios interesses" locais ou internacionais.

"Além dos interesses econômicos de empresários e políticos locais, existem também os enormes interesses econômicos internacionais. Por isso, a solução não está numa internacionalização da Amazônia, mas a responsabilidade dos governos nacionais torna-se mais grave", escreveu a papa, para em seguida defender a presença e o trabalho desenvolvido por Organizações Não-Governamentais (ONGs) - entidades que são constantemente criticadas pelo presidente Jair Bolsonaro.

"Pela mesma razão, é louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da sociedade civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma crítica, inclusive utilizando legítimos sistemas de pressão, para que cada governo cumpra o dever próprio e não delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais do seu país, sem se vender a espúrios interesses locais ou internacionais", diz o texto.

A proposta da "internacionalização" era de grande preocupação do governo Jair Bolsonaro, em especial dos militares, que viam no Sínodo uma tentativa de fragilizar a soberania nacional sobre a porção brasileira do território amazônico. O quadro levou a um choque entre o governo Bolsonaro e o Vaticano, após o jornal O Estado de S. Paulo revelar que o encontro episcopal era alvo de monitoramento pelos serviços de inteligência.

A exortação final, espécie de orientação do papa após todas as discussões do Sínodo, era aguardada com atenção por militares e diplomatas brasileiros que mantiveram diálogo com o Vaticano para tentar garantir uma palavra em defesa da soberania no documento final.

O tema ganhou mais relevância quando, com a Amazônia em chamas, o presidente francês, Emmanuel Macron, propôs uma discussão sobre um "status internacional" para a floresta.

Sem fazer menção específica a nenhum país ou governante, o sumo pontífice se opõe ao avanço da exploração econômica em terras indígenas e reservas florestais e, de forma taxativa, afirma que são "injustiça e crime".

"Às operações econômicas, nacionais ou internacionais, que danificam a Amazônia e não respeitam o direito dos povos nativos ao território e sua demarcação, à autodeterminação e ao consentimento prévio, há que rotulá-las com o nome devido: injustiça e crime", escreveu Francisco.

Como funciona um Sínodo?

Durante os Sínodos, "o papa ouve mais do que fala", explicou o bispo d. Odilo P. Scherer, em artigo escrito para o Estado. O evento, na verdade, serve para que o Vaticano possa ouvir a opinião dos fiéis sobre assuntos específicos, por meio de questionários conduzidos pelos 250 bispos participantes, e tomar decisões a partir desses consensos.

Em 2014 e 2015, o Sínodo teve como tema "Os desafios pastorais no contexto da evangelização", e abordou temas como divórcio, contracepção e a união entre casais homoafetivos na Igreja. Em 2018, os cardeais discutiram "Os jovens, a fé e o discernimento vocacional" e no ano passado, em outubro, "Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral".

Participaram do encontro no ano passado bispos e líderes religiosos, além de indígenas e convidados especiais, dos nove países amazônicos - Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa -, além de outros da Cúria Romana. O papa ressalta, porém, que a exortação apostólica se dirige ao mundo todo.

O objetivo de um Sínodo é discutir como a Igreja Católica pode intervir em determinados conflitos, assim como adequar suas diretrizes em lugares onde haja dificuldade de converter novos fiéis e disseminar os ideais católicos.

A palavra "sínodo" vem de duas palavras gregas: "syn", que significa "juntos", e "hodos', que significa "estrada ou caminho'. O sínodo tem caráter consultivo. Após o Sínodo, o papa emite um documento chamado "exortação apostólica", no qual resume e aprova as principais conclusões dos bispos durante as reuniões. O Sínodo da Amazônia foi o quarto do pontificado de Francisco. (Com agências internacionais).

Na primeira decisão para a região após o Sínodo para a Amazônia, o papa Francisco definiu ontem a criação de mais um arcebispo e dois bispos. Esses novos bispos vão responder por uma área de 375 mil km², que tem apenas 15 paróquias.

Na prática, foi reestruturada a Província Eclesiástica de Belém do Pará, suprimindo uma prelazia, que se tornou a Arquidiocese de Santarém. E foram criadas duas novas divisões: a diocese de Xingu-Altamira e a prelazia territorial do Alto Xingu-Tucumã, que também terá um bispo.

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Francisco criou a Província Eclesiástica de Santarém (Brasil), definindo na prática um arcebispado, que terá ligação com a Diocese de Óbidos, a prelazia territorial de Itaituba e as novas circunscrições de Xingu-Altamira e Alto Xingu-Tucumã. Como primeiro arcebispo metropolitano de Santarém foi nomeado dom Irineu Roman, então bispo auxiliar de Belém do Pará.

Ele é o atual secretário do Regional Norte 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em carta divulgada ontem, ele informou que foi informado pelo papa da mudança durante o sínodo.

Dom João Muniz Alves passa a ser o primeiro bispo da nova Diocese de Xingu-Altamira, uma área com 247 mil quilômetros quadrados, 10 paróquias e 24 sacerdotes, com 250 mil católicos. Já o bispo nomeado para Xingu-Tacumã foi o padre espanhol Jesús María López Mauléon, atualmente na Arquidiocese de Fortaleza. Ele responderá por uma área de 128.291 quilômetros quadrados, com 5 paróquias e 10 sacerdotes para atender 130 mil católicos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Depois de três semanas de intensos debates no Vaticano, os padres sinodais apresentaram ontem ao papa Francisco o relatório final do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia. Em 120 parágrafos, divididos em cinco capítulos, as propostas vão desde a conceituação do que é pecado ecológico até a maior participação das mulheres na liturgia católica. Provavelmente a mais polêmica é a proposta para que, em casos específicos e de acordo com a necessidade, homens casados possam ser ordenados padres e dispensados, portanto, do celibato.

A proposta está no parágrafo 111 do documento. Os bispos lembram que muitas comunidades do território amazônico "têm enormes dificuldades de acesso à Eucaristia", ficando meses ou até "vários anos" sem a presença de um sacerdote.

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Para diminuir o problema, os padres sinodais pedem ao papa que autorize a ordenação de sacerdotes sem a exigência do celibato clerical - desde que, frisam, sejam "homens idôneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham diaconato permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiteriado". Estes padres, segue o texto, teriam "uma família legitimamente constituída e estável".

