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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Roberto Barroso avalia que um dos obstáculos ao enfrentamento da corrupção no Brasil é que parte do pensamento conservador no País considera que corrupção ruim é a dos outros. "Com isso, perpetuam no poder elites extrativistas que canalizam para si a renda", disse ao participar do evento "Estadão Discute Corrupção", realizado na sede do jornal O Estado de S.Paulo em parceria com o Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP) e a editora Companhia das Letras para discutir as operações Lava Jato e Mãos Limpas.

Barroso citou que entre os obstáculos para o combate à corrupção está no fato de que parte do pensamento progressista ainda achar que corrupção é um "pé de página e que os fins justificam os meios". "A corrupção desvia os recursos para o lado errado", disse ele. Barroso ressaltou que o "garantismo à brasileira" favorece a impunidade.

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O ministro começou sua apresentação ressaltando que entre as causas da corrupção disseminada no Brasil está o sistema político conivente com essas práticas irregulares e a cultura da impunidade até o passado recente. "Eram esquemas profissionais de arrecadação e distribuição de dinheiro", disse ele, ressaltando que estas práticas estavam entranhadas nas instituições da república.

Parte da classe política, da classe empresarial e da burocracia estatal fizeram um pacto de "saque do dinheiro público", disse o ministro. "Essas pessoas se consideravam sócios do Brasil e cobravam participação em todos os contratos públicos relevantes", afirmou em sua apresentação.

Mudanças

"O que mudou no Brasil dos últimos anos foi uma imensa reação da sociedade", afirmou Barroso, ressaltando que houve mudanças de atitudes, que começaram durante o escândalo do mensalão. Segundo ele, ocorreu também mudança da legislação e da jurisprudência. "Houve processo histórico empurrado pela sociedade de transformação das instituições."

O problema do Judiciário no Brasil não é independência, disse o ministro, é eficiência e celeridade. Ele destacou que o Judiciário brasileiro é de fato independente e afirmou que a Operação Lava Jato não deve seguir os mesmos caminhos da operação Mãos Limpas na Itália.

Ainda em sua apresentação, Barroso defendeu o investimento à educação como forma de aumentar a produtividade do brasileiro. O ministro também afirmou que o modelo de fechamento da economia impediu que as empresas se tornassem competitivas.

No Recife, nesta segunda-feira (27), o procurador do Ministério Público Federal Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato também afirmou que a Operação Lava Jato é aprovada por 90% dos brasileiros. A declaração aconteceu, durante coletiva de imprensa, ao ser questionado como convencer os petistas e aliados de Lula de que o Ministério Público Federal (MPF) não é seletivo. 

“Nós vemos que mais de 90% da sociedade brasileira manifestou já apoio à Lava Jato e querem que a Lava Jato vá até o final. A Lava Jato está fazendo a parte dela, nós estamos fazendo o nosso melhor, mas sozinhos nós não vamos conseguir. Nós precisamos que o eleitor brasileiro faça sua parte e selecione candidatos que tenham passado limpos e mais ainda que tenham compromisso com a agenda anticorrupção”, respondeu. 

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Ao ser perguntado o motivo de nenhum dos caciques tucanos terem sido presos, Dallagnol repetiu. “O que eu vejo é que mais de 90% das pessoas declaram apoio à Lava Jato e querem que ela vá até as últimas consequências, isso segundo pesquisas recentes”. 

Também falou que o Supremo Tribunal Federal (STF) também passou a “fatear” a Lava Jato ressaltando que várias investigações contra pessoas, por exemplo, do PSDB estão tramitando com foro privilegiado. “O caminho mais curto para isso é que essas pessoas não sejam eleitas para que possa perder o foro privilegiada e responder como todos os mortais”, enfatizou. 

Ele salientou que se as pessoas querem uma “postura firme” contra a corrupção, é preciso eleger candidatos que tenham um passado limpo. Para ele, há um problema exposto sem o tratamento adequado. “Esse tratamento deve vir necessariamente do Congresso Nacional com a aprovação de leis e reformas que fechem as brechas por onde o dinheiro público escorre. Nós temos nas mãos da sociedade a possibilidade de fazer isso acontecer por meio da eleição de pessoas comprometidas com essa reforma anticorrupção que queremos no país”. 

Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

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O chefe da força-tarefa da Lava Jato, o procurador do Ministério Público Federal Deltan Dallagnol, ficou conhecido nacionalmente em 2016 por comandar uma entrevista transmitida pela TV a cabo, no qual colocou o ex-presidente Lula no centro de todos os desvios da Petrobras. Na ocasião, chamou a atenção o procurador utilizar dezenas de slides elaborador pelo Power Point afirmando que o líder petista era “o comandante máximo do esquema de corrupção”. 

Bem diferente de quase dois anos atrás quando fez diversas acusações, nesta segunda-feira (27), no Recife, para participar do Fórum de Combate a Corrupção, que aconteceu na Procuradoria Regional da República, Dallagnol evitou falar o nome de Lula quando foi questionado durante uma coletiva de imprensa se desestimulava um pouco o trabalho o fato de existir um ex-presidente condenado e, ainda assim, estar em primeiro lugar nas pesquisas de intenções de votos para a eleição deste ano. 

 O procurador falou que são duas situações diferentes. “Uma coisa é a questão das eleições. Isso fica a encargo de cada eleitor, outra coisa é a atuação da Justiça. A Justiça identifica fatos e produz provas. Se aquele fato é crime e for comprovado, a pessoa tem que responder a uma pena. E a ideia é que todos devem estar debaixo da mesma lei segundo a nossa Constituição”. 

