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A Superintendência Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) instaurou nesta quinta-feira (2) processo administrativo para apurar suposta prática de cartel em licitações públicas destinadas à aquisição de medicamentos. Segundo nota divulgada pela assessoria do Cade, evidências apontam que 15 empresas teriam mantido frequente comunicação com o objetivo de se coordenarem para fixar preços e combinar condições e vantagens em licitações, restringindo a concorrência e o caráter competitivo das licitações.

A prática, segundo o órgão antitruste, teria ocorrido pelo menos de 2007 a 2011, em alguns Estados do País, como Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Pernambuco. Entre os remédios estão antidepressivos, ansiolíticos, analgésicos, sedativos, anticoagulantes, além de medicamentos para hipertensão, refluxo e tosse.

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Estão na lista de investigadas as empresas: Comercial Cirúrgica Rioclarense Ltda., Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda., Dimaci Material Cirúrgico Ltda., Drogafonte Medicamentos e Material Hospitalar, Hipolabor Farmacêutica Ltda., Laboratório Teuto Brasileiro S/A, Macromed Comércio de Material Médico e Hospitalar Ltda., Mafra Hospitalar Ltda., Merriam Farma Comércio de Produtos Farmacêuticos Ltda., Netfarma Comércio Online S/A, NovaFarma Indústria Farmacêutica, Prodiet Farmacêutica Ltda. (atual Profarma Specialty S/A), Rhamis Distribuidora Farmacêutica Ltda., Sanval Comércio e Indústria Ltda., e Torrent do Brasil Ltda.

Segundo o Cade, dirigentes e representantes dessas empresas monitoravam as licitações para acertar quais seriam as vencedoras e os valores a serem ofertados por cada uma. Havia ainda uma combinação sobre como os lotes das licitações seriam divididos, quais empresas apresentariam propostas ou lances de cobertura, e quais retirariam suas propostas ou não apresentariam lances.

Os acusados serão agora notificados para apresentar defesa e, ao final da instrução processual, a superintendência do Cade irá sugerir a condenação ou arquivamento do processo e remeterá o caso para julgamento pelo tribunal do órgão antitruste, a quem cabe a decisão final.

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) pediu informações à Polícia Federal, Ministério Público e Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre resultados das investigações do cartel de trens.

O pedido foi feito em um voto do conselheiro do TCE Renato Martins Costa na análise de um contrato de R$ 14,2 milhões entre o Metrô e a multinacional francesa Alstom, uma das empresas acusadas de integrar o conluio que operou entre 1998 e 2008 nos governos de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB.

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O tribunal não apontou até agora nenhuma irregularidade no contrato fechado em 2010 para a compra de 16 conjuntos de ATC de bordo, para trens das frotas G,H e I. Esse contrato não foi citado pela empresa Siemens no acordo de leniência firmado com o Cade, no qual ela denunciou a existência de cartel no setor metroferroviário e também as empresas que dele participavam.

O conselheiro, no entanto, escreveu em seu voto que a decisão pela regularidade é prematura, pois avalia que a comprovação da existência do cartel "contaminaria o negócio desde sua origem".

"Parece-me prematura, no atual momento, a emissão de qualquer juízo sobre a matéria em exame", diz o texto assinado por Costa. "A atuação do cartel, se constatada, poderia contaminar o negócio desde a sua origem, transformando o exame aparentemente regular do que é submetido a esta Corte, em matéria impregnada de vício absoluto, capaz de condená-la por inteiro".

Por meio de nota, a Alstom informou que "participa das licitações de acordo com as leis dos países em que atua".

Metrô informou por meio de sua assessoria de imprensa que permanece à disposição do TCE e de todos os órgãos que estão participando da investigação.

A Justiça recebeu o aditamento do Ministério Público Estadual na ação em que a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social pede a dissolução de dez empresas supostamente envolvidas com o cartel de trens de São Paulo.

O esquema operou no Estado entre 1998 e 2008, nos governos Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB de São Paulo. O juiz Marcos Pimentel Tamassia, da 4.ª Vara da Fazenda Pública da capital, mandou notificar a Fazenda do Estado para ingressar como parte interessada na ação. Tamassia vai mandar citar as empresas para que se manifestem na ação civil do Ministério Público. A Promotoria pede ressarcimento de R$ 418,3 milhões aos cofres públicos - valor do suposto prejuízo causado pelas empresas em três contratos de manutenção de trens com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), entre 2001 e 2002.

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A ação foi proposta em novembro de 2014, mas o juiz Marcos Tamassia, em dezembro, deu prazo de dez dias para que o Ministério Público Estadual apresentasse "fatos e fundamentos jurídicos" que embasassem o pedido de dissolução das empresas. Agora, o aditamento do Ministério Público à petição inicial foi acolhido pelo juiz, em decisão do dia 3 de março.

Na ação, o Ministério Público pede que as empresas sejam dissolvidas porque haveria "vício em suas constituições, ausente objeto lícito e porque não agiam com probidade e boa-fé na consecução dos contratos". A Promotoria sustenta ter havido "prejuízo social e dano moral causado a milhares de pessoas, sobretudo aos menos favorecidos, aqueles que dependem do transporte por trens".

'moral'

Os promotores pedem a dissolução da Siemens, Alstom Brasil, CAF Brasil Indústria e Comércio, Trans Sistemas de Transporte, Bombardier Transportation, MGE Manutenção de Motores e Geradores Elétricos, Mitsui CO Brasil, Temoinsa do Brasil, Tejofran de Saneamento e Serviços e MPE Projetos Especiais. "Se é pressuposto para a constituição de qualquer sociedade empresária a existência de objeto não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes, e tendo em vista a demonstração cabal de que as empresas demandadas atuaram em cartel, causando dano material ao Estado e moral à sociedade, seus respectivos atos constitutivos registrados devem ser anulados", pede a Promotoria.

