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O avô de Fernandinho, meio-campista do Athletico e com passagens pela Seleção Brasileira, está desaparecido em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. O jogador se manifestou nas redes sociais pedindo para quem tiver informações repassar à polícia de Pernambuco. Ainda segundo o atleta, Benedito Machado sofre do mal de Alzheimer. A família não consegue contato com ele desde a manhã dessa quarta-feira (22).

“Bom dia. Escrevo essa mensagem especificamente para o pessoal de Recife e Jaboatão dos Guararapes. Meu avô, Benedito Machado, tem Alzheimer e está desaparecido desde ontem pela manhã. Se alguém o viu, favor entrar em contato com a polícia local. Muito obrigado desde já”, postou o jogador.

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A reportagem do LeiaJá entrou em contato com a Polícia Civil de Pernambuco, mas não obteve retorno até a última atualização desta matéria. Em caso de resposta, o texto será atualizado. O Athletico também ainda não se pronunciou sobre o ocorrido.

Carreira de Fernandinho

Fernandinho tem 38 anos e iniciou a carreira no Furacão, em 2001. Ele chegou ao futebol europeu quatro anos mais tarde, para defender o Shakthar Donesk-UCR. Fernandinho viveu a melhor fase da sua carreira no Manchester City-ING, sendo convocado pela Seleção Brasileira para as Copas do Mundo de 2014, no Brasil, e 2018, na Rússia.      

Dados do 1º Relatório Nacional de Demências - a serem publicados até o fim de 2023 - devem mostrar uma situação preocupante para a saúde pública no Brasil. A quantidade de pessoas não diagnosticadas com a Doença de Alzheimer deve estar na faixa de 75% a 95%, dependendo da região brasileira, segundo adiantou à Agência Brasil a médica e pesquisadora Claudia Suemoto, da Universidade de São Paulo (USP). 

O relatório encomendado pelo Ministério da Saúde - e coordenado pela professora Cleusa Ferrim da Universidade Federal de São Paulo - deve apontar, por exemplo, que  o número de pessoas com a doença pode estar na faixa dos 2,4 milhões. A doença é conhecida pela perda progressiva de memória, entre outras consequências. A incidência é majoritariamente entre pessoas idosas. 

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“As taxas de não diagnóstico no Brasil são alarmantes. Quando vimos inicialmente os dados, pensamos que estavam errados. Recalculamos e era isso mesmo. A gente precisa ter mais conscientização sobre o Alzheimer. Há ainda estigmas”, afirma a pesquisadora. A campanha de 2023 para o Mês de Conscientização para o Alzheimer (Setembro Roxo) traz o tema “Nunca é cedo demais, nunca é tarde demais”, com foco maior na prevenção. 

“Quanto mais a gente falar, muito menos não diagnósticos a gente vai ter. Haverá menos estigma e mais prevenção”, afirmou a professora. 

O professor de medicina Einstein de Camargos, da Universidade de Brasília, explica que a realização do diagnóstico precoce possibilita mais possibilidades de intervenções. “Não só com medicamentos, mas sobretudo com terapias cognitivas, estimulação, terapia ocupacional, exercício físico, fazendo com que esse processo seja mais lento”. Ele entende que, mesmo havendo subnotificação da doença, há maior visibilidade dos casos de Alzheimer. 

Maior fator de risco

Especialistas apontam que há um consenso de que, dentre os fatores de risco para a doença, há um deles que não é propriamente da área de saúde: a baixa educação.

“Esse é um fator modificável para os quadros demenciais (como é a doença de Alzheimer). Se a gente melhorar a qualidade da educação, por exemplo, do povo brasileiro, a gente vai diminuir os risco para demência. Inclusive esse é o fator de risco mais importante no Brasil”, afirma a professora Claudia Suemoto.

 O professor Einstein de Camargos, da UnB, entende que esse dado é extremamente importante porque mostra que a maior prevenção não está dentro da área da saúde em si. A escolaridade pode ser transformadora para a saúde em diferentes sentidos. E nesse caso é orgânico. 

Os médicos explicam que a resistência aos efeitos do adoecimento devem estar relacionados à reserva cognitiva que uma pessoa tem. “Se a pessoa teve uma maior estimulação cognitiva durante a vida, vai ter uma ‘poupança’ maior, com grande número de neurônios”, afirma a professora 

Resistência

O que se observa no cérebro de pessoas que desenvolveram a doença de Alzheimer é o acúmulo de proteína beta-amilóides. Quanto maior a “força” cerebral mais resistência haverá contra a presença da proteína. Camargos elenca que essa resistência está, além do aumento da escolaridade, na redução do tabagismo, no controle do diabetes e da pressão arterial.

É, então, boa notícia que são fatores de risco modificáveis na vida do indivíduo e da sociedade. Claudia Suemoto aponta que se estima que 48% dos casos são relacionados a fatores de início de vida (baixa escolaridade), da meia idade (hipertensão arterial, perda auditiva, traumatismo craniano, obesidade e consumo excessivo de álcool) e da terceira idade (diabetes, tabagismo, depressão, isolamento social, poluição ambiental e falta da atividade física).

“São todos fatores simples, mas bastante prevalentes. Se a gente modificasse a frequência deles na população, a gente estaria prevenindo demência, com certeza”, diz a professora. Uma boa notícia é que as melhores condições de vida diminuem os casos novos. 

Evoluções

Se, por um lado, há subnotificação, segundo a professora Claudia, o que tem acontecido nos últimos 10 anos principalmente para a doença de Alzheimer é que tem melhorado muito o diagnóstico. Na década passada, quando havia uma queixa de memória, a pessoa fazia alguns testes no consultório. 

“Só que atualmente a gente consegue medir proteínas depositadas no cérebro e que são associadas a doença de Alzheimer". Foi o médico Alois Alzheimer quem descreveu a doença no início do século 20, identificando lesões cerebrais.

Antes, porém, não era possível medir essas proteínas com pessoas vivas. Atualmente já é possível medir essas proteínas no liquor (o líquido que envolve o cérebro). Mas, para fazer o exame era preciso um procedimento muito invasivo. Hoje, o exame se tornou mais acessível com auxílio da medicina nuclear.

Remédios

A médica Claudia Suemoto entende que há também alguma evolução nos medicamentos. “Hoje em dia, a gente já tem três drogas que limpam essa proteína beta-amilóide com resultados promissores. Limpam essas proteínas em pessoas com a doença mais leve. Então, a gente está tentando entender quais são os efeitos a longo prazo”, avalia Claudia. 

Ela contextualiza que existe efeito colateral nessas drogas que precisam ser avaliados. “É tudo muito novo, mas finalmente a gente tem uma medicação que parece mexer no mecanismo da doença”, opina.

Einstein de Camargos avalia que os medicamentos ainda saem muito caros e estão longe ainda da aplicabilidade.

Procura por ajuda

Os médicos explicam que queixas de memória são sintomas mais conhecidos relacionados à doença. Lembranças do presente, fatos importantes do passado, nomes de pessoas tornam-se desconhecidos para quem tem a doença. Mas é possível identificar como possíveis sintomas também pela perda de planejamento e confusão mental.

“A pessoa tinha afazeres domésticos e está tendo uma certa dificuldade. Não consegue mais dirigir, lembrar a rotina… Esses fatores são os que mais chamam atenção no dia a dia. Fora isso, deve-se ter atenção do ponto de vista do comportamento fora do habitual. A pessoa deve procurar um médico para afastar a doença de Alzheimer como primeira causa”, exemplifica Camargos.

Sono e atividade física

Especialistas concordam ainda que existem medidas de prevenção fundamentais para evitar a doença, e passam também por necessidade de repousar. “Quem dorme menos de seis horas por noite aumenta o risco em 35% de ter demência. Pesquisas dos últimos 10 anos mostraram que dormir bem faz o cérebro limpar as toxinas do dia”, revela.

E quando se está acordado, é importante atividade física. Pesquisadores da Universidade de Brasília estão desenvolvendo um estudo detalhado para apontar a influência do exercício físico nesse sistema de limpeza cerebral. “Eu vou usar um termo simples. Precisamos encontrar os garis do cérebro que precisam trabalhar melhor e com mais condições. Assim, a gente vai ter uma redução dessa doença”, finaliza.

 

Chega ao Brasil nesta semana o exame americano PrecivityAD2, que, a partir de uma amostra de sangue simples, ajuda a identificar a doença de Alzheimer em estágios precoces. A iniciativa de colocar o teste no mercado brasileiro é do Grupo Fleury. O procedimento vai custar R$ 3,6 mil e, por ora, não há cobertura dos convênios.

A disponibilidade de um exame de sangue para diagnóstico da doença é importante para tornar esse processo mais acessível. Ele é quase três vezes mais barato que o PET amiloide (um exame de imagem), que custa cerca de R$ 9 mil e é considerado o padrão-ouro para a identificação do quadro. Ao mesmo tempo, é menos invasivo do que o teste de líquor (esse custa ao redor de R$ 3.500), que depende de punção na lombar, ou seja, uma agulha é usada para coletar o líquido da medula espinhal.

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"Esse exame é uma análise de proteínas que estão relacionadas à doença de Alzheimer, a beta-amiloide, tau e tau fosforilada. É feito no plasma (do sangue) e com uma técnica mais recente, que a gente chama de espectometria de massa e é capaz de detectar mínimas variações nessas proteínas", descreve Aurélio Pimenta Dutra, neurologista do Fleury Medicina e Saúde.

Segundo ele, o que diferencia o PrecivityAD2 de outros testes de sangue já disponíveis no Brasil é a capacidade de captar alterações na tau e também na tau fosforilada. Os demais, explica, focam apenas na beta-amieloide e, por isso, só predizem risco de um quadro clínico estar associado à doença e não tem "capacidade diagnóstica".

Cabe destacar que o PrecivityAD2 não é um exame de triagem, isto é, não serve para check-up. Ele deve ser aplicado em pacientes que já apresentem sinais e sintomas de declínio cognitivo.

O teste está disponível nas unidades da marca Fleury que ficam no Estado de São Paulo, mas, de acordo com Edgar Gil Rizzatti, presidente de Unidades de Negócios Médico, Técnico, de Hospitais e Novos Elos do Grupo Fleury, em breve deve chegar a todas as unidades do grupo. O exame pode ser realizado mediante pedido médico e o resultado é liberado em cerca de 20 dias.

O PrecivityAD2 é comercializado pela C2N Diagnostics, uma startup da Universidade de Washington, e foi desenvolvido por pesquisadores da mesma instituição. As amostras coletadas no Brasil são encaminhadas para avaliação nos Estados Unidos. O exame chegou ao mercado americano ainda em agosto. "Estamos preocupados em oferecer uma medicina no 'estado da arte'", diz Rizzatti.

Como é feito o diagnóstico do Alzheimer?