Sem citar nenhuma vez o nome de Lula, Dalton disse que não importa o “carisma” de uma pessoa. “Nós buscamos o Estado de Direito, o império da lei. Pessoas, não importa qual o seu carisma, devem ser responsabilizadas. Outra coisa é o apreço, o carisma, se a pessoa é um bom ou ruim pai de família, se é bom ou mau governante, essa é uma outra coisa que não cabe à Justiça olhar, cabe sim ao eleitor”, ressaltou. 

Ele também não se mostrou preocupado em relação às críticas quanto a operação Lava Jato salientando que onde quer que avance o trabalho em torno da corrupção, em qualquer parte do mundo, haverá sempre uma reação. “Faz parte da reação a criação de narrativas. Por isso que, nós da Lava Jato, buscamos uma política dentro da transparência com a sociedade e da prestação de contas para botar por terra narrativas e invenções de argumentos que são repetidos à exaustão, mas que são falsos contra a Lava Jato”. 

Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Deltan Dallagnol ainda disse que o tema corrupção está em debate na disputa eleitoral de outubro, mas dentro de uma perspectiva de moralismo. “De falas vazias, cheia de pompas, mas vazias de conteúdo. Muitas pessoas se posicionam contra a corrupção, falam que vão acabar com a corrupção, mas as pessoas não falam propostas concretas, o que ela vai propor e o que ela vai fazer contra a corrupção”. 

O procurador pediu para que a população esteja atenta ao discurso e às atitudes do passado dos candidatos. “Se essas pessoas estão aí desde sempre e nós nos últimos quatro anos tivemos a Lava Jato tivemos uma serie de ataques a operação, como é que essas pessoas se posicionaram quando houve ataque à operação, como essas pessoas se posicionaram contra as 10 medidas contra a corrupção, como elas se posicionaram com relação ao julgamento de pessoas acusadas de corrupção como o ex-deputado Eduardo Cunha. Tudo isso é uma variação que o eleitor deve fazer”.  

Durante sua palestra, Deltan tentou deixar uma mensagem de incentivo que a vitória contra as injustiças não irão acontecer da noite para o dia. “Quando a gente olha lutas de Justiça histórica como escravidão, a discriminação, foram lutas de décadas. Martin Luther King lutando contra a discriminação racial nos Estados Unidos disse que o que preocupava ele não era a o grito dos maus, era a omissão dos bons. Nós podemos ficar o resto das nossas vidas na zona de conforto, sentados em casa ou nós podemos lutar contra as injustiças. Nós precisamos de uma sociedade civil mais forte e um estado mais fraco, não estou falando de tamanho de estado, mas de força”. 

O procurador da República Dalton Dallagnol causou ao afirmar, por meio do seu Twitter, que vai fazer jejum no dia do julgamento do habeas corpus impetrado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcado para acontecer nesta quarta-feira (4). "O cenário não é bom. Estarei em jejum, oração e torcendo pelo país", ressaltou. 

Não foi apenas Dallagnol que utilizou a rede social para fazer uma declaração tão polêmica. O juiz da Lava Jato no Rio de Janeiro Marcelo Bretas também decidiu se pronunciar retuitando a mensagem do procurador. Breta continuou a polêmica destacando que vai acompanhar Deltan Dallagnol na oração. "Caro irmão em Cristo, como cidadão brasileiro e temente a Deus, acompanhá-lo-ei em oração, em favor do nosso país e do nosso povo", escreveu.

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O Supremo Tribunal Federal (STF) decidirá nesta quarta se aceita o pedido de habeas corpus apresentado pela defesa de Lula, condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Caso o recurso seja negado, não há o que impeça uma possível prisão do líder petista. 

O procurador do Ministério Público Federal (MPF) Deltan Dallagnol, da força-tarefa da Lava Jato de Curitiba, disse que partem do Congresso Nacional as maiores ameaças ao trabalho do grupo. O procurador acrescentou que "não será este Congresso que aprovará as medidas contra corrupção". As críticas foram feitas durante um congresso de auditores internos, no Riocentro, na zona oeste do Rio.

"Evitar ataques à Lava Jato e avançar reformas depende essencialmente do Congresso Nacional e nós já percebemos, quando o Congresso há um ano destruiu as dez medidas contra a corrupção e as substituiu por uma medida a favor da corrupção, que esse Congresso não tem o perfil para aprovar medidas anticorrupção. Pesquisadores já mostraram que países altamente corruptos tendem a não aprovar medidas anticorrupção porque grande parte de seus parlamentares está envolvida com esse problema e não cortaria os benefícios dos quais desfruta", disse o procurador após o evento, respondendo a jornalistas.

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Dallagnol disse também que apenas a colaboração da Odebrecht implicou 415 políticos e 26 partidos e que, em razão disso, e de um senso natural de autopreservação, "a tendência é que se reaja contra as investigações". O procurador citou o que aconteceu na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) que, segundo ele, "libertou políticos contra os quais pesam fortes evidencias de corrupção".

"O que aconteceu no Rio de Janeiro tende a ser uma amostra do que pode vir acontecer no País, no Congresso Nacional, se nós não trocarmos os nosso representantes. "Se a maioria desse Congresso não aprovará medidas anticorrupção, a alternativa é colocar pessoas que aprovem. Nisso, 2018 representa um marco. O que temos visto é um grande número de parlamentares que trabalham num sentido oposto ao aprimoramento das instituições, ao fortalecimento da transparência e à melhoria das regras de licitação", declarou.