Todas as empresas citadas pela Promotoria negam cartel no setor metroferroviário. Por meio de suas assessorias de comunicação ou por seus advogados as multinacionais e as empresas brasileiras que sofrem a ação de dissolução afirmam que os contratos seguiram rigorosamente a legislação relativa a licitações. A CPTM não se manifestou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

No acordo de leniência firmado nesta sexta-feira (20) com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),  a Setal Engenharia e a SOG Óleo e Gás afirmaram que os contatos com as empresas para formação do cartel começaram de forma preliminar no final dos anos 90,  tornaram-se mais frequentes e estáveis a partir de 2003 e 2004 e se estenderam até o início de 2012. Nesse período, disseram as empresas delatoras, as empreiteiras atuaram na fixação de preços e vantagens entre elas e na divisão de mercado entre os concorrentes nas licitações públicas.

"Essas condutas foram viabilizadas, principalmente, por meio de reuniões presenciais, contatos telefônicos e SMS [mensagens por celular] entre os representantes das empresas, voltados à supressão, redução de competitividade nas licitações, contratações realizadas pela Petrobras nas obras de montagem industrial onshore [produção em terra], com prévio acerto do vencedor, preços apresentados, condições, divisão de lotes, abstenções e propostas de cobertura, dentre outros", diz o documento.

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Segundo o acordo, as seguintes empresas participavam do cartel: Camargo Corrêa; Andrade Gutierrez; Odebrecht; Mendes Junior; MPE Montagens e Projetos Especiais; Promon; Setal/SOG Óleo e Gás; Techint; UTC Engenharia; OAS; Engevix; Galvão Engenharia; GDK; Iesa Óleo e Gás; Queiroz Galvão e Skanska Brasil.

O acordo também diz que havia empreiteiras que "participavam esporadicamente das combinações" em licitações específicas. Entre elas, estão a Alusa Engenharia (atual Alumini), Carioca Engenharia, Construcap, Fidens, Jaraguá Engenharia, Schahin e Tomé Engenharia.

Todas as empresas negam ter participado de cartel em contratos na Petrobras.

A Liquigás Distribuidora S.A. manifestou nesta quinta-feira, 26, por meio de nota, a sua discordância em relação à decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que na quarta-feira confirmou multas aplicadas no ano passado contra distribuidoras de gás de cozinha pela prática de cartel na região metropolitana de Porto Alegre.

"A Liquigás Distribuidora S.A. atua no exercício de sua atividade de distribuição de GLP dentro das regras concorrenciais previstas na legislação vigente e, portanto, discorda da decisão do Cade acerca da imputação de prática de cartel na região metropolitana de Porto Alegre, na década de 90", diz a nota de esclarecimento da empresa.

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Em sua decisão, o Cade manteve a multa de R$ 3,638 milhões à Liquigás; de R$ 3,924 milhões à Supergasbrás Energia; e de R$ 2,920 milhões à Nacional Gás Butano Distribuidora, totalizando as punições em R$ 10,483 milhões.

A nota ainda esclarece que, ao contrário do foi veiculado na mídia na quarta, na decisão do Cade não há qualquer menção de que a Liquigás teria liderado o cartel. "Pelo contrário, o voto do relator, então conselheiro Eduardo Pontual, consignou expressamente que não foram identificadas distribuidoras com atividades de liderança no conluio."

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) condenou três empresas brasileiras participantes de um cartel internacional, envolvendo o fornecimento de mangueiras marítimas usadas na exploração de petróleo, ao pagamento de multas num valor total superior a R$ 13,4 milhões. O conluio teve efeitos comprovados pelo órgão antitruste em projetos da Petrobras. A decisão foi unânime. "O cartel causou danos à concorrência no Brasil, sendo que o principal alvo no País era a Petrobras", afirmou o relator Márcio de Oliveira Júnior.

O Cade comprovou benefícios do cartel em licitações da estatal à Flexomarine S.A. (renomeada como Pagé Oil & Marine Products Ltda.), Pagé Indústria de Artefatos de Borracha Ltda e Flexomarine Empreendimentos e Participações Ltda.

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O relator revelou que o cartel atuou no fornecimento de mangueiras empregadas no campo de Marlim Sul da Petrobras na Bacia de Campos (RJ). "Há vários e-mails sobre a coordenação de preços em projetos no Brasil", disse.

O grupo teria começado a operar em 1985, movimentando R$ 79 milhões apenas entre 1999 e 2007, período de cartelização avaliado pelo Cade. O órgão brasileiro antitruste afirmou que a estatal era o alvo prioritário do grupo formado por dez empresas. A Flexomarine/Pagé foi beneficiada diretamente até 2007.

As companhias cartelizadas eram lideradas pela italiana Parker ITR S.r.L e possuíam, de acordo com o conselheiro do Cade, uma série de "mecanismos de punição para empresas que não participassem". Participavam também do conluio internacional as empresas The Yokohama Rubber, Sumitomo Rubber Industries, Trelleborg Industrie SAS, Manuli Rubber Industries SpA, Dunlop Oil and Marine, Bridgestone Corporation. "Há fartas provas dos efeitos do cartel no mercado brasileiro", disse o conselheiro.

As empresas fixavam preços em âmbito mundial, dividiam o mercado global entre si (incluindo uma divisão de clientes e volumes de mangueiras que cada companhia podia vender). As companhias teriam, inclusive, contratado uma consultoria para administrar o cartel. "A Petrobras foi reiteradas vezes alvo do cartel", destacou Oliveira Júnior.

Em 2011, a Dunlop confessou participação no cartel e pagou mais R$ 16 milhões após firmar um Termo de Compromisso de Cessação de Prática (TCC) com o Cade. Bridgestone, Manuli Rubber e Trelleborg também aceitaram a TCC e pagaram, respectivamente, R$ 1,6 milhão, R$ 2,1 milhões e R$ 4,4 milhões em multas.

Reserva de mercado

Na decisão desta quarta-feira, 25, o Cade multou em mais de R$ 13,44 milhões o grupo de empresas formado pela Pagé e a Flexomarine. O grupo também fica proibido de contratar empréstimo em banco público e participar de licitação por cinco anos.

Oliveira Júnior disse que a Pagé se beneficiava com fixação de "preços previamente negociados" com suas parceiras como compensação por não disputar mercado em outros países. "Havia preocupação do cartel de que mantivesse ocupada no Brasil a fábrica da Flexomarine, desestimulando que ela fosse ao mercado internacional", observou.