Todos os parágrafos precisaram ser aprovados, em assembleia realizada ontem, 26, por pelo menos dois terços dos padres sinodais - aqueles participantes com direito a voto. No encontro final, estavam presentes 181. De todos os itens, o 111 foi justamente o que teve menor índice de aprovação - foram 41 votos contrários.

Como já se esperava, o documento têm forte apelo ambiental e cobra posturas inclusivas junto aos pobres, imigrantes e a todas as "periferias do mundo". O relatório pede uma Igreja "com rosto indígena, camponês e afrodescendente", "com rosto migrante" e jovem.

No encerramento do sínodo, Francisco afirmou que a região amazônica sofre "todo tipo de injustiça, destruição de pessoas, exploração de pessoas em todos os níveis e destruição da identidade cultural". Segundo ele, "a consciência ecológica nos denuncia um caminho de exploração compulsiva e corrupção. A Amazônia é um dos pontos mais importantes disso. Um símbolo", declarou.

Dentro do conceito de ecologia integral, o papa frisou que os problemas ambientais precisam ser vistos dentro de seus contextos sociais, "não só o que se explora selvagemente a criação, mas também as pessoas". Ele afirmou ainda que pretende criar um órgão dentro da Santa Sé dedicado exclusivamente aos cuidados com a Amazônia.

No documento, ao sugerirem o "pecado ecológico", os bispos argumentaram que o desrespeito à natureza deve ser visto como pecado porque seria afronta a Deus e uma agressão à sua criação. Essa ideia já estava presente na encíclica Laudato Si', publicada por Francisco em 2015. "Nenhum católico pode viver em comunhão com a Igreja sem escutar o grito da Terra. (Desrespeitar a natureza) é um pecado, é um pecado ecológico", disse o bispo de Izirzada (Peru), David Martinez de Aguirre Guinea.

Mulheres

A maior participação feminina em celebrações litúrgicas e em papéis dentro da Igreja foi abordado em cinco parágrafos do documento, sob o título "presenças e a vez da mulher". "(...) se pede que a voz das mulheres seja ouvida, que elas sejam consultadas e participem das decisões e, assim, possam contribuir com sua sensibilidade à sinodalidade eclesial", diz o documento. O item 103 afirma que muitas consultas solicitam "o diaconato permanente para as mulheres". Foi o segundo item com mais rejeição - teve 30 votos contrários.

Análise: Francisco Borba Ribeiro Neto - coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP

Para muitos, o Sínodo para a Amazônia foi menos uma reflexão pastoral católica e mais um grande embate ideológico. A direita procurava afirmar a supremacia do modelo capitalista atual. A esquerda, a necessidade de um desenvolvimento alternativo, ecológico e inclusivo.

Os progressistas procuravam retomar uma imagem quase disruptiva de Igreja dos pobres, recuperada da segunda metade do século 20. Os conservadores, barrar assustadora maré reformista, que parece ter se estabelecido com o papa Francisco.

Quando se discutia a relação entre soberania nacional e ação da Igreja, o debate real era entre os interesses da mineração e do agronegócio tradicionais e as práticas alternativas apoiadas pelo terceiro setor. Quando se discutia a ordenação de homens casados na região, o tema de fundo era o casamento de padres ordenados no resto do mundo... E assim por diante.

O Instrumentum Laboris, texto base para as discussões, acabou estimulando a tensão. Seu conteúdo estava carregado de propostas e abordagens polêmicas, justas ou injustas - não cabe aqui analisar -, quase como que testando até onde a Igreja Católica poderia ir no pontificado atual.

Nesse contexto, o perigo é que os desdobramentos deste sínodo fiquem presos a uns poucos pontos polêmicos e não às respostas integrais, como aconteceu naquele sobre a família, cuja repercussão parece se reduzir a um debate estéril sobre dar ou não a comunhão aos casados em segunda união - um detalhe importante, mas pequeno em relação ao desafio de apoiar a família.

O documento final do sínodo reafirma o compromisso social e ecológico da Igreja na Amazônia, abrindo espaço para novas ações pastorais. Contudo, as reflexões mostraram que não basta dizer "o que fazer", mas é necessário saber "como fazer". Por exemplo, não basta querer ordenar indígenas casados, o problema é como capacitá-los e apoiá-los em suas comunidades distantes. Não basta querer uma evangelização inculturada, o problema é como fazê-la quando nossa sociedade sufoca as culturas indígenas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

No encerramento do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, na tarde deste sábado, 26, papa Francisco afirmou que a região amazônica sofre "todo tipo de injustiça" e cobrou da Igreja maior sintonia com a juventude. "A consciência ecológica vai em frente e hoje nos denuncia um caminho de exploração compulsiva e corrupção. A Amazônia é um dos pontos mais importantes disso. Um símbolo, eu diria", declarou Francisco.

Ele avaliou que a maior importância do Sínodo dos Bispos são os diagnósticos que foram feitos de questões culturais, ecológicas, sociais e pastorais da região amazônica. Dentro do conceito de ecologia integral, ele frisou que os problemas ambientais precisam ser vistos dentro de seus contextos sociais, "não só o que se explora selvagemente a criação, mas também as pessoas".

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O sumo pontífice afirmou que pretende criar um órgão dentro da Santa Sé dedicado exclusivamente aos cuidados com a Amazônia. O departamento deve ficar alocado dentro do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, sob o comando do cardeal Peter Turkson, de Gana.

Para Francisco, a ecologia não pode ser separada das questões sociais. "Na Amazônia há todo tipo de injustiça, destruição de pessoas, exploração de pessoas, em todos os níveis e destruição da identidade cultural", declarou ele, no encerramento. Ele lembrou sua encíclica Laudato Si’, publicada em 2015, como um marco para balizar o pensamento ecológico segundo as bases do catolicismo.

Ele disse ainda que para lutar por questões ambientais a Igreja precisa mirar no exemplo dos jovens. Citou nominalmente a ativista sueca Greta Thunberg, empenhada em uma cruzada global para alertar sobre a atual crise climática. "Na manifestação dos jovens, como Greta e outros, eles levam um cartaz dizendo ‘o futuro é nosso’. Isso é a consciência do pedido ecológico", declarou.

Com o Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia na reta final, com base no instrumento de trabalho divulgado antes do evento e das discussões que vieram a público ao longo deste mês, é possível imaginar um documento que trate de questões urgentes não só da região amazônica: crise climática, questões imigratórias, respeito aos povos e preocupação com os recursos ambientais.