O procurador defendeu que a discussão sobre como fazer campanhas mais baratas deveria preceder qualquer discussão entre os políticos. "Sem campanhas midiáticas e hollywoodianas, sem filmes que acabam convencendo pessoas de que qualquer cidadão, mesmo com evidências de corrupção, são pessoas que deveriam ser eleitas."

"A Lava Jato não vai ser julgada porque ela prendeu ou condenou. Vai ser julgada pela sua capacidade de catalisar mudanças que diminuam de fato os índices de corrupção no País", avaliou. "No Rio, a corrupção se tornou palpável em termos de sofrimento humano. Quando nós lutamos contra a corrupção, nosso objetivo não é botar pessoas na cadeia, embora seja uma questão de justiça, nosso objetivo é lutar pela preservação dos direitos humanos e fazer com que os serviços públicos sejam mais amplos", acrescentou.

O procurador também citou a Petrobras ao lembrar, na palestra, que um dos delatores teria dito que a empresa "era a moça mais honesta dos cabarés do Brasil". "A Petrobras é apenas uma amostra do que acontece no Brasil, assim como o Rio de Janeiro é apenas uma amostra do que acontece no Brasil. No Rio, a corrupção foi muito visível pelo rombo que ela causou", afirmou.

Dallagnol disparou críticas também ao Supremo Tribunal Federal (STF), dizendo que respeita os entendimentos dos ministros, ainda que eventualmente divergentes, "mas o que não pode acontecer é que existam decisões desiguais para casos idênticos". "Os entendimentos não podem variar conforme o nome que consta na capa do processo. Nós vimos acontecer algo nesse sentido quando houve a libertação de José Dirceu, na época não tive resignação em relação ao entendimento dos ministros, mas em relação ao fato de que em situações similares ou menos graves três dos ministros tinham mantido a prisão", afirmou.

Procuradores da República envolvidos na Operação Lava Jato se reuniram no Rio de Janeiro para definir estratégias para o próximo ano. Em coletiva de imprensa após o encontro, o procurador da República Deltan Dallagnol reforçou que "é preciso garantir que não haverá retrocessos" e que a corrupção não volte a tomar conta do meio político e empresarial nas mesmas proporções do período anterior à Operação Lava Jato.

Segundo o procurador, o próximo ano será "o da batalha final" da Lava Jato e que o futuro será "sombrio" se os políticos que ocupam cargos públicos e que estão envolvidos nas denúncias de desvio de dinheiro forem eleitos novamente.

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Dallagnol destacou ainda que mais de 25 milhões de transações financeiras, que envolvem mais de R$ 2 trilhões em negócios, são rastreados pela equipe da Lava Jato. Apesar de todos os esforços, ele afirma que a população não deve ter uma expectativa excessiva sobre o judiciário.

A visão dos procuradores é que "mesmo depois de tantos escândalos tanto o Congresso como os partidos não afastaram os políticos envolvidos nos crimes" e que a Lava Jato "uniu grande parte da classe política contra as investigações e investigadores", como informaram em comunicado divulgado em nome do Ministério Público Federal (MPF).

Segundo os procuradores, atuações de Comissões Parlamentares de Inquéritos e em diversos projetos de lei ameaçam as investigações. O fórum privilegiado garantido a políticos em exercício é um exemplo de desafio enfrentado pelos investigadores, segundo o procurador da República Eduardo Hage.

"É crucial que em 2018 cada eleitor escolha cuidadosamente, dentre os diversos setores de nossa sociedade, apenas deputados e senadores com passado limpo", traz o documento divulgado nesta segunda-feira, 27.

"Apenas a Lava Jato recuperou para os cofres públicos R$ 700 milhões. A maior dificuldade é o sistema de justiça inoperante. Os grandes casos de corrupção demonstram isso. Quando observamos a atuação do STF percebemos falta de resolutividade (incapacidade de resolver). Não pela ação dos juízes, mas pelo sistema", disse Dallagnol.

O procurador da República Deltan Dallagnol afirmou nesta terça-feira, 24, em São Paulo que está na mão da sociedade uma mudança que torne o Brasil um país "com menos corrupção e impunidade". Para isso, entidades civis trabalham em um "pacote anticorrupção" que será usado nas eleições de 2018 como "compromisso" a ser assumido por candidatos ficha limpa.

"Entidades da sociedade civil respeitadas hoje estão planejando uma grande campanha anticorrupção para 2018. Isso envolve a realização de um grande pacote anticorrupção de regras que promovam a integridade no âmbito público e privado", afirmou Dallagnol, durante o Fórum Estadão Mãos Limpas e Lava Jato, realizado na manhã desta terça, na sede do jornal, em São Paulo.

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"A ideia não é realizar uma nova campanha de voto limpo, mas sim usar esse pacote anticorrupção para renovação no Congresso. Para que possamos ter um Congresso plural, que representa as nossas diferenças. Mas que possamos ter como pressuposto da representação dessas nossas diferenças o compromisso com o interesse público, externado por meio de um compromisso com regras anticorrupção. Com mudanças que possam nos trazer um País com menores índices de corrupção e impunidade."

Também participam do encontro o juiz federal Sérgio Moro, figura maior da Operação Lava Jato, e os dois principais nomes da Operação Mãos Limpas, os magistrados Piercamillo Davigo e Gherardo Colombo.

