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Com a retirada de quatro corpos na madrugada e na manhã desta terça-feira (16) do local do desabamento de dois prédios no condomínio Figueiras do Itanhangá, na comunidade da Muzema, no Rio de Janeiro, o Corpo de Bombeiros trabalha com o número de nove pessoas ainda desaparecidas.
 
Segundo a corporação, as quatro vítimas retiradas pela manhã são três mulheres adultas e um menino, ainda não identificados. Com isso, já foram confirmadas 23 vítimas do desabamento, sendo dez retirados dos escombros com vida e 13 em óbito. Duas pessoas morreram no hospital.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que uma mulher de 35 anos está internada no Hospital Municipal Lourenço Jorge e permanece em estado grave.

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No Hospital Miguel Couto continuam internados uma mulher de 44 anos, no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) com quadro estável, porém delicado, e um menino de 4 anos, também com quadro estável e delicado.
 
Das vítimas fatais, há uma não identificada no Instituto Médico Legal (IML), além das quatro encontradas hoje.

Cláudio José de Oliveira Rodrigues foi sepultado domingo no Cemitério do Pechincha. Zenilda Bispo Amorim, Ruan Amorim Rodrigues e Maria de Abreu Athayde de Almeida foram enterrados ontem no Cemitério de São Francisco Xavier.

Ainda estão no IML os corpos de Raimundo Nonato do Nascimento, Pedro Lucas Paes Leme Barroso e Antônia Deivilo Gomes Sampaio.
 
Integrantes da mesma família, os corpos de Hilton Guilherme Sodré Souza, Maria de Nazaré da Sodré e Hilton Berto Rodrigues Souza também permanecem no IML, aguardando a vinda de um parente do Maranhão para fazer o reconhecimento e liberação. A Concessionária Rio Pax fará os serviços funerários e o translado dos corpos.
 
Segundo a Secretaria de Conservação, a equipe de Coordenação de Operações Especiais aguarda a liberação do Corpo de Bombeiros para iniciar a retirada dos escombros e fazer as demolições recomendadas pela prefeitura.

A Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil fez 13 interdições emergenciais no local.

O Corpo de Bombeiros acaba de retirar mais três corpos dos escombros dos edifícios que desabaram na última sexta-feira (8), na comunidade da Muzema, na zona oeste do Rio de Janeiro. Com isso, o número de mortos chega a 15. Na madrugada desta terça-feira (16), mais um corpo havia sido resgatado.

Oito pessoas ficaram feridas no acidente, das quais quatro continuam internadas. Os bombeiros continuam fazendo buscas por mais desaparecidos. A Delegacia de Polícia Civil da Barra da Tijuca (16ª DP) investiga o caso.

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Segundo a prefeitura do Rio, os prédios não tinham autorização para serem construídos e as obras foram interditadas e embargadas em novembro do ano passado.

Além de investigar a atuação da milícia, grupo criminoso que controla ilegalmente a comunidade da Muzema, a Polícia Civil apura a responsabilidade dos construtores e da prefeitura, que é responsável pela fiscalização de obras.

A Defesa Civil de Minas Gerais contabilizou 228 mortes em decorrência do rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Vale em Brumadinho (MG). O número inclui três corpos identificados desde o último balanço, feito no dia 11. A atualização, divulgada neste domingo (14), registra 395 pessoas localizadas e 49 desaparecidos.

Localizada nas proximidades de Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, a barragem da Mina do Córrego do Feijão rompeu-se em janeiro, resultando na morte de funcionários da Vale e de moradores da cidade, além contaminar o Rio Paraopeba, responsável por 43% do abastecimento da região.

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Em decorrência do episódio, a Vale responde a processo na Justiça por reparação de danos às vítimas e ao meio ambiente. A empresa já teve mais de R$ 13 bilhões bloqueados por decisão judicial.

Em março, representantes do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciaram, em audiência na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que a mineradora estava atrasando pagamentos emergenciais às famílias afetadas.

Diante da situação, entidades representativas de trabalhadores vítimas do rompimento da barragem da Vale informaram ter entrado com uma ação coletiva contra a mineradora. Nela, pedem R$ 5 bilhões em indenizações por danos morais coletivos e sociais provocados pela empresa.

As entidades reclamam reparação por danos morais tanto às famílias dos funcionários que morreram durante a tragédia como aos trabalhadores sobreviventes.

Subiu para dez o número de mortes no desabamento de dois edifícios na comunidade da Muzema, na zona oeste do Rio de Janeiro. Os bombeiros encontraram o corpo de uma mulher ainda não identificada sob os escombros, no final da noite desse domingo (14). De acordo com os bombeiros, a vítima estava em um local de difícil acesso e os militares levaram cerca de três horas para retirar o corpo dos destroços.

Agora as equipes de resgate trabalham com a possibilidade de que 14 pessoas ainda estejam desaparecidas, de acordo com informações registradas na área do desabamento. Até o momento, 18 pessoas foram resgatadas, sendo dez com vida, mas duas morreram no hospital.

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A operação de resgate segue hoje com a participação de mais de 100 militares, cães farejadores, drone, helicópteros, ambulâncias e veículos de recolhimento de corpos. O trabalho, que entrou hoje no quarto dia, começou logo após o desabamento e segue ininterruptamente desde o início da manhã de sexta-feira (12).

Ontem, o pastor Cláudio Rodrigues, de 40 anos, foi a primeira vítima do desabamento dos prédios na Muzema a ser enterrada. O enterro foi à tarde, no Cemitério do Pechincha, na região de Jacarepaguá, também na zona oeste.

Rodrigues morava com a mulher e a filha, e os três estavam no apartamento na hora do acidente. A esposa, Adilma Rodrigues, de 35 anos, segue internada em estado grave no Hospital Lourenço Jorge. A filha,  Clara Rodrigues, de 10 anos, também ficou ferida, mas já teve alta e passa bem.

A Defesa Civil de Minas Gerais informou, nesta quarta-feira (10), que mais um corpo foi localizado em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. Com isso, sobe para 225 o número de mortes confirmadas na tragédia de 25 de janeiro, quando o rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Vale devastou várias áreas do município.

Segundo a Defesa Civil, ainda estão desaparecidas 68 pessoas. A informação foi divulgada na página do órgão no Facebook.

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A última atualização no número de corpos localizados havia sido feita na segunda-feira (8), quando chegou a 224 o número de mortos. No comunicado de hoje, a Defesa Civil não especifica em que local foi encontrado o corpo.

