Para muitos alunos, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é a única alternativa para concluir os estudos nos níveis fundamental e/ou médio. No entanto, desde o mês de março deste ano, as aulas da EJA foram suspensas, em razão da pandemia causada pela Covid-19. Agora, essa modalidade de ensino precisa se adaptar para alcançar os estudantes de forma remota e evitar evasão.
O que é a EJA?
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Consiste em uma modalidade de ensino que possibilita ampliar as chances de empregabilidade de jovens e adultos no mercado de trabalho por meio da conclusão dos cursos equivalentes aos ensinos fundamental, denominada etapa I (1º a 9º ano), e do médio, denominada etapa II (1º ao 3º ano). Nessa modalidade de ensino, os estudantes devem ter idade a partir dos 15 anos, para participar da primeira etapa, ou no mínimo 18 anos para as turmas da segunda etapa. De acordo com a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco (SEE), do total de vagas disponibilizadas para matrículas em 2020, 31.919 são para o ensino fundamental (anos iniciais e anos finais) e 43.059 para o ensino médio. Só no Recife, a EJA reúne mais de 7 mil alunos.
Dificuldades
Os efeitos da pandemia atingiram a educação, devido às medidas de isolamento e distanciamento social. Nesse sentido, as aulas presenciais foram suspensas. De acordo com o professor de biologia do ensino médio da EJA em Pernambuco, André Luiz Vitorino, aulas da Educação de Jovens e Adultos estão sendo promovidas pela internet. “Agora na pandemia, os conteúdos da minha escola estão sendo passados segunda, quarta e sexta via ‘zap’. As aulas eram ministradas normalmente nas salas [na forma presencial] e, agora, os professores se revezam, por noite”, explicou André Luiz em entrevista ao LeiaJá.
O professor demonstra preocupação com a questão da evasão escolar, movimento comum entre os jovens e adultos que, por vezes, deixam de estudar em decorrência do cansaço no cotidiano, optando por trabalhar. “A evasão é muito comum no Estado como um todo, mas no EJA é muito maior. Creio que teremos uma evasão muito maior por conta dessa situação pandêmica”, completou o professor.
A gestora Claúdia Abreu, da Gerência Geral das Modalidades da Educação (GGMOD) na Secretaria Executiva de Desenvolvimento de Ensino, pontua que, de fato, a “evasão é um fenômeno que acompanha em especial a Educação de Jovens e Adultos”. No entanto, Cláudia já vem discutindo junto às Gerências Regionais e escolas, estratégias que possam combater o “abandono e a evasão escolar nas modalidades de ensino”.
Ainda não há dados oficiais, neste ano, que possam quantificar o volume de estudantes que deixaram o programa de Educação de Jovens e Adultos, em virtude da pandemia. Antes da propagação da Covid-19, em balanço feito no ano de 2019, uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) aponta queda de 7,7% no número de matrículas de alunos na EJA, a nível Brasil.
Observando o cotidiano das turmas, neste ano, é possível encontrar pessoas com diversas idades. Em alguns casos, há estudantes com mais experiência, como a Edinalva Fonseca, 53 anos, que está cursando a EJA no módulo um e dois ao mesmo tempo, na escola municipal Diná de Oliveira, localizada na Zona Oeste de Recife. “As aulas eram ministradas na sala de aula e a professora dividia as matérias por dia, cada dia duas matérias diferentes. As matérias abordadas são português, matemática, ciências, história e geografia, mas antes da pandemia foram vistas apenas as matérias de português e matemática. As aulas eram ótimas, eu amava”, relatou Edinalva.
A estudante confirma que "aulas remotas" têm sido efetuadas pelo WhatsApp junto ao corpo docente da escola. “Em relação às aulas remotas, a professora fez um grupo no WhatsApp, que é por onde ela se comunica com os alunos. Assim que foram suspensas as aulas, não teve atividades”, declarou a aluna.
Apesar dos esforços, Edinalva, que faz a EJA para melhorar a leitura e o aprendizado, lamenta que não possa ter aulas presenciais e considera exaustiva a forma que vêm sendo executadas as atividades escolares. “Ela [a professora] faz um vídeo explicando a atividade e pede para que os alunos façam e enviem a foto ou ela escreve em uma folha, manda a foto e explica por áudio a atividade. Mas, as aulas não se comparam nem um pouco com a presencial", detalhou.