"A ideia é que essas mesmas entidades estejam a frente de uma campanha que possa incentivar a sociedade a votar em pessoas que tenham um passado limpo, que comunguem de valores democrático e tenham compromisso de apoio a esse pacote anticorrupção."

10 Medidas

Dallagnol afirmou que o pacote feito pelas entidades aproveita parte das 10 Medidas Contra a Corrupção, lançadas pelo Ministério Público Federal em 2015 e que reuniu mais de 2 milhões de assinaturas para ser enviado ao Congresso em forma de proposta de lei de iniciativa popular. O pacote foi enterrado pelos parlamentares em 2016.

"Esse pacote aproveita grande parte das 10 Medidas Contra a Corrupção e vai além, promovendo regras que melhoram o compliance, melhoram a transparência, melhoram licitações, sistema eleitoral".

Segundo o procurador, as entidades - ele não divulgou quais grupos estariam envolvidos - analisam mais de 100 propostas anticorrupção. "Estão sendo estudadas por essas instituições mais de 100 propostas anticorrupção que englobam boa parte das 10 Medidas Anticorrupção."

Para Dallagnol, a ideia é usar o novo pacote "como uma alavanca para transformação, para renovação política".

"A mudança está nas mãos da sociedade. Se a maioria do Congresso não aprova o pacote anticorrupção, basta que a sociedade coloque lá quem vai aprovar", diz Dallagnol.

"A estratégia agora não é mais coletar assinaturas, mas escolher senadores e deputados que tenham passado limpo, espírito democrático, e apoiem o combate à corrupção", defendeu o procurador.

"Vejo que as pessoas se preocupam mais com a eleição para Presidência no ano que vem. Eu tenho preocupação maior com cargo de deputado federal e senador. Porque são deles que dependem as leis e a aprovação das reformas. A ideia da sociedade seria colocar no Congresso quem seja favorável às grandes reformas necessárias."

O evento foi uma associação entre o jornal O Estado de S. Paulo e o Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP).

O juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, afirmou nesta terça-feira, 24, que faz tudo subordinado à lei, "sem jeitinhos ou caminhos alternativos". "Posso proferir alguma decisão da qual as pessoas divirjam, mas minha interpretação está ali. Nunca torço meu entendimento para chegar a alguma outra verdade", afirmou durante debate no Fórum Estadão Operação Mãos Limpas & Lava Jato, realizado na capital paulista.

"Nós temos aí nossas liberdades, e as liberdades dentro do processo penal são importantes", disse o juiz, ressaltando que as pessoas divergem sobre a aplicação da lei, às vezes de forma importante, "mas não há caminhos fora da lei".

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Também no debate, o procurador da República, Deltan Dallagnol, coordenador da Força-Tarefa da Lava Jato, afirmou que a mecânica do dinheiro funciona como fluidos, "e tendem a escapar para áreas de menor pressão". "Eles vão buscar outros mecanismos de lavagem de dinheiro alternativos. Embora alguns tenham sido presos, muitos operadores ainda estão soltos", disse ele.

Moro, durante o debate, também comentou sobre a discussão da prisão em segunda instância, que voltou ao Supremo depois de, no ano passado, a corte a ter aprovado. "O Supremo teve sensibilidade de ver que Justiça sem fim é Justiça nenhuma", disse, esperando que esse entendimento seja mantido.

Questionado sobre as razões de os brasileiros terem parado de protestar contra a corrupção, Moro brincou dizendo que é um juiz e "não um motivador de multidões". Mas que a Lava Jato se insere em ciclo positivo de redução da impunidade no Brasil é há "infinitas razões" para se ter esperanças no País. "As pessoas precisam ser menos consumidoras e mais cidadãs em suas reivindicações."

JBS

O juiz federal afirmou também que não conhece o caso da delação da JBS, senão pela mídia, mas disse que as eventuais críticas sobre o instrumento de colaboração premiada devem ser feitas para aprimorá-lo, não para eliminá-lo.

Segundo ele, há a impressão da sociedade de que há uma leniência excessiva. "Eu acredito que, tanto quanto possível, o Ministério Público (MP) deve ser mais duro. O problema é que muitas vezes se trabalha num contexto de impunidade, no qual é muito mais difícil fazer esses acordos", disse Moro. E completou: "Quem fica preso 10 anos no Brasil? Ninguém." Ele afirmou que o MP tem evoluído sobre a colaboração premiada ao longo do tempo.

Moro também afirmou que é falso dizer que a Lava Jato se baseia somente em acordos de colaboração. Ele sustentou que há sempre uma investigação e eventual confirmação posterior dos depoimentos.

Dallagnol também disse que não conhece detalhes do acordo de delação da JBS, mas considera ser fácil criticar de fora. "Quando olho a mesa de negociação com a JBS, vejo que os empresários estavam muito confortáveis. Não tinham buscas e apreensões contra eles, eram investigados mas não estavam indiciados, não tinham pressa e colocaram seu preço na negociação, que era a imunidade", afirmou Dallagnol

O procurador afirmou ainda que alguns aspectos do acordo de leniência da JBS possuem algumas falhas. "Basta você comparar o tempo de negociação dessa delação da JBS e o tempo de negociação da delação da Odebrecht", disse Dallagnol, ressaltando que foram meses de negociações e várias reuniões.

A caminho do quinto ano de Lava Jato, não se pode afirmar que o quadro de impunidade nos crimes de corrupção no Brasil permanece inalterado. É o que acreditam duas figuras emblemáticas das investigações que abalaram o mundo político brasileiro, o juiz federal Sérgio Moro e o procurador da República Deltan Dallagnol.