A tragédia na mina da Vale aconteceu dia 25 de janeiro, quando a barragem de rejeitos na região de Córrego do Feijão se rompeu, atingindo centenas de funcionários da empresa, que estavam almoçando, trabalhando ou descansando, nos galpões logo abaixo, e que não tiveram chance de fugir. Cerca de 24 mil pessoas tiveram que ser evacuadas de áreas próximas, atingidas pela lama, que chegou até o Rio Paraopeba, prejudicando o abastecimento e a pesca na região.

Na manhã deste Domingo (7) foram retomadas as buscas por desaparecidos, após a queda de parte da ponte sobre o rio Moju, que fica na altura do quilômetro 48 da Alça Viária, no Pará. Estrutura desabou na madrugada de sábado (6) após um de seus pilares ser atingido por uma balsa. De acordo com o Corpo de Bombeiros, os trabalhos foram retomados às 7h30.

No início da noite de Sábado (6), os bombeiros encerraram as buscas sem encontrar possíveis vítimas do acidente.

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Segundo o Corpo de Bombeiros, dois veículos que passavam pelo local, por volta das 2 horas da manhã de Sábado, caíram no rio. Pelo menos cinco pessoas estão desaparecidas após a queda.

Ainda no sábado, o governador Helder Barbalho (MDB) decretou estado de emergência. "Isso nos dará mais agilidade frente as demandas que estão surgindo", justificou.

Também como parte das providências tomadas pelo governo do Estado, serão colocadas defensas - protetores de pilares - em todas as pontes do complexo da alça viária.

Barbalho também vai autorizar obras para que a Estrada do Quilombola seja uma alternativa para veículos de passeio e ônibus. "Isso vai requer a construção de uma ponte que já foi autorizada", acrescentou. Esta foi a terceira vez que a ponte foi atingida por uma balsa.

Mais cedo, o governador convocou representantes de diversos órgãos da segurança pública para discutir ações para acelerar o resgate das vítimas do acidente. Pela manhã, o governador sobrevoou a área ao lado do coronel Dilson da Polícia Militar (PM), do coronel Hayman e do secretário de Segurança do Estado, Ualame Machado.

A Procuradoria Geral do Estado (PGE) vai acionar judicialmente a empresa proprietária da balsa que colidiu com a ponte. Há dois meses, já é realizado trabalho de reparos na ponte que sofreu danos por constantes choques de embarcações.

Kory Melby, um consultor do agronegócio baseado em Goiania, afirmou que a ponte que caiu integra a principal rota rodoviária que conecta regiões produtoras de grãos do país com os portos na região norte. Melby disse que o tráfego de barcaças que chegam dos rios Tocantins e Amazonas não foi afetado pela queda da ponte, referindo-se às operações portuárias em Vila do Conde e Barcarena, no Pará.

 

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, tem pensado a respeito da situação  do elevado índice de pessoas desaparecidas no Brasil. De acordo com ela, é preciso pensar na possibilidade de mudar o atual sistema de cadastro de pessoas desaparecidas.

Damares acredita que pensar em um sistema integrado de localização de pessoas é o ideal. A ministra ainda mencionou, nessa terça-feira (2), o Sistema Nacional de Alarmes da Polícia Federal, que trabalha em prol de encontrar veículos roubados, como um modelo a seguir como exemplo.

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“A ideia é aproveitar a tecnologia, mas adaptá-la à especificidade do problema”, explicou a ministra através se sua conta oficial no Twitter. “Policiais de todo o país podem ser imediatamente alertados quando sumir uma criança. Vamos unir forças para enfrentar de frente o problema e mudar a realidade do país”, pontuou.

Damares Alves ainda complementou indagando que “o Brasil tem 80 mil desaparecidos por ano, sendo 40 mil crianças e muitas delas não são localizadas. Para onde vão essas crianças? O Brasil consegue localizar carros roubados, porque não localiza as pessoas?”.

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Exatos dois meses após o rompimento da barragem do Córrego do Feijão em Brumadinho (MG), a mineradora Vale tem R$13,65 bilhões bloqueadaos pela Justiça. O montante visa a assegurar recursos para reparar não apenas os danos causados na tragédia ocorrida em 25 de janeiro, mas também os prejuízos provocados pelas evacuações ocorridas em cidades onde outras estruturas teriam risco de se romper.

A Defesa Civil de Minas Gerais já confirmou a morte de 212 pessoas, outras 93 estão desparecidas. Além disso, quase mil pessoas que moram próximas a barragens da Vale estão fora de suas casas, não apenas em Brumadinho, mas também nos municípios mineiros de Barão de Cocais, Nova Lima, Ouro Preto e Rio Preto.

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O primeiro bloqueio de recursos da Vale ocorreu já na noite de 25 de janeiro, na mesma sexta-feira do rompimento. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) bloqueou R$1 bilhão no âmbito de um processo aberto pelo governo de Minas Gerais para cobrar a reparação dos danos. Posteriormente, a mineradora foi autorizada a assegurar R$ 500 milhões desse total bloqueado na forma de garantias com liquidez corrente, fiança bancária ou seguros. Os outros R$ 500 milhões permanecem sendo recursos financeiros que a empresa não pode movimentar de suas contas.

Nos dois dias subsequentes à tragédia, a mineradora foi impedida de movimentarmais R$ 10 bilhões, dessa vez, atendendo pedidos formulados em ação civil pública movida pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Em 26 de janeiro, foram travados nas contas da Vale R$ 5 bilhões com o objetivo de assegurar recursos para recuperar o meio ambiente e, no domingo, em 27 de janeiro, outros R$ 5 bilhões com intuito de garantir a reparação dos danos causados aos atingidos.

A Justiça trabalhista bloqueou mais R$ 1,6 bilhão ainda em janeiro, atendendo a pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT). Esses recursos se destinam a garantir indenizações trabalhistas, tendo em vista que grande parte das vítimas afetadas em Brumadinho é formada por empregados da Vale e de empresas terceirizadas que prestam serviço à mineradora. De acordo com a decisão do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais (TRT-MG), R$ 800 milhões do total de R$1,6 bilhão bloqueados são exclusivamente para garantir a indenização por danos morais coletivos.

Evacuações

Os bloqueios de R$ 1 bilhão e de R$ 10 bilhões determinados pelo TJMG respectivamente nas ações movidas pelo governo de Minas Gerais e pelo MPMG e de R$1,6 bilhão definidos no âmbito da Justiça Trabalhista totalizam R$12,6 bilhões para assegurar reparação dos prejuízos causados na tragédia de Brumadinho. Além desse montante, mais R$ 1,05 bilhão foi travado das contas da Vale em decorrência de evacuações em outras cidades de Minas Gerais.