"Todos fomos convidados a desfrutar da criação. Não podemos destruir as coisas do mundo", disse ao jornal O Estado de S. Paulo o padre sinodal dom Ernesto Romero, bispo do vicariato apostólico de Tucupita, no nordeste da Venezuela. "Devemos defender a vida do planeta, a vida da Amazônia. Isso é um dom de Deus e um compromisso com Deus. Tenho esperança de que o mundo mude e nos convertamos à vida, ao amor, à paz, à justiça e à esperança."

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"O documento que está sendo preparado deve mostrar que queremos uma Igreja que constrói o reino de Deus e, para isso, devemos assumir o caminho da conversão ecológica", afirma Romero Dentre os 200 mil habitantes da circunscrição de Tucupita, 30 mil são indígenas.

"O sínodo está proporcionando que construamos relações fraternas e nos dando a riqueza de compartilhar realidades de nossos povos. São realidades muito parecidas, com diferentes situações e riscos", enumera o religioso. "Em comum, somos povos que amam a vida e queremos defender a vida que Deus nos deu. Somos ameaçados por mineradores e pelas grandes corporações que querem ter uma riqueza fácil, destruindo a natureza. Como bispo da região, trato da tarefa de defesa da vida."

Pároco da igreja de São Sebastião em Manaus, Amazonas, frei Paulo Xavier Ribeiro acredita que o encontro dos bispos no Vaticano serve para "propor caminhos que consolidem a paz, a integridade da criação e o respeito com todas as pessoas". "É preciso pensar a realidade que nos cerca, os indígenas, os migrantes, os povos ribeirinhos, as situações todas. Sempre a serviço da vida, da esperança e do amor", comenta ele, em conversa com a reportagem.

Romero, por sua vez, lembra que a ação de mineração tem poluído os rios que abastecem as comunidades indígenas da região amazônica. "Essa ameaça está quase na sombra e queremos que o sínodo denuncie essa situação", diz.

Questão cara ao contexto atual da sociedade venezuelana, a crise imigratória também é uma preocupação latente no discurso do bispo venezuelano. "A imigração é um fenômeno da humanidade. Os seres humanos sempre recorreram a essa opção de colocar o caminho em horizonte para encontrar melhores condições para si e para a família. A Igreja não tem solução para o fenômeno mas nos convida a ser homens e mulheres de coração aberto para todos. Ser católico é ser universal, saber que todo ser humano é irmão e irmã", comenta ele, dizendo que o acolhimento recebido por seus conterrâneos em comunidades brasileiras é "um sinal evidente da fraternidade, do reino de Deus".

Uma das acadêmicas convidadas para debater as questões do sínodo com os religiosos, a antropóloga Moema Miranda, professora do Instituto Teológico Franciscano e assessora da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), afirma que as discussões realizadas ao longo do mês de outubro foram "extremamente ricas, interessantes e importantes". "Os diálogos foram qualificados e aprofundados", pontua ela.

"O tema do sínodo é internacional: como devemos fazer para viver neste planeta, limitado, vivo e vivente, rico, profícuo e extremamente abundante, mas no qual os modos de vida dominante, a produção, a acumulação e o desperdício não estão mais compatíveis", explica a estudiosa.

"Papa Francisco já diz isso: essa economia mata, não está vinculada à lógica da Terra, à ecologia, à proposta de uma conversão ecológica integral que, de fato, articule os princípios aos níveis pessoal, social, espiritual, coletivo e político. É o grande desafio: esse sistema é impossível e não pode continuar, precisamos de outro caminho."

Outras questões

"Nossa esperança é que possamos construir uma igreja sempre nessa dinâmica: preocupada com a defesa da vida, a defesa do reino de Deus. E que homens e mulheres possam participar, todos, dessa construção. Somos chamados a reconhecer a dignidade do ser humano, homem e mulher. São muitas as expectativas que teremos sobretudo no campo da participação de toda a comunidade", afirma o bispo Romero.

Além das questões de natureza ambiental e social, há expectativa de que o documento traga comentários sobre a maior participação feminina na liturgia, além de abrir a possibilidade de ordenação de homens casados, sobretudo em regiões com déficit de sacerdotes, como é o caso da região amazônica.

"Há esperança ativa que haja avanços nas propostas sinodais com audácia e sem medo, que haja novidades carismáticas e ministeriais e, sobretudo, que haja conversão eclesial e não colonialista em relação ao novo rosto amazônico da Igreja e das igrejas", analisa o teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Júnior, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

O caráter sociopolítico das discussões do atual sínodo, em um contexto global de forte polarização ideológica, atraiu críticas aos padres sinodais e ao papa. "Sempre vão existir na Igreja forças conservadoras, porque somos humanos e cada um tem sua visão, sua opinião", avalia o bispo Romero.

"O importante é deixarmos espaço ao Espírito Santo, porque sempre existiu em nossa igreja latino-americana uma luta pela manifestação do Evangelho. Devemos apontar o horizonte, sem cruzar os braços diante das dificuldades que nos aparecem durante a vida. É preciso debater, sobretudo com espírito de solidariedade e de busca pela verdade. Ninguém tem a verdade no bolso, a verdade está no Evangelho. Nós estamos chamando a conversão pastoral e ecológica, assumindo o compromisso de viver no reino de Deus e na justiça", defende ele.

Os olhos do mundo católico estão acompanhando, de forma atenta, as discussões do Sínodo dos Bispos Sobre a Amazônia, encontro que ocorre no Vaticano neste mês de outubro. Há expectativa pelo teor do relatório final, que deve ser apresentado neste fim de semana.

Mas, para religiosos ligados às causas trazidas à tona com o Sínodo, o Brasil já começa a colher frutos: em diversas partes do País, comunidades católicas têm realizado encontros para debater os temas fundamentais do encontro da Santa Sé. Em linhas gerais, como os católicos podem lutar para conter a atual crise climática, acolher os povos imigrantes, respeitas os saberes das populações locais, reduzir a produção de lixo, entre outros. Resumidamente: fazer parte, de forma ativa, da chamada ecologia integral - discurso este arraigado ao pontificado de papa Francisco, pelo menos desde a publicação da encícicla "Laudato Si", em 2015.