Para eles, o sucesso da operação dependerá de como será a reação da sociedade daqui para frente. Moro e Dallagnol estarão no Fórum Estadão Mãos Limpas e Lava Jato para falar sobre as investigações de combate à corrupção, da Itália e do Brasil, junto com os magistrados Piercamillo Davigo e Gherardo Colombo, que trabalharam na força-tarefa de procuradores de Milão criada 25 anos atrás.

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O evento é uma associação entre o Estado e o Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP) e vai ocorrer nesta terça-feira, 24. O painel, reservado para convidados, será mediado pela jornalista Eliane Cantanhêde, colunista do Estado, e pela economista Maria Cristina Pinotti, do CDPP. Terá ainda a participação do diretor de Jornalismo do jornal O Estado de S. Paulo, João Caminoto, e do economista Affonso Celso Pastore, do CDPP.

"Apesar da permanente sombra do retrocesso, não se pode afirmar que não houve mudanças no quadro de impunidade para esses crimes", diz Moro, ao pôr Lava Jato e mensalão como partes de um ciclo de combate à impunidade de "poderosos".

Coordenador da força-tarefa em Curitiba, que iniciou a Lava Jato em 2014, Dallagnol entende que a "virtude" das duas operações "foi um amplo diagnóstico da podridão do sistema político". "Contudo, a virtude da Lava Jato é também sua maldição, pois o sistema político concentra o maior poder da República, no Congresso, e sua reação pode enterrar as investigações, como na Itália."

Para juiz e procurador, é a sociedade que vai ditar se a operação brasileira vai se aproximar da Mãos Limpas em seu final - na Itália, houve alto índice de impunidade, após a reação política e o desinteresse popular.

"Se houver uma contínua pressão da opinião pública, imagina-se que até nossas lideranças políticas emperradas terão que adotar uma postura reformista", diz Moro.

"O Congresso pode colocar toda a operação abaixo numa madrugada. Basta a aprovação de um projeto de anistia. Por isso, os resultados da Lava Jato dependem primordialmente de como a sociedade vai reagir", afirma o procurador.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, criticou, nesta sexta-feira (21), a declaração do presidente Michel Temer, na noite anterior, em viagem à Argentina, em que o peemedebista disse que "a população vai entender o aumento de impostos". Para o procurador da República, "é claro que os brasileiros vão compreender o aumento de impostos", já que "desviam R$ 200 bilhões por ano praticando corrupção".

Na quinta-feira (20), ao chegar em Mendoza, na Argentina, o presidente afirmou que a decisão anunciada pelo governo de anunciar aumento de PIS e Cofins para gasolina, diesel e etanol está em linha com a responsabilidade fiscal e será bem compreendida pela população.

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"Vocês lembram que nós abandonamos logo no começo do governo a CPMF, algo que estava no horizonte de todos quando assumimos (…) mas agora levamos a efeito um pequeno aumento que diz respeito apenas ao combustível e não diz respeito ao serviço", afirmou. "A população vai compreender porque esse é um governo que não mente", completou, ressaltando que é preciso dizer "exatamente o que está acontecendo".

Em resposta a Temer, em suas redes sociais, Dallagnol atribuiu o aumento de impostos à irresponsabilidade fiscal e à corrupção. "Desviam 200 bilhões (de reais) por ano praticando corrupção; deixam de aprovar no Congresso medidas anticorrupção; gastam mais do que devem, inclusive via emendas milionárias para parlamentares a fim de comprar o apoio parlamentar para livrar Temer da acusação legítima por corrupção; e agora querem colocar a conta disso tudo no nosso bolso, aumentando impostos."

O procurador da República ainda disse ser necessário "recuperar nossa dignidade". "Toda vez que eu for abastecer o carro, que eu pensar na saúde e educação pobres, que eu topar com buracos em estradas e infraestrutura precária que prejudica investimentos, vou lembrar disso tudo. E em 2018 vou mostrar toda a minha compreensão do que está acontecendo e dar minha resposta contra os corruptos, como cidadão, nas urnas."

Com a operação Lava Jato completando três anos, procuradores do Ministério Público Federal (MPF) realizaram um balanço e traçaram perspectivas para o combate à corrupção no País nos próximos anos. O coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, comentou que a operação foi dividida em quatro pilares: "O primeiro pilar são as diferentes fases; o segundo corresponde aos acordos de colaboração; o terceiro se refere às colaborações internacionais; e o quarto é a comunicação social."

Durante a operação, foram realizadas 38 fases, com 748 mandados de busca e apreensão, comentou Dallagnol. "Até o momento, 266 pessoas foram acusadas criminalmente, com 50% delas acusadas criminalmente."

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Mencionando a relevância da operação no combate à corrupção, o coordenador da força-tarefa celebrou o fato de a operação Lava Jato ter repatriado 20 vezes mais recursos que todo o conjunto de outros casos de corrupção no País.

Deltan Dallagnol afirmou que ainda não consegue avaliar se a Operação é um "ponto fora da curva" no combate à corrupção no País. "Não sabemos se a Lava Jato fez o País sair dos trilhos da corrupção ou se voltaremos a este tipo de prática", comentou. Para ele, a Lava Jato tem grande representatividade e indica uma mudança no entendimento de que o crime compensa. "A operação provocou um rompimento da impunidade dos círculos de poder no Brasil."

Para que a Operação atinja um grau de perenidade e tenha repercussões positivas no futuro, o procurador pediu que o Poder Legislativo também atue para inibir as práticas de corrupção. "É necessário irmos além da Lava Jato. As medidas mais significativas no tocante à corrupção foram promovidas pelo Judiciário", afirmou.