O tribunal arquivou os demais processos contra empresas devido cooperação na investigação, acordos de leniências e prescrições de envolvimento. O conselheiro do tribunal de defesa da concorrência disse que não foi possível "comprovar ou negar" a participação da Goodyear no cartel e decidiu pelo arquivamento da acusação.

Por maioria, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu arquivar o inquérito que investigava eventual participação do deputado Rodrigo Garcia (DEM-SP) e do ex-deputado federal José Aníbal no cartel metroferroviário, que teria operado em São Paulo.

Os ministros retomaram o julgamento nesta terça-feira, 10, com voto decisivo do ministro Luiz Fux. Ele seguiu o entendimento do relator, ministro Marco Aurélio Mello, e do ministro Dias Toffoli, que votaram pelo trancamento das investigações.

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Fux entendeu que já se esgotaram todas as diligências que poderiam ser realizadas neste inquérito, sem que se tenham sido encontrados indícios da necessidade de continuar a investigação.

O ministro ressaltou, contudo, que, na existência de novos elementos, o Ministério Público pode provocar a realização de um novo inquérito.

Dois ministros ficaram vencidos: Luís Roberto Barroso e Rosa Weber. Em novembro, Barroso votou no sentido de que não se pode assegurar completa ausência de indícios que relacionem os parlamentares ao caso. O ministro defendeu, na ocasião, que se estabelecesse uma cooperação internacional para prosseguir nas investigações, conforme o pedido do Ministério Público. Por maioria, contudo, os ministros decidiram arquivar a investigação.

A investigação tramitava no Supremo em razão do foro privilegiado de Garcia e Aníbal. Outras investigações envolvendo empresários e agentes sem foro especial ficaram a cargo da Polícia Federal em São Paulo.

Garcia foi secretário de Desenvolvimento Econômico do governo Geraldo Alckmin e Aníbal foi secretário de energia. Os dois estavam sendo investigados por terem sido citados como supostos beneficiários de propinas do cartel por Everton Reinheimer, ex-diretor da multinacional alemã Siemens e delator do esquema.

As empresas dos grupos econômicos com os quais a Petrobrás suspendeu negócios temporariamente por terem sido citadas como integrantes do cartel investigado na operação Lava Jato, da Polícia Federal, têm papéis no valor de R$ 7,65 bilhões em poder do mercado doméstico. É o que mostra levantamento da consultoria Economática, elaborado a pedido do Estado.

A pesquisa levou em conta as posições de carteiras de fundos, segundo informado por seus gestores à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A base foi a lista de 23 fornecedores divulgada pela Petrobrás em 30 de dezembro.

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Os números mostram que quase metade desses papéis, ou R$ 3,7 bilhões, está em poder da Caixa. O restante está pulverizado em outras 35 instituições financeiras de portes variados.

O Estado apurou que a Caixa não tem preocupação em relação a essa exposição porque, segundo uma fonte do banco, a maior parte refere-se a financiamentos cuja garantia é o próprio empreendimento, o chamado "project finance". Essas operações são diferentes do "corporate finance", que é o empréstimo direto às empresas. Os financiamentos, segundo a fonte, foram concedidos em consórcio com outros bancos, como BNDES e Banco do Brasil. Ou seja, o risco não é apenas da Caixa, que emite as debêntures (papéis de dívida privada).

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, encomendou um mapeamento dos volumes e prazos de vencimento dos papéis das empresas investigadas, como informou ontem (16) o Estado. Depois que a OAS, uma das investigadas na Lava Jato, deixou de honrar pagamentos de juros de alguns de seus títulos, surgiu o temor com a descoberta de outros casos semelhantes.

Ratings

O único caso de falta de pagamento até o momento foi o da OAS. Mas outras investigadas tiveram suas notas de crédito rebaixadas pelas agências de classificação de risco. É o caso da Mendes Júnior, Queiroz Galvão, Galvão Participações e Galvão Engenharia, além da própria OAS.

As captações em bônus e ações das empresas são uma parte menor do que essas companhias devem na praça. A maior parte da dívida está em bancos. Uma estimativa que circula no governo dá conta de um endividamento total próximo de R$ 130 bilhões - poderia chegar a R$ 400 bilhões quando consideradas as operações no mercado externo. É um valor elevado, cuja eventual contaminação o governo quer evitar.

Fontes de mercado informam que as investigações da Lava Jato afetaram as empresas de forma heterogênea. Enquanto a OAS amargou uma desvalorização em que cada R$ 100 passaram a valer cerca de R$ 15, outras empresas tiveram quedas mais amenas - caíram de R$ 100 para R$ 85, por exemplo. Isso é considerado razoável num quadro como o atual. Porém, é um indicativo de dificuldade de crédito.

Por outro lado, as subsidiárias dessas companhias no exterior ainda não enfrentam problemas para captar recursos. Assim, essa poderia ser uma alternativa para fortalecer o caixa dessas companhias.

No Brasil, é grande a preocupação com os desdobramentos da Lava Jato. O drama mais imediato é com o balanço do terceiro trimestre de 2014 da Petrobrás, ainda não divulgado - deve ser analisado pelo conselho de administração no dia 27.

A estatal corre o risco de ser declarada inadimplente se não divulgar os dados até o fim de janeiro. É o chamado "default técnico", que pode acarretar punições como o vencimento antecipado de dívidas. Na avaliação de uma fonte do mercado, isso agravaria a crise de crédito. (Murilo Rodrigues Alves, Lu Aiko Otta e Adriana Fernandes) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Parte das empreiteiras investigadas sob suspeita de integrar o cartel da Petrobrás iniciou operação nos bastidores a fim de que as punições do escândalo não se restrinjam a seus executivos, a operadores e a ex-diretores da estatal. O objetivo é tentar deixar claro que houve protagonismo de políticos ligados ao governo e que a direção da Petrobrás teve participação ativa na formação do conluio entre as empresas.

A preocupação dos empreiteiros - externada em conversas reservadas - está no fato de a operação Lava Jato estar dividida em duas instâncias judiciais. A parte que trata de executivos, operadores e ex-diretores da Petrobrás está sob a guarda da primeira instância, mais precisamente sob condução de Sérgio Moro, magistrado considerado linha-dura que atua na Justiça Federal no Paraná. Já a outra parte da investigação - a que apura a participação de políticos -, está sob a guarda do Supremo Tribunal Federal. Isso porque parte dos citados é parlamentar e tem, portanto, foro privilegiado.

