Há um ano Alex Nunes mudou a forma de chegar ao trabalho. Os seis quilômetros entre o bairro da Tamarineira (onde mora) e o Recife Antigo (onde fica o escritório), antes percorrido de ônibus, passou a ser feito de bicicleta.
O analista de sistema já havia trocado o carro pelo transporte público, mesmo assim continuava gastando mais de uma hora no trajeto. Além disso, no bairro onde mora apenas uma linha de ônibus faz o percurso até o Recife Antigo, o que ampliava ainda mais o tempo desperdiçando.
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“Eu andava de bicicleta nos domingos e feriados, na ciclofaixa móvel. Como achava que estava preparado para enfrentar o tráfego durante a semana, peguei a bike e fui ao trabalho. Foi uma experiência frustrante. Eu não sabia como me comportar no trânsito. Levei várias ‘trancadas’ dos carros”, conta.
Indicado por amigos, Nunes procurou a Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo), idealizadora do projeto “De bicicleta ao trabalho”. Voluntários se disponibilizam para acompanhar o ciclista na ida e volta do trabalho, e repassam dicas de como se comportar de forma mais segura nas ruas.
“É um projeto gratuito. Basta a pessoa se inscrever no site da Ameciclo e um voluntário entra em contato para combinar o acompanhamento. A ideia é auxiliar as pessoas que têm vontade de pedalar no dia a dia, mas por vários motivos têm receio”, explica o coordenador Daniel Valença.
“Depois dessa ajuda eu me senti mais seguro para pedalar no Recife. O voluntário traçou um trajeto mais tranquilo e eu passei a fazer o percurso sozinho. Mas falta muito. Ainda vejo muitos ciclistas acidentados”, conclui Nunes.
Economia de tempo e dinheiro
A fisioterapeuta Paula Hirakawa, que mora no Parnamirim e trabalha na praça de Casa Forte, também trocou o carro pela bicicleta, mas fez tudo por conta própria. A ideia começou na metade do ano passado, quando decidiu que venderia o carro. “Eu estava gastando um tanque de gasolina em dois meses. Além disso, pagava o IPVA, seguro, e o veículo desvalorizando. Percebi que estava desperdiçando dinheiro”.
Com medo de se arrepender, Paula pensou primeiro em deixar o veículo na garagem por três meses. Era o teste para ver se conseguiria se adaptar a nova rotina, mas que não deu certo. A saída foi vender veículo e passar a fazer tudo a pé, de bicicleta, ônibus ou até de carona.
Ao longo do período de mudança, a fisioterapeuta conta que ganhou tempo, economizou dinheiro e enfrenta menos estresse no trânsito. Por outro lado, já presenciou acidentes envolvendo ciclistas, pedestres ou com pessoas que utilizam outro tipo de modal.
“Se me perguntarem, eu digo que não tenho medo de andar de bicicleta. Acidentes acontecem em todo lugar. Existe estresse e riscos, mas percebo uma evolução no trânsito do Recife, mesmo que de forma bem lenta”.
Os acidentes citados por Paula, e segundo levantamento realizado pela Fiocruz em Pernambuco, acontecem principalmente em dias úteis (62,5%) e durante o período diurno (58,1%), o que coincide com o período de deslocamento para o trabalho.
Entretanto, Conforme o Sistema de Informação sobre Acidentes de Transporte Terrestre (Sinatt), somente 10,8% dos casos de acidentes com bicicleta foram enquadrados como acidentes de trabalho nas fichas de notificação.
Código de Trânsito e Políticas de Educação
Embora a bicicleta não seja um veículo motorizado, e não seja necessário obter uma carteira de habilitação para conduzi-la, o Código Brasileiro de Trânsito prioriza o ciclista em alguns de seus artigos. Deixar de guardar a distância lateral de 1,50m ao passar ou ultrapassar bicicleta, por exemplo, é considerado infração média.
Por outro lado, os ciclistas também precisam conhecer os seus deveres. Ainda conforme o Código, conduzir a bicicleta em passeios onde não seja permitida a circulação do veículo, ou de forma agressiva, pode gerar uma medida administrativa, como a remoção da bicicleta.
Para Luciano Menezes (foto), idealizador do projeto Pedala Rural – que incentiva o uso da bike como meio de transporte, os números de acidentes envolvendo ciclistas podem ser reduzidos, mas não apenas com a implantação de ciclovias e ciclofaixas. Também faltam políticas de educação no trânsito.
“Não adianta melhorar a estrutura se as pessoas não sabem usar. Onde estão os trabalhos pedagógicos voltados para esse tema? O debate tem que ser levado para as escolas, porque as crianças são sim formadoras de opinião”.