"A sociedade não pode colocar todos os pedidos e expectativas sobre o Judiciário - esse foi o erro da Itália (em referência à Operação Mãos Limpas). É preciso que sociedade, imprensa e Congresso caminhem para reformas", salientou o procurador.

Segundo Dallagnol, uma das mudanças promovidas pelo Judiciário a partir da Lava Jato foi o fim do financiamento empresarial de campanhas. "Outra mudança foi a condenação em segunda instância", lembrou.

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva protocolou ação de reparação por danos morais contra o procurador da República Deltan Martinazzo Dallagnol. Ele quer o pagamento no valor de um milhão de reais pela coletiva de imprensa que foi transmitida em rede nacional no dia 14 de setembro deste ano. 

Os advogados de Lula, Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Martins, afirmaram que a apresentação realizada promoveu "injustificáveis ataques à honra, imagem e reputação de nosso cliente com abuso de autoridade". 

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Eles também ressaltaram que o valor solicitado é justo. "A pretensão indenizatória mostra-se desde logo cabível. Nenhum cidadão pode receber o tratamento que foi dispensado a Lula pelo procurador da República Dallagnol, muito menos antes que haja um julgamento justo e imparcial. O processo penal não autoriza que autoridades exponham a imagem, a honra e a reputação das pessoas acusadas, muito menos em rede nacional e com termos e adjetivações manifestamente ofensivas", argumentaram. 

Durante a coletiva de imprensa citada, Dallagnol chegou a dizer que o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva era o “comandante máximo do esquema de corrupção da Lava Jato”. 

O procurador também disse que ele era o maior beneficiado com o esquema "tornando-se economicamente forte, o bastante para ganhar eleições e beneficiar campanhas de candidatos de legenda".

Para o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, a proposta de anistiar o caixa 2 de campanha é na verdade uma tentativa de se perdoar corrupção e lavagem de dinheiro, inclusive dos crimes que estão sendo investigados pela Lava Jato. "A Lava Jato não investiga crime eleitoral. Eles redigiram essa anistia, que, com giro de linguagem, é uma anistia à corrupção para fins eleitorais e à lavagem de dinheiro para fins eleitorais. É a manobra mais radical do que vista na Itália", disse referindo-se à série de leis que dificultaram a investigação de políticos após a Operação Mãos Limpas.

Ele afirmou, no entanto, que não acredita que o "parlamento esteja encampando" a proposta de anistia. "Foi uma reação de determinados investigados contra a investigação." Mas o procurador expressou preocupação que o tema volte ao Congresso quando a Lava Jato não tiver mais a mesma visibilidade. "O mesmo anseio continua latente e vai se expressar em momento breve. Talvez tenhamos tido sorte de que foi proposta tão radical."

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Dallagnol criticou ainda a proposta de criminalizar juízes e promotores por quebra de decoro, proposição que caiu no projeto de lei contra a corrupção que tramita no Congresso. "Podemos caracterizar esse projeto, a forma como foi escrito, como projeto de lei da intimidação". O procurador participa nesta segunda-feira, 28, de debate sobre as 10 medidas Contra a Corrupção na FGV Direito Rio.

O coordenador da força-tarefa da Lava Jato, procurador Deltan Dallagnol, afirmou que sua grande preocupação é que o projeto de lei contra a corrupção que será votado no Congresso não inclua medidas para evitar a prescrição dos crimes de corrupção. Dallagnol citou exemplos de casos de corrupção como o Propinoduto, no Rio de Janeiro, em que a condenação em primeira instância ocorreu em 2003, mas recursos ainda tramitam no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e crimes como o de corrupção e formação de quadrilha já prescreveram. Segundo Dallagnol, há o risco de que US$ 30 milhões sejam devolvidos aos condenados.

"As 10 medidas contra a corrupção foram elaboradas por vários especialistas, tiveram revisão da Procuradoria Geral da República e apresentadas ao Congresso, onde dormitaram em berço esplêndido. Até que a sociedade civil recolheu dois milhões de assinaturas, uma movimentação recorde, e criou-se ambiente propício para tramitar. Mas saíram todos os pontos de maior polêmica, como a regulação dos habeas corpus, tratamento de provas ilícitas. Minha maior preocupação não tem nada para gerar a celeridade dos processos", afirmou Dallagnol nesta segunda-feira, 28, na Fundação Getulio Vargas.

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Dallagnol afirmou que a Lava Jato não vai transformar o Brasil. "A Lava Jato é mais um caso criminal, como foi o mensalão. Ela vai punir as pessoas e recuperar parte do dinheiro", afirmou. Ele defendeu maior participação da sociedade para a mudança do País. "Brasil tem governo forte e sociedade civil fraca. Temos que inverter essa equação. Se vocês continuarem achando normal o que é anormal, continuaremos a ter um País que não desejamos", afirmou.

O procurador participa na manhã desta segunda-feira, 28, de debate sobre as 10 medidas de combate à Corrupção, organizado pela FGV Direito Rio.

O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força tarefa da Operação Lava Jato, afirmou nesta quarta-feira, 29, que o Ministério Público Federal tem disposição de fechar acordo de leniência - delação premiada para empresas - com apenas mais um empreiteira que participou do cartel que atuava direcionando contratos da Petrobras.