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A fórmula, mesmo legal, criou dois pesos e duas medidas, na visão das construtoras - elas já tentaram juntar as investigações a partir de um recurso no Supremo, mas os ministros da Corte entenderam que o caso deve mesmo ficar desmembrado: parte no Paraná e parte em Brasília.

‘Crucificado’

Um empreiteiro ouvido pelo Estado afirma que não é "santo", mas que não está certo ser "crucificado" sozinho. Ele cita a delação premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás. Costa afirmou que o esquema previa a cobrança de 3% de propina para partidos políticos nos contratos das empresas com a estatal. Os depoimentos de delação premiada do ex-diretor, assim como os do doleiro Alberto Youssef - outro que cita pagamentos a políticos -, são sigilosos e estão sob a guarda do Supremo, que promete abrir os inquéritos envolvendo os políticos em fevereiro. Os processos envolvendo os empreiteiros tocados pela Justiça Federal do Paraná não estão sob sigilo.

Essas duas questões - ritmo da investigação e sua publicidade - são a base das queixas reservadas dos empreiteiros. Eles questionam o fato de a maioria dos presos da Lava Jato, atualmente, ser formada por executivos das empresas que atuam em contratos da Petrobrás.

A permanência na cadeia virou um "suplício", não apenas para os presos e seus familiares, mas para todos que atuam no setor de construção, segundo classificou outro empreiteiro ouvido pelo Estado. Esse empresário chega a comparar as prisões às "torturas dos anos 70", ressaltando que as prisões são "tortura psicológica", mas não deixam de ser "tortura". Ele fala de um "temor generalizado" entre o empresariado, que segundo ele foi transformado numa "facção criminosa, à margem de tudo, uma espécie de PCC da construção".

Dentro da tática de colocar os partidos em posição de protagonismo do escândalo, pelo menos uma das empresas investigadas já preparou uma lista de nomes de políticos que receberam propinas no esquema de corrupção na Petrobrás, conforme mostrou ontem o jornal Folha de S.Paulo.

O Estado já revelou uma lista com 28 nomes de políticos citados pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás em seus depoimentos da delação premiada. Ao todo foram 8 políticos do PMDB, 10 do PP, 8 do PT, 1 do PSB e 1 do PSDB. Os ex-ministros Antonio Palocci, da Fazenda, e Gleisi Hoffmann, ambos ligados ao PT, e Edson Lobão, de Minas Energia, do PMDB, estavam entre os mencionados.

Em sua edição da semana passada, a revista Veja trouxe anotações do empreiteiro Ricardo Pessoa, presidente da UTC, que está preso. Os manuscritos fazem ameaças veladas a políticos. Em documento enviado à Petrobrás e revelado pela Folha de S.Paulo, a UTC afirma que, se houve cartel, a responsabilidade é da estatal. (Alexa Salomão) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Prefeitura de Floresta, em Pernambuco, publicou nota de esclarecimento acerca de operação deflagrada pela Polícia Federal/CGU/CADE, intitulada - “Invictos”. As investigações estão sendo realizadas nos municípios citados pela imprensa, na última quarta-feira (10). As investigações têm como foco apurar denúncias de fraudes cometidas por empresas, que praticavam um esquema criminoso de cartel, surgido a partir de um grupo de licitantes. Confira na íntegra a declaração oficial da prefeitura, a seguir:

"Qualquer distorção dos fatos será mera especulação e atitude de má fé, uma vez que os crimes cometidos e ainda em fase de investigação estão correlacionados aos serviços privados de empreendimentos que atuam no setor de material didático e papelaria. Não há – como tem sido repercutido por parcela da imprensa e interpretado por outros setores ainda não munidos de todas as informações – vínculo algum da Prefeitura de Floresta/PE com o caso.

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O que há é uma operação em andamento e a cooperação de cinco prefeituras, na realidade apontando para o exercício conjunto das instituições públicas em benefício da população. Neste sentido, não incorrem danos ao que tange a esfera pública, ou seja, a Prefeitura de Floresta/PE, além de outras quatro citadas, estão engajadas num esforço mútuo de desvendar e por fim a esta associação criminosa de âmbito privado.

A Prefeitura de Floresta/PE reafirma o seu compromisso com a verdade dos fatos e, portanto, desde o contato inicial realizado pela Polícia Federal na manhã da quarta-feira (10) vem se colocando como parte importante na dissolução deste caso e inteiramente a disposição da Justiça para auxiliar nos trabalhos de investigação."

A Justiça Federal bloqueou R$ 600 milhões das contas de cinco multinacionais e de uma empresa brasileira acusadas de participarem do cartel metroferroviário que teria operado entre 1998 e 2008 em São Paulo - governos Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB.

O embargo alcança ativos depositados exclusivamente em contas que as multinacionais mantêm no Brasil.

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A decisão judicial atende pedido da Polícia Federal que, na semana passada, concluiu o inquérito do cartel e indiciou 33 investigados, entre executivos das multinacionais, lobistas e também o presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), Mário Bandeira, e o diretor de Operações da estatal, José Luiz Lavorente.

A PF indiciou os alvos por corrupção passiva, formação de cartel, corrupção ativa, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e crime licitatório.

O inquérito foi enviado à Justiça Federal no dia 1.º de dezembro. O relatório final foi acompanhado do pedido cautelar para congelamento de valores das empresas. O sequestro pegou as contas da Mitsui, Bombardier, CAF, Siemens e Alstom, além da brasileira T’Trans.

O fundamento do pedido da PF é que as empresas se uniram para a prática de crimes de sua competência.

Uma quadrilha composta por empresários do ramo de livraria e papelaria está sendo desarticulada na manhã desta quarta-feira (10) durante a Operação Invictus, deflagrada pela Polícia Federal em Pernambuco (PF-PE) com o apoio da Controladoria Geral da União (CGU) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). Os alvos são suspeitos de formarem um cartel que, através de ajustes e combinações de preços, fazia as firmas do grupo vencerem licitações em diversos municípios pernambucanos.