De acordo com o professor André Luiz, as dificuldades esbarram também na pouco ou total falta de acesso de alguns estudantes a equipamentos eletrônicos ou à internet, que por sua vez facilitaria o acesso aos materiais de aulas disponibilizados. Além dessa observação, André fala que “dias atrás foi definido que os estudantes da EJA vão ter acesso ao Educa PE e ao portão AVA, com aulas gravadas". Ele acrescenta: "Vamos continuar usando o WhatsApp e tentar algo com o Google Meet”, de segunda- feira à sexta-feira, assim como seria nas aulas presenciais.
Como serão solucionadas as dificuldades?
Desenvolver canais de comunicação via internet com os estudantes, dos mais variados segmentos de formação, tem sido uma prática universal. Em resposta a necessidades, Claúdia Abreu explica que mesmo com as adversidades, atitudes foram tomadas para alcançar estudantes de diferentes idade e municípios de Pernambuco. Dentre as opções para a Educação de Jovens e Adultos, está a “criação de um espaço no portal da Secretaria de Educação para disponibilização de atividades não presenciais para os estudantes e de materiais de subsídio pedagógico para os professores”. Além dessa ação, Claúdia reitera que há outras orientações às Regionais de Educação quanto a implementação das aulas on-line, adotadas pela Secretaria de Educação, seguindo instruções da Resolução do Conselho Estadual de Educação de Pernambuco (CEE/PE) de nº 3, de 19 de março deste ano, e parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) com diretrizes para reorganização dos calendários escolares e realização das atividades não presenciais pós retorno”.
Claúdia ainda lista a utilização do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) para formação dos professores, em fase de finalização, e indica que a SEE-PE determinou que estudantes da EJA terão acesso às aulas disponibilizadas através do canal Educa-PE.
A gestora também enfatiza que cada Gerência Regional definirá, de acordo com as orientações, a melhor forma de gerir o contato remoto. Perguntada sobre o monitoramento das atuais medidas, a gestora detalha que serão realizadas “reuniões sistemáticas com as coordenações das modalidades da Educação das Gerências Regionais para acompanhamento do ensino remoto realizado pelas escolas com os estudantes, bem como das iniciativas para manutenção do vínculo dos estudantes com as escolas”.
Diante da situação de crise sanitária, que acomete a população a nível global, Cláudia destacou um comunicado do secretário da Educação do Estado, Fred Amâncio, em que existem comissões “formadas por representantes de vários segmentos da Educação que estão desenvolvendo um plano de retomada das aulas”.
Cláudia Abreu ainda reitera que não há, até um momento, datas definidas para o retorno das aulas presenciais, mas afirma que o plano terá que cumprir todos os “protocolos sanitários e de biossegurança em todos os ambientes educacionais, e que o retorno será gradual, inclusive para as modalidades da educação, com possibilidade de ensino híbrido”. Em Recife, existem 278 turmas da EJA e o programa na capital conta com 300 professores.
O futuro será on-line?
Não há, em definitivo, um planejamento estadual que define permanentemente a Educação de Jovens e Adultos somente pela internet. Mas, essa modalidade poderá ser híbrida, como mencionado pela gestora do SEE-PE. Contudo, de acordo com a Secretaria de Educação do Recife, em meio ao “novo normal” e às infinitas adaptações para manter a conexão com os estudantes, além de cumprir as orientações alinhadas juntos a Gerência Estadual de Ensino, avalia-se um novo programa para uma educação a distância para a EJA.
“A ideia dessa ação do Programa Escola do Futuro em Casa (EAD da Prefeitura do Recife) é assegurar e manter o vínculo com os estudantes, para que possam dar continuidade a aprendizagem e interação, minimizando desta forma os prejuízos pedagógicos acarretados, decorrentes do afastamento prolongado da escola”, afirma o gestor da Unidade de Jovens e Adultos da Seduc Recife, Bruno Oliveira.
Por outro lado, avaliando a proposta, em caso de implementação municipal ou estadual, o professor André Luiz diz que a "ideia é boa", no entanto, não alcança a todos; o docente aponta prejuízo à aprendizagem dos alunos, principalmente aos mais velhos. “Educação a distância está sendo uma coisa muito difícil para os nossos alunos, porque os alunos das redes estadual e municipal têm uma certa dificuldade de acesso à internet, que também dificulta qualquer planejamento. A ideia de aula remota é boa, inclusive são aulas bem feitas, porém a acessibilidade é que é o problema. E o aprendizado deles [alunos], acredito que tem sido quase nenhum, pois eles [estudantes da EJA] precisam da nossa presença incentivando o trabalho diário", conclui o professor.