"Várias empresas nos procuram para fazer acordo de leniência, mas estamos numa fase em que fatos já foram descobertos, comprovados. Quando você olha o sistema como um todo, de uma perspectiva macro, não faz sentido você fazer acordo de colaboração com todo mundo", afirmou a jornalistas após participar de um evento na capital paulista.

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Segundo o procurador, se houver um excesso de acordos, isso pode incentivar novos crimes, pois os corruptores podem passar a acreditar que fazer acordos de leniência e colaboração é um caminho fácil para obter penas menores. Ele apontou também que as informações prestadas pelas empreiteiras podem coincidir, não sendo interessante para a operação fechar leniência com uma quantidade maior de empresas.

Dallagnol afirmou que o interesse seria de fechar mais uma leniência além das que já foram fechadas até o momento. "Chegamos a um ponto em que queremos fazer leniência com apenas mais uma empresa."

O procurador não esclareceu, contudo, se será mais um acordo de leniência somado apenas ao da Camargo Correia ou se outras empreiteiras já fecharam colaboração e isso ainda não foi oficialmente divulgado.

Em agosto do ano passado, a Camargo fechou acordo de leniência com o Ministério Público Federal assumindo os crimes de cartel, fraude à licitação, corrupção e lavagem de dinheiro. À época, foi divulgado que a empreiteira devolveria R$ 700 milhões a título de ressarcimento por prejuízos causados à sociedade. Desde então, há informações não confirmadas de que Odebrecht, OAS, Andrade Gutierres e Queiroz Galvão estariam também fazendo acordos no mesmo sentido com o MPF.

O procurador da República, Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, afirmou ser um "milagre" que a operação ainda esteja funcionando, se forem levados em conta todos os aparatos de recursos que existem no Judiciário brasileiro. "A Lava Jato é um milagre, uma conspiração dos planetas. A gente, no começo, olha a Lava Jato como você olha um filho de seis meses, a cada dia feliz por ele estar vivo."

Em palestra, o procurador foi questionado sobre a soltura hoje do ex-ministro Paulo Bernardo por decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF). Bernardo estava detido desde a semana passada em virtude da operação Custo Brasil, desdobramento da Lava Jato que apura desvios no Ministério do Planejamento quando o petista comandava a pasta.

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Dallagnol preferiu não emitir opinião sobre o caso específico de Bernardo, pois a Custo Brasil é comandada pela Polícia Federal de São Paulo e não de Curitiba, mas criticou o número de instâncias a que um habeas corpus tem acesso - desembargador na segunda instância, turma na segunda instância, relator no Superior Tribunal de Justiça, turma no STJ, relator no STF, turma no STF. "E não é só isso: você pode mudar o mínimo no pedido de habeas corpus e seguir todo esse caminho de novo", afirmou. "O habeas corpus tem que existir, sim, mas como existe no mundo inteiro, não 'à brasileira'", defendeu.

O procurador também criticou o sistema de prescrição no Brasil, que permite até prescrição retroativa, algo que, segundo ele, só existe no País, e o sistema de nulidades. Segundo ele, é um atraso que, no Brasil, uma nulidade processual possa derrubar uma operação inteira de combate à corrupção. "Você não desmonta um prédio inteiro apenas porque um cano está furado."

Guerra de comunicação

O procurador defendeu a postura da força-tarefa da Lava Jato e do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Ao ser questionado sobre a lista tríplice para indicação do procurador-geral, Dallagnol defendeu o mecanismo, e entrou na questão das delações premiadas. "Sempre eles (os delatores) nos procuraram e acompanhados dos advogados. Nós vivemos uma guerra de comunicação. Adotamos a política de ter entrevista coletivas para que a sociedade reaja."

O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba, disse ser "possível e até provável" que as investigações do maior escândalo de corrupção do País acabem. "Quem conspira contra ela são pessoas que estão dentre as mais poderosas e influentes da República", afirmou.

Dallagnol disse que as conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado com o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o ex-presidente José Sarney (AP) e o senador e ex-ministro do Planejamento Romero Jucá (RR), todos da cúpula do PMDB, expuseram uma trama para "acabar com a Lava Jato". "Esses planos seriam meras especulações se não tivessem sido tratados pelo presidente do Congresso Nacional", disse o procurador.

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Os áudios do delator Sérgio Machado tornados públicos pela imprensa mais uma vez revelam movimentos para tentar interferir nos andamentos da Operação Lava Jato. As investigações correm algum risco?

As investigações aproximaram-se de pessoas com poder econômico ou político acostumadas com a impunidade. É natural que elas reajam. Há evidências de diferentes tipos de contra-ataques do sistema corrupto: destruição de provas, criação de dossiês, agressão moral por meio de notas na imprensa ou de trechos de relatório de CPI, repetição insistente de um discurso que aponta supostos abusos jamais comprovados, tentativas de interferência no Judiciário e, mais recentemente, o oferecimento de propostas legislativas para barrar a investigação, como a MP da leniência (medida provisória que altera as regras para celebração de acordos entre empresas envolvidas em corrupção e o poder público). Tramas para abafar a Lava Jato apareceram inclusive nos áudios que vieram a público recentemente. A Lava Jato só sobreviveu até hoje porque a sociedade é seu escudo.

É possível um governo ou o Congresso pôr fim à Lava Jato?

