O papa Francisco fez neste sábado (1°) uma apologia da diversidade, diante de dezenas de milhares de peregrinos católicos de língua húngara, durante uma grande missa na Transilvânia, coração de uma Romênia ortodoxa e multiétnica.
Quase 100.000 pessoas, segundo o Vaticano, acompanharam a homilia no santuário mariano de Sumuleu-Ciuc, um território do centro-oeste da Romênia que reivindica sua cultura própria.
"Esta peregrinação anual pertence à herança da Transilvânia e honra ao mesmo tempo as tradições religiosas romenas e húngaras", afirmou o pontífice à multidão.
A Transilvânia é a segunda etapa e um dos principais momentos da viagem de Francisco à Romênia, que começou na sexta-feira (31) em Bucareste.
Esta peregrinação é "um símbolo de diálogo, unidade e fraternidade", disse Francisco, que comparou os participantes com um "povo cujos mil rostos, culturas, idiomas e tradições representam a riqueza".
Na sexta-feira, o papa manifestou apoio às diferentes comunidades do país, que reconhece oficialmente 18 minorias culturais, e fez um apelo por uma "sociedade que se preocupa com a situação dos mais desfavorecidos".
Para evitar suscetibilidades, a homilia foi traduzida para o romeno e para o húngaro.
As igrejas católicas da pequena cidade de Miercurea Ciuc, a poucos quilômetros do santuário, permaneceram abertas durante a noite para abrigar os peregrinos.
- Transilvânia "autônoma" -
"Se eu encontrasse o papa, diria que a Transilvânia quer ser autônoma", afirmou à AFP um dos peregrinos, Zoltan, de 60 anos, procedente de Pusztacsatar, oeste da Hungria.
O presidente húngaro Janos Ader compareceu à missa, mas como um simples peregrino, assim como uma delegação de bispos. Também acompanharam a cerimônia um representante do governo húngaro e a primeira-ministra romena, Viorica Dancila.
A Romênia tem 1,2 milhão de habitantes de origem húngara, ou seja, 6,5% da população do país. A Transilvânia foi integrada ao país pelo Tratado de Trianon que, após a Primeira Guerra Mundial, deixou a Hungria sem dois terços de seu território.
Um século depois, esta comunidade tem certa desconfiança a respeito do Estado central romeno, em um país onde a religião ortodoxa é amplamente majoritária.
"Ninguém pensa em uma secessão, mas gostaríamos que os direitos da minoria húngara fossem mais respeitados", declarou Olah Zoltan, professor na Faculdade de Teologia de Cluj (oeste) e um dos voluntários da missa.
O governo de Bucareste reconhece os direitos culturais e linguísticos desta minoria, em particular em escolas onde o ensino acontece em húngaro e em romeno, mas rejeita as reivindicações de autonomia regional.
Ao final da missa, Francisco depositou uma rosa de ouro ao pé da Virgem de madeira esculpida neste santuário, venerada desde 1567.
O governo da Hungria doou 500.000 euros para a reforma do santuário onde Francisco celebrou a missa, uma "ajuda e não uma interferência", explicou o Executivo de Budapeste.
Após a missa, o papa viajará à cidade de Iasi (nordeste), capital da Moldávia romena, onde visitará a catedral latina Santa Maria Rainha, antes de um encontro com jovens e famílias.
A viagem de João Paulo II a Romênia em 1999 foi a primeira de um papa papa católico a um grande país ortodoxo.