Para assegurar o reparação dos prejuízos causados aos moradores que foram retirados de suas casas em Barão de Cocais (MG), o TJMG concordou no início do mês com o bloqueio de R$0,05 bilhão. Posteriormente, há cerca de duas semanas, uma nova decisão impediu a mineradora de movimentar mais R$ 1 bilhão com o objetivo de garantir recursos voltados à reparação dos danos sofridos pela população afetada na evacuação em Macacos, distrito de Nova Lima (MG). Essas duas decisões atenderam a pedidos formulados pelo MPMG e pela Defensoria Pública de Minas Gerais.

Tramitam ainda outras ações em que o MPMG requer bloqueio de recursos, nas quais ainda não houve decisão da Justiça. No documento movido no dia 13 de março, por exemplo, pede-se que a mineradora fique impossibilitada de movimentar R$ 50 bilhões com o intuito de garantir o custeio das ações de reparação ambiental na região atingida pela lama.

O total de R$ 13,65 bilhões bloqueados é mais que o dobro do que foi gasto até hoje com a reparação dos danos causados pela tragédia de Mariana (MG), ocorrido em novembro de 2015, quando se rompeu uma barragem da Samarco, que tem a Vale como um de suas acionistas juntamente com a anglo-australiana BHP Billiton. Cerca de R$ 5,26 bilhões foram empregados até o fim do ano passado, segundo dados da Fundação Renova, que é mantida com recursos das três mineradoras e tem a responsabilidade de gerir as ações necessárias. Para o ano de 2019, o orçamento divulgado pela entidade prevê a destinação à reparação de mais R$ 2,94 bilhões, dos quais 36% exclusivamente para indenizações e auxílios mensais aos atingidos.

*Enviada especial do LeiaJá a Brumadinho (MG)

Na série de reportagens "Brumadinho - O que restou depois da lama", o LeiaJá viajou pela cidade de Brumadinho ouvindo relatos de pessoas afetadas pelo rompimento da barragem.

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Conceição nunca imaginou viver esse momento, o qual ela considera "um filme de terror sem fim". Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

“Isolados aqui para morrer no esquecimento”, resume Conceição Assis, 69, moradora do vilarejo Córrego do Feijão, localizado na área rural de Brumadinho, em Minas Gerais. A tragédia provocada pelo rompimento da barragem da mineradora Vale, no último dia 25 de janeiro, ainda assombra os pensamentos da aposentada, que nasceu, foi criada no bairro e não pretende se mudar. Ela teme, no entanto, que o ‘Feijão’ nunca mais será o mesmo e deve ir se esvaziando ao longo dos próximos meses.

“A gente tem o nosso quintal e plantamos as nossas coisinhas, era um lugar de sossego. Passei por todas as minhas dificuldades aqui e as superei, tenho uma relação muito forte com o córrego. Agora aqui acabou, não tem mais a nossa calmaria. Sei que meus filhos não vão me deixar ficar aqui sozinha, estou na esperança disso ter logo um fim para eu decidir meu rumo”, relatou Conceição, que segue angustiada desde o dia do rompimento da barragem.

Há anos que os 400 moradores do Córrego do Feijão não viam um enterro de alguém que vivia na pequena comunidade rural. Conceição, que já perdeu as contas de quantos amigos teve de enterrar após a tragédia, ainda espera pelo corpo da nora Angelita Cristiane Freitas De Assis, enfermeira que prestava serviços para a Vale. “Meu filho nem conseguiu falar com ela pelo telefone porque a lama veio de uma vez. Ela estava no refeitório e não teve tempo de nada, não acharam até hoje o corpo dela. Isso para mim está sendo um desastre”, desabafou a moradora do Feijão, que conta com a ajuda dos bombeiros para não perder as esperanças de localizar o corpo de Angelita.

Angelita Cristiane Freitas De Assis ainda não foi localizada. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

As lembranças do mar de lama, que invadiu sem pedir licença ou bater na porta dos moradores desse bairro, não devem se apagar nunca mais. Recomeçar é o que mais querem, porém os caminhos ainda estão escuros e interrompidos pela avalanche marrom que ceifou vidas e a moradia de muitas pessoas.

Conceição não esqueceu nenhum segundo do fatídico dia. Lembra como se fosse ontem que estava se organizando para ir à fisioterapia, quando percebeu que a energia da casa acabou. Não estava chovendo e apesar disso, ela se recorda de ter ouvido uma explosão. "Achei que tinha sido um transformador", falou. Poucos minutos depois, deixou a escova de cabelo de lado quando ouviu a vizinha da frente gritar por socorro. "Ela dizia 'socorro, me ajuda. A barragem da Vale rompeu'. Eu pedi para ela ter calma porque não estava acreditando. Eu tenho pressão alta, fiquei passando mal. Me dei conta de que era verdade quando muita gente se juntou e começou o inferno. Todo mundo correndo para os locais mais altos", disse.

Ela e seus vizinhos precisaram migrar de um canto para o outro até que ela decidiu voltar para sua casa, que fica localizada na região mais alta do bairro. “Estamos vivendo um filme de terror. A gente não se concentra porque fica esse assunto e não sabemos se vamos sobreviver ficando aqui. Eu não esperava viver uma passagem dessa na minha vida, ainda mais morando por aqui”.

O lamaçal, com até 30 metros de profundidade, borrou de marrom, para sempre, a história do vilarejo. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

Em abril de 2018, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) divulgou o estudo “Pesquisa sobre a Saúde Mental das Famílias Atingidas pelo Rompimento da Barragem do Fundão em Mariana”. O levantamento avaliou 271 pessoas, das quais quase um terço foi diagnosticado com depressão. A taxa é próxima à encontrada imediatamente após o acidente nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011.

As consequências psicológicas para a população de Brumadinho também devem ser sérias, já o Corpo de Bombeiros contabiliza mais de 180 mortos identificados e 130 pessoas desaparecidas. O cemitério do vilarejo ficou pequeno. Os coveiros precisaram abrir covas às pressas porque todos os dias estavam sendo localizados corpos. Atualmente, após mais de um mês do ocorrido, o trabalho do Corpo de Bombeiros continua, mas encontrar os corpos ficou mais difícil diante da lama endurecida.

