O isolamento social, medida necessária para conter o avanço da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-COV-2), levou prefeituras e governos estaduais de diversas regiões do Brasil a adotarem medidas legais para restringir a circulação de pessoas e, assim, mantê-las em casa. O fechamento do comércio, que foi adotado em Pernambuco por meio de decreto, impacta a vida de diversos trabalhadores que dependem da atividade, especialmente aqueles que não têm uma empresa formalizada e ponto fixo de vendas, por exemplo.
Comerciantes informais, ambulantes, autônomos e pequenos empreendedores sofrem com a crise. O LeiaJá entrevistou o comerciante Gildo Gonçalves, mais conhecido como Gildo Lanches, famoso no Recife por vender salgados - "comidos", refrigerantes e sucos - "bebidos" - na Praça do Derby, localizada na região central da cidade, há 16 anos. Gildo precisou parar suas atividades, uma vez que não tem um ponto como uma lanchonete, para oferecer retirada dos alimentos, e também não realiza serviços de entrega - sonho de muitos de seus clientes -.
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Para Gildo, a maior dificuldade durante esse período é ficar impossibilitado de atender uma clientela que existe, mas está inacessível, pois todos precisam ficar em casa para cuidar da saúde e prevenir o contágio pelo novo vírus, que já infectou 1.133.758 pessoas no mundo (casos confirmados) e causou 62.784 mortes nas últimas 24 horas, segundo dados atualizados às 5h do horário de Brasília pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para se adaptar ao momento de crise, no entanto, Gildo afirma que está buscando alternativas para começar a levar a comida até as casas das pessoas. “Já estamos pensando nisso de trabalhar com aplicativo de entregas, a gente já está se preparando. O maior desafio é ter meu negócio, minha clientela e não conseguir atender. Vou atender eles na entrega, porque tenho clientes fiéis que querem muito. E é a única carta que tenho para jogar”, afirmou Gildo.
Até o momento, a maior dificuldade encontrada para implementar o sistema de entregas, segundo Gildo, é o preço dos produtos frente ao custo envolvido no ingresso em plataformas de entrega por aplicativo. “A maior dificuldade é que os meus lanches são baratos e não gostaria de aumentar o valor, mas está sendo pensado como fazer para não sair da cultura dos meus preços”, explicou ele. No que diz respeito ao abalo causado pelas medidas de prevenção ao novo vírus, Gildo relata que as contas a pagar estão chegando depressa e, diante disso, precisa de uma alternativa rápida para voltar a oferecer seus serviços aos clientes durante o período de quarentena.
“Tenho aluguel para manter, tenho fornecedores que precisam também. O desafio é que tem aluguel para pagar e as despesas da casa. Eu estava achando que ia ser umas duas semanas, mas é mais tempo e não tenho condições de ficar mais tempo parado porque tenho muitas pessoas que me ajudam, que precisam”, afirmou o comerciante.
Apesar de todas as dificuldades, Gildo Lanches lembra que há um vírus perigoso no mundo e todos, por mais complicado que seja, precisam seguir as recomendações para prevenção à Covid-19. “Temos que obedecer os órgãos competentes e ter paciência, se cuidar. Neste momento não estou vendendo porque não tenho lanchonete, vendo na rua. Mas é por uma boa causa. Saúde em primeiro lugar”, lembrou Gildo. O
momento, no entanto, não pede apenas criatividade e jogo de cintura por parte dos comerciantes, trabalhadores e empreendedores, mas apoio governamental para que tanto os empresários quanto seus funcionários possam cuidar da saúde sem endividamento ou medo do futuro. Questionado sobre a sua opinião no que diz respeito à ajuda emergencial de R$ 600 que o Governo Federal pretende pagar a trabalhadores informais e pequenos empresários, Gildo diz ver a medida com bons olhos, mas afirma que os trabalhadores também têm outras necessidades além de garantir o sustento imediato, e que quanto antes for possível e seguro retornar ao trabalho, melhor.
“Essa ajuda do governo é boa e bem-vinda, mas quando os trabalhadores puderem voltar às atividades será com certeza melhor porque a maioria precisa de mais, para outras necessidades, e não só comida. É para o bem de todos, o governo está ajudando fazendo a parte dele. A gente faz a da gente, se virando como pode. É ter fé que tudo vai voltar ao normal, em nome de Jesus Gildo Lanches vai voltar”, afirmou Gildo.