O diagnóstico de Alzheimer não é simples. O passo inicial sempre depende da reclamação do paciente ou de quem convive com ele sobre sintomas como falhas na memória. A partir disso, o médico vai aplicar testes neuropsicológicos para determinar se há declínio cognitivo (prejuízos na capacidade de processar pensamentos) em comparação com indivíduos de mesma idade e escolaridade.

Segundo Orestes Vicente Forlenza, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), se os déficits cognitivos causarem incapacitação para atividades usuais da vida diária, estabelece-se o diagnóstico de demência. Se o problema não estiver nesse nível, caracteriza-se o que é chamado de comprometimento cognitivo leve, que pode ser entendido como uma manifestação prodrômica da doença de Alzheimer.

A demência pode ser causada por uma série de quadros, e o principal deles é o Alzheimer. Nessa fase do diagnóstico, o médico pode pedir exames laboratoriais e de imagem para descartar outras causas e fechar um diagnóstico presuntivo de Alzheimer.

No entanto, para ter mais certeza, há exames de biomarcadores - elementos presentes no organismo que podem sugerir a ocorrência de uma doença. Os mais amplamente utilizados e conhecidos são o PET amiloide e a biópsia do líquor. O problema do primeiro é o preço e também o fato de que está disponível em poucos centros no País. Já o segundo é considerado invasivo. Mais recentemente, entraram em cena os exames laboratoriais de sangue.

O que os exames de sangue buscam

A causa do Alzheimer ainda não é clara, mas se sabe que a doença se instala quando o processamento de certas proteínas do sistema nervoso central começa a dar errado, segundo o Ministério da Saúde. Surgem fragmentos de proteínas mal cortadas e tóxicas dentro dos neurônios e nos espaços que existem entre eles, formando placas (lesões). Como nosso corpo falha em eliminá-las, elas se acumulam no cérebro.

Duas proteínas são a marca da doença: a beta-amiloide e a tau. "Aparentemente, a beta-amiloide se acumula primeiro na forma de lesões extracelulares, em volta dos neurônios. Com o progredir da doença, parece que ela desencadeia a deposição de proteína tau em lesões intracelulares, que levam à morte neuronal", explica Claudia Kimie Suemoto, professora associada da disciplina de geriatria da FMUSP, que faz parte do Advisory Council da Alzheimer's Association International Society to Advance Alzheimer's Research and Treatment (ISTAART). Os biomarcadores vão sinalizar o aumento no nível dessas duas proteínas e permitem dizer quem tem ou não a doença.

O Alzheimer ainda não tem cura, mas, fora do País, algumas drogas têm sido usadas de forma experimental. Para um paciente poder ser elegível, é preciso saber os níveis de tau e beta-amiloide. Daí a importância de contar com um diagnóstico cada vez mais preciso. "É um caminho sem volta, (o tratamento) vai chegar no Brasil, vai ser aprovado e a gente precisa de exames assim pra poder indicar", fala Claudia.

O papel do exame de sangue no diagnóstico de Alzheimer

É nesse sentido que Claudia diz que o novo exame é "super bem-vindo" ao Brasil. Segundo ela, um exame que capta a tau no sangue, além da beta-amiloide, é "revolucionário", mas, por ora, tem limitações que precisam ser levadas em consideração.

Segundo o Fleury, o teste atingiu precisão de 88% quando comparado aos resultados quantitativos do PET amiloide cerebral. "É um exame de de equivalência, mas ainda não faz parte dos critérios diagnósticos", fala Dutra, neurologista do Fleury. "Ou seja, possivelmente será utilizado para complementar (outros exames) e, com a progressão da confiança, pode ser que futuramente ele faça parte de um dos critérios diagnósticos para doença de Alzheimer."

É importante lembrar que o cérebro é considerado um órgão "isolado", e é ali onde se instalam as placas de proteínas defeituosas. Então, por algum tempo, captar alterações em todos esses elementos a partir de uma amostra de sangue chegou a ser visto como algo pouco provável.

"A gente tem uma estrutura que envolve todo o cérebro que denominamos de barreira hematoencefálica. Essas proteínas ultrapassam essa barreira e caem no sangue. A questão é que a dosagem dessas proteínas no sangue é extremamente baixa, e outras técnicas foram utilizadas anteriormente pra tentar detectar essas variações, mas foram ineficazes", conta Dutra. O líquor, por outro lado, está dentro da barreira.

Apesar de considerar o PrecivityAD2 um dos "métodos mais promissores", Forlenza faz duas considerações. "Há outros métodos laboratoriais que também têm demonstrado bom potencial para a detecção dos biomarcadores da doença de Alzheimer em amostras de plasma, e ainda não se sabe qual será o melhor para aplicação clínica."

"Em segundo lugar, como toda tecnologia nova, ainda requer validação em amostras multinacionais. Na minha opinião, o método é excelente para pesquisa, mas o seu uso na prática clínica requer cautela, e não dispensa a expertise de quem solicita o exame e avalia os seus resultados", completa. Outra limitação, diz Claudia, é que muitos desses testes são baseados em estudos com uma população branca americana, e a aplicabilidade em outros grupos étnicos é discutida por cientistas.

Uma nova vacina desenvolvida por cientistas do Japão pode ser a chave para prevenir o mal de Alzheimer ou modificar o curso da doença, segundo um estudo apresentado neste domingo (30) no congresso científico BCVS Scientific Sessions 2023, em Boston, nos Estados Unidos.

A pesquisa preliminar apontou que o imunizante, desenvolvido na Universidade de Juntendo, em Tóquio, atinge as células cerebrais inflamadas associadas à doença.

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A vacina, que até o momento foi testada apenas em ratos, foi chamada de Sagp, que é o nome do marcador biológico presente nas células senescentes, ou seja, células em deterioração que podem se acumular nos tecidos e causar doenças.

Após a administração, os animais apresentaram menos placas da proteína tóxica beta-amiloide, associada à doença, além de menos inflamações no tecido cerebral.

Outras pesquisas preliminares, também com testes em animais, já haviam mostrado resultados promissores do imunizante sobre outras doenças ligadas à idade, como aterosclerose e diabetes tipo 2.

No caso da pesquisa sobre o Alzheimer, os ratos que receberam a vacina Sagp também passaram a responder melhor ao ambiente, demonstraram maior entendimento sobre o entorno e se comportaram de maneira semelhante aos ratos saudáveis.

"Se a vacina se mostrar eficaz em seres humanos, isso representaria um grande passo para atrasar a progressão da doença ou mesmo para evitar que ela surja", disseram os autores do estudo. 

Da Ansa

Com uma trajetória de mais de 17 premiações, o espetáculo “Um minuto para dizer que te amo” está em cartaz no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro. É a sexta temporada da peça, que tem apresentações aos sábados e domingos, às 19h, do mês de maio, com entradas no valor de R$20 e R$ 40.

O espetáculo, criado em 2018 pelo Matraca Grupo de Teatro, do Sesc Piedade, já circulou por 13 municípios com 80 apresentações e ultrapassou a marca dos 12 mil espectadores. Ele leva para o palco a relação de uma família, com mergulho em memórias e sentimentos que são conduzidos pela existência do Alzheimer.

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Em cena, seis atores dão vida a personagens que atravessam o tempo e as marcas trazidas pela doença e encontram a conexão com as relações e lembranças na música - são oito canções executadas ao vivo A partir da volta de uma viagem do músico Lúcio, a peça traz seus pais e Amélia, cuidadora da senhora, em um enredo que aprofunda as dores do esquecimento e a poesia dos reencontros.

FICHA TÉCNICA:

Texto:  Luiz Navarro; Direção: Rudimar Constâncio; Elenco: Carlos Lira; Célia Regina; Vanise Souza; Marinho Falcão; Douglas Duan & Lucas Ferr; Assistente de Direção: Sandra Possani

Dramaturgia e Cenas adicionais: Moisés Monteiro de Melo Neto; Cenografia: Sephora Silva

Iluminação: João Guilherme de Paula; Trilha Sonora/Direção Musical e arranjos: Samuel Lira

Maquiagem: Vinícius Vieira; Cenotécnico e contrarregra: Elias Vilar; Programação Visual: Cláudio Lira; Fotos e Vídeos: Makermídia; Design Gráfico: Douglas Duan

*Via assessoria de imprensa.

A agência federal reguladora dos alimentos e medicamentos nos Estados Unidos (FDA) autorizou nesta sexta-feira (6) um novo medicamento, bastante esperado, contra o Alzheimer, destinado a reduzir o declínio cognitivo em pacientes que sofrem dessa doença neurodegenerativa.

O novo tratamento, que será comercializado pela farmacêutica Eisai sob o nome Leqembi, é recomendado pela FDA para pacientes que ainda não tenham atingido um estágio avançado da doença. Ele representa "um passo importante em nossa batalha para tratar de forma eficaz a doença de Alzheimer", que afeta cerca de 6,5 milhões de americanos, ressaltou a agência.

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O Leqembi, cujo princípio ativo se chama lecanemab, ataca os depósitos de uma proteína chamada beta-amiloide. Embora a causa do Alzheimer continue sendo pouco conhecida, os pacientes apresentam placas amiloides no cérebro, que se formam ao redor dos neurônios e os destroem, o que provoca a perda de memória característica da doença.

A autorização da FDA se baseia nos resultados de testes clínicos que mostraram que o medicamento ajudou a reduzir as placas amiloides. A agência também menciona os resultados de testes clínicos mais amplos, publicados recentemente em uma revista científica.

Esses estudos, que envolveram cerca de 1.800 pessoas acompanhadas por 18 meses, revelaram uma redução de 27% no declínio cognitivo em pacientes tratados com o lecanemab. Mas os testes clínicos também mostraram efeitos colaterais graves: alguns dos pacientes sofreram hemorragias cerebrais. Além disso, uma pessoa morreu.

Este é o segundo tratamento para o Alzheimer aprovado recentemente pela FDA, depois do Aduhelm, cujo lançamento, em 2021, não obteve o êxito esperado.

A comercialização de um teste para detectar a doença de Alzheimer a partir de um simples exame de sangue foi autorizada no Japão, informou seu fabricante nesta quinta-feira(22), um avanço raro no campo dessa doença neurodegenerativa muito comum.

Em comunicado, a empresa japonesa Sysmex Corporation indicou que pretende lançar este teste de diagnóstico minimamente invasivo no mercado japonês "o mais rápido possível".

Segundo a Sysmex, seu sistema mede em pouco mais de vinte e cinco minutos o nível de acúmulo no sangue da proteína beta-amiloide, um dos principais biomarcadores do mal de Alzheimer.

Existem outros métodos disponíveis para diagnosticar esta patologia, mas geralmente são caros ou invasivos (imagens cerebrais, punção lombar para extrair líquido cefalorraquidiano), já que é fundamental detectar o Alzheimer o mais rápido possível para tentar interromper sua progressão.

