Aos 74 anos, após dezenas de prêmios internacionais, incluindo o Designer Automotivo do Século, centenas de criações que entraram para a história do design, como, por exemplo, o Fiat Uno, contratos com empresas como Fiat, Volkswagen, o italiano Giorgetto Giugiaro está finalmente aprendendo a usar o computador. E foi este o motivo que o fez interromper a conversa com a reportagem por telefone na semana passada. "Estou atrasado para minha aula de computação. Finalmente estou aprendendo a desenhar um carro usando um destes programas. Acho necessário saber, mas sinceramente, com o tempo que eu levei para fazer um desenho, eu, com o lápis já teria feito três", brinca o italiano de origem humilde que, até entrar para o curso de desenho industrial, nunca havia pensado em se tornar designer.
Um dos maiores criadores do século 20, fundador da lendária Italdesign, Giorgetto ganha a partir de quinta-feira (07) uma exposição no Museu da Casa Brasileira (Av. Brig. Faria Lima, 2.705, (11) 3032-3727) dedicada a seu trabalho. "Giugiaro: 45 Anos de Design Italiano" ocupa cinco salas e é dividida em módulos que contam com fotos clicadas pelo mestre Helmut Newton e pelo americano Wayne Maser, tiradas a partir dos automóveis assinados pelos Giugiaro. De olho na fronteira tênue entre arte e design, a mostra também traz a exibição de um documentário sobre a trajetória do patriarca e de seu filho Fabrizio, que seguiu os passos do pai e dá continuidade à tradição de transformar desejos e sonhos em objetos belos e funcionais.
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"A beleza não é imprescindível, mas é necessária. No sentido de que se pode viver sem ela - porque um objeto utilitário continuará sendo útil mesmo se não for belo -, mas é necessária para a condição humana, que sempre buscou a harmonia matemática que há nas coisas belas. E não só 'espiritualmente'. O belo também vende. É esse equilíbrio entre a função e a forma que busco sempre", afirma o mestre em criar máquinas velozes e belas, que seduziram gerações.
Apesar de ter ganhado fama internacional com a assinatura de modelos como o do Alfa Romeo 159, o Golf, o Uno, o Passat, o Audi 80, Giorgetto sempre faz questão de ressaltar que em sua casa não entram carros. "Tenho um SUV, superseguro e utilitários. E se você me fizer uma visita, vai descobrir que na minha casa não há sequer um quadro de carro, uma miniatura, nada", conta ele. "Faço carros para comprar quadros. E é isso que há nas minhas paredes. Obras de arte."
A declaração, ainda que surpreendente, faz todo sentido quando se considera que Giorgetto é filho de uma família de artistas e restauradores. Não por acaso, seu sonho de juventude era ser pintor e escultor. "Talvez, ao enxergar um carro como uma escultura, ao ver em um projeto de um objeto a possibilidade de arquitetar e criar uma obra, eu esteja seguindo os passos da minha família", comenta Giorgetto, para quem a mostra que vem a São Paulo é uma amostra simples, mas contundente de sua contribuição para a história do design.
"São objetos muito pontuais e emblemáticos que estão na mostra. Em geral, quando falam de nosso legado, lembram-se sempre da beleza das formas, mas nossa contribuição é muito técnica. Quando criamos um carro, há uma composição de aço, normas a serem cumpridas, avanços tecnológicos. A mecânica, a aerodinâmica, a segurança, funcionalidade, entre outros, andam junto com o desenho artístico."
É às novas contribuições que Fabrizio Giugiaro está atento quando fala à reportagem dos novos projetos e expectativas em relação ao Brasil. "Somos famosos por nossos carros, sobretudo. Mas já desenhamos tantos outros itens. Um dos maiores, e melhores, exemplos são os trens italianos que projetamos nos últimos anos. Eles mudaram a forma de se locomover na Itália", comenta o vice-presidente do grupo Italdesign Giugiaro e diretor da Giugiaro Arquitetura. Ao lado do pai, estará em São Paulo para a abertura da exposição. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.