A persistência da Covid-19 e uma operação no início de julho não devem impedir o papa de iniciar, no domingo (12), sua 34ª viagem internacional à Eslováquia, após uma breve parada em Budapeste, onde se encontrará com o populista Viktor Orban.
Durante quatro dias, o papa argentino, de 84 anos, terá uma agenda carregada no coração da Europa, dissipando as preocupações geradas por sua operação de cólon no início de julho.
A forma física do papa - que, aos risos, descartou os rumores de uma renúncia - será acompanhada de perto durante esta viagem. Como de costume, seu médico pessoal estará a bordo.
Francisco pousará primeiro em Budapeste, para uma visita de sete horas. Neste intervalo, presidirá a missa de encerramento do Congresso Eucarístico Internacional. Não será uma visita de Estado, mas uma participação em um evento espiritual, que inclui um encontro com o presidente Janos Ader e com o primeiro-ministro Viktor Orban.
Questionado sobre o que gostaria de dizer a Viktor Orban, o papa surpreendeu quando declarou recentemente na rádio espanhola Cope: "Não sei se vou me reunir com ele".
Uma forma diplomática de não falar de um adversário aos seus apelos para acolher cada vez mais migrantes na Europa? "Acho que quis minimizar a importância de seu encontro com Orban", comentou um observador que conhece bem o pontífice. O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, confirmou o encontro.
Jorge Bergoglio e Viktor Orban nunca se encontraram sozinhos, mas se cumprimentaram duas vezes no Vaticano.
A primeira vez foi em 2016, depois de uma audiência com uma organização internacional de juristas católicos. A segunda se deu em março de 2017, quando o papa cumprimentou os chefes de Estado e de governo da União Europeia (UE) que vieram comemorar o 60º aniversário do Tratado de Roma.
Antes dessa saudação, qualificada como "muito cordial" por fontes húngaras, o papa havia advertido, em um discurso, que a Europa "corre o risco de morrer", se não recuperar seus ideais originais, especialmente a "solidariedade", "o antídoto mais eficaz aos populismos".
Caminhando no sentido oposto, Viktor Orban defende a rejeição dos migrantes muçulmanos em território europeu para não "destruir a herança cristã".
"Viktor Orban é um húngaro que fala claramente", cujas palavras são, em geral, consideradas negativas, pondera seu embaixador Eduard Habsburg, que prefere destacar temas comuns com o papa. Entre eles, estão "liberdade religiosa, ou cristãos perseguidos".
De origem calvinista, Orban voltou ao poder em 2010 com a ambição de promover os valores cristãos apagados por décadas de comunismo. Há dez anos, o país tinha apenas 39% de católicos, e 11%, de protestantes, com apenas 15% dos crentes que frequentam serviços religiosos.
A viagem do papa acontece sete meses após sua histórica visita ao Iraque, então um país confinado, em meio a uma epidemia. Os fiéis se reuniram em igrejas lotadas e em um grande estádio.
A Eslováquia, que o papa visitará por três dias depois de Budapeste, é um dos países com a população menos vacinada da Europa. Apenas metade dos adultos está 100% imunizada contra a covid-19. Na UE, a média é de mais de 70%.
Até agora, cerca de 80.000 pessoas se inscreveram para ver o papa, incluindo 7.000 não vacinados, disse à AFP o porta-voz da conferência episcopal eslovaca, Martin Kramara.
O embaixador eslovaco junto à Santa Sé, Marek Lisansky, admite que a taxa de vacinação "não é a ideal" neste pequeno Estado de 5,4 milhões de habitantes, embora a visita do papa constitua "um momento único para o país".
"O papa vem neste período de pandemia para nos oferecer sua solidariedade", comentou o diplomata, elogiando seu país, onde convivem 13 reconhecidas minorias nacionais.