É, sim, possível e até provável, pois quem conspira contra ela são pessoas que estão dentre as mais poderosas e influentes da República. À medida que as investigações avançam em direção a políticos importantes de diversos partidos, a tendência é de que os que têm culpa no cartório se unam para se proteger. É o que se percebe nos recentes áudios que vieram a público. Neles, os interlocutores dizem que alertaram diversos outros políticos quanto ao perigo do avanço da Lava Jato. É feita também a aposta num "pacto nacional" que, conforme também se extrai dos áudios, tinha como objetivo principal acabar com a Lava Jato. Não podemos compactuar com a generalização de que políticos são ladrões, porque ela pune os honestos pelos erros dos corruptos e desestimula pessoas de bem a entrarem na política. Contamos com a proteção de políticos comprometidos com o interesse público, mas não podemos menosprezar o poder das lideranças que estão sendo investigadas.

Curitiba foi comparada à "Torre de Londres" nas gravações. É justa a comparação?

A comparação é absolutamente infundada. A Torre de Londres foi usada para a prática de tortura. Na tortura, suprime-se o livre arbítrio da vítima e se extrai a verdade por meio de tratamento cruel. Na colaboração, respeita-se o livre arbítrio de quem, quando decide colaborar, recebe um prêmio. Mais de 70% dos colaboradores da Lava Jato jamais foram presos. Nos casos minoritários em que prisões antecederam as colaborações, eram estritamente necessárias e não tiveram por objetivo a colaboração, mas sim proteger a sociedade, que corria risco com a manutenção daquelas pessoas em liberdade.

O que o conteúdo dos áudios demonstra, na sua opinião?

Os áudios revelam um ajuste entre pessoas que ocupam posições-chave no cenário político nacional e, por isso, com condições reais de interferir na Lava Jato. Discutiram concretamente alterar a legislação e buscar reverter o entendimento recente do Supremo que permite prender réu após decisão de segunda instância. Eles chegam a cogitar romper a ordem jurídica com uma nova Constituinte, para a qual certamente apresentariam um bom pretexto, mas cujo objetivo principal e confesso seria diminuir os poderes do Ministério Público e do Judiciário. Esses planos seriam meras especulações se não tivessem sido tratados pelo presidente do Congresso Nacional, com amplos poderes para mandar na pauta do Senado; por um ex-presidente com influência política que dispensa maiores comentários; por um futuro ministro (do Planejamento) e na presença de outro futuro ministro, o da Transparência (Fabiano Silveira, também nomeado pelo presidente em exercício Michel Temer e já fora do governo). Quando a defesa jurídica não é viável, porque os fatos e provas são muito fortes, é comum que os investigados se valham de uma defesa política. Agora, a atuação igualmente firme contra pessoas vinculadas a novos partidos, igualmente relevantes no cenário nacional, reforça mais uma vez que a atuação do Ministério Público é técnica, imparcial e apartidária. Não vemos pessoas ou partidos como inimigos. Nosso inimigo é a corrupção, onde quer que esteja, e, nessa guerra, existe apenas um lado certo, o da honestidade e da justiça. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O procurador da República Deltan Dallagnol, que coordena a força-tarefa da Operação Lava Jato, disse nesta sexta-feira, 4, que o esquema de corrupção na Petrobras envolvendo o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu se refere a contratos específicos na estatal. Para o procurador, o caso evidencia "um esquema partidário de corrupção".

"Mensalão e petrolão são um só", decretou Dallagnol, ao divulgar denúncia contra Dirceu e mais 16 investigados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

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Segundo a força-tarefa, o ex-ministro teria recebido pelo menos R$ 11,8 milhões em propina da empreiteira Engevix por contratos firmados com a Petrobras. "Os pagamentos a Dirceu eram uma espécie de retribuição reservada a ele pela indicação do diretor de Serviços", afirmou o procurador da República Robersson Pozzobon, em alusão ao engenheiro Renato Duque, apontado como elo do PT no esquema de corrupção na estatal petrolífera.

José Dirceu é acusado de receber valores "antes, durante e depois" de ser condenado e preso no Mensalão, escândalo que abalou o primeiro governo Lula (2003/2006).

Segundo a denúncia, os valores de propina pagos pela empreiteira via lobista Milton Pascowitch, foram divididos em duas partes: 50% para a "Casa" e 50% para o PT via Vaccari.

"Casa" era como a organização se referia à cota dos agentes públicos na divisão da propina - Duque e Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia e braço direito de Duque.

A parte destinada a Dirceu vinha dessa cota e houve caso em que esse valor teve que ser incluído. Um exemplo foi o contrato da Engevix para as obras de Cacimbas da Petrobras.

Compadrio

O procurador afirmou também que a sociedade brasileira ainda é explorada pela corrupção. Segundo ele, a Lava Jato revela "o exercício de um governo em benefício de interesses particulares, de governantes que enriquecem e de um capitalismo de compadrio".

"Nós comemoramos nesta semana o dia da Independência do Brasil (7 de setembro). Um dia em que o Brasil se viu independente de um estado de exploração. Contudo, nós ainda somos explorados pela corrupção. Que nós possamos, através dessas medidas e de ações penais como essa proposta (contra o ex-ministro José Dirceu), ter marcos simbólicos da luta do nosso povo por um País mais justo, por um País melhor, por um País livre e independente da exploração que nos faz sofrer e da exploração cometida por corruptos e por corruptores", afirmou.

O Ministério Público Federal denunciou, hoje, criminalmente o ex-ministro José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, e mais 15 investigados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Estão entre os denunciados Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão e ex-sócio de José Dirceu na JD Assessoria e Consultoria - empresa pela qual o petista teria recebido propinas do esquema de corrupção instalado na Petrobras entre 2004 e 2014, e Camila Ramos de Oliveira e Silva, filha de Dirceu.

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