Dona Cota, o filho Rangel Henrique e o seu esposo Noé Henrique. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

As circunstâncias de tristeza e desespero que a onda marrom causou fez com que Maria das Dores, 52, se sentisse abençoada por localizarem o corpo de seu filho Rodrigo Henrique de Oliveira, 30, operador de máquinas na Vale. Após 16 dias do rompimento, Dona Cota, como é conhecida no bairro, recebeu a notícia num misto de alívio e agonia. Ela se sentiu feliz porque diante da situação em que muitas pessoas continuam embaixo da lama, realizar o velório formal de seu filho foi uma vitória.

“Eu pedia que Deus cuidasse dele seja lá onde estivesse. Na lama, no hospital ou no IML. Eu pedia demais para que quando o encontrassem, ele estivesse inteiro e não aos pedaços. Eu tenho quatro filhos e o Rodrigo era um filho da promessa. Fui abençoada, me entregaram o corpo dele inteiro, não do jeito que a gente queria porque com 16 dias a gente não ia encontrar o corpo normal. A decomposição estava avançada, mas ele estava completo”, explicou a mãe.

Dentre tantas consequências, a avalanche de lama ainda deixou cerca de 80 pessoas desabrigadas. O Rio Paraopeba foi contaminado e produtores rurais da região perderam tudo. "Eu não sei o que vai ser do Córrego do Feijão, na hora que todos forem embora, que acabarem as buscas. Eu acredito que será um vazio muito grande", afirmou Dona Cota. Ela é mais uma moradora que não pretende sair da sua casa pelas relações que construiu ao longo da vida no Feijão.

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Rangel Henrique de Oliveira, 24, descreve o dia antes do rompimento da barragem. “O meu irmão era o melhor profissional que já conheci. Todas empresas o queriam pelo seu potencial. No dia 24, ele veio na casa dos meus pais, sempre fomos muitos unidos como família. Ele jantou, conversamos e foi embora. Nunca mais o vi”.

Após descobrir que o mar de lama tinha cedido, Rangel correu junto com outros moradores para a região da mineradora no intuito de encontrar sobreviventes. A lama é formada pelos restos deixados pela atividade de extração e beneficiamento do minério de ferro, principal metal explorado na mina Córrego do Feijão. “As famílias iam chegando desesperadas na frente da lama e parecia que não existia mais nada, destruiu tudo. Parecia outro local. Na hora eu me dei conta, cadê o meu irmão? Desabei em seguida”, relembra.

Meses antes, em 2018, Rangel, que é um dos membros da associação dos moradores do bairro, acompanhou visitas estratégicas dentro da comunidade para a apresentação de uma projeto emergencial, caso tocasse a sirene. “Eles vieram aqui, a Defesa Civil, e informaram que em caso de vazamento, deveríamos ir para um local seguro. A gente suspeitava de um certo risco, mas eu penso que eles sabendo disso, deixar essas construções embaixo da área da barragem seria muita insensatez. E foi o que aconteceu. Não deu tempo de correr. Nós que estamos a três quilômetros dela sentimos um grande impacto, imagina  quem estava a poucos metros. Hoje a lágrima pode até ter secado, mas não é algo que se esquece”, frisa.

O neto de Vicentina é Wesley Eduardo de Assis, 37 anos. Ele trabalhava como operador de máquinas e estava na barragem no momento do rompimento. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

O povoado começou a ser habitado na década de 1940 e Vicentina Gomes, 83, assistiu a tranquilidade de seu bairro perder espaço para o motor das aeronaves. Ela mora com o seu marido, também idoso, o aposentado José Maria das Candeias, 72. Ele em dificuldades de se locomover e conta com a ajuda da esposa para viver. “Imagina eu ter que correr caso essa sirena toque um outro dia, eu não vou conseguir com ele”, lamenta.

Vicentina sente saudades do neto Wesley Eduardo, 37, que também faleceu após o rompimento da barragem. Em tom saudoso, ela chora ao lembrar do cuidado que o falecido tinha com ela. “Ele vinha sempre me ver, cuidava de mim. Eu o criei, sabe? Fui como uma mãe e de repente, a pessoa partir assim por falta de organização da Vale, é uma sensação horrível, minha filha”.

Ela teme ficar sozinha no bairro com medo de adoecer e não ter a quem pedir socorro. “Peço a Vale que resolva essa situação, se ela quiser comprar a minha casa, eu me mudo para Brumadinho para ficar perto de outros filhos. Meu marido não anda e os nossos vizinhos estão partindo. Com quem vamos ficar?”, questiona.

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Neiva Ferreira, 60, sentada na escadaria que dá acesso à Estação do Conhecimento de Brumadinho, que se tornou provisoriamente um centro de acolhimento para as demandas dos moradores da região que foram afetados com o rompimento da barragem, observa a movimentação. Ela tinha ido à localidade para resolver demandas burocráticas e pedir ajuda após perder a filha Jussara Ferreira dos Passos, 35, camareira da Pousada Nova Estância, coberta pela lama.

Ela admite estar parada no tempo desde o último dia 25 de janeiro. "Não apagou nada. Eu tinha um filho trabalhando na barragem e uma filha na pousada. Só um escapou", relembra. Ela destaca ainda que apesar da Vale divulgar que está apoiando os moradores, muitos estão passando necessidades. Neiva precisava da água proveniente do Rio Paraopeba para sobreviver, cuidar das plantas, alimentar seus bichos. "Quero que eles coloquem uma caixa d'água potável na minha casa porque estou numa situação desumana".

O corpo de Jussara foi localizado poucos dias depois do ocorrido. "Já enterrei a minha filha e sei que ela não vai voltar. Agora quero os meus direitos, não é questão de ganância, mas é pensar com a razão. Espero que aqui não fique no esquecimento como foi em Mariana. As pessoas seguem desorientadas, esperando marmita. Quase todo dia tem um enterro. A gente ficava cinco, seis anos sem ir a um velório e agora só esperamos o corpo chegar".

Neiva aguarda por respostas da Vale. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

Ao lado de Neiva, está o seu genro. Ele já conseguiu se despedir oficialmente de sua esposa Jussara, mas ainda não enterrou a mãe Giomar Custódio, que também trabalhava na pousada. "O ser humano hoje em dia prefere filmar a desgraça dos outros do que ajudar o próximo. Já pensou se as pessoas que estavam com o celular na mão tivessem gritado para todo mundo correr. A história poderia ser um pouco diferente", criticou o morador do Córrego do Feijão.

Gelson entrou dentro dos matos, correu, burlou os guardas e não conseguiu localizar a mãe e a esposa. A pousada já estava coberta de lama. Ele lamenta ter perdido as duas mulheres de sua vida e ainda não sabe por onde recomeçar.