Outros exames de sangue estão sendo desenvolvidos em outras partes do mundo ou estão aguardando autorização de comercialização.

"Ferramentas de diagnóstico simples, baratas, não invasivas e de fácil acesso são urgentemente necessárias" para melhorar a detecção precoce da doença de Alzheimer, afirma a ONG americana Alzheimer's Association em seu site.

No futuro, os exames de sangue "provavelmente revolucionarão o processo de diagnóstico da doença de Alzheimer e de todas as outras demências", segundo esta organização.

A doença de Alzheimer permanece incurável até o momento, mas em novembro, dados clínicos adicionais confirmaram o potencial de um novo medicamento, o lecanemab, para retardar significativamente o declínio cognitivo em pacientes tratados por 18 meses.

Mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de demência, número que deve aumentar para 130 milhões até 2050 com o aumento da expectativa de vida, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença de Alzheimer representa entre 60% e 70% dos casos.

Cientistas comemoraram nesta quarta-feira (30) os resultados de um ensaio clínico confirmando que uma nova droga retarda o declínio cognitivo em pacientes com Alzheimer, mas também apontaram alguns efeitos colaterais importantes.

Os resultados completos do ensaio clínico avançado (fase III) realizado com cerca de 1.800 pessoas durante 18 meses confirmaram uma redução de 27% no comprometimento cognitivo em pacientes que receberam lecanemab, um medicamento desenvolvido pelo grupo farmacêutico japonês Eisai e pela americana Biogen.

No entanto, os resultados, publicados nesta quarta-feira no New England Journal of Medicine, também apontam para efeitos colaterais, às vezes graves.

No total, 17,3% dos pacientes que receberam lecanemab sofreram hemorragias cerebrais, em comparação com 9% dos pacientes do grupo placebo.

Além disso, 12,6% dos pacientes tratados com lecanemab sofreram edema cerebral e apenas 1,7% no grupo placebo.

A taxa geral de mortalidade é quase a mesma nos dois grupos (0,7% nas pessoas que receberam lecanemab, 0,8% nas que receberam placebo).

"É o primeiro medicamento que oferece uma opção real de tratamento para pessoas com Alzheimer", disse Bart De Strooper, diretor do Instituto Britânico de Pesquisa em Demência.

"Embora os benefícios clínicos pareçam um tanto limitados, espera-se que eles se tornem mais evidentes se o medicamento for administrado por um período maior de tempo, disse ele.

Na doença de Alzheimer, duas proteínas-chave - tau e outra chamada beta-amiloide - acumulam-se gradualmente de forma anormal no cérebro, causando a morte das células cerebrais e o encolhimento do cérebro.

Isso causa perda de memória e uma crescente incapacidade de realizar tarefas diárias.

Essa doença afeta mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo.

O lecanemab tem como alvo os depósitos de proteína beta-amiloide, mas apenas nos estágios iniciais da doença, o que pode limitar seu uso, já que o Alzheimer costuma ser diagnosticado tardiamente.

Após descobrir predisposição para a doença de Alzheimer, Chris Hemsworth decidiu dar uma pausa na carreira e focar em sua família durante esse período. O ator é casado com a atriz Elsa Pataky, e pai de três filhos: India, de dez anos de idade, e dos gêmeos Sasha e Tristan, de oito anos de idade.

Segundo o ator, a sua decisão ocorreu após gravar um episódio de sua nova série, Limitless, produzida pela Disney.

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- Fazer um episódio sobre morte e encarar a minha própria mortalidade me fez pensar: meu Deus, ainda não estou pronto para morrer, disse ele à revista Vanity Fair.

E, continuou:

- Eu quero um dia me sentar e ter clareza sobre isso, com maior gratidão e tranquilidade. Começarei a falar sobre os meus filhos a minha família… Foi esse gatilho que me impulsionou a buscar essa pausa. Desde o término do show tenho finalizado uma série de compromissos já fechados.

Vale lembrar que o astro descobriu a predisposição para Alzheimer durante os preparativos para as filmagens de Limitless.

Cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, revelaram que é possível detectar sinais precoces de demência até nove anos antes de o paciente receber um diagnóstico específico, como Alzheimer.

No trabalho publicado nesta sexta-feira, 14, na publicação Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association, o grupo de cientistas analisou informações do Biobank, o banco de dados biomédicos britânico. A equipe descobriu sinais de dificuldades em várias áreas específicas, como a solução de problemas e a lembrança de números específicos.

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"Quando olhamos para a história dos pacientes, fica muito claro que eles já apresentavam alguns sinais de problemas cognitivos muitos anos antes de os sintomas se tornaram óbvios o suficiente para gerar um diagnóstico", afirmou Nol Swaddiwudhipong, principal autor do estudo.

As descobertas levantam a possibilidade de, no futuro, pacientes em maior risco de desenvolver algum tipo de demência fossem mapeados para intervenções precoces ou para testes clínicos de novos medicamentos.

Atualmente, existem poucos tratamentos eficazes para demências ou outras doenças degenerativas, como o Parkinson. Em parte, isso ocorre porque as doenças só são diagnosticadas depois que os sintomas aparecem, embora a degeneração propriamente dita comece muito anos (e até décadas) antes. Isso significa que, quando os pacientes são recrutados para testes clínicos de novos tratamentos, pode já ser muito tarde para que o curso da doença seja alterado.

A análise das informações reunidas no banco de dados biomédicos revelou que pessoas que desenvolveram Alzheimer já apresentavam um desempenho pior do que indivíduos saudáveis em tarefas de resolução de problemas, tempo de reação a estímulos, capacidade de lembrar de números, memória prospectiva (nossa capacidade de lembrar de algo para fazer mais tarde), entre outros. Isso também foi constatado em pessoas que desenvolveram uma forma rara de demência chamada de demência frontotemporal.

Remédio para diabetes pode diminuir risco de demência

Um estudo publicado ainda esta semana na revista científica BMJ Open Diabetes Research & Care descobriu também que alguns medicamentos contra a diabete podem reduzir em até 22% o risco de demência em pacientes. Segundo os pesquisadores, as descobertas ajudam a planejar melhor a seleção de medicamentos para pacientes com diabete tipo 2 e com alto risco de demência, quadro clínico que afeta as funções cerebrais e está associado aos seus dois subtipos principais, Alzheimer e demência vascular.

Os cientistas compararam o risco de aparecimento de demência em pacientes com diabete tipo 2, a partir dos 60 anos, tratados com três classes de medicamentos: sulfonilureia (SU), tiazolidinediona (TZD) e metformina (MET). O tratamento durou pelo menos um ano e, após este período, o grupo que tomou TZD teve um risco 22% menor de ter qualquer tipo de demência em comparação aos participantes que usaram apenas a MET.

Segundo eles, os resultados trazem contribuição significativa à literatura sobre os efeitos de medicamentos contra diabetes para a demência. O estudo, entretanto, é considerado de caráter observacional. A equipe acredita que pesquisas futuras podem redirecionar agentes antidiabéticos orais para a prevenção de demência e podem considerar priorizar o uso de TZD.

Hoje (21) é o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, criado pela Associação Internacional do Alzheimer. No Brasil, a data marca o Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer, instituído para esclarecer os brasileiros sobre a importância da participação de familiares e amigos nos cuidados aos diagnosticados com a doença.  

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 55 milhões vivem com algum tipo de demência, sendo a mais comum a doença de Alzheimer, que atinge sete entre dez indivíduos nessa situação em todo o mundo. A OMS alerta para a tendência de aumento preocupante dos números, por conta do envelhecimento das pessoas. Estimativas da Alzheimer’s Disease International, sediada no Reino Unido, mostram que os números globais poderão chegar a 74,7 milhões, em 2030 e, 131,5 milhões, em 2050. Já aqui no Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que em torno de um milhão de pessoas têm a doença e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano.

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No caso do Alzheimer, um conjunto de neurônios sofre um processo defeituoso e começa a morrer. Como esses neurônios são justamente aqueles responsáveis pela memória, o paciente começa a ter incapacidade de gerar novas memórias. O Alzheimer é uma das formas de demência neurodegenerativa que, geralmente, afeta os idosos, já que se trata de um processo lento e progressivo. Os sintomas começam, em geral, depois da sexta ou sétima década de vida. Para especialistas, a doença em jovens é muito rara e ocorre quando há predisposição genética para a doença. Vale lembrar que, Alzheimer é uma doença e não o envelhecimento natural do cérebro. O tratamento pode ser feito através de medicamentos, após feitos os exames e ter o diagnóstico.

A melhora da qualidade de vida do paciente é propiciada quando se faz um tratamento mais precoce. O Alzheimer é uma doença sem cura e não há uma prevenção comprovada eficiente. A prevenção consiste em manter uma atividade física e mental ativa. Além dos estímulos mentais, há evidências cada vez maiores de que exercícios físicos, como as caminhadas, são benéficos para a prevenção e tratamento do Alzheimer.

Estudos recentes relacionam o Alzheimer a outras doenças como a hipertensão, diabetes, tabagismo e quadros de depressão e, por esse motivo, um cuidado com a saúde em geral pode adiar o desenvolvimento da doença. O suporte da família para o paciente com Alzheimer é fundamental para o tratamento e para lidar com a situação. 

Controle rigoroso da pressão alta. Alimentação balanceada. Controle do diabetes. Do sedentarismo. Atividade física regular. Manter a mente ativa. Vida social ativa. Tratar a depressão. São atividades que podem ser feitas pelo indivíduo para prevenir a doença do Alzheimer, que tem o Dia Mundial de Conscientização Sobre a Doença Alzheimer nesta quarta-feira, 21 de setembro, quando celebra o seu 12º ano.

A data tem como objetivo a conscientização da sociedade sobre a importância da prevenção, cuidado, apoio, diagnóstico precoce, suporte aos familiares e cuidadores das pessoas que vivem com a doença, tendo em vista ser uma enfermidade neurodegenerativa progressiva, caracterizada por uma alteração das proteínas beta-amilóide e a tau, que promovem a morte dos neurônios e ajudam no desenvolvimento da doença, que é multifatorial, segundo explicou a geriatra e diretora científica da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), Draª Carla Núbia Borges. 

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“A gente pecou muito por não entender. A gente não queria acreditar na situação”, relatou a optometrista Cileide Cavalcanti, filha de Josefa Cavalcanti de Oliveira, mais conhecida como dona Nina, de 93 anos. 

O Alzheimer de dona Nina foi diagnosticado aos 85 anos e, de acordo com Cileide, os primeiros sinais iniciaram entre os anos de 2013 e 2014, quando ela começou a achar que estava sendo roubada dentro de casa. “Todo mundo roubava ela. A gente colocava como velhice, porque a minha avó fazia isso. Mas ela começou a se perder aqui no conjunto, não sabia voltar para casa”, disse. 