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"O Sínodo sobre a Amazônia, desde sua convocação, foi uma bonita caminhada de escuta e reconhecimento dos povos. Eles estão presentes aqui em Roma, muitos na sala sinodal e outros nas atividades da Tenda da Casa Comum (espaço paralelo de debates criado em uma paróquia a poucos metros do Vaticano)", comenta o coordenador de Articulação da Rede Eclesial Pam-Amazônia (Repam), Leon Souza.

"Os que ficaram no Brasil estão em sintonia, realizando momentos de formação, celebrações, seminários. Como Igreja, não queremos que esse processo se encerre com o documento final e com a possível exortação do Papa Francisco."

A declaração de Souza relembra um gesto que já se tornou praxe nos sínodos: se o encontro, em si, é um momento em que o papa está aberto para ouvir o que pensam os religiosos de diversas partes do mundo, algum tempo depois da publicação do documento final geralmente vem um episódio importante para a história da Igreja: a publicação de uma exortação apostólica, ou seja, um documento pontifício oficial em que o próprio papa se dirige ao mundo acatando as considerações dos padres sinodais.

Souza avalia que os temas mais importantes do Sínodo já estão ecoando nas comunidades brasileiras, sempre "em torno da chamada ecologia integral". "E podemos perguntar: mas por que não se fala da doutrina, da moral, da teologia? Justamente porque a ecologia integral consegue dar elementos para compreender e vivenciar a nossa fé a partir da relação íntima entre a humanidade, o ambiente, a espiritualidade, a política, a cultura. Por isso, falar de direitos dos povos, defesa da vida, interculturalidade e interreligiosidade, políticas públicas e direitos da natureza é tão caro neste tempo de atividades no Brasil", pontua ele.

Organizador de diversos encontros referentes ao Sínodo no Estado de São Paulo, frei Marcelo Toyansk Guimarães, da Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação dos Frades Capuchinhos do Brasil, avalia que há um "momento eclesial muito forte" nos locais que estão se dedicando a refletir os pontos importantes da questão. "Tenho estado presente em vários eventos, na organização ou na assessoria. Houve um ato na Catedral da Sé, em São Paulo, em 30 de setembro, nas vésperas da viagem do (cardeal e arcebispo emérito de São Paulo, relator-geral do Sínodo) dom Cláudio Hummes para Roma", conta. "Ajudei a pensar todo o fundamental, junto a outras 11 religiões", destaca.

Dos eventos realizados no interior, Guimarães acredita que uma das maiores mobilizações ocorreu em Piracicaba, com cerca de 700 participantes. Também foram grandes os encontros em Campinas, Taubaté, Marília e São José dos Campos. "Neste último, houve uma semana intensa de atividades. Fiz uma palestra sobre ecologia integral e tivemos a presença de pesquisadores e cientistas", relata. "Todos os encontros foram muito positivos. Há um interesse e uma busca pelo tema, isso é importante."

"Interessante ressaltar que o Sínodo, em última instância, é um evento eclesial. A Igreja quer revisitar sua presença, seus caminhos, quer propor novos caminhos. É a Igreja se renovando e também participando da ecologia integral, das relações integradas", explica. "A partir dessa integralidade, a Igreja quer rever sua presença e revisitar sua evangelização. Isso provoca: quando vemos um mundo que se destrói tanto, é contrastante a Igreja afirmar essas convicções. Trata-se, enfim, de um evento eclesial que quer contribuir com a vida do planeta, dos povos e das sociedades em geral."

"Infelizmente, vemos grupos que estão comprometidos com a destruição e com a morte", prossegue. "Nossos desafios são o cuidado com a vida, isto é central do Evangelho. O Sínodo não é só uma provocação, é uma força da Igreja, ressaltando as convicções. O planeta é fundamental para todos e para os pobres tem uma importância enorme, porque eles dependem dos recursos que estão à volta."

Os articuladores já planejam processos e métodos para que tudo aquilo que está sendo debatido no Sínodo possa ser colocado em prática, sobretudo nas regiões que vivenciam mais de perto a crise climática e ambiental. "Vamos continuar investindo esforços e tempo para reunir os grupos e organizações para que as recomendações do Sínodo sejam concretizadas nas igrejas, nas pequenas comunidades, na vida missionária", diz Leon Souza.

"Sabemos que não há um caminho curto e que muitas coisas exigem de nós conversão plena, abertura para escura a Deus na voz dos irmãos e irmãs da Amazônia. Por isso, o caminho pós-assembleia sinodal deve ser de organizar estratégias pastorais para os novos caminhos propostos por aqui."

Uma forte discussão presente no Sínodo é que a Igreja crie um organismo que ajude a concretizar esse trabalho nas comunidades locais, reforçando sua presença. "Isso vai acontecer processualmente", afirma Guimarães. "Sem dúvida, irá trazer luzes para toda a Igreja, propiciando o revisitar de áreas remotas, em missão. Vai ajudar a trazer luzes a partir da ecologia integral. E isso é mais do que nunca urgente. Só temos um planeta e é este planeta que agoniza e precisa de um cuidado, de um cuidado da casa comum."

Para o frade capuchinho, o importante é que essas práticas "sejam dialogais, nada colonizadoras". "Ou seja: que produzam vida, que respeitem e contribuam para a promoção da vida humana", enfatiza.

O Vaticano acusou nesta terça-feira (22) redes sociais católicas ultraconservadoras de fomentar o ódio. A acusação foi feita depois que militantes roubaram estátuas que representavam a Mãe Terra e as lançaram ao Rio Tibre, em Roma, na segunda-feira (21). O ato ocorre na última semana do Sínodo da Amazônia, em que se debate o futuro da Igreja na região. As estátuas roubadas e descartadas eram exibidas com outros artefatos amazônicos em uma igreja perto do Vaticano.

"Em nome da tradição e da doutrina, uma efígie da maternidade e da santidade da vida foi jogada fora com desprezo", disse Andrea Tornielli, diretor editorial do Vaticano. Tornielli disse que o incidente foi "um gesto violento e intolerante" e os ladrões "passaram do ódio nas redes sociais para a ação". Ele disse ser chocante que um site católico conservador tenha dado como manchete do roubo "A Justiça está feita". As esculturas de madeira representavam uma mulher nua, grávida.

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Mesmo antes de o sínodo começar, redes sociais católicas conservadoras atacaram seu documento de trabalho por considerá-lo herético, particularmente por sugerir que homens casados idosos possam ser ordenados como padres para rezar missas na vasta região isolada.