Estão sendo cumpridos 15 mandados de busca e apreensão e oito intimações. As buscas e apreensões estão sendo realizadas nos municípios do Recife (sede de empresa e de alguns empresários), Olinda (residência de alguns empresários), Tamandaré, Macaparana, Bonito, Floresta e Tacaratu (buscas nas prefeituras e residências de alguns empresários). Cinco prefeituras estão entre os alvos das buscas, além de quatro empresas e um escritório de contabilidade. 

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De acordo com a PF-PE, as investigações foram iniciadas ainda em 2011, após o recebimento de denúncias. Através de perícias, foram constados sobrepreços em contratos analisados que variam de 5% a 88%. Também há indícios de falsificação de notas fiscais. As principais licitações com envolvimento do cartel estavam relacionadas a programas do Governo Federal das áreas de educação e assistência social.

Até o momento, as investigações não apontam o envolvimento dos gestores das prefeituras inspecionadas, que estão sendo classificados como vítimas, com prejuízo aos cofres públicos girando em torno de R$ 2 milhões. A Justiça Federal proibiu os empresários envolvidos  de firmarem contratos com órgãos públicos, além de terem seus bens sequestrados para a reparação do prejuízo causado. Os suspeitos estão sendo indiciados pelos crimes de formação de cartel, fraude em procedimentos licitatórios, desvio de verbas públicas e associação criminosa. Caso condenados, eles podem pegar penas que somadas ultrapassam os 24 anos de reclusão.

Com informações da assessoria

O Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo confirmou nesta terça feira, 14, o arquivamento da investigação sobre o suposto envolvimento do ex-governador e senador eleito pelo PSDB José Serra com o cartel metroferroviário.

A decisão do colegiado, por 5 votos a 3, homologa manifestação da Procuradoria-Geral de Justiça, de 13 de junho de 2014, que não viu participação do tucano em conluio para que a CAF espanhola fosse vencedora de concorrência da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) destinada à compra e reforma de trens no âmbito do Projeto Boa Viagem.

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O Conselho é formado por 11 integrantes, sob presidência do chefe da instituição, o procurador-geral de Justiça, Márcio Fernando Elias Rosa.

Cabe ao Conselho referendar ou não arquivamento de inquérito civil - instrumento por meio do qual a Promotoria investiga improbidade e corrupção na administração pública.

Votaram pelo arquivamento do caso Serra os conselheiros Motauri Ciochetti de Souza, Mário Luiz Sarrubbo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, Martha de Toledo Machado e Álvaro Augusto Fonseca de Arruda. Votaram contra o arquivamento o relator, Sérgio Neves Coelho, José Oswaldo Molineiro e Pedro de Jesus Juliotti.

O procurador-geral não votou porque foi dele a promoção de arquivamento da investigação, submetida ao crivo do Conselho Superior. O corregedor-geral do Ministério Público, Nélson Gonzaga de Oliveira, e o conselheiro Mágino Alves Barbosa se ausentaram.

Em setembro, o relator Sérgio Neves Coelho manifestou-se pela realização de uma diligência junto à Polícia Federal para compartilhamento de provas e depoimentos, inclusive o do próprio ex-governador, cujo relato estava marcado para o dia 7 de outubro, mas foi adiado.

O conselheiro Paulo Sérgio de Oliveira e Costa pediu vista dos autos, na ocasião. Nessa terça feira, 14, Oliveira e Costa apresentou seu voto pelo arquivamento, endossando a medida adotada pelo procurador-geral, Márcio Elias Rosa. A votação teve prosseguimento, culminando com a homologação do arquivamento da investigação.

O caso chegou às mãos do procurador-geral em fevereiro de 2014 a partir de representação da Promotoria de Defesa do Patrimônio apontando "indícios" da participação de Serra no conluio que, segundo a multinacional alemã Siemens, predominou em São Paulo no período entre 1998 e 2008.

Por meio de acordo de leniência firmado em maio de 2013 com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão antitruste do governo federal, a empresa citou cinco grandes projetos da CPTM e do Metrô. Um deles, o Boa Viagem.

A Lei Orgânica do Ministério Público paulista prevê que cabe exclusivamente ao procurador-geral investigar ex-governador e governador nos casos de improbidade.

A Promotoria amparou sua petição ao procurador-geral no depoimento do ex-diretor da Siemens Nelson Branco Marchetti, em novembro de 2013, à Polícia Federal. O executivo é um dos seis lenientes que subscrevem o pacto da Siemens com o Cade. Ele afirmou ter se reunido com o então governador em 2008 em uma feira na Holanda.

Segundo Marchetti, o tucano lhe disse que, caso a Siemens conseguisse na Justiça desclassificar a empresa espanhola CAF em uma licitação de compra de trens da CPTM, o governo iria cancelar a concorrência porque o preço da multinacional alemã era 15% maior. "No edital havia a exigência de um capital social integralizado que a CAF não possuía. Mesmo assim, o então governador (José Serra) e seus secretários fizeram de tudo para defender a CAF", afirmou o executivo.

Para o procurador-geral, no entanto, o relato do ex-diretor da Siemens "longe de levantar suspeita contra o ex-governador, revela, ao contrário, a justa preocupação do chefe do Executivo em relação aos prejuízos que poderiam advir ao Estado caso a proposta vencedora do certame, apresentada pela empresa CAF, fosse desqualificada em virtude de medidas judiciais intentadas pela Siemens".

Elias Rosa alerta que os fatos mencionados pelo executivo ocorreram entre os meses de fevereiro de 2007 e dezembro de 2008, ao passo que os dez contratos relativos ao Projeto Boa Viagem - alvos do inquérito civil 648/08 - foram todos firmados em 2005, "época em que José Serra não era governador de São Paulo". O mandato do tucano iniciou-se em janeiro de 2007 e findou em 2 de abril de 2010.

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) condenou um grupo de proprietários de postos de combustíveis de Bauru interior paulista, por formação de cartel para controle de preços de gasolina. O tribunal administrativo aplicou multa de R$ 6,164 milhões sobre nove empresas e seis pessoas envolvidas no esquema identificado por investigação conduzida pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 2000.