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Passado um mês da tragédia causada pelo rompimento da Barragem 1 da Vale em Brumadinho (MG), os trabalhos de buscas tentam localizar 134 desaparecidos. O número de mortos chega a 176.

De acordo com informações, a barragem, localizada a 57 quilômetros de Belo Horizonte, rompeu-se por volta das 12h20, de sexta-feira, 25 de janeiro. Sobreviventes relatam que um mar de lama tomou conta de estradas, do rio, do povoado e, sobretudo, da área da Vale, empresa responsável pela barragem. Como era hora do almoço, muitos funcionários ficaram retidos no restaurante.

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O misto de perplexidade, tristeza e indignação se instalou no país. As dificuldades causadas pela lama e riscos de contaminação aliados à chuva intensa aumentaram ainda mais a tensão nas buscas por vítimas. Famílias inteiras desapareceram. Nem todos foram localizados.

Ontem (24), ocorreram manifestações em Brumadinho e em Belo Horizonte para homenagear os mortos.

Incertezas

Pela estimativa do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, os trabalhos deverão se estender por três a quatro meses após o rompimento.

Os rejeitos atingiram o Rio Paraopeba, e o governo de Minas proibiu o consumo da água, devido ao risco de contaminação. Não há estimativa de suspensão da medida.

Governo

O presidente Jair Bolsonaro determinou uma ação rápida após a tragédia. Ele sobrevoou a área que se transformou em um mar de lama e orientou uma força-tarefa a atuar na busca por soluções. Pelo Twitter, ele lamentou o rompimento da barragem.

“Nossa maior preocupação neste momento é atender eventuais vítimas desta grave tragédia”, disse Bolsonaro na época.

No último dia 18, foi publicada resolução no Diário Oficial da União por recomendação da Agência Nacional de Mineração (ANM). O Ministério de Minas e Energia definiu uma série de medidas de precaução de acidentes nas cerca de mil barragens existentes no país, começando neste ano e prosseguindo até 2021. A medida prevê a extinção ou descaracterização das barragens chamadas "a montante", exatamente como a que se rompeu em Brumadinho, até 15 de agosto de 2021.

Outro lado

Há três dias, a Vale informou ao Ministério Público do Trabalho (MPT) que vai manter o pagamento de dois terços dos salários de todos os empregados próprios e terceirizados que morreram na tragédia. Segundo a empresa, o pagamento será mantido por um ano ou até que seja fechado um acordo definitivo de indenização.

A empresa também se comprometeu a só transferir empregados após prévia consulta e concordância do trabalhador, além de consulta ao sindicato. Para a transferência, será priorizado o local de origem do empregado.

Anteriormente, a Vale se comprometeu a garantir emprego ou salário para os empregados de Brumadinho, inclusive os terceirizados, até 31/12/2019. Também prometeu pagar as despesas com funeral e verbas rescisórias das vítimas fatais, conforme certidão emitida pelo INSS.

A Vale informou que dará atendimento psicológico e fará pagamentos de auxílio-creche e de auxílio-educação, além de danos morais para cônjuges ou companheiras, filhos, pais e irmãos das vítimas.

Corpo de Bombeiros de Minas Gerais localizou 176 corpos de vítimas do rompimento da narragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, região metropolitana de Minas Gerais. Todos os corpos foram indentificados pelo Instituto Médico Legal (IML).

Segundo informações do governo de Minas Gerais, 134 pessoas estão desaparecidas, sendo 31 funcionários da mineradora Vale, além de 103 trabalhadores terceirizados e moradores da região.

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Desde ontem (20), uma equipe do Corpo de Bombeiros está fazendo buscas na área onde funcionava o almoxarifado da Vale. No local foi encontrado um corpo, removido para o IML para identificação.

O almoxarifado foi identificado pelo cruzamento de dados, de localizações georreferenciadas e de indicações do terreno. As buscas na área do almoxarifado se desenvolveram durante esta quinta-feira e continuarão amanhã (22), segundo o Corpo de Bombeiros.

O Corpo de Bombeiros trabalha em sete frentes de buscas na área da barragem que se rompeu no último dia 25 de janeiro. Nesta fase de escavações, o trabalho é mais difícil porque a lama está muito profunda. A corporação mineira atua com apoio de militares de outros estados.

*Enviada especial do LeiaJá a Brumadinho (MG) 

Na série de reportagens "Brumadinho - O que restou depois da lama", o LeiaJá viajou pela cidade de Brumadinho ouvindo relatos de pessoas afetadas pelo rompimento da barragem.

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Terreno transformado após o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

Vinte e cinco dias de um tormento, angústia e da pior notícia que a família de Luciano de Almeida Rocha, 40, poderia receber. Roberta Cristina Ferreira, 37, sua esposa, nunca imaginou que a ligação recebida às 12h03, a qual não atendeu, poderia ser o último contato do marido com ela. Ele trabalhava com topografia, no ramo da geotecnia, em várias barragens de Minas Gerais e no último dia 25 de janeiro foi uma das vítimas após o rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho (MG). O corpo de Luciano segue debaixo da lama e pela lista oficial que contabiliza os números da tragédia, está desaparecido.

De acordo com boletim da Defesa Civil do estado divulgado no domingo (17), todos os óbitos já foram identificados. A tragédia na mina Córrego do Feijão, nos arredores da capital Belo Horizonte, deixou ainda 141 pessoas desaparecidas – entre funcionários da mineradora, terceirizados que prestavam serviços à Vale e membros da comunidade.

Apesar do termo oficial, Roberta já cansou de esperar e não nutre esperanças de que achem o corpo de seu marido para que a família possa enterrá-lo com dignidade. A viúva aceitou nos receber em sua casa, no Residencial Bela Vista, em Brumadinho, para a entrevista. Apesar de permanecer na residência com os três filhos após a tragédia, o desejo de Roberta é sair da cidade e tentar amenizar a dor que sente a cada notícia de que ainda não encontraram o que restou de seu marido.

“Agora estou sem chão e não tenho visão de futuro, fizemos planos, pouco depois do dia 25 de janeiro completamos vinte anos de casados, aniversário do meu filho, viagens e tudo mais, acabou. Ele até brincava que não queria ser enterrado, queria ser cremado porque era medroso. Foi enterrado vivo”, lamenta.

Luciano ao lado da família em um passeio por Minas Gerais. Foto: Arquivo Pessoal

Luciano Almeida, nas palavras de Roberta, era um homem trabalhador, vaidoso, carinhoso com a família e adorava bagunça. Ele não gostava de falar sobre seus sentimentos, mas no domingo antes da tragédia em uma conversa informal falou que não saberia o que fazer caso perdesse Roberta e que “ela era a mulher da sua vida”. Ele a conhecia desde a infância, eram amigos e costumavam brincar em um sítio de familiares em Brumadinho.