Mais tarde, eles expressaram revolta com o uso de uma estátua amazônica de uma mulher grávida em uma cerimônia de abertura. A mídia ultraconservadora disse que a imagem é parte da adoração de Pachamama (Mãe Terra) e, portanto, é um símbolo pagão. Já o Vaticano disse se tratar de um símbolo de vida indígena tradicional.

Um vídeo do incidente foi publicado na internet e ganhou destaque em sites da mídia católica conservadora e no Twitter. Um deles iniciou uma petição para remover a estátua e divulgou um comunicado dos ladrões, dizendo que agiram porque as pessoas de fé estão "sendo atacadas por membros de nossa própria Igreja". "Não aceitamos isso! Não ficamos mais em silêncio! Começamos a agir agora!", dizia o comunicado divulgado no site.

O prefeito da Secretaria de Comunicação do Vaticano, Paolo Ruffini, classificou o roubo e o descarte das estátuas como uma "bravata" que não facilita o "espírito de diálogo".

Reação

A Rede Eclesial Pan-Amazônica, um grupo de bispos católicos e de organizações da Amazônia presentes em Roma, pediu respeito à diversidade. "Nos últimos dias, fomos vítimas de atos de violência que refletiram intolerância religiosa, racismo, humilhação contra povos indígenas acima de tudo", disse a entidade. (Com agências internacionais).

Organizado pela Igreja Católica, o Sínodo da Amazônia foi alvo de críticas de palestrantes que participaram, nesse sábado (12), em São Paulo, da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) Brasil - versão brasileira do maior evento conservador dos Estados Unidos. As críticas vieram de ministros do governo Bolsonaro e de Dom Bertrand de Orleans e Bragança, herdeiro da antiga família real brasileira, que também fez ataques a líderes da Igreja.

Aplaudido por militantes de direita presentes no evento, Dom Bertrand atacou a esquerda católica na figura de d. Cláudio Hummes, um dos cardeais mais próximos ao papa Francisco, a quem classificou como "amigo pessoal do ex-presidente Lula". Para Bertrand, seria hora de reagir contra a Teoria da Libertação e ao que classificou como uma "seita vermelha" dentro na Igreja. "É uma tirania isso."

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Elogiado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que promoveu o evento e acompanhou todas as palestras, Dom Bertrand afirmou que o PT nasceu com Cláudio Hummes, o mesmo que agora, segundo ele, colocaria a soberania nacional em risco ao dizer que a vida na Amazônia nunca esteve tão ameaçada. "É a mais grave ameaça recente à nossa soberania", disse.

Já a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, citou o Sínodo da Amazônia, ao afirmar que "estão falando que violamos os direitos dos índios". "Falam que não existe infanticídio indígena. Mas nós é que estamos mostrando o que é a defesa dos direitos humanos. Nunca se falou tanto de direitos humanos no Brasil."

Ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni rebateu as críticas que o governo Jair Bolsonaro vem sofrendo na área ambiental. "Quem está mais perto de cumprir o Acordo de Paris? A França ou o Brasil? O Brasil", disse o ministro a jornalistas, ao ser questionado sobre dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que mostram aumento de desmatamento. Segundo ele, o Brasil é o país que mais preservou suas florestas nativas. "Qual país europeu pode nos mostrar isso?" As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Na abertura dos trabalhos do Sínodo dos Bispos Sobre a Amazônia, na manhã desta segunda-feira, 7, o cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes, relator-geral do encontro, afirmou que "a vida na Amazônia talvez nunca tenha estado tão ameaçada como hoje".

Em discurso aos padres sinodais, o religioso destacou que a floresta corre riscos "pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população amazônica, de modo especial a violação dos direitos dos povos indígenas, como o direito ao território, à autodeterminação, à demarcação dos territórios e à consulta e ao consentimento prévios".

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Hummes mencionou a Amazônia 29 vezes ao longo de sua fala. Ele lembrou que papa Francisco constantemente pede uma Igreja que vá ao encontro das questões urgentes.

"Desde o início de seu ministério papal, Francisco sublinha a necessidade de a Igreja caminhar. Ela não pode ficar sentada em casa, cuidando de si mesma, cercada de muros de proteção. Muito menos ainda, olhando para trás com certa nostalgia de tempos passados. Ela precisa abrir as portas, derrubar muros que a cercam e construir pontes, sair e pôr-se a caminho na história, nos tempos atuais de mudança de época, caminhando sempre próxima de todos, principalmente de quem vive nas periferias da humanidade. Igreja 'em saída'", sublinhou Hummes. "Para que sair? Para acender luzes e aquecer corações, que ajudem as pessoas, as comunidades, os países e a humanidade global a encontrar o sentido da vida e da história. Essas luzes são principalmente o anúncio da pessoa de Jesus Cristo, morto e ressuscitado e seu reino, bem como a prática da misericórdia, da caridade e da solidariedade sobretudo para com os pobres, os sofridos, os esquecidos e descartados do mundo de hoje, os migrantes e os indígenas."

O cardeal ressaltou a missão da Igreja na Amazônia. "Não uma Igreja cerrada em si mesma, mas integrada na história e na realidade do território - no caso, a Amazônia - atenta aos gritos de socorro e às aspirações da população e da 'casa comum', aberta ao diálogo, sobretudo ao diálogo inter-religioso e intercultural, acolhedora e desejosa de compartilhar um caminho sinodal com as outras Igrejas, religiões, ciência, governos, instituições, povos, comunidades e pessoas, respeitando as nossas diferenças, no intuito de defender e promover a vida das populações da área, especialmente dos povos originários e a biodiversidade do território na região amazônica", disse ele.

Hummes também enfatizou que o Sínodo ocorre em meio a um momento em que o mundo enfrenta um problemático período de aquecimento global.

"O Sínodo se realiza num contexto de uma grave e urgente crise climática e ecológica que atinge todo o nosso planeta. O aquecimento global pelo efeito estufa gerou uma crise climática sem precedentes, grave e urgente, como mostrou a Laudato si (encíclica do Papa Francisco) e a COP-21 de Paris, na qual foi assinado por praticamente todos os países do mundo o Acordo Climático até hoje pouco implementado, apesar da urgência", declarou.

