As clínicas de estética russas e seus clientes enfrentam o impacto das sanções ocidentais, que provocam uma redução dos estoques, uma disparada dos preços e o êxodo dos fabricantes de botox.
Anastasia Ermakova, de 37 anos, fez sua última injeção de botox para reduzir as rugas em fevereiro.
"Minha esteticista garante que ainda tem estoque e que as importações continuarão por terceiros países", diz, sem esconder sua preocupação.
Em março, a empresa americana Abbvie, exportadora de "Botox" - o produto número um à base de toxina botulínica -, retirou-se do florescente mercado russo, devido à aplicação de sanções ocidentais de retaliação por "eventos trágicos" na Ucrânia.
Consequentemente, "os estoques de botox estão diminuindo rapidamente, causando preocupação entre os responsáveis pelas clínicas acostumadas a usar esse produto de referência", ressalta Julia Frangulova, cofundadora da Associação Nacional Russa de Clínicas de Medicina Estética.
É um duro golpe para o setor, que em 2021 faturou US$ 969 milhões, 2% a mais do que em 2020, segundo um estudo da empresa Amiko Consulting.
Em 2020, foram realizados 621.600 procedimentos – estéticos, cirúrgicos e não cirúrgicos – na Rússia. O país ocupa a nona posição no mundo para esse tipo de intervenção, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Estética e Plástica (ISAPS, na sigla em inglês).
"Em março, vimos pânico entre pacientes, médicos e fornecedores. A demanda disparou, os estoques de botox evaporaram", explica Oksana Vlasova, diretora de desenvolvimento da clínica estética Grandmed, localizada em São Petersburgo (noroeste).
Não houve importações de toxinas botulínicas em abril e maio, ressalta Nikolai Bespalov, da empresa "RNC Pharma", que analisa o mercado farmacêutico russo e espera uma retomada "até ao final do verão (boreal)".
A situação também é difícil para preenchimentos faciais, incluindo injeções de ácido hialurônico para os lábios, um procedimento muito popular na Rússia.
"Também tivemos que nos despedir" dos produtos da gigante americana Abbvie, lamenta Vlasova, que espera que os produtores europeus possam substituí-los.
Os implantes mamários também estão em uma situação difícil, devido à falta de produtores russos. Todas as próteses são importadas. Destas, 60% vêm dos Estados Unidos, e 13%, da Alemanha, países que aplicam sanções à Rússia.
Embora as sanções não sejam direcionadas aos implantes em si, as cadeias logística e financeira do comércio internacional são parcialmente afetadas. Isso dificulta as importações e afeta tanto a reconstrução mamária quanto as cirurgias estéticas.
O presidente da Liga para a Defesa dos Doentes, Alexandre Saverski, teme que produtos baratos, mas potencialmente perigosos, cheguem em breve às clínicas e que esta situação se generalize para todo setor da saúde.
"Em alguns meses, a escassez de equipamentos médicos na Rússia, dos quais 80% são importados, será crítica", prevê.