Há 21 anos, Roberta saiu de Belo Horizonte para casar com Luciano, seu primeiro namorado e amor. Tiveram cinco filhos, dos quais dois faleceram por problemas na gestação. “Fiquei com minhas três jóias. João, Maria e Miguel. Hoje são tudo que tenho para tocar a vida”, conta.

O caso de Brumadinho não é o primeiro desastre com barragens no Brasil. Há mais de três anos, no dia 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, deixou 19 mortos e causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Minas Gerais.

Com população de aproximadamente 40 mil pessoas, Brumadinho é uma cidade em que todos se conhecem, praticamente. Caminhar pelo centro do município, mais afastado da barragem que rompeu, não te distancia de sentir os danos que a tragédia causou aos habitantes. Todo mundo perdeu alguém. Seja da família ou um amigo. Se antes para localizar um endereço era preciso a ajuda do google maps, hoje as pessoas conseguem se guiar pela casa de “fulano que está desaparecido ou morto”.

Faixa pendurada no frente da Rodoviária de Brumadinho. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

Roberta relembra que seu marido não deveria estar na barragem da Mina Córrego do Feijão naquela sexta-feira. Era o dia dele ir para Congonhas, região central de Minas, onde também existem várias barragens. “Ele estava no local errado e na hora errada. Nem deveria estar ali, mas a caminhonete quebrou e ele ficou preso no escritório adiantando serviço”, relembra. Após perceber que tinha perdido uma ligação de Luciano, ela enviou mensagem pelo aplicativo WhatsApp, que ele nunca recebeu.

A dificuldade em acreditar que todo o pesadelo é real se mistura com as memórias recentes de como Luciano estava feliz no dia. Ele comprou salgados, fez pipoca e levou bolo para o trabalho porque era um dia em que eles confraternizavam. Pouco tempo depois, no horário de almoço, Roberta lembra do filho mais velho falar sobre a barragem ter rompido. “Achei que fosse mentira, mas aí minha sogra também comentou desesperada comigo. Eu telefonei para todo mundo de lá e nem chamava. Foi quando começou a passar na televisão e vimos tudo”.

No dia seguinte, o sábado, as buscas já tinham iniciado e vários trechos da região rural de Brumadinho tinham sido bloqueados em decorrência da passagem da lama. “Fui lá no Parque das Cachoeiras no sábado e tinha muita esperança de encontrá-lo com vida. Eles não nos deixavam passar e entrei pelos matos na casa dos outros. Os bombeiros estavam marcando os locais onde estavam os corpos. Sei que é triste, mas eu precisava chegar perto para acreditar. A última lembrança que tenho dele é dele indo trabalhar feliz”, relembra.

Roberta e os três filhos. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

O escritório onde Luciano estava foi completamente destruído pela lama. Nenhum pertence do topógrafo foi localizado. Roberta confessa que não gosta dessa espera e a cada minuto a sensação de impotência aumenta. Segue tomando algumas medicações para se acalmar e consegue passar o dia relativamente bem cuidando de seus filhos e dos sobrinhos. Mas quando o relógio se aproxima das 17h15, a saudade aumenta e as lembranças todas voltam. Esse era o horário que seu marido chegava do trabalho.

“Eu nunca fui de sentar e esperar as coisas e isso de ficar tendo que aguardar é o que está me matando. Eu não consigo agir de outra forma porque não tem o que eu fazer. Até um padre teve aqui e disse que corpo não vale nada, temos que ver a alma. Mas para a gente, é essencial. Minha filha me perguntou quando vamos enterrar o pai e eu não sei a resposta. Eu tenho muito medo de encerrarem as buscas sem que os outros sejam achados”, destaca Roberta.

A família do marido perdeu quatro pessoas. “Meu concunhado André Luiz, a Letícia Mara, prima do meu marido e o Gustavo, também primo dele. Os quatro trabalhavam para a Vale e foram embora de uma vez só, a família está muito abalada. Todos os três já foram localizados. A avó do Luciano disse para mim que ele seria o último a ser encontrado porque como ele era o mais velho ele iria guiar os primos mais novos. Mas até agora nada”.

"A avó do Luciano disse para mim que ele seria o último a ser encontrado porque como ele era o mais velho ele iria guiar os primos mais novos. Mas até agora nada”. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

O presidente da Vale, Fábio Schvartsman, destacou em entrevista à imprensa que o incidente é uma "tragédia humana". Ele afirma que a maioria dos mortos pelo desastre são funcionários e terceirizados da empresa, já que, no momento em que a área administrativa foi atingida, havia centenas de pessoas trabalhando no local.

A dona de casa considera que o avalanche de lama que soterrou parte da cidade de Brumadinho não foi um “acidente” ou um “incidente”. Foi uma chacina. “Mataram todos eles, é a mesma coisa de atirar em um por um”, frisa. Mortes, destruição de casas, vegetação e vidas que foram manchadas pela lama e os efeitos de uma rotina calma destruída pela tragédia.

Os passos para superar ou amenizar a dor estão lentos. Roberta detalha que o único serviço prestado pela Vale foi um atendimento psicológico de uma profissional que foi até sua casa, mas não recebeu nenhum telefonema da empresa e não consegue encaminhar as questões burocráticas porque ainda não tem a certidão de óbito, já que Luciano segue desaparecido.

“Eu nunca fui de sentar e esperar as coisas e isso de ficar tendo que aguardar é o que está me matando". Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

“Eles não me procuraram. Parece que estão fazendo favor e a gente tem de suplicar. Fiz o cadastro, mas não recebi nenhum dinheiro de doação, nem de pensão. Fui em uma assistente social na Estação do Conhecimento para saber se poderiam me ajudar com o material escolar dos meus filhos e ainda nada”, denunciou.

Segundo a Vale, até o dia 5 de janeiro, 107 pessoas já haviam recebido a doação de R$ 100 mil. No cadastro da empresa constavam 248 representantes de 229 vítimas registrados. Essa doação não é uma indenização, que será discutida depois com as famílias e representantes do poder público. De acordo com a mineradora, estão aptos a receber a doação representantes de empregados da Vale, de trabalhadores terceirizados e de pessoas da comunidade mortos ou desaparecidos, de acordo com a lista oficial validada pela Defesa Civil.