"Ao mesmo tempo, ocorre no planeta uma devastação, depredação e degradação galopante dos recursos da terra, promovidas por um paradigma tecnocrático globalizado, predatório e devastador, denunciado pela Laudato si'. A Terra não aguenta mais."

Sete em cada dez católicos brasileiros consideram muito importante preservar a Amazônia, e 85% disseram concordar que atacar a Amazônia é um pecado. É o que aponta uma pesquisa feita pela instituto Ideia Big Data para avaliar a posição dos fiéis sobre políticas para a região por ocasião do Sínodo de bispos para a Amazônia, convocado pelo papa Francisco, que começou neste domingo, 6.

A pesquisa, comissionada pelas ONGs WWF-Brasil, Instituto Clima e Sociedade (iCS) e Movimento Católico Global pelo Clima (GCCM), ouviu 1.502 católicos em todo o Brasil no início de junho e analisou também a opinião dessa parcela da população sobre as ações da gestão Bolsonaro para a área ambiental. O levantamento, obtido com exclusividade pelo Estado, será apresentado nesta segunda-feira, 7.

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De acordo com a pesquisa, 68% disseram que é importante proteger a Amazônia para o crescimento do País, pois o desenvolvimento nacional depende do meio ambiente protegido, 10% disseram ser irrelevante para o crescimento econômico do País e 10% afirmaram que a preservação ambiental atrapalha o crescimento.

Apesar de feita quase dois meses antes da crise internacional que se formou por causa das críticas do governo federal aos dados que mostravam alta no desmatamento e em decorrência do aumento das queimadas na região, a consulta mostrou que 29% dos católicos consideram a atuação do presidente nessa área como péssima e 12% como ruim. Outros 30% avaliam como regular e 22% como ótima ou boa.

Mais da metade dos católicos entrevistados (52%) disse considerar o desmatamento da Amazônia a maior ameaça à natureza, superando problemas como poluição dos rios e dos mares, vista como principal ameaça por 19% dos entrevistados.

Na pesquisa, os entrevistados foram pedidos para avaliar ações ou declarações do presidente Bolsonaro na área ambiental. A maior parte se mostrou contrária à ideia de acabar com as multas ambientais de quem causa desmatamento (75%) e discordou do enfraquecimento do Ibama (73%).

Os católicos também se mostram contrários à redução de reservas indígenas (67%) e não concordam com a negação dos dados do Inpe sobre desmatamento da Amazônia (63%). Metade também discordou da afirmação de que somos o País que mais preserva o meio ambiente no mundo.

Questionados sobre quais fontes de informação consideram confiáveis sobre a Amazônia, 87% disseram confiar no que diz o papa Francisco sobre o tema; 71% disseram confiar na ONU, 67% nas ONGs e 60% na imprensa. Em relação ao governo brasileiro, a confiança foi de 49% de confiança, e 44% dos entrevistados disseram não confiar no governo quando cita dados em relação à Floresta Amazônica.

Para Igor Bastos, coordenador para países de língua portuguesa do GCCM, o dado sobre o papa pode ser visto como um indicativo de que a maioria da população católica apoia a posição de Francisco no que se refere à preocupação com a Amazônia. "Podemos concluir que é uma minoria, apesar de barulhenta, que é contra o sínodo", diz.

Ele opina que por ter sido feita antes do auge da crise da Amazônia, a pesquisa acaba sendo ainda mais fiel ao que essa população pensa. "São pessoas que não sofreram a influência da comoção internacional. Talvez se a pesquisa tivesse sido feita depois, o resultado seria ainda mais negativo para o governo", afirma.

Para Alice Amorim, coordenadora de política e engajamento do iCS, a pesquisa indica que os católicos não consideram o desenvolvimento econômico como algo incompatível com a proteção da natureza.

"Mesmo a população católica sendo tradicionalmente mais relacionada a uma postura conservadora, isso não necessariamente tem uma correlação com falta de preocupação com o ambiente ou de endosso às políticas ambientais do governo", complementa.

O Papa Francisco celebrou neste domingo uma missa de abertura do Sínodo da Amazônia na Basílica de São Pedro, com atenção voltada aos incêndios na floresta. No local estavam povos indígenas e mais de 180 cardeais, bispos e padres.

O sínodo especial, que começou hoje e continua até o dia 27 de outubro, se tornou um dos mais controversos gestos do papado de Francisco. O encontro vai discutir questões ambientais, além de temas voltados à Igreja Católica em territórios amazônicos, como a presença da instituição junto a povos nativos da floresta.

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O bispo da prelazia do Marajó (PA), dom Evaristo Spengler, rebateu nesta terça-feira, dia 1º, a tese de integrantes do governo Jair Bolsonaro segundo os quais o Sínodo da Amazônia, assembleia especial convocada pelo papa Francisco, pode ameaçar a soberania nacional. Para o bispo, a Igreja e o governo falam "em campos opostos", e as iniciativas de Bolsonaro é que deixam "em risco" a soberania do País.

Um dos integrantes da comitiva brasileira que viaja ao Vaticano na próxima semana, o bispo Spengler criticou o acordo entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos para exploração comercial da base de lançamentos espaciais de Alcântara (MA) e a procura do presidente por parceiros internacionais "do primeiro mundo" para explorar riquezas minerais em terras indígenas.

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"Levanta-se uma suspeita: se o sínodo ameaça a soberania nacional. Minha pergunta: quem é que está entregando a base de Alcântara? Quem é que está chamando mineradoras norte-americanas e estrangeiras para vir explorar a Amazônia? Não é a Igreja. Então quem está colocando a soberania em risco não é a Igreja. Talvez seja esse governo que está colocando a soberania do Brasil em risco", afirmou d. Evaristo Spengler, durante audiência na Câmara dos Deputados.

"A Igreja, pelo contrário, defende os povos que vivem na Amazônia, defende os povos indígenas, e quer a relação do ser humano com o meio ambiente seja de harmonia, não de destruição. Então, estamos falando em campos opostos. E a Igreja mantém e reafirma a sua decisão de dizer que a soberania é brasileira, mas nós queremos defender o meio ambiente, porque isso foi criado por Deus e nós somos corresponsáveis por tudo que Deus criou."

O clérigo reconheceu que, apesar de não ser um fórum internacional de governantes, mas uma assembleia interna, o sínodo terá repercussões "para fora". Atualmente, a maior preocupação do governo, sobretudo de diplomatas e militares, são com as resoluções do pontífice após o sínodo. O presidente já disse que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitora a preparação do encontro, que, para ele "tem muita influência política".

O secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cleber César Buzatto, disse que o papa Francisco sugere, com o sínodo, a criação de uma alternativa à sociedade do consumo capitalista e também criticou o governo Bolsonaro.

"O papa Francisco nos propõe que construamos um novo modelo de sociedade, onde a sobriedade feliz seja a razão de existência e do futuro, uma sociedade do bem viver como alternativa à sociedade do consumo, do acúmulo sem fim, da desigualdade absoluta, sociedade esta produzida pelo sistema capitalista e seu modelo neoliberal, ao qual o governo Bolsonaro é subserviente. Por isso que o governo discursa e age com essa intencionalidade de destruir a vida e os projetos de futuro dos povos da Amazônia, a fim de atender a interesses financeiros de corporações empresariais internacionais da mineração, do agronegócio e outros setores financistas."

Martha Bispo, secretária executiva da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Nordeste 5, no Maranhão, fez críticas a um sistema "que destrói e mata a Amazônia" e defendeu que as comunidades locais sejam ouvidas pelo governo para "administrar melhor o Brasil". Ela rejeitou interferências estrangeiras na floresta.

"Não queremos uma Amazônia dos Estados Unidos, não queremos uma Amazônia europeia. Queremos uma Amazônia brasileira, território brasileiro, gestado a partir de nossas vidas", disse a leiga católica. "Nós apelamos para um jeito de governar e de fazer política dos povos indígenas, dos quilombolas, das quebradeiras de coco. Por que não vamos atrás de outro modelo?", questionou.

O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República informou, em documento oficial obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) não infiltrou agentes para espionar bispos da Igreja Católica na preparação do Sínodo da Amazônia. Segundo o GSI, a Abin acompanha o sínodo por meio de informações obtidas em fontes abertas e repassadas por outros órgãos federais.

"Movimento social, membros da igreja, comunidades indígenas e quilombolas, assentamentos rurais ou ONG não estão sendo monitorados por parte da Abin. Ocorre, no entanto, o acompanhamento por meio de fontes abertas para atualização de cenários e avaliação da conjuntura interna", diz o documento, assinado pelo ministro Augusto Heleno. "Cabe à inteligência entender determinados fenômenos com fim exclusivo de averiguar seu potencial efeito lesivo à sociedade e ao Estado. Isso não se reflete, necessariamente, na realização no monitoramento de pessoas."

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O sínodo será realizado em outubro, durante três semanas, no Vaticano. Cerca de 250 bispos devem participar, além de convidados do papa Francisco.

Interpretação

O evento principal é uma série de assembleias de bispos católicos para discutir temas ligados à evangelização e problemas socioambientais na Amazônia. Em documento ao Vaticano, os bispos criticam a exploração econômica, a destruição ambiental e o descaso com povos originários, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos. De dimensão política, alguns trechos geraram interpretações, principalmente entre militares, de que poderia haver um questionamento à soberania brasileira - o que os clérigos negam.

O GSI cita, como fontes abertas, veículos de imprensa, periódicos, sites da Igreja Católica e de organizações diretamente vinculadas à organização do sínodo, como a Rede Eclesial Pan-amazônica e redes sociais. O órgão negou realizar o monitoramento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e de entidades vinculadas, como a Comissão Pastoral da Terra e o Conselho Indigenista Missionário.

O ofício foi assinado em maio e encaminhado ao gabinete do deputado Ivan Valente (PSOL-SP). O GSI nega ter feito objeções à realização do sínodo, mas sustenta que a pauta abordará temas ligados à soberania nacional.

O órgão destaca um trecho do documento preparatório do sínodo em que a Igreja afirma que "reconhecer o território amazônico como bacia além das fronteiras dos países facilita a visão integral da região, o que é essencial para a promoção de seu desenvolvimento e de uma ecologia integral".

No fim de agosto, o presidente Jair Bolsonaro reconheceu que a Abin monitora os preparativos do sínodo. Ele afirmou que a assembleia de bispos católicos "tem muita influência política" e que a agência monitora todos os grandes grupos.

Em fevereiro, o Estado revelou a preocupação do governo com a Igreja Católica, a partir de relatórios de inteligência da Abin e das Forças Armadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O cardeal Dom Claudio Hummes, escolhido pelo papa Francisco como relator do Sínodo da Amazônia, afirmou nesta quarta-feira, 28, que os críticos do encontro de bispos católicos no Vaticano têm "interesses ameaçados".

O cardeal rebateu insatisfações do governo brasileiro e de setores da ala conservadora da Igreja Católica com os rumos do encontro de bispos, programado para outubro, no Vaticano. Ele citou reportagens do jornal O Estado de S. Paulo que mostraram as preocupações e a desconfiança do Palácio do Planalto e a campanha aberta contra o Sínodo feita por grupos conservadores católicos.

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"Ouvimos vozes contrárias, vozes que resistem, vozes que têm medo e vozes que têm interesses muito fortes que se sentem um tanto ameaçados. Tudo isso que ouvimos por todos esses dias, ainda ontem (terça-feira, 27) a imprensa estava cheia desses assuntos, sobretudo, os jornais de São Paulo, o Estado de S. Paulo", disse o cardeal ao abrir uma reunião de bispos da Amazônia brasileira no Pará.

Dom Cláudio Hummes é o principal nome à frente do Sínodo. Ele preside a Rede Eclesial Pan-Amazônica e a Comissão Episcopal Especial para a Amazônia. Ele preparou um documento sobre problemas socioambientais da Amazônia e o papel evangelizador da Igreja na região, com consultas a populações originárias, a pedido do papa.

Dom Cláudio Hummes avaliou que a onda de incêndios florestais em países amazônicos, sobretudo no Brasil, despertou o interesse pelo sínodo no mundo ocidental e provocou um debate internacional que "projetou" a importância da assembleia religiosa. O Estado também havia antecipado que os bispos pretendiam discutir as queimadas no encontro do Pará para levar o tema a Roma.

