No convite feito aos recifenses pela comunidade do facebook da Marcha das Vadias, o Movimento Zoada publicou um manifesto pela igualdade e repeito a todas as mulheres. Na programação, iniciada às 14h na Praça do Derby, área central do Recife, confecção de faixas, de cartazes, intervenção de graffiti e a leitura do documento. No entanto, durante a passagem pela Avenida Conde da Boa Vista, um grupo de ambulante começou a agredir verbal e fisicamente os que marchavam pela via. Relatos de representantes da Marcha dão conta de que foram agredidos com paus, socos, além das mulheres terem tido seus seios tocados pelos trabalhadores informais durante a confusão.
Segundo o servidor público, Fernando Ribamar, 42 anos, ele acompanhava a atividade quando nas proximidades do Shopping Boa Vista começaram a tocar os seios das jovens e ao defendê-las, levou um soco no rosto. Júlia Costa, estudante, 21 anos, representante do movimento ficou com o queixo machucado por um soco que um camelô daria em Marcello Campello, musicista, 33 anos e apesar de não ter sido atingido, caiu no chão e se machucou. Mariana Monteiro, marqueteira, 31 anos, também levou um murro na orelha.
##RECOMENDA##
Policiais e um homem a paisana foram flagrados por nossa equipe de reportagem com arma em punho. Apenas dois agressores foram levados a Corregedoria localizada na Conde da Boa Vista e de lá seguem para a Central de Flagrantes, na Avenida Agamenon Magalhães, área central da capital pernambucana. Apenas os ativistas agredidos no ato não concluíram, a caminhada, mas as outras centenas de pessoas concluíram o percurso até o Marco Zero. Os dois homens agredidos foram encaminhados para à UPA da Imbiribeira, na zona sul do Recife.
[@#galeria#@]
Confira o manifesto na íntegra:
Convocatória para a Marcha das Vadias – Movimento Zoada, Coletivo Feminista Diadorim e Marcha das Vadias- Recife
Marchamos pelas mulheres que já são entendidas como vadias disponíveis, hiperssexualizadas desde sempre. Lutamos pelas que não tiveram e não tem escolha sobre o direito de ser vadia ou não. Não somos nem santa nem puta!
Sou feminista. Dentre várias razões porque quando eu estou sozinha numa rua escura levemente alcoolizada no meio da noite e escuto passos atrás de mim. Apavoro. Olho pra trás e percebo que não há sensação mais reconfortante do que ver uma mulher e eu sei que ela está aliviada em me ver também olhares que se tocam e silenciosamente dizem "obrigada".
Vamos às ruas nesse dia 30 de maio para lutarmos contra o machismo que recai contra as mulheres, causando todo tipo de violência de gênero e suprimindo os direitos mais básicos de todas as cidadãs.
Marchamos por igualdade e respeito a todas as mulheres. Queremos que a gente mulheres negras, pobres e da periferia, possua direitos garantidos. Que não mais nossos corpos explorados sexualmente pela mídia e pela sociedade. Lutamos para que as mulheres não sejam agredidas por causa da vida sexual que querem ter, também marchamos para que as mulheres possam ter dignidade e segurança dentro e fora de casa, NÃO sendo mais torturadas, espancadas e violentadas por seus pais, parentes e companheiros. É por isso que também chamamos para preparar e participar da Marcha das Mulheres Negras em Brasília dia 18 de novembro de 2015.
Lutamos para que as mulheres, ao usar transporte público não sejam mais constrangidas com cantadas machistas, nem encoxadas e abusadas por homens. Marchamos pelo direito à cidade: para que ruas, vielas e becos sejam mais seguros para as mulheres negras, trans, lésbicas, bissexuais, e que a noite não seja mais um símbolo de medo de um possível estupro.
Lutamos para que o direito de ir e vir seja, de fato, garantido às mulheres!
Marchamos para que meninas não sejam mais expulsas de suas casas porque engravidaram na adolescência. Lutamos para que se elas quiserem abortar, tenham aparato legal e segurança para fazer o procedimento. Ser mãe não deve ser uma obrigação, e criminalizadas, sabemos que milhares de mulheres todos os anos morrem fazendo abortos clandestinos. Lutamos para que as mulheres que decidem ser mães não se sintam sós nesta luta diária, que possuam condições básicas para criar suas crianças, como acesso a creche, saúde, educação, alimentação de qualidade. QUEREMOS CRECHES!
Marchamos para que as mulheres possam ser protagonistas da sua história e donas do seus próprios corpos.
Por sentimos na pele o despertar por uma luta antirracista, anticapitalista, contra a criminalização do tráfico de drogas e feminista, marchamos contra o sistema capitalista que se sustenta nos colocando em jornadas triplas de trabalho ( em casa, no trabalho formal, e ainda o cuidado com as crianças e os e as idosas/os). Nós mulheres recebemos, na maioria das vezes, salários injustos e inferiores aos dos homens, sofrendo por não termos com quem deixar suas crianças ao irem em busca do sustento diário. Lutamos para nós mulheres negras e pobres não tenhamos mais uma falsa independência ao conseguirmos uma vaga de emprego no comércio e na casa de outras mulheres como trabalhadoras domésticas, onde continuamos sendo exploradas sem o acesso a todos seus direitos trabalhistas.
Marchamos ao lado das índias, quilombolas e trabalhadoras rurais, que são força ativa de trabalho e possuem seu meio de (sobre)vivência negado e invisibilizado pelo governo, pelas empresas, pelo latifúndio, pela sociedade. Marchamos ao lado das mulheres que são inseridas e usadas no tráfico de drogas, que são presas, que sofrem os efeitos da guerra às drogas.
A luta feminista não é individual! Nosso feminismo só será válido se LIBERTAR A TODAS, COLETIVAMENTE! O machismo é recorrente na vida de todas as mulheres, mesmo que de formas diferentes. Temos que estar juntas lado a lado para que nossos direitos sejam reconhecidos. Não aceitaremos que o sistema capitalista liberte, ainda que parcialmente, algumas mulheres, e aprisione - com pesadas correntes- outras.
Para lutar contra tudo isso não é preciso conhecimentos acadêmicos. Aprendemos juntas com o compartilhamento de nossas próprias vivências, na prática! Sigamos em frente, empoderadas e juntas!
O feminismo será para todas as mulheres ou não será!
* Com informações de Camila de Assis