Roberta destaca ainda que não trabalha e a única renda dentro de casa era a do marido. Ele tinha feito uma promessa para a filha de que no dia 1º de fevereiro iriam comprar o material escolar completo com o tema “unicórnio”, mas não deu tempo. “Ela ficava abalada porque ele tinha prometido, são crianças e ainda não entendem. Arrumei dinheiro e comprei a mochila e os cadernos porque nessas horas a gente precisa pensar mais a frente, mas não fiz isso com a ajuda da Vale. Tenho os dados de sua conta, mas não tenho o cartão e fico nessa de esperar, esperar”.

Na casa de Roberta, os pertences de Luciano ainda estão todos no lugar porque ela não teve coragem de mexer em nada. A única exceção são suas fardas da Vale. Ela fez questão de retirar tudo de seu armário, empacotar e colocar na garagem. “Não quero nada dessa empresa criminosa. Um parente disse que viria buscar, espero que venha logo, quero isso longe da minha casa”, concluiu.

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O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais atualizou para 169 o número de mortes em decorrência do rompimento de uma barragem da mineradora Vale em Brumadinho. A corporação informou que dois corpos foram retirados da lama de rejeitos nos últimos dois dias. Fragmentos de corpos também foram localizados pelas equipes nas últimas horas.

De acordo com boletim da Defesa Civil do estado divulgado neste domingo (17), todos os óbitos já foram identificados. A tragédia na mina Córrego do Feijão, nos arredores da capital Belo Horizonte, deixou ainda 141 pessoas desaparecidas – entre funcionários da mineradora, terceirizados que prestavam serviços à Vale e membros da comunidade.

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As buscas seguem na cidade desde o rompimento da barragem da mineradora Vale, no dia 25 de janeiro. Os rejeitos invadiram áreas da Mina do Córrego do Feijão, onde a estrutura estava, e das proximidades, deixando um rastro de mortes e destruição.

Desde o início das buscas, foram localizadas 393 pessoas, das quais 224 da “lista da Vale” e 169 da comunidade. Não há mais hospitalizados, segundo o balanço atualizado pela Defesa Civil.

Crédito

O Banco do Brasil anunciou que produtores de Brumadinho terão mais prazo para financiamentos adquiridos. O vencimento das dívidas foi adiado em um ano, considerando prejuízos da tragédia.

Subiu para 165 o número de mortos no rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho (MG), de acordo com balanço oficial divulgado nesta segunda-feira (11).

A quantidade de vítimas não era atualizada desde a última quinta (7), quando a tragédia contabilizava 157 falecidos. Ainda há 160 desaparecidos, e 156 corpos foram identificados.

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Mais de 350 pessoas estão envolvidas nas operações de busca, que já duram 17 dias. A barragem se rompeu em 25 de janeiro, e os rejeitos atingiram uma área administrativa da Vale, uma pousada e casas da região.

Da Ansa

Subiu para 150 o número de mortos no rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho (MG), segundo balanço divulgado nesta quarta-feira (6) pela Defesa Civil.

Outras 182 pessoas estão desaparecidas. Do total de vítimas, 134 corpos já foram identificados. Ou seja, após 13 dias de buscas, mais da metade dos indivíduos supostamente atingidos pelos rejeitos ainda não foram encontrados.

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O Corpo de Bombeiros já trabalha com a hipótese de que alguns corpos não sejam recuperados. As últimas vítimas foram achadas perto do estacionamento da unidade de tratamento de minério e de um vestiário.

O rompimento ocorreu no último dia 25 de janeiro, e a Vale, dona da barragem, ainda não conseguiu explicar o motivo do desastre.

Três funcionários da mineradora e dois engenheiros que atestaram a segurança do reservatório haviam sido presos, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou a soltura na última terça-feira (5). 

Da Ansa

Cerca de 380 homens deram início aos trabalhos no 13º dia de buscas na região onde uma barragem da mineradora Vale se rompeu, em Brumadinho (MG). De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar do estado, além do efetivo, as equipes contam com o auxílio de 21 máquinas pesadas e quatro caminhões.

O último balanço da Defesa Civil de Minas Gerais aponta 142 mortos na tragédia, sendo que 122 já foram identificados. Três pessoas permanecem hospitalizadas e 194 ainda não foram localizadas – entre funcionários da Vale, terceirizados que prestavam serviços à mineradora e membros da comunidade. Há também 103 desabrigados.

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Libertação de presos

Nessa terça-feira (5), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu pela libertação de cinco pessoas presas no dia 29 de janeiro, acusadas de envolvimento no rompimento da barragem. Entre elas estão engenheiros, geólogos e outros técnicos da Vale e da empresa que assinou laudo assegurando as condições de segurança da barragem.

A tragédia causada pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, a 57 quilômetros de Belo Horizonte, completa nesta segunda-feira (4) 11 dias de buscas. Lentamente, as pessoas tentam retomar o cotidiano. Voluntários buscam ajudar nessa tarefa, como um grupo de cabeleireiras e manicures, que abriram mão do lucro, para dar conforto a quem perdeu um parente ou busca notícias de um familiar desaparecido.

Com o semblante entristecido, a auxiliar de cozinha Leidiane Paula Araújo, de 24 anos, disse que estava ali para tentar melhorar a angústia de ter enterrado a mãe. Camareira de uma pousada, a mãe de Leidiane é um dos 121 mortos do desastre do último dia 25.

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“A gente tentando ficar feliz e fazendo a vida caminhar”, afirmou a auxiliar de cozinha, que fez o cabelo e as unhas. Ela levou a avó, que sofre com a perda da filha.

Ajuda

A manicure Rosemary Santos trabalha em um salão no centro de Brumadinho. Segundo ela, desde a tragédia só tem um pensamento: “tenho de ajudar”. A manicure contou que, apesar de não ter perdido parentes na tragédia, sente-se responsável por ajudar as famílias.

“Não tenho familiares, mas tenho conhecidos em Brumadinho”, disse a manicure. “É muito bom [estar aqui], acho que a gente ganha mais energia.”

A ideia de levar cabeleireiras e manicures como voluntárias foi do empresário Gabriel Augusto de Barreiras, de 26 anos. Segundo ele, cerca de 150 pessoas estão envolvidas na ação, além de outras iniciativas, como distribuição de água e alimentos.

“A gente vai diagnosticando as demandas”, afirmou o empresário. “A gente vai percebendo outras demandas, pensando em cuidar da saúde mental dessa galera”, acrescentou. “Nada vai pagar as vidas que se foram, a dor é imensurável.”