"Cada vez mais sentimos importância do processo sinodal, como de fato é fundamental esse sínodo para o nosso tempo. Cada vez mais o mundo inteiro vai se envolvendo nessa problemática. Algumas coisas proporcionaram isso mais fortemente, como foram os incêndios aqui em toda essa região e que despertou de forma muito forte até mesmo polêmicas, muitos ruídos a respeito da Amazônia, de seu significado, de sua importância, de sua pertença e assim por diante", disse aos religiosos no Pará. "Está se tornando algo que está sendo seguido por todo mundo, pelo menos o mundo ocidental, talvez, a Europa e nós aqui."

Como parte de uma estratégia para combater a ação do que chama de "clero progressista", o Palácio do Planalto recorrerá à relação diplomática com a Itália, que vive um bom momento desde o esforço do presidente Jair Bolsonaro para garantir a prisão de Cesare Battisti. A equipe de auxiliares de Bolsonaro tentará convencer o governo italiano a interceder junto à Santa Sé para evitar ataques diretos à política ambiental e social do governo brasileiro durante o Sínodo sobre Amazônia, que será promovido pelo papa Francisco, em Roma, em outubro.

O jornal O Estado de S. Paulo revelou neste domingo (10), que o Planalto quer conter o que considera um avanço da Igreja Católica na liderança da oposição ao governo, como efeito da perda de protagonismo dos partidos de esquerda. Nos 23 dias do Sínodo, as discussões vão envolver temas como a situação dos povos indígenas e quilombolas e mudanças climáticas - consideradas "agendas de esquerda" pelo Planalto. O governo quer ter representantes nas reuniões preparatórias para o encontro em Roma.

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A ação diplomática do Planalto terá várias frentes. Numa delas, o governo brasileiro quer procurar os representantes da Itália e do Vaticano no Brasil - Antonio Bernardini e d. Giovanni D'Aniello, respectivamente - para pedir a ajuda deles na divulgação dos trabalhos brasileiros nas áreas social, de meio ambiente e de atuação indígena. Serviria como contraponto aos ataques que o governo está certo que sofrerá no Sínodo, por ver influência de partidos de esquerda nesses setores. Os embaixadores do Brasil na Itália e no Vaticano também terão a missão de pressionar a cúpula da Igreja para minimizar os estragos que um evento como esse poderia trazer, dada a cobertura da mídia internacional.

Simpósio. Em outra ação diplomática, o Brasil decidiu realizar um simpósio próprio também em Roma e em setembro, um mês antes do evento organizado pelo Vaticano. Na pauta, vários painéis devem apresentar diferentes projetos desenvolvidos no País com intuito de mostrar à comunidade internacional a "preocupação e o cuidado do Brasil com a Amazônia". "Queremos mostrar e divulgar as ações que são desenvolvidas no Brasil pela proteção da Amazônia na área de meio ambiente, de quilombolas e na proteção dos índios", disse um dos militares do Planalto.

Em nota divulgada na noite de domingo, 10, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) afirmou que a Igreja Católica "não é objeto de qualquer tipo de ação", mas que existe preocupação "com alguns pontos da pauta do Sínodo". "Parte dos temas do referido evento tratam de aspectos que afetam, de certa forma, a soberania nacional. Por isso, reiteramos o entendimento do GSI de que cabe ao Brasil cuidar da Amazônia brasileira."

Paresi. Também no Brasil o governo quer fazer barulho e mostrar projetos sustentáveis. O primeiro evento já será nesta quarta-feira, na aldeia Bacaval, do povo Paresi - a 40 quilômetros de Campo Novo do Parecis, no norte de Mato Grosso. Ali, será realizado o 1.º Encontro do Grupo de Agricultores Indígenas, que tem por objetivo celebrar a Festa da Colheita.

O evento já estava marcado, mas o governo Bolsonaro quer aproveitar o encontro para enfatizar o projeto de agricultura sustentável tocado pelos índios naquela região. Trata-se do plantio de dois mil hectares de soja sob o regime de controle biológico de pragas, ou seja, sem pesticidas. Mais de dois mil indígenas (dados do último censo do IBGE) têm se revezado também no plantio de milho, mandioca, abóbora, batata, batata-doce e feijão. A nova direção da Funai afirma que pretende incentivar projetos semelhantes em áreas onde os índios tenham interesse em plantar em suas terras.

A apresentação de projetos de extração legal de madeira, assim como o apelo às empresas estrangeiras para que só comprem material certificado, é uma outra ideia para divulgar trabalhos realizados no Brasil. Com isso, o governo espera abrir outra frente de contraponto ao que vê como tentativa de interferência externa na Amazônia e ataque a políticas governamentais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O papa Francisco anunciou na manhã deste domingo, 15, a convocação de um Sínodo de Bispos para a Amazônia, durante a missa de canonização de 30 mártires brasileiros, na Praça de São Pedro. O Sinodo vai se reunir em Roma, em outubro de 2019.

"Que os santos hoje canonizados intercedam pelo êxito do Sinodo", disse Francisco, referindo-se especialmente aos mártires brasileiros.

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Foram declarados santos também três jovens mexicanos martirizados no século 16, um padre espanhol e um frade italiano.

O Sinodo discutirá os desafios da região amazônica, especialmente a questão dos indígenas e a preservação das florestas. O anúncio surpreendeu até o cardeal d. Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e atual presidente da Comissão da Amazônia, da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Francisco afirmou que está convocando o Sínodo em atendimento a pedido de conferências episcopais de vários países. O Sínodo de Bispos é uma reunião que debate questões desafiadoras para a Igreja e apresenta sugestões ao papa. Além de eclesiásticos, leigos e especialistas podem ser convidados a participar dos debates.

O papa Francisco anunciou neste domingo (15) na Praça de São Pedro a convocação de um sínodo especial dedicado à Amazônia, que acontecerá em outubro de 2019 em Roma. "O objetivo principal desta convocação é encontrar novos caminhos para a evangelização daquela parte do Povo de Deus, especialmente os indígenas, geralmente esquecidos e sem a perspectiva de um futuro sereno, também por causa da crise da floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta", disse o papa.

O anúncio foi feito depois de uma missa em homenagem a 35 novos santos, entre eles 30 mártires que viveram no Brasil no século XVII, um reflexo da violenta história da evangelização da América Latina. O pontífice pediu aos novos santos, pouco depois da canonização da Praça de São Pedro, que intercedam por este evento especial para que "em respeito à beleza da criação, todos os povos da Terra louvem a Deus, Senhor do universo, e iluminados por Ele percorram caminhos de justiça e de paz".

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