O Cade baseou as multas em 15% do faturamento das empresas envolvidas, após a formação combinada ter sido confirmada em gravações telefônicas realizadas pelo Ministério Público Federal (MPF), que identificou também a atuação do grupo para pressionar postos que não integravam o esquema. A Lei 12.529/2011 permite multas de até 20% do faturamento das empresas envolvidas em cartéis.

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A agência apresentou denúncia ao Cade naquele ano, indicando que 60 postos da cidade do interior paulista atuavam com alinhamento de preços, adotando uma variação de apenas um centavo de real entre os valores de cada posto. O esquema envolveu cerca 70% dos postos de Bauru, distante cerca de 330 quilômetros da capital paulista.

A conselheira-relatora Ana Frazão observou que, em função da cidade da região centro-oeste do Estado de São Paulo ser um polo industrial metal-mecânico, com produção escoada por transporte rodoviário, o cartel contribuiu para "elevar os custo de produção" das empresas do município. "Apesar de não haver elementos para se auferir as vantagens pelo grupo, é certo que ela foram altas", afirmou.

Os ministros Marco Aurélio Mello e Dias Toffoli, da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, votaram nesta terça feira, 23, pelo trancamento do inquérito do cartel metroferroviário que envolve os deputados Rodrigo Garcia (DEM-SP) e José Aníbal (PSDB-SP).

O julgamento do pedido de arquivamento da investigação foi interrompido pelo ministro Luís Barroso, que pediu vista dos autos. O julgamento deve ser retomado após as eleições, no dia 7 de outubro. A Turma tem 5 ministros.

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O inquérito do cartel está no Supremo porque Rodrigo Garcia e José Aníbal, como parlamentares, detêm foro privilegiado perante a Corte máxima. Sob responsabilidade da Polícia Federal em São Paulo está outro inquérito, que cita empresários e agentes públicos sem foro especial. Marco Aurélio e Toffoli acolheram os argumentos do advogado Alexandre de Moraes, que defende Rodrigo Garcia.

Moraes sustenta que a investigação do STF já está encerrada, desde que quatro testemunhas ouvidas a pedido da Procuradoria Geral da República negaram ter ouvido falar em pagamento de propinas para os parlamentares. Os deputados foram citados pelo engenheiro Everton Reinheimer, ex-diretor de Transportes da multinacional alemã Siemens. Ele fez delação premiada.

A Procuradoria havia pedido cooperação internacional para rastreamento de contas em paraísos fiscais, atribuídas a ex-dirigentes do Metrô de São Paulo, mas o ministro Marco Aurélio indeferiu a medida.

O Supremo Tribunal Federal (STF) coloca em pauta na próxima terça feira, 23, pedido de arquivamento do inquérito criminal contra os deputados Rodrigo Garcia (DEM-SP) e José Aníbal (PSDB-SP) por suposto envolvimento com o cartel metroferroviário. O pedido foi apresentado pela defesa dos parlamentares ao ministro Marco Aurélio Mello, relator do caso no STF.

O caso será analisado pela 1.ª Turma do STF, composta de cinco ministros - Marco Aurélio, Dias Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber e Luís Roberto Barroso. "Por uma questão de ordem vou submeter (o pedido) aos integrantes da Turma", disse Marco Aurélio.

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Rodrigo Garcia e José Aníbal, ex-secretários do governo Geraldo Alckmin (PSDB), estão sob investigação do STF porque detêm foro privilegiado perante a Corte. Eles foram citados como supostos beneficiários de propinas do cartel pelo ex-diretor de Transportes da multinacional alemã Siemens, engenheiro Éverton Reinheimer, que fez delação premiada em troca de eventual redução de pena.

Em acordo de leniência firmado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a Siemens denunciou que o cartel obteve contratos milionários do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) entre 1998 e 2008, nos governos Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB.

Em São Paulo, a Polícia Federal investiga a parte do cartel que não cita deputados, mas exclusivamente ex-dirigentes da CPTM e executivos de multinacionais. No Supremo restou apenas a parte do inquérito com menção a Rodrigo Garcia e a José Aníbal.

No curso da investigação, a Procuradoria Geral da República pediu que fossem ouvidas quatro testemunhas citadas por Reinheimer - medida indispensável, na avaliação da Procuradoria, que também pediu cooperação jurídica internacional para rastreamento de contas em países europeus.

O presidente da CPTM, Mário Manuel Bandeira, o ex-secretário estadual de Transportes Jorge Fagali Neto (governo Fleury Filho), o ex-diretor administrativo e financeiro da CPTM (2003-2006) Antonio Kanji Hoshikawa, e o ex-vice prefeito de Mairiporã (SP) Silvio Antonio Ranciaro foram ouvidos pela Polícia Federal, mas negaram ter testemunhado ou recebido informações sobre pagamentos ilícitos para os parlamentares.

O ministro Marco Aurélio pediu à Procuradoria Geral que se manifestasse novamente. A Procuradoria insistiu na cooperação internacional para eventual identificação de contas no exterior.

Para a defesa dos deputados a investigação chegou ao fim porque não existe "nenhuma diligência pendente". A defesa alega que a Procuradoria não recorreu do indeferimento da cooperação internacional e pediu ao ministro relator que conceda habeas corpus de ofício para trancamento do inquérito por ausência de justa causa. Marco Aurélio Mello decidiu levar o caso para a 1.ª Turma de ministros do Supremo.

A Promotoria do Patrimônio do Ministério Público Estadual (MPE) instaurou um inquérito civil nesta sexta-feira para investigar a formação de cartel entre as empresas que participaram de um pregão eletrônico da Secretaria Municipal de Educação para a limpeza e conservação de escolas e CEUs. O processo de tomada de preços foi cancelado após o jornal O Estado de S. Paulo revelar que teve acesso ao resultado do pregão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Ministério Público Estadual denunciou à Justiça mais quatro acusados por suposta ligação com o cartel metroferroviário. São quatro executivos da espanhola CAF. A promotoria os acusa formalmente - em aditamento a uma denúncia já apresentada em março à Justiça -, por conluio e fraudes a licitação da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) para reforma de carros.

Agora são 34 os executivos de multinacionais acusados judicialmente por formação de cartel em contratos do Metrô e da CPTM, estatais do governo paulista, no período entre 1998 e 2008 - governos Geraldo Alckmin, José Serra e Mário Covas, todos do PSDB. E-mails capturados pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) - órgão antitruste do governo federal - foram encaminhados ao Ministério Público Estadual e dão suporte à acusação contra os quatro executivos da CAF. "São mensagens comprometedoras, contundentes", avalia o promotor de Justiça Marcelo Mendroni, do Grupo Especial de Delitos Econômicos (Gedec), braço da promotoria que combate cartéis. O contrato que coloca sob suspeita os quatro executivos da CAF é o da reforma de trens das séries 2000, 2100 e 3000 da CPTM.

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A Promotoria já havia denunciado 10 executivos por cartel nesse projeto, sendo dois da Alstom, dois da Daimler Chrysler Rail Systems (Brasil) Ltda/Bombardier, 2 da Temoinsa, um da Mitsui, um da T’Trans, um da Tejofran, e um da própria CAF. Os novos personagens foram identificados a partir dos documentos recolhidos pelo Cade. "Essas pessoas, segundo as provas fornecidas pelo Cade, participaram do cartel e das fraudes em licitações", destaca Mendroni. Nos e-mails copiados dos computadores internos da CAF foram identificados organogramas e manuscritos. "Falavam das formas de praticar cartel e previsões sobre como ficaria o contrato, tudo antes da própria licitação", assinala o promotor.

Esses documentos foram apreendidos em junho de 2013, durante buscas realizadas em 18 empresas citadas no acordo de leniência firmado pelo Conselho com a Siemens, multinacional alemã que revelou a ação do cartel no Distrito Federal e em São Paulo. Em março, o promotor Marcelo Mendroni levou à Justiça cinco denúncias criminais contra cinco cartéis. Uma delas foi distribuída para a 28ª Vara Criminal da Capital. A essa denúncia agora foi incluído aditamento para acusação de mais quatro executivos, todos da CAF.

Mendroni revelou que a documentação enviada pelo Cade contém "novas evidências", como troca de e-mails que envolvem os quatro executivos da CAF no conluio das multinacionais. Um deles é espanhol e não foi localizado pela Promotoria. Os outros três, intimados, compareceram à audiência, mas optaram pelo silêncio.

Tese

O promotor sustenta que os novos denunciados, juntamente com os outros 10 acusados no âmbito do Projeto CPTM para reforma dos trens das séries 2000, 2100 e 3000, "realizaram acordos, convênios, ajustes e alianças, como ofertantes, mediante fixação artificial de preços para fornecimento e instalação de sistemas para transporte sobre trilhos".

Os contratos tiveram período de vigência de 2001 a 2013 (Série 2000), de 2008 a 2013 (Série 2100) e de 2002 a 2012 (Série 3000). A manutenção de trens foi solicitada pela Diretoria de Operação da CPTM, por meio do relatório 0060/99, pelo valor orçado de R$ 89 milhões, base no mês de dezembro daquele ano. Pela CPTM assinou o contrato o engenheiro João Roberto Zaniboni, então diretor da estatal. Em outubro de 2013 a Polícia Federal o enquadrou criminalmente por corrupção passiva, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. A PF suspeita que ele recebeu propinas do cartel.

O Ministério Público do Estado descobriu US$ 826 mil em uma conta de Zaniboni na Suíça. A CAF não retornou contatos da reportagem. O criminalista Luiz Fernando Pacheco, que defende Zaniboni, disse que o ex-diretor da CPTM não praticou atos ilícitos e não mantém mais recursos depositados na Suíça. A Siemens destaca que fechou acordo de leniência com o Cade e colabora com as investigações.

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou à Polícia Federal que tome os depoimentos dos delatores do cartel metroferroviário de São Paulo, Everton Reinheimer e Jean Malte Orthman, ex-executivos da multinacional alemã Siemens. O ministro determinou que a partir de agora constem como "investigados apenas aqueles que têm a prerrogativa de serem julgados pelo Supremo, vale dizer, os deputados federais José Aníbal Peres de Pontes e Rodrigo Garcia".

Mas o ministro fez uma advertência. "Vê-se que nas declarações (de um dos delatores) há indícios do envolvimento dos requerentes Rodrigo Garcia e José Aníbal. É cedo, muito cedo, para chegar-se a conclusão a respeito da participação, ou não, dos citados parlamentares. Por ora, é suficiente ao aprofundamento das investigações o que declarado pelo colaborador "X". Nos autos da investigação sobre o cartel, Reinheimer é identificado como testemunha X. Orthman é testemunha Y.

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O primeiro citou, em relato anterior à PF, nomes de parlamentares que teriam algum envolvimento no conluio formado por multinacionais para vencer contratos milionários da CPTM e do Metrô nos governos Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB.

Entre os citados estão os deputados Rodrigo Garcia (DEM-SP) e José Aníbal (PSDB-SP). No dia 31 de março, o procurador geral da República, Rodrigo Janot, requereu investigações sobre os dois parlamentares. Garcia foi secretário de Desenvolvimento Econômico do governo Geraldo Alckmin (PSDB) até abril, quando se afastou para disputar a reeleição.

Aníbal era secretário de Energia e também se licenciou.

O ministro Marco Aurélio destacou, em sua decisão, que o "Colaborador Y" nada revelou acerca de possível envolvimento dos citados deputados. "Aludiu, é certo, ao que seria a comissão, mas não explicitou a quem eram feitos os repasses. O mesmo não ocorreu consideradas as informações do colaborador X. Em várias passagens do que rotulado como termo de declarações, reportou-se aos deputados. A princípio, sem especificá-los. Após, veio a fazê-lo. Ressaltou, inicialmente, que não poderia precisar se o termo cliente abrangia só funcionários do metrô ou políticos ou outros funcionários públicos, para, na sequência, em novas declarações - termo de reinquirição -, consignar: "informa que acredita que eram eles Rodrigo Garcia, José Aníbal."

Reunião

Segundo o ministro, o delator "afirmou, a seguir, que agendou reunião com Rodrigo Garcia, à época deputado estadual e presidente da Comissão de Transportes da Assembleia Legislativa de São Paulo. Disse que com ele falou algumas vezes sobre o pagamento de comissões, rotuladas como propina, em relação aos projetos seguintes ao da Linha 5 do metrô de São Paulo. Rodrigo Garcia teria indagado quanto estava sendo pago pela empresa a título de propina nesses projetos, havendo o colaborador respondido que a empresa repassava 5% sobre o valor do contrato. Então, asseverou: "Deduziu que Rodrigo Garcia, por lógica, também recebia valores oriundos da propina paga pela empresa."

Quanto a José Aníbal, o delator esclareceu que, após a saída de Rodrigo Garcia da presidência da Comissão, "Mário Bandeira, então presidente da CPTM, avisara que passaria a tratar com José Aníbal, deputado estadual que ficara responsável pelos contatos políticos, e ‘com os pagamentos de propinas pela empresa, em substituição a Rodrigo Garcia’. É certo revelou que José Aníbal nunca o atendeu, elucidando que sempre o mandava procurar Silvio Ranciaro, consignando que seria a pessoa a assessorar José Aníbal informalmente em relação ao pagamento de propinas nos projetos."

O ministro rechaçou pedido do procurador geral da República para rastreamento de contas em paraísos fiscais, suposto destino de valores de propinas do cartel metroferroviário. "No tocante à autorização ao Ministério Público para que atue diretamente junto ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), o pedido não merece agasalho. A razão é muito simples: diligências devem ser requeridas nos autos do inquérito, passando assim pelo crivo do próprio Supremo. O que alcançado há de ser juntado para efeito de documentação", decidiu Marco Aurélio.

Defesa

O advogado Alexandre de Moraes, que defende o deputado Rodrigo Garcia (DEM-SP), declarou que o STF autorizou a continuidade das investigações, "tão somente para que haja os esclarecimentos sobre as declarações de um único delator". Alexandre de Moraes anotou que o deputado Rodrigo Garcia está à disposição do Supremo até para uma acareação com o delator do cartel, Everton Reinheimer. O advogado aplaudiu a decisão do ministro Marco Aurélio Mello de não autorizar investigação bancária em paraísos fiscais, medida que arrastaria o caso por dois anos, pelo menos.

O PSDB paulista emitiu nota de apoio a José Aníbal e classificou as acusações contra o tucano como "levianas e eleitoreiras". "O Diretório Estadual do PSDB-SP reafirma sua total confiança no deputado federal José Aníbal com relação às acusações, levianas e eleitoreiras", diz a nota assinada pelo presidente estadual do partido, deputado Duarte Nogueira.

O presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) Mário Bandeira declarou, por sua assessoria, que vai depor como testemunha "com satisfação para esclarecer eventuais dúvidas". Ele destacou que já abriu espontaneamente seu sigilo bancário e fiscal e o de sua mulher também. O ministro Marco Aurélio mandou a Polícia Federal tomar os depoimentos dos dois delatores do cartel e de outras quatro pessoas citadas, entre elas Mário Bandeira. O presidente da CPTM disse que é o "maior interessado em resolver tudo".

A Votorantim Cimentos, que recebeu a maior multa do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), no valor de R$ 1,565 bilhão, na condenação por formação de cartel, publicou nesta sexta-feira, 30, comunicado no qual afirma que as sanções impostas na quarta-feira são "indevidas e sem precedentes". "Se mantida, a decisão terá o principal efeito de gerar insegurança para investimentos no próprio setor de cimento e nos setores de infraestrutura e construção civil do País", diz a companhia.

A empresa reafirma, no comunicado, que a decisão é "injustificada, sem suporte nos fatos e sem base legal" e que recorrerá da sentença. A empresa nega qualquer prática anticoncorrencial, "bem como mantém programas de conformidade coma defesa da concorrência em todos os países onde atua".

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"Por sua convicção de que a decisão do Cade é infundada, a Votorantim Cimentos mantém o maior plano de investimento da sua história, iniciado em 2007, totalizando R$ 11 bilhões até 2016", disse a companhia.

Além da Votorantim Cimentos, o Cade também condenou as empresas Holcim do Brasil, Intercement (antiga Camargo Corrêa Cimentos), Cimpor Cimentos do Brasil, Itabira Agro Industrial, e Companhia de Cimento Itambé. As empresas recebem uma multa global de R$ 3,113 bilhões. O Cade também condenou as companhias a venderem 20% da sua capacidade de produção instalada em concreto.

A Votorantim, apontada como líder do cartel, coordenado por seus executivos, será a única obrigada a vender ativos em cimento utilizados para instrumentalizar o cartel. E, assim como as demais empresas, a Votorantim está proibida de abrir fábricas de escória e cimento nos próximos cinco anos; deve vender ativos minoritários em cimenteiras, concreteiras e em escória; fica proibida de tomar empréstimos até a venda desses ativos; está desautorizada a parcelar impostos e tributos federais. As empresas também ficam privadas de tomar empréstimo de agentes financeiros controlados pelo Poder Público, como o BNDES. Elas também ficam proibidas de fazer qualquer concentração de mercado por cinco anos.

Snic

O Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic) também publicou hoje anúncio no qual afirma lamentar ter sido condenado pelo Cade "por interpretações equivocadas de sua atuação, razão pela qual irá recorrer da decisão, embora reafirme sua crença na importância do papel exercido por esse órgão na defesa da concorrência no País".

O Cade condenou a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (Abesc) e o Snic a pagarem R$ 4,256 milhões em multas no caso do cartel do cimento.

"Como entidade representativa da indústria, o Snic também ressalta que o mercado nacional de cimento é um dos mais competitivos, eficientes e abertos do mundo", alega a entidade. "O Snic está seguro, portanto, de que sempre autuou dentro da lei e seguindo práticas internacionais, estimulando a concorrência no já competitivo mercado de cimento brasileiro", acrescenta.

O cartel, segundo o Cade, controlou 90% da indústria cimenteira do País, movimentando 29 milhões de

toneladas em 2005. O órgão também aplicou multas a executivos envolvidos no cartel.

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