Em uma emocionante missa de sétimo dia pelas vítimas de Brumadinho, o arcebispo de Belo Horizonte disse, na noite desta quinta-feira (31), que a tragédia é resultado da "idolatria do dinheiro", e exigiu uma investigação.

"O que vimos acontecer é fruto da idolatria do dinheiro. Precisamos de uma sociedade que gere trabalho, oportunidades. Que o lucro não passe por cima de pessoas", disse Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte.

Há sete dias, o rompimento de uma barragem que continha resíduos de mineração, propriedade da empresa Vale, causou um tsunami de lama que matou 110 pessoas e deixou mais de 230 desaparecidos, segundo o último balanço. A maioria das vítimas era empregada pela empresa.

Ao cair da noite, nesta quinta-feira, familiares e amigos se reuniram na Igreja Matriz de São Sebastião, em Brumadinho.

Aqueles que chegaram cedo foram recebidos com flores brancas e puderam ser acomodados dentro da paróquia. Os demais acompanharam a cerimônia através de um telão instalado do lado de fora.

Durante a missa, na qual foram lidos os nomes das vítimas já identificadas, o arcebispo recordou a tragédia de Mariana, que deixou 19 mortos e devastou ecossistemas inteiros.

"Precisamos de leis mais adequadas. Minas Gerais não pode mais ser a mesma. O Brasil precisa mudar", afirmou.

A 57 quilômetros de Belo Horizonte, Brumadinho se tornou referência na região por causa da empresa Vale e da proximidade com o Museu do Inhotim, mas desde o desastre há uma semana, quando a barragem da Mina Córrego do Feijão se rompeu, a cidade vive em clima de luto e tristeza. As pessoas caminham sem sorrir nem conversar em voz alta, há enterros todos os dias, parte do comércio fechou as portas e até bares e restaurantes se impuseram luto.

Com pouco mais de 36 mil moradores, Brumadinho é a típica cidade do interior de Minas Gerais: praça onde todos se reúnem, bares com música ao vivo e a igreja, ponto de encontro da maioria. Com a tragédia que matou 110 pessoas e deixou 238 desaparecidas, de acordo com o último balanço, todos têm um parente ou amigo entre as vítimas.

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A esperança que dominou as pessoas, nos primeiros dias de resgate, cedeu lugar à angústia e ao desânimo. É comum encontrar pessoas que afirmam que querem apenas dar um sepultamento digno para uma vítima ainda desaparecida. No desespero, há quem se aventure pela lama e na mata em busca do parente ou amigo desaparecido, o que é condenado pela Defesa Civil e pelos bombeiros.

Heróis invisíveis   

Nas ruas, o único assunto desde o dia 25 é o desastre. Em meio à tristeza que predomina na cidade, surgem heróis invisíveis que estão em todos os lugares. Mulheres de várias idades se uniram e montaram uma lavanderia coletiva. Nela, lavam as roupas dos bombeiros que estão acampados no município para ajudar nas operações de resgate.

Em outro local, voluntários se revezam para tomar conta e brincar com crianças cujos pais estão envolvidos nas buscas ou entre os desaparecidos. Também há grupos de apoio aos militares e civis que atuam diretamente nas ações.

Preocupações

A preocupação da maioria dos moradores se concentra no bairro rural Córrego do Feijão, próximo à barragem. Lá, a comunidade é dependente da Vale e foi duramente atingida pela tragédia. Com a lama por todos os lados, a imagem é desoladora.

Nas pousadas da região, chegam curiosos todos os dias. Pessoas que querem ver de perto a área do desastre e acompanhar os trabalhos de buscas. O movimento ocorre na contramão da economia local, que dependia basicamente da empresa Vale e dos seus impactos.  

As buscas por vítimas do desastre causado pelo rompimento da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, nos arredores de Belo Horizonte, continuam nesta sexta-feira (1º) pelo oitavo dia. O desastre é apontado por especialistas como a maior tragédia humana da história recente do país.

O balanço mais recente indica 110 mortos, 238 desaparecidos e 394 identificados. Dos mortos, 71 foram identificados por exames realizados pela Polícia Civil. Também há 108 desabrigados e seis pessoas hospitalizadas.

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A Vale informou, há três dias, que a empresa vai acabar com dez barragens, como a que se rompeu em Brumadinho. As barragens serão descomissionadas. Todas localizadas em Minas Gerais. Segundo a empresa, descomissionar significa preparar a barragem para integrá-la à natureza.

Bloqueios

A Justiça do Trabalho autorizou um novo bloqueio de R$ 800 milhões da mineradora Vale, responsável pela barragem que se rompeu em Brumadinho.

Na última segunda-feira (28), já haviam sido bloqueados R$ 800 milhões, valor correspondente a 50% do total pedido pelo Ministério Público do Trabalho em Minas Gerais (MPT-MG).

A Vale também teve bloqueados, em outras ações, R$ 11 bilhões.

Medidas

Desde o desastre no último dia 25, a empresa anuncia medidas e faz reuniões com autoridades públicas federais e estaduais. Em encontro com procuradores em Brasília, o presidente da empresa, Fabio Schvartsman, disse que vai acelerar os acordos extrajudiciais.

Paralelamente, a empresa ofereceu o pagamento de R$ 100 mil para cada família cujo parente morreu ou está desaparecido. O cadastramento dos parentes começou, mas muitos se queixam do método utilizado.

Bolsa Família

O Ministério da Cidadania anunciou a antecipação do pagamento do Bolsa Famíliapara os beneficiários do programa que vivem em Brumadinho.

Com a medida, os beneficiários poderão sacar o dinheiro a que têm direito sem precisar seguir o calendário do programa. Atualmente, 1.506 famílias da cidade mineira estão inscritas no Bolsa Família

Buscas

As buscas por vítimas completam hoje oito dias. Um grupo de 136 militares de Israeldesembarcou na região de Brumadinho para ajudar nas operações de resgate. De acordo com informações oficiais, a tropa israelense contribuiu na localização de 35 corpos.

Trabalham no local militares do Corpo de Bombeiros, inclusive de outros estados, das Forças Armadas, Defesa Civil, Polícia Civil e Política Militar.

A delegacia de Brumadinho funciona 24h para atender familiares e receber ocorrências. Também está sendo providenciada uma equipe para atuar na expedição das identidades de parentes de familiares vitimados pelo rompimento da barragem.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, mais de 360 militares atuam na área com apoio de 15 aeronaves e 21 cães farejadores. Há ainda 66 voluntários, que atuam entre área seca e a inundada. Esses voluntários são pessoas com qualificação técnica.

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