Sábado era o “dia oficial” de Liliane Cavalcanti, filha mais velha de Cileide e neta de Nina passar o dia na casa da avó. “Liliane ia todo sábado na casa dela e ela fazia a janta. Num belo dia, ela chegou dizendo: ‘voinha falou que não vai mais fazer a janta da gente. Ela disse que não sabe mais fazer a janta’. Foi quando a gente começou a se preocupar”, informou Cileide.

Para a filha de dona Nina, o que fez a doença se agravar com maior agilidade foi a morte de Dina, enteada de Nina que ainda morava com ela. “Quando Dina faleceu eu senti como se fosse aquele fiozinho que cortou. Ela começou a esquecer fogão ligado, torneira aberta, e Mariquinha [irmã de Cileide por parte de pai] começou a reportar tudo para a gente, pois elas moravam juntas e a doença passou a ficar perigosa para as duas. Mamãe começou a fechar a porta do quarto para Mariquinha não entrar, pegava a faca e ameaçava ela porque achava que ia ser roubada. Ela estava totalmente sem medicação”. 

A decisão de colocar dona Nina num abrigo veio em 2017 a muito contragosto por Cileide, Liliane e Luane, a filha mais nova, mas era uma decisão necessária. Na casa de Cileide não havia espaço e nem o suporte essencial para cuidar de uma idosa com Alzheimer. “Eu vim de uma geração que considerava que abrigo era desprezo”, confessou a optometrista. “Você pegou a sua mãe na velhice, jogou no abrigo e a despejou lá. Para mim era muito doloroso, só que a minha vida não permitia e ainda não permite que eu cuide dela na minha casa”, lamentou. 

“Antes disso, mamãe foi morar com a minha irmã, mas a gente nunca se deu bem, então, para eu ver a minha mãe, ela tinha que chegar na porta, abrir o portão e a gente conversar em outro local porque eu não podia entrar na casa. Muitas vezes a gente conversava no meio da rua. Começou a ficar muito difícil”, relatou.

O abrigo Casa do Amor, que era localizado no bairro do Arruda, Zona Norte do Recife, foi o primeiro que dona Nina se hospedou. “Lá eu podia entrar, sentar na cama que a minha mãe tava dormindo. Era outra história. Quando eu ia buscar mamãe, eu entrava, pegava as roupas dela no guarda-roupa. Era a minha segunda casa, não tinha dia e nem horário para visita. Isso é o que eu sinto mais falta, muita mesmo”. 

No entanto, em novembro de 2021 a Casa do Amor fechou e dona Nina teve de mudar de abrigo, o que foi mais outro desespero para a família pela dificuldade de encontrar algum local com vaga. “Foi horrível essa mudança. Eu não sei onde a minha mãe dorme. Eu nunca entrei nesse abrigo. A gente só fica na porta. Eu cheguei até a brigar lá, fazer revolução, e eles acabam abrindo uma exceção com a gente, mas não queriam nem deixar eu pegar mamãe”, afirmou Cileide, revoltada. 

Agora, as visitas são em horários específicos. Antes da “revolução” de Cileide, só era possível ver dona Nina pelas grades, como se fosse uma prisão. “A gente não podia abraçar ela. A desculpa era a pandemia da Covid-19. Mas qual é a expectativa de vida que ela tem? É ficar o resto da vida vendo ela pela grade? E ela pegava a grade, tentava abrir para poder pegar na gente, porque somos um grude. Mamãe é muito carinhosa, de botar no colo, amarrar o cabelo. Sempre foi desse jeito”.

“Mamãe virou um bebê”

A optometrista falou sobre a regressão que o Alzheimer causa no indivíduo, quando ele começa a esquecer de tudo, até de comer. “A minha mãe virou um bebê. É festa quando ela conseguia dar uma passada, lembrar de Roberto Carlos. É festa quando ela consegue engolir. A gente começou a resgatar as pequenas lembranças que ela ainda tinha para tê-la presente, a botar as músicas que ela sempre amou, mas ela também já não reconhece. Hoje ela não sabe mais o nome dela. Ela virou um papagaio”, lastimou. 

O medo de envelhecer 

“É muito ruim ver uma mãe como era a minha mãe, ela olhar para você e não lhe reconhecer como filha. É muito ruim. É terrivelmente ruim”, disse Cileide, com a voz embargada. “Mamãe era uma mulher muito apaixonada. Ela tinha a capacidade de passar fome pelos filhos e quando ela olha para mim hoje, ela só fala ‘é tão bonitinha’. Sou só bonitinha”, disse. 

A filha de dona Nina expôs que o que a deixa mais tranquila é ver a idade da mãe, que tem 93 anos. “Se eu reclamar a Deus porque ela não tá se lembrando de mim, eu acho que tô pedindo demais”. 

“Envelhecer dá muito medo. Muito medo. Envelhecer é irmão da debilidade”. 

Atualmente, Cileide, Liliane e Luane só veem dona Nina uma vez no mês. A mobilidade de Josefa é um dos principais fatores, já que se tornou inviável carregá-la até o 4º andar do prédio. “Uma vez no mês a gente pega ela e vai para Itamaracá passar o dia. Numa dessas vezes, ela chegou no abrigo e contou que foi à praia, que gostou de ter ido, e depois pediu para ir ao banheiro. Foi como se ela tivesse recebido uma bomba de sentimentos e voltado rapidamente à lucidez”, detalhou, emocionada. 

“O grande medo sempre foi ela me esquecer”

A estudante de psicologia Luane Cavalcanti, de 25 anos, neta mais nova de dona Nina, revelou à reportagem que o maior medo era ser esquecida pela avó. “Eu tinha por volta dos 20 anos quando recebemos o diagnóstico, e passei a minha infância toda com a minha avó e parte da minha adolescência ela tava muito lúcida. Mas esse diagnóstico comigo já adulta foi menos doloroso por um lado. O meu grande medo sempre foi ela me esquecer”, disse.

O medo de ser esquecida fez com que a família passasse a ter conversas sobre o passado de dona Nina e registrar todos os possíveis momentos com ela na tentativa de manter a memória. “Eu ainda falava pra ela: ‘vó, a senhora não vai me esquecer, não, né?’, e ela falava: ‘nunca, minha filha. Nunca’. Ela nem entendia porque eu perguntava isso”. 

“Ela sempre se doou muito para toda a família e com as netas não seria diferente. Se ela precisasse criar, ela criava para educar. Tudo o que ela fazia para a gente é com muito amor, desde a comida. Ela sempre quis a gente por perto, tanto que quando começou a perceber os primeiros sintomas do Alzheimer a primeira coisa que fez foi avisar que não lembrava mais como cozinhar”, relatou. 

A própria enfermidade causa mais confusão mental, estresse e agressividade na pessoa. Com Luane, Josefa nunca chegou a apresentar nenhum desses sintomas mais “grosseiros”. “Mesmo sem lembrar de mim ela abre um sorrisão no rosto sempre que eu chego. Ela não sabe o meu nome. Não lembra da nossa história. Não lembra que eu sou neta dela. Mas acho que é como se ela reconhecesse meu rosto e a lembrasse amor, coisas boas”, contou, muito emocionada. 

Luane então decidiu gravar na pele o amor pela avó e o amor da avó pela neta. “De quem ti ama voinha” foi a frase tatuada no braço, num local onde ela possa sempre ver e lembrar. “Foi um cartão que ela escreveu para mim há uns 12 anos, quando ainda sabia escrever, e ela assinou com essa frase no final. Eu resolvi tatuar porque se hoje eu tenho um receio de no futuro ter essa doença, também é receio de não lembrar dela. Não lembrar quem foi a minha avó. Pelo menos vai estar na minha pele que ela me amou muito e que eu também amei muito ela”, expressou. 

Como o Alzheimer se desenvolve

A idade é o maior fator de risco para o desenvolvimento da doença. “Quanto maior a idade, maior o risco de ter demência. Vários fatores têm sido implicados no desenvolvimento da doença como fatores metabólicos, hipertensão, diabetes, obesidade, sedentarismo, a prática do fumo. Isso leva a alterações vasculares que podem promover o aparecimento e o depósito anormal dessas proteínas, com a morte dos neurônios e o desenvolvimento da alzheimer”, detalhou a Draª Carla Núbia Borges. 

O geriatra Carlos Henrique Tavares, por sua vez, afirmou que a doença atinge majoritariamente pessoas acima dos 60 anos, “mas há relatos de casos entre 30, 60 anos de idade”. “Que costuma ser de pior evolução, ou seja, mais acelerada”, disse. “Antes dos 60 são demências mais rápidas e de uma linhagem familiar muito forte. Quanto maior a idade, maior o risco de ter demência. Acima dos 60 anos, é 1,5%, e vai aumentando para 15, 20%. Acima dos 85 anos, quase 50% dos pacientes podem desenvolver a alzheimer”, complementou a Draª Carla Núbia. 

A revista Lancet Public Health diz que ainda não há clareza sobre o total de pessoas com Alzheimer no Brasil, mas é estimado que cerca de 2 milhões de pessoas vivam com demências, sendo o Alzheimer responsável pela maior parcela. A projeção para 2050 é que esse número tenha um aumento de 200%, chegando a cerca de 6 milhões de pessoas.

No entanto, o Ministério da Saúde aponta que cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência no Brasil, e que 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. Em todo o mundo, o número chega a 50 milhões de pessoas, de acordo com estimativas da Alzheimer’s Disease Internacional. 

Os números podem chegar a 74,7 milhões em 2030, e 131,5 milhões em 2050. Isso acontece porque a população está envelhecendo e o cenário mostra que a doença se caracteriza como uma crise global de saúde que deve ser enfrentada, segundo o Ministério da Saúde. 

O órgão alertou que problemas de memória que afetam atividades e o trabalho; dificuldade para realizar tarefas habituais; dificuldade de comunicação; desorientação no tempo e no espaço; dificuldade de raciocínio; mudanças na personalidade; perda de iniciativa para fazer as coisas; diminuição da capacidade de juízo e de crítica; colocar coisas no lugar errado frequentemente são 10 sinais iniciais de alerta para o Alzheimer. 

Formas de tratamento

Em janeiro de 2020 o tratamento da alzheimer deu um grande passo com a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de uma proposta para facilitar a importação de produtos à base de canabidiol para uso pessoal. A medida facilita o tratamento de pacientes que sofrem com doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. 

A geriatra Carla Núbia explicou que o uso da cannabis para o tratamento do Alzheimer é uma nova estratégia nos estudos da medicina que vem sendo utilizada para auxiliar no controle dos distúrbios comportamentais. “Ansiedade, insônia, inquietude. A cannabis não é modificadora de doença, ela não cura, não estaciona e não evita a doença”, salientou. 

“Ela é uma estratégia que nos é apresentada e pode ser utilizada também com medicamentos, que ajudam muito, principalmente nos sintomas comportamentais de ansiedade. No entanto, é necessário mais estudos para que essa eficácia seja confirmada. Mas na prática já temos muitos pacientes que têm tido bons efeitos”, explicou a médica. 

O geriatra Carlos Henrique observou que os estudos ainda são incipientes, ou seja, iniciantes. “De forma que só podemos afirmar até o momento que há um potencial de uso, mas ainda não há indicação”. 

A neuromodulação também é uma forma de tratamento do Alzheimer. Ela é uma estimulação magnética transcraniana, um tratamento não invasivo baseado no “uso de pulsos magnéticos que agem no córtex cerebral”, explicou Henrique Tavares, que disse que ainda não há indicação do tratamento. 

“É um dos princípios da terapia ocupacional é exatamente esse estímulo [da neuromodulação]. Esse treino cognitivo que vai estimular áreas cerebrais que já estão comprometidas e exacerbar também áreas funcionais para manter o paciente mais funcional. É muito positivo ao tratamento, coadjuvante à mediação”, defendeu Carla. 

Ela evidenciou que para além desses tratamentos, existem a forma medicamentosa e não-medicamentosa, o paciente tendo nesta segunda opção a necessidade do acompanhamento de vários profissionais para auxiliar no caso. “Fisioterapeuta para melhorar o equilíbrio, a marcha, evitar o risco de queda; enfermagem para os cuidados gerais; profissionais de educação física, sobretudo nas fases iniciais; a terapia ocupacional com exercícios de treino e estimulação cognitiva que vão atuar em áreas que estão comprometidas e vão estimular outras áreas que ainda estão bem. Fazendo isso junto à medicação, mantém o paciente mais conectado, estimulado”, afirmou. 

“A musicoterapia ajuda nos distúrbios comportamentais: na atuação, na ansiedade. Práticas integrativas, florais, terapias que ajudam pacientes que estão inquietos. A família também deve se atentar para as questões legais e jurídicas que fazem parte de várias alterações que acontecem durante a doença”, alertou a geriatra. 

O tratamento medicamentoso pode ser feito a partir de anticolinesterásicos e associação com memantina, para as fases mais avançadas da doença. “São medicações que precisam ser bem indicadas, com o máximo de certeza possível desse diagnóstico. Um protocolo bem aplicado, essa medicação é iniciada com doses pequenas que vão aumentando de forma que deva ser continuada. Só deve ser suspensa dependendo de uma avaliação médica, se há algum efeito colateral ou uma fase avançada”, explanou a médica. 

Carlos Henrique de Albuquerque alertou que o paciente deve iniciar a reabilitação cognitiva e manter a atividade física o mais breve possível após o diagnóstico. “O tratamento é multi e interdisciplinar. Em relação ao tratamento medicamentoso, a evolução do impacto isolado dessas medicações na evolução é pouco, sendo de suma importância associá-las ao tratamento não medicamentoso”. 

Como cuidar de alguém que tem Alzheimer?

Para a geriatra Carla Núbia, a forma específica e importante da doença é saber como cuidar dela e entender as suas fases. “Tem que ter uma abertura muito clara com a sua equipe assistente (familiares e cuidadores), com o médico que está nessa equipe para saber exatamente quais profissionais vão ser necessários em cada fase. Usar a medicação corretamente. Ficar atento aos sinais e sintomas que podem se modificar ao longo da história”, explicou. 

“É um tratamento que exige um certo conhecimento, entendimento. Assistir palestras, estudar sobre a doença para poder cuidar cada vez melhor é importante”, indicou. 

Por fim, a especialista detalhou que a Alzheimer é uma doença com características fisiopatológicas com alterações nas proteínas e, por isso, é importante o diagnóstico precoce. “Quanto mais precoce, melhor para o paciente. Ele vai ser tratado mais precocemente e a equipe multidisciplinar vai atuar para que ele se mantenha mais cognitivo, funcional e presente ao longo da sua vida, diminuindo a sobrecarga do cuidador e fazendo com que a família toda se una em prol desse cuidado”, disse. 

“Não negligenciar sinais e sintomas. Tratar a depressão, que pode ser uma pseudodemência. É uma doença que exige de todos nós o entendimento e a percepção mais precoce possível”, alertou. 

A doença de Alzheimer, que provoca a perda progressiva da memória, afeta mais de 30 milhões de pessoas em todo mundo e ainda não tem cura - lembraram especialistas na véspera do Dia Mundial dessa enfermidade.

- O que é Alzheimer? -

Descrita pela primeira vez em 1906 pelo médico alemão Alois Alzheimer, essa doença "neurodegenerativa" leva a uma deterioração progressiva das habilidades cognitivas até que o paciente perca sua autonomia. Entre os sintomas, estão esquecimentos frequentes, problemas de orientação, transtornos da função executiva (planejar, organizar, gerenciar o tempo, ter pensamentos abstratos), ou transtornos da linguagem.

- Quantos sofrem da doença? -

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 55 milhões de pessoas em todo mundo sofrem de demência, sendo o mal de Alzheimer a forma mais comum: representa 60%-70% dos casos de demência, ou mais de 30 milhões de pessoas.

Prevê-se que o número de pessoas com demência triplicará até 2050, devido ao aumento de casos em países de renda baixa e média, de acordo com a OMS. Esta explosão vai aumentar a pesada carga social da doença sobre as famílias dos doentes e os sistemas de saúde.

Alzheimer e demência já estão entre as principais causas de incapacidade e de dependência entre os idosos.

- Quais são as causas? -

Embora o mal de Alzheimer seja a demência mais comum, suas causas e mecanismos precisos ainda são amplamente desconhecidos.

Dois fenômenos são consistentemente encontrados entre os pacientes de Alzheimer. De um lado, a formação de placas das chamadas proteínas amiloides, que comprimem os neurônios e acabam destruindo-os. De outro, um segundo tipo de proteína, conhecida como Tau, presente nos neurônios, acumula-se nos pacientes e também acaba causando a morte das células afetadas.

Não está claro, porém, como esses dois fenômenos estão relacionados. Também se desconhece o que causa seu aparecimento e até que ponto explicam a doença.

Cada vez mais se questiona a suposição, de longa data, de que a formação de placas amiloides é sempre um fator desencadeador da doença, e não a consequência de outros mecanismos.

- Quais são os remédios? -

Isso se deve, em grande parte, às dificuldades em encontrar os fatores desencadeadores da doença. Apesar de décadas de pesquisa, nenhum tratamento hoje permite curar, ou mesmo prevenir seu aparecimento.

O principal avanço há 20 anos é um tratamento do laboratório americano Biogen voltado para as proteínas amiloides. Obteve alguns resultados e foi aprovado para alguns casos pelas autoridades dos Estados Unidos. Seus efeitos são, no entanto, limitados, e se discute seu interesse terapêutico.

- Quais são os fatores de risco? Como prevenir? -

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde e Medicina (Inserm) da França, o principal fator de risco é a idade: a possibilidade de contrair Alzheimer aumenta a partir dos 65 anos e dispara após os 80 anos.

Quando não controlados na meia-idade, fatores de risco cardiovascular - como diabetes e hipertensão - também se associam a uma maior frequência da doença, embora ainda não se saiba por quais mecanismos. O sedentarismo é outro fator de risco, assim como os microtraumatismos cranianos observados em determinados atletas, como os boxeadores.

Na direção contrária, estudar e ter uma atividade profissional estimulante, assim como uma vida social ativa, parecem retardar o aparecimento dos primeiros sintomas e sua gravidade.

Nesses casos, o cérebro se beneficia de uma "reserva cognitiva" que lhe permite compensar, pelo menos por um tempo, a função dos neurônios perdidos. Esse efeito estaria relacionado com a plasticidade cerebral, ou seja, a capacidade de adaptação do cérebro.

As projeções para o avanço da doença de Alzheimer colocam o Brasil em um situação desafiadora: o número de casos de demência pode aumentar muito nas próximas três décadas. E não só aqui. A alta da doença deve ser maior em países de média e baixa renda, como os demais da América Latina, na comparação com as nações mais ricas.

Essa tendência acende o alerta para a necessidade de que o Brasil prepare seu sistema de saúde para atender ao grande contingente de pessoas que precisará de ajuda médica - e seus familiares, que assumem o cuidado. Também ressalta a importância de estratégias de prevenção para reduzir o volume de pessoas com demência.

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O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa e progressiva. Pessoas diagnosticadas com Alzheimer ou outras demências passam a ter dificuldades para realizar tarefas cotidianas e deixam de trabalhar. Com custo global de US$ 1,3 trilhão, as demências são hoje uma das principais causas de incapacidade e dependência em todo o mundo.

No Brasil, ainda não há clareza sobre o total de pessoas com a doença, mas estima-se que cerca de 2 milhões vivam com demências - o Alzheimer corresponde à maior parcela. Para 2050, a projeção é de que esse número chegue a cerca de 6 milhões de pessoas - um aumento de 200%.

O envelhecimento acelerado da população brasileira amplia os desafios. Em países europeus, como na França, foram cem anos para que a taxa de idosos dobrasse. "No Brasil, está levando só algumas décadas", explica Cleusa Ferri, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Por isso, a importância de ter ações muito rápidas para cuidar das pessoas nessa faixa da vida."

Em todo o mundo, a previsão é de que os casos de demência passem de 57,4 milhões para 152,8 milhões - uma alta de 166% - em 2050. A tendência de crescimento é menor do que a média global em países como Alemanha, Itália e Japão. E maior em outros, como Brasil, Bolívia, Equador, Peru e países africanos. Os dados fazem parte de uma pesquisa global publicada neste ano na revista Lancet Public Health.

O aumento e o envelhecimento populacionais são as principais razões para a projeção de crescimento maior do Alzheimer em países da África e da América Latina. Problemas de baixa escolaridade e hábitos de vida pouco saudáveis também concorrem para que a incidência de pessoas com demência não caia nessas regiões.

Em países da América do Norte e da Europa, por exemplo, os dados já sugerem uma tendência de redução na incidência de demência - o que cientistas atribuem ao aumento nos níveis de escolaridade e à maior oferta de tratamentos para problemas cardiovasculares, uma das principais formas de se prevenir contra o Alzheimer.

Países de alta renda já têm serviços de cuidados para pessoas com demência, como atenção primária e reabilitação, mais estruturados, segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), do ano passado. Já as nações de baixa e média renda, como o Brasil, são mais dependentes dos cuidados informais desempenhados pelos familiares, que muitas vezes têm de deixar suas atividades profissionais, com impactos à economia.

Início precoce

Em países latino-americanos, a presença associada de demências vasculares e Alzheimer preocupa. "A prevalência de demência na América Latina é a maior do mundo. E não só é muita gente (com demência), mas ela começa dez anos antes aqui", alerta Claudia Suemoto, professora de Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Entre outros temas, Claudia pesquisa de que modo reduzir os fatores de risco na população brasileira, como controlar doenças como hipertensão, obesidade e diabete, pode ajudar a evitar casos de Alzheimer e outras doenças. Uma pesquisa nesse sentido, publicada há dois anos na Lancet, mostrou que 12 fatores de risco estão ligados a 40% dos casos de demência, incluindo o Alzheimer, em todo o mundo. No Brasil, a estimativa é de que o potencial de prevenção seja ainda maior.

Um dos focos, segundo os cientistas, deve ser a escolarização da população. Claudia explica que estudar no início da vida ajuda a formar o que se chama de "reserva cognitiva". É como se fosse uma poupança no cérebro - quanto maior, menor o risco de que os danos ligados ao envelhecimento comprometam as funções cerebrais.

"Há uma janela de oportunidade incrível para prevenir não só demência como outras doenças mentais", diz a pesquisadora. Além da educação formal, explica a especialista, atividades intelectuais como aprender um novo idioma ou a tocar instrumentos ajudam a formar essa "poupança" de conexões.

Política

Apesar do cenário preocupante para as demências no Brasil, ainda faltam políticas específicas sobre o tema, na avaliação de especialistas. O Brasil se comprometeu a elaborar um plano sobre o assunto, que ainda não existe. Um projeto de lei que cria a Política Nacional de Enfrentamento à Doença de Alzheimer está em debate no Congresso Nacional. Alguns municípios, como São Paulo, já têm planos locais.

"Há países em que isso já está mais avançado, como Costa Rica, Chile. No Brasil e em vários outros países, isso está no radar, mas não foram tomadas medidas efetivas", diz Paulo Caramelli, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro do conselho consultivo da Sociedade Internacional para o Avanço da Pesquisa e Tratamento da Doença de Alzheimer.

Falta de dados

Um dos pontos de partida para isso é reconhecer a complexidade da situação brasileira: ainda não se sabe a exata incidência da doença nem a mortalidade. Há ainda alta subnotificação: pesquisadores estimam que mais de 1 milhão (dos 2 milhões de casos) não tenham sido diagnosticados. Essa situação coloca pacientes e parentes em um limbo de proteção e cuidados.

Para Cleusa, é preciso educar a população brasileira para o Alzheimer. A falta de conhecimento sobre demências faz com que, muitas vezes, as perdas de memória sejam vistas como um sinal normal de envelhecimento - o que não é verdade. A pesquisadora coordena o primeiro mapeamento do Brasil sobre Alzheimer, financiado pelo Ministério da Saúde, e que deve ser publicado no ano que vem. "É necessário apoiar a família e oferecer serviços de cuidado a curto e longo prazo."

O Ministério da Saúde aponta que as demências devem ser entendidas "como uma prioridade em saúde pública" e destaca iniciativas como um curso para os cuidadores e a elaboração de guias com orientações para rastreio de demências e transtornos cognitivos leves.

Mais de cem anos se passaram desde que o primeiro caso da doença de Alzheimer foi descrito por um médico alemão. Até hoje, porém, pacientes com a doença não têm um tratamento eficaz. O caminho para desvendar o Alzheimer e descobrir a cura parece até uma investigação criminal complicada: por muitos anos, enquanto cientistas miravam um só suspeito para a degeneração do cérebro, outros agentes biológicos atuavam.

Agora, os alvos estão mudando. Investigadores ampliaram suas hipóteses para descobrir quem é o vilão causador da perda de memória e da capacidade de fazer tarefas do dia a dia. Ou quais são. Estão na mira da ciência novos suspeitos: acredita-se que a neuroinflamação, falhas na conexão entre um neurônio e outro e até defeitos no trabalho de eliminar o "lixo" do cérebro podem estar por trás do Alzheimer.

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A doença começa de forma sorrateira e atinge mais os idosos a partir de 65 anos. Parte dos cientistas acredita que o Alzheimer começa a se desenvolver cerca de 15 anos antes dos primeiros sintomas de perda de memória. Os lapsos têm início com dificuldades de formar novas memórias. É comum esquecer onde deixou as chaves ou qual o número do prédio onde mora.

Depois, até as lembranças antigas deixam de ser acessadas e há dificuldade de fazer tarefas simples, como comer e escovar os dentes. É como se houvesse um curto-circuito no cérebro que faz com que os neurônios parem de se comunicar. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que há 55 milhões de pessoas com demência, incluindo o Alzheimer, em todo o mundo - só no Brasil, são 1,2 milhão de casos, a maioria ainda sem diagnóstico confirmado.

'Eu me perdi', dizia primeira paciente com Alzheimer

O primeiro caso conhecido da doença foi o de Auguste Deter, uma mulher de 51 anos, atendida em um hospital psiquiátrico de Frankfurt por Alois Alzheimer, o neuropatologista alemão que acabou batizando a doença. Ao atender Auguste, o médico notou que ela não entendia perguntas simples, não se lembrava de objetos vistos anteriormente nem do nome do marido. E repetia sempre: "Eu me perdi".

Depois que Auguste morreu, Alzheimer descobriu, por meio de necropsia, que o cérebro da paciente tinha algo de anormal: havia placas, chamadas, naquela época, de placas senis. Por oitenta anos, pouco se avançou na caracterização dessas estruturas por falta de recursos técnicos, até que, na década de 1980, cientistas mostraram que elas eram formadas por uma proteína - a beta-amiloide.

As placas de beta-amiloide entre os neurônios - além de outras estruturas emaranhadas dentro das células neurais, formadas pela proteína tau - se tornaram os marcadores da doença. Ou seja, são as características biológicas principais de quem tem Alzheimer.

E, como eram as marcas mais evidentes do Alzheimer, os cientistas apostaram suas fichas nisso para encontrar tratamentos. O que parecia ser o grande vilão do Alzheimer, no entanto, se revelou o "mordomo", diz Sergio Ferreira, professor dos Institutos de Biofísica e Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Parecia o culpado claro. Mas talvez não seja."

O fato de haver placas de beta-amiloide no cérebro de pessoas com Alzheimer não significa, necessariamente, que esta é a causa - ou a única causa - da doença. Algumas pesquisas dão força a essa hipótese. Estudos já demonstraram que mesmo pessoas com alta concentração de beta-amiloide no cérebro não têm sintomas de demência: são os chamados cérebros resilientes.

Outra pista vem dos próprios tratamentos: o primeiro medicamento aprovado como uma terapia para o Alzheimer (e não apenas para aliviar sintomas) no ano passado nos Estados Unidos ataca justamente as placas de beta-amiloide. Os resultados do aducanumab, no entanto, foram decepcionantes: embora ele destrua essas placas, pouco efeito tem na melhora da condição de pessoas com Alzheimer.

"Uma das coisas que causou um pouco de atraso, dentro de um contexto em que não se tinha muito dinheiro para pesquisa, foi que a comunidade científica tentou o que parecia mais lógico: ir atrás da teoria da cascata amiloide. Se apagou todo o resto de possibilidades", diz a neuropatologista Lea Grinberg, professora da Universidade da Califórnia, em São Francisco (EUA).

"Existe um efeito talvez discreto dessas drogas, mas não é a panaceia", completa ela, que ressalta a importância de pesquisas que mirem outros alvos e passem a entender cada vez mais o que ocorre, em nível molecular, em cada uma das células.

Os estudos com medicamentos que focam na destruição das placas de beta-amiloide devem continuar - a Biogen, farmacêutica que desenvolveu o aducanumab, se comprometeu a apresentar novo estudo clínico com a droga. Outras farmacêuticas também preveem concluir pesquisas com seus medicamentos anti-amiloide em breve.

Parte da comunidade científica defende que ainda é preciso fazer novos testes com esses medicamentos de forma mais precoce, em pessoas sem sintomas de Alzheimer, antes de descartar os remédios. E que medicamentos que atuam contra a beta-amiloide podem ser úteis se combinados com outras estratégias. Outra parte tem se mostrado cética em relação aos resultados de pesquisas que seguem nesta linha.

Em artigo publico em julho no The Journal of Prevention of Alzheimer's Disease, dois neurocientistas destacaram que até recentemente, as proteínas amiloide e tau eram o foco da maioria dos medicamentos em desenvolvimento. "Os dados acumulados sugerem que é improvável que os anticorpos anti-amiloide sozinhos sejam suficientes para interromper ou reverter o curso da doença", escreveram Yuko Hara e Howard Fillit, da Fundação para Descoberta de Drogas contra o Alzheimer, nos Estados Unidos.

Eles dizem que a doença está ligada ao envelhecimento, mas uma série de processos parece contribuir para agravar o Alzheimer, como inflamações e problemas vasculares. "Uma combinação de drogas para tratar muitos desses problemas pode ser necessária para tratar de forma eficaz. Nos últimos anos, um número crescente de medicamentos direcionados a esses processos biológicos surgiu no pipeline de desenvolvimento de medicamentos."

Estruturas solúveis e neuroinflamação

Para Ferreira, embora ainda existam pesquisadores que defendem a teoria das placas de amiloide como causa, o peso da literatura científica tem recaído em outras estruturas menores - oriundas da beta-amiloide - que passeiam pelo cérebro e são mais difíceis de detectar: os oligômeros.

"Hoje sabemos que eles se ligam às sinapses, o ponto através do qual os neurônios se comunicam, e promovem alterações bioquímicas que fazem com que a sinapse pare de funcionar direito."

Mas, se o cérebro é complexo, a doença de Alzheimer consegue ser ainda mais: é provável que mais de um mecanismo leve às falhas e à morte dos neurônios. E aí entra outra linha de investigação: a de que essas estruturas solúveis participem de um ciclo vicioso prejudicial. Elas seriam responsáveis por ativar um sistema de células de defesa do cérebro. E essa perturbação provocaria, então, um processo de neuroinflamação que leva à degeneração dos neurônios.

Para entender, é só lembrar da covid-19: boa parte dos sintomas mais graves foi explicada não pelo vírus em si, mas pela tempestade inflamatória provocada pelo corpo em reação ao vírus. Processos inflamatórios que ocorrem em outras partes do corpo também podem estar ligadas ao desenvolvimento do Alzheimer, segundo sugerem pesquisadores.

O problema é que não basta tomar um ibuprofeno: estudos tentam descobrir drogas capazes de barrar a inflamação e preservar o cérebro da degeneração. Entre os ensaios clínicos com medicamentos apoiados pelo Instituto Nacional de Envelhecimento dos Estados Unidos, há oito pesquisas que miram a neuroinflamação - todas ainda em fases iniciais.

Insulina, estresse oxidativo e as células 'lixeiras'

Outros estudos buscam remédios capazes de restaurar as funções sinápticas, ou seja, o mecanismo de comunicação entre neurônios. Também entram nessa equação pesquisas para avaliar como a resistência à insulina - ou seja, a redução da capacidade da insulina de exercer suas funções no cérebro - está ligada ao declínio cognitivo e à demência.

Há, ainda, linhas de investigação que acreditam que o Alzheimer começa com um comprometimento cognitivo leve causado por um estresse oxidativo. Medicamentos poderiam ajudar as células cerebrais a se livrarem de compostos oxidantes em excesso, mas ainda estão em fase inicial de teste.

Também pouco estudado, o papel de outras células do cérebro, que atuam como "lixeiros" para garantir o bom funcionamento do órgão, ganha força. O foco aqui é entender por que essas estruturas - chamadas de células da glia - param de remover substâncias tóxicas e deixam de fazer seu papel original de proteger os neurônios.

Ciclo vicioso e processo individual

As linhas de estudo se cruzam em muitos momentos - e é possível que vários fatores combinados estejam por trás do início e progressão da doença de Alzheimer. "Provavelmente, são frentes combinadas, é difícil ter uma coisa só. É como se fosse um ciclo vicioso, uma cascata de coisas que vão acontecendo (no cérebro) de forma errada", diz Lea.

Também é provável que os mecanismos biológicos ligados à doença variem de pessoa para pessoa, mas cheguem ao sintoma final comum: a perda de memória, afirma Marcio Balthazar, professor do Departamento de Neurologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "No futuro, pode ser possível mapear individualmente as características do seu João e da dona Maria e dar um remédio diferente a cada um deles para tratar o mesmo problema."

Estudos miram prevenção

Enquanto medicamentos capazes de mudar o rumo da doença não estão disponíveis, os cientistas também investem em entender quais hábitos podem ajudar a evitar que uma pessoa desenvolva o Alzheimer ou, pelo menos, retardar o avanço da doença: são os estudos de intervenção não farmacológica.

Pesquisas ligadas à prevenção focam, principalmente, em descrever o papel da atividade física, do sono, da escolarização e da saúde cardiovascular. Retardar o avanço da doença é particularmente importante em casos de demências que atingem mais idosos: adiar em dez anos, por exemplo, as primeiras perdas de memória pode significar, na prática, ter uma rotina normal até o fim da vida.

A doença de Alzheimer desafia médicos e cientistas. Por um lado, há esforços para identificar as causas da doença - a fim de buscar um tratamento precoce. Na outra ponta, especialistas buscam descrever o que ocorre em cada uma dos estágios do Alzheimer para entender o comportamento da doença no corpo humano e apoiar pacientes e seus familiares.

Nesta semana, uma pesquisa realiza pela Universidade de Coimbra, em Portugal, identificou uma região do cérebro humano como a área em que ocorrem as primeiras alterações causadas pelo Alzheimer. O estudo abre caminhos para novas pesquisas que podem indicar opções de tratamento.

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Segundo os cientistas, no cíngulo posterior ocorrem três sintomas típicos de fases iniciais da doença: inflamação neural, acúmulo de proteínas amilóides (insolúveis no corpo humano) e atividade neuronal aparentemente compensatória, em que uma região do cérebro tenta agir para compensar o déficit de funcionamento apresentado por outra. Sabe-se que a doença só apresenta sintomas após anos de acúmulo de proteínas, o que traz o desafio de diagnosticá-la antes de se tornar visível.

Os estágios da Doença de Alzheimer foram definidos pelo médico Barry Reisberg, diretor do programa de pesquisa e educação sobre a doença da Escola de Medicina da Universidade de Nova York. Essa divisão é usada por especialistas em todo o mundo, algumas vezes simplificada para cinco ou mesmo três estágios.

AS 7 FASES DO ALZHEIMER

Estágio 1 - Nenhum sintoma de demência

Independentemente da idade, qualquer pessoa pode ser mentalmente saudável. Eventuais lapsos de memória são considerados normais em todas as faixas etárias. À medida que envelhecemos é natural que esses lapsos aconteçam com mais frequência e não necessariamente indicam um problema mais grave.

Estágio 2 - Perda de memória subjetiva/esquecimentos relacionados à idade

Muitas pessoas com mais de 65 anos reclamam de dificuldades cognitivas e/ou funcionais. Pessoas mais velhas com esses sintomas reclamam de não conseguir lembrar de nomes com a mesma facilidade com que faziam cinco ou dez anos antes. Eles também reclamam de frequentemente não conseguirem lembrar onde colocaram as coisas. Vários termos já foram sugeridos para definir essa condição, mas declínio cognitivo subjetivo é a terminologia mais aceita atualmente.

Em geral, parentes e amigos não notam imediatamente esse problema. Mas pessoas com esses sintomas apresentam declínio mais rápido do que outras da mesma idade que não têm reclamações semelhantes. Pesquisas mostram que essa fase pode durar até 15 anos em pessoas que não apresentam outros sintomas.

"A doença começa com o acúmulo de determinadas proteínas no cérebro e isso pode levar de 15 a 20 anos antes do aparecimento dos primeiros sintomas", explica o médico Otelo Correa dos Santos Filho, da Universidade Estadual do Rio (UERJ), investigador principal da parte brasileira do estudo internacional "Davos Alzheimer Collaborative". "Nesta fase pré-clínica não há sintomas, e a vida cotidiana não é afetada."

Estágio 3 - Impacto cognitivo leve

Pessoas neste estágio manifestam déficits sutis, mas que já são notados por pessoas próximas. Elas tendem, por exemplo, a repetir a mesma pergunta várias vezes. Sua capacidade de executar algumas funções se torna comprometida. É comum entre os que ainda não se aposentaram apresentarem declínio da função profissional. Os que precisam aprender novas tarefas têm dificuldades evidentes. Para os que ocupam cargos estratégicos, pode ser o momento de começar a programar uma aposentadoria. Este já pode ser caracterizado como um estágio inicial de Alzheimer e pode durar cerca de sete anos. Ainda assim, é preciso buscar orientação médica e um diagnóstico especializado para entender até que ponto outras condições de saúde podem estar influenciando tais condições.

Estágio 4 - Declínio cognitivo moderado/demência leve

O diagnóstico de Alzheimer nesta fase pode ser feito com bastante acurácia. O déficit funcional mais comum nesta fase é o declínio na habilidade de executar tarefas mais complexas da vida cotidiana, com impacto em sua capacidade de viver de forma independente. Por exemplo, pode ser complicado lidar com contas mensais, pagar o aluguel, ir ao mercado fazer compras, escolher um prato num restaurante. Pessoas que costumavam cozinhar passam a ter dificuldades para preparar os alimentos.

Sintomas de perda de memória se tornam bem evidentes neste estágio. Eventos recentes importantes como uma festa ou a visita de um parente podem ser esquecidos. Em geral, essa fase tem duração de cerca de dois anos.

"As pessoas começam a ter alterações leves de memória, perdem um pouco a noção do tempo, apresentam dificuldades para manejar as finanças, fazer cálculos, mas o impacto nas atividades diárias ainda não é muito grande", explica o especialista da Uerj.

Estágio 5 - Declínio cognitivo moderadamente severo/demência moderada

Neste estágio, as pessoas apresentam sintomas que as impedem de ter uma vida independente. A principal alteração funcional desta fase é a dificuldade de executar atividades básicas do dia a dia, como, por exemplo, escolher a roupa mais apropriada para as condições climáticas e a ocasião, se alimentar sozinho, pagar as contas, manter as condições de higiene da casa e das roupas. Elas podem apresentar ainda problemas comportamentais, como ataques de raiva e desconfiança.

Do ponto de vista cognitivo, elas frequentemente não conseguem lembrar de grandes eventos ou aspectos importantes de sua vida cotidiana, como o seu próprio endereço, o nome do presidente da República e as condições do tempo. Este estágio tende a durar um ano e meio.

"Nesta fase, o paciente começa a ter os chamados comportamentos atípicos, como sair na rua de pijama, colocar um paletó mas esquecer de vestir a camisa", exemplifica o médico.

Estágio 6 - Declínio cognitivo grave/demência moderada

Nesta fase, os pacientes perdem a capacidade de se vestir, tomar banho, escovar os dentes ou ir ao banheiro sozinhos. Elas começam a confundir ou não identificar outras pessoas, mesmo as mais próximas. Não conseguem se lembrar do nome das escolas onde estudaram, dos principais líderes políticos do País. Em algum momento, elas começam a ter dificuldades para falar. Do ponto de vista comportamental, ataques de raiva podem ser frequentes. Esta fase pode durar de dois a três anos.

"O paciente já é incapaz de realizar as atividades cotidianas básicas, já tem um comprometimento motor considerável e dificuldade para reconhecer as pessoas", disse Otelo Correa dos Santos Filho. "Alucinação não é muito comum no Alzheimer, mas pode ocorrer nesta fase."

Estágio 7 - Declínio cognitivo muito grave/demência muito grave

Nesta fase, os pacientes demandam assistência para atividades cotidianas básicas e para a própria sobrevivência. A capacidade de fala é cada vez mais restrita até ser completamente perdida. O paciente perde também a capacidade de andar sozinho e até de se sentar. A rigidez nas juntas é cada vez mais frequente, impedindo os movimentos mais básicos e levando a deformidades físicas. Uma causa comum de morte é pneumonia, justamente por conta da dificuldade de deglutição cada vez mais acentuada. Esta fase costuma durar de um a três anos. "É a fase mais grave e mais triste da doença, em que as pessoas apresentam demência grave, dependência completa para as atividades diárias e estão acamadas", afirmou o especialista. "É a fase final da doença", concluiu.

Um estudo realizado no Laboratório de Neuroproteômica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sugere que os canabinóides podem auxiliar no tratamento de doenças como Alzheimer, esclerose múltipla, depressão e esquizofrenia. Os resultados foram publicados na revista “European Archives of Psychiatry and Clinical Neurosciences” na sexta (27) e indicam que essas substâncias podem estimular ou bloquear processos importantes para o funcionamento dos neurônios e de outras partes do sistema nervoso. Isso demonstra um potencial terapêutico dos compostos analisados para abordar quadros neurológicos e psiquiátricos.

O termo canabinóide se refere a diversos componentes que podem ser produzidos no organismo, obtidos sinteticamente ou de plantas do gênero Cannabis. A pesquisa observou o efeito de grupos distintos dessas substâncias em células do sistema nervoso central que participam do suporte aos neurônios, os oligodendrócitos. “Os oligodendrócitos são responsáveis pela formação da bainha de mielina, que serve como um isolante para a transmissão das correntes elétricas nos neurônios”, explica Valéria de Almeida, uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo. “A mielina também é importante para fornecer energia para o neurônio e mantê-lo saudável. Quando há defeitos nos oligodendrócitos, vários problemas podem ocorrer no funcionamento dos neurônios e consequentemente do cérebro”, complementa.

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Almeida conta que a ideia do estudo era verificar como esses canabinóides afetam as proteínas dos oligodendrócitos, que funcionam como guias para ativar ou desativar funções importantes no ciclo de vida dessas células. Para isso, os pesquisadores dividiram as células em grupos e expuseram cada amostra a um tipo diferente de canabinóide. O segundo passo foi analisar individualmente cada um dos grupos e comparar os resultados com células que não foram tratadas.

As diferenças no tipo e na quantidade de proteínas produzidas revelam que o tratamento com canabinóides pode alterar mecanismos fundamentais para a produção de energia celular, a formação de novas células, a migração desses componentes para outros locais do cérebro e até mesmo a morte dos mesmos.

O artigo destaca que essas descobertas abrem uma janela de possibilidades para abordar as doenças neurológicas e psiquiátricas. “Modificar a proliferação celular, o ciclo celular e a morte celular pode ser essencial para conferir neuroproteção; modular as vias de migração e diferenciação celular pode influenciar o desenvolvimento de um perfil mais saudável nas células neuronais. Além disso, mudanças no metabolismo energético podem ser investigadas pelo seu potencial de melhorar desregulações vistas em muitas desordens neurodesenvolvimentais e neurológicas”, diz o estudo publicado em inglês.

Valéria de Almeida salienta que, embora ainda seja necessário explorar esses resultados em outros modelos para desenvolver a aplicabilidade terapêutica dos canabinóides, esses dados são um avanço importante para a compreensão de mecanismos alternativos para o tratamento de doenças que afetam o sistema nervoso. “Nossos resultados poderão ser utilizados por outros pesquisadores como direcionamento para procura de novos tratamentos para doenças que apresentam problemas na função de oligodendrócitos ou na mielina”, explica a pesquisadora.

Fonte: Agência Bori

Desde que a mãe recebeu o diagnóstico de Alzheimer, há 13 anos, a fotógrafa e laboratorista Rosangela Andrade lida com a situação com um ponto de vista moldado pelo ofício. Para ela, quem não registra as coisas não pode ter memória. Por isso, decidiu ensinar Therezinha Motta Andrade, de 87 anos, a fotografar. "A ideia foi criar uma espécie de jogo da memória com as fotos reveladas. Não basta encontrar a mesma imagem sobre a mesa cheia de cenas; pedia para ela falar quem eram as pessoas. Foi uma tentativa de manter minha mãe mais tempo entre nós."

Encontrar formas de sustentar a memória viva e funcional é o desafio que move milhares de cientistas, médicos e familiares de pacientes com Alzheimer. Assim como desenvolver métodos de detecção precoce da doença degenerativa que, se estima, afeta 1,2 milhão de pessoas no Brasil (a maior parte sem diagnóstico), segundo o Ministério da Saúde. E novos exames de sangue, mais baratos que os recursos atuais, surgem como alternativa para auxiliar o diagnóstico.

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Neste mês, a FDA (órgão similar à Anvisa nos EUA) aprovou um teste para estimar os níveis de placas amiloides que se acumulam, em grandes quantidades, no cérebro de quem tem a doença. O exame é da Fujirebio. No Brasil, a Dasa acaba de lançar produto semelhante, que procura identificar dois tipos da proteína beta-amiloide. Um dos principais atrativos é evitar a realização da punção lombar para coleta do liquor. Além de ser menos invasivo, o exame de sangue custa cerca de R$ 1,5 mil, um terço dos métodos de confirmação disponíveis hoje.

ALERTA

Apesar da corrida por detecção precoce, médicos alertam que o diagnóstico do Alzheimer é complexo e continua a ser majoritariamente clínico. "Em 80% dos casos, é feito a partir de exame físico completo, análise do histórico do paciente, de exames de sangue para descartar outros problemas e da avaliação neuropsicológica, que serve para quantificar as queixas de memória", diz o neurologista Ivan Okamoto, do Núcleo de Excelência em Memória do Hospital Israelita Albert Einstein.

"Não é correto dar a ideia de que o diagnóstico só pode ser feito com exames subsidiários e inacessíveis à maioria", afirma Okamoto. "Exames adicionais, como uma biópsia do liquor ou um exame de imagem (PET amiloide) para avaliar a formação de placas amiloides no cérebro, só são necessários quando restam dúvidas ou se a pessoa quer ter uma confirmação do diagnóstico por outro método", diz o neurologista.

E há a questão do acesso. Até o início do mês, o Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas (InRad) era o único a fornecer o exame PET amiloide em São Paulo. Além da rede pública, o InRad recebe pacientes de particulares, como Einstein e Vila Nova Star, e cobra cerca de R$ 4,5 mil. Segundo os especialistas, não faz sentido correr aos laboratórios em busca dos exames na tentativa de descobrir características da doença uma ou duas décadas antes do aparecimento dos sintomas. E nem todo positivo indica que se terá a doença.

O Alzheimer é provocado pelo acúmulo da substância amiloide. Ela é produzida diariamente e, durante o sono, eliminada pelo sistema glinfático (formado pela glia, o conjunto de células responsáveis pelo suporte e nutrição dos neurônios, entre outras funções). "Como essa limpeza é durante o sono, os estudos sugerem que o risco de Alzheimer é mais elevado em pessoas que dormem pouco ou mal", diz Álvaro Pentagna, coordenador do departamento de neurologia do Hospital Vila Nova Star e do laboratório do sono do Hospital das Clínicas. Como prevenção da doença, os médicos recomendam sono de qualidade, exercício físico, alimentação saudável e atividade intelectual prazerosa.

Estudos recentes ainda adicionaram novas peças ao grande quebra-cabeça. No ano passado, o grupo liderado pela cientista Heidi Jacobs, da Universidade Harvard, relacionou a má preservação de uma pequena estrutura no tronco cerebral ao desenvolvimento da doença. Neste mês, cientistas da Universidade da Califórnia, em San Diego, detectaram a enzima chamada PHGDH, relacionada ao Alzheimer, por meio de um exame de sangue.

DÉFICIT NEURONAL

A perda de uma parcela dos neurônios faz parte do envelhecimento. Além do Alzheimer, existem dezenas de outros tipos de demência. Os sintomas são similares, mas podem variar de acordo com o indivíduo. Não há cura, mas existem alguns remédios. Os pacientes de Alzheimer são tratados principalmente com medicamentos como donepezila, galantamina, rivastigmina e memantina, disponíveis no SUS. O objetivo é controlar os sintomas e reduzir a progressão da doença.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um aplicativo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) vem ajudando pessoas no tratamento de Alzheimer. O MemoryLife utiliza jogos e outros recursos tecnológicos para treinar aspectos cognitivos de portadores da doença.

Coordenadora da pesquisa, a professora Kátia Omura disse que o aplicativo gera impactos positivos na atenção aos pacientes. Segundo a Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer), a doença de Alzheimer é uma enfermidade incurável que se agrava ao longo do tempo, mas pode e deve ser tratada. Em geral, afeta pessoas idosas. 

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A doença se apresenta como demência ou perda de funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem), causada pela morte de células cerebrais. Quando diagnosticada no início, é possível retardar o seu avanço e ter mais controle sobre os sintomas, garantindo melhor qualidade de vida ao paciente e à família.

O projetodo MemoryLife foi desenvolvido em 2016 pela professora Kátia Omura com os alunos Alanna Ferreira, da Faculdade de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (FFTO), e Ailson Freire, do curso de Engenharia da Computação, com o objetivo de ajudar a cognição de idosos, sobretudo os que são portadores de Alzheimer. 

“Quando eu clinicava, eu não encontrava recursos disponíveis específicos para este público, os recursos disponíveis não conseguiam alcançar o objetivo do paciente. Minha avó tinha Alzheimer e não falava português. Pensei em fazer algo que não fosse necessário ler e que estimulasse cognitivamente o idoso”, informou a pesquisadora, que é terapeuta ocupacional e doutora em neurociências. 

O aplicativo Memorylife teve uma grande aceitação pelo público. Conta com jogos divididos nas categorias de memória e lógica, com diferentes níveis, para treinar os aspectos cognitivos mais afetados pela doença.  

Todos os jogos remetem ao cotidiano dos usuários, relacionados sempre a suas atividades diárias. Ele pode ser utilizado duas vezes por semana por até 30 minutos ao dia. A APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) também usa o aplicativo para auxiliar os seus pacientes. 

A professora ressalta que o intuito do aplicativo é evitar o avanço da doença, ou seja, retardar o processo, uma vez que o Alzheimer é irreversível.  “O projeto está em processo de atualização. A Fapespa ofereceu auxílio para que este projeto venha dar continuidade", conclui. Omura garante que até o final deste ano o aplicativo já estará com uma nova atualização.

Jogos que estimulam o desenvolvimento cognitivo também são auxiliares importantes no tratamento de outros transtornos, como no caso do TEA (Transtorno do Espectro Autista). Estudos apontam que o uso da tecnologia em terapias para o autismo são eficazes porque habilitam a cognição.

Reportagem de Amanda Martins e Clóvis de Senna.

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Na última semana, o curta-metragem brasileiro “Napo”, foi disponibilizado gratuitamente no canal da produtora Miralumo Films no Youtube, em comemoração ao Dia Internacional da Animação. A obra é de responsabilidade do diretor Gustavo Ribeiro e concorreu a prêmios em mais de 60 festivais no mundo, ganhando 20 premiações desde a sua criação.

O curta-metragem é uma produção desenvolvida tanto para as crianças, quanto para jovens e adultos. A trama conta a história de Napo, um senhor que precisa ir morar com a filha Lenita e com o neto João, por conta do agravamento do Alzheimer. A doença faz Napo esquecer todos os momentos que viveu em sua vida, inclusive sua infância, quando conheceu sua esposa e até mesmo o momento em que sua filha nasceu.

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Após o avô não reconhecer o neto, João encontra em sua casa um álbum repleto de fotografias antigas, e começa a desenhar as lembranças de seu avô atrás de cada foto. Com a arte e imaginação, o menino encontra uma maneira de criar novas memórias para Napo, e assim, constrói uma forma para que o avô se recorde dos momentos de sua vida que havia esquecido por conta da doença.

Em comunicado à imprensa, o diretor Gustavo Ribeiro comentou sobre a importância do curta. "Neste filme, desenvolvemos um novo olhar sobre a vida de uma pessoa que sofre com a doença de Alzheimer, mostrando a importância da relação de afeto familiar para o bem-estar do paciente. Mas, no fim, virou também uma grande homenagem a todos os avós, que, em muitas casas brasileiras, são parte essencial do dia a dia e da criação dos netos", afirmou.

Confira o curta-metragem completo: https://www.youtube.com/watch?v=-p1P4fdhaF8&ab_channel=MiralumoFilms

Por Thaiza